Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lembrança do Dia do Médico, comemorado na data de hoje. Registro, nos Anais do Senado, de pronunciamento do Senador Mozarildo Cavalcanti em comemoração ao Dia do Médico.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Lembrança do Dia do Médico, comemorado na data de hoje. Registro, nos Anais do Senado, de pronunciamento do Senador Mozarildo Cavalcanti em comemoração ao Dia do Médico.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2007 - Página 36378
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, COMENTARIO, COMPARAÇÃO, SACERDOTE, EMPENHO, PROTEÇÃO, VIDA HUMANA, APREENSÃO, FECHAMENTO, HOSPITAL, SANTA CASA DE MISERICORDIA, CONTRADIÇÃO, POLITICA SOCIAL, PROGRAMA ASSISTENCIAL, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, MEDICO, POLITICA NACIONAL, MOTIVO, PROXIMIDADE, POVO, BUSCA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • GRAVIDADE, PRECARIEDADE, CONDIÇÕES DE TRABALHO, MEDICINA, COMENTARIO, GREVE, MEDICO.
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, LEITURA, TRECHO, DISCURSO, MOZARILDO CAVALCANTI, SENADOR, DADOS, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, agradeço, mas não é bem assim. Ele é correto; ele é justo. E V. Exª sabe que nós estamos alternando. Assim, V. Exª foi o primeiro orador inscrito; o Antonio Carlos, regimentalmente, usou a palavra como Líder e, agora, farei uma comunicação inadiável. Ele falará como orador inscrito.

Papaléo, sei que hoje é o Dia do Médico, mas aprenda com Rui Barbosa: “Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”.

Hoje, Senador Suplicy, é o Dia do Médico.

Brasileiras e brasileiros, para os médicos, a sociedade não promove homenagens, desfiles, festas. Eles são lembrados não na euforia e na alegria, ô Suplicy. Os médicos só são lembrados no infortúnio, na dor, no sofrimento e na desgraça. Aí, sim, eles são chamados.

Dezoito de outubro: não há muito o que comemorar.

Suplicy, chegou-se a dizer que a medicina seria um sacerdócio.

Paim, a jornalista Carol, do blog do Noblat, veio me perguntar por que “Paim” e não “S. Exª o Senador da República Paulo Paim”. E respondo dizendo que acredito que a comunicação é uma comunhão, uma aproximação, é uma divisão do pão e não uma etiqueta ultrapassada. Digo “Paim” no lugar de “Excelência” para traduzir respeito, carinho, amor e grandeza.

Senador Paim, hoje é o Dia do Médico.

Sacerdócio - quando eu me formei, disseram que era um sacerdócio. Agora, fazendo uma reflexão: sacerdote, Igreja, então, proliferai, aumentai o número. É bem-vinda a mensagem de Deus - eu sou cristão, católico -, mas os hospitais estão fechando, estão abandonados.

Ô Suplicy, eu darei um quadro que vale por dez mil palavras.

Paulo Paim, eu convivi, numa Santa Casa de Misericórdia, com um médico chamado Dr. Cândido de Almeida Athayde.

Senador Papaléo, ele era maranhense, da cidade de Tutóia. Aliás, esse apelido de Mão Santa veio, justamente, quando, no começo da minha atividade profissional, eu fui representar esse Dr. Cândido de Almeida Athayde em Barro Duro, no Maranhão.

Demóstenes, os maranhenses são discursadores como o quê, desde Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”.

Demóstenes, viajei num teco-teco, aquele avião pequeno. Ele seria homenageado e pediu-me que fosse representá-lo. Eu, hoje, acho que ele estava com medo de o avião cair - um daqueles teco-tecos pequenos - no Delta.

Eu fui para o interior. Eu havia chegado do Rio de Janeiro, ô Paim, e sou franco: eu gostava mesmo de tomar umas cervejas. Eu estava tomando e, sabe como é o interior, às quatro horas, o prefeito disse: “Olhem, acabou a bebida. Agora, é tudo para a inauguração”. Eu fiquei até chateado, juntamente com o meu anestesista, mas era o jeito.

Eu estava representando o homenageado, Cândido de Almeida Athayde, maranhense que fez o parto de João Paulo dos Reis Velloso, para se ver o que significava.

Paim, na hora da inauguração, houve aqueles discursos.

Maranhense discursa muito, ô Demóstenes. Como discursaram os políticos: Vereadores e Deputados do Maranhão, e eu, do Piauí, representando o Dr. Cândido, já idoso, diretor da Santa Casa! Isso aconteceu em 1969 e eu estava com um anestesista.

Ontem, Demóstenes, eu disse que esse anestesista que estava do meu lado ganhava a bolsa mérito. Ele era pobre, mas uma das maiores inteligências que conheci. Com mania de primeiro lugar, ganhou uma bolsa e tornou-se doutor. Recebi o apelido de Mão Santa, mas ele era muito mais sabido que eu. Foi Deus que o colocou como meu anestesista, e ele segurava a barra - e o anestesista permanece anônimo. Mas ele estava lá.

Demóstenes acusou esse Governo de ser tonto. Tonto, não; ele é eleitoreiro. Vêm aí as eleições e ele está dando, agora, uma “bolsa maconha”. Foi o Demóstenes que deu esse apelido, pois é quem sabe das coisas. Para o jovem infrator, darão R$100,00, o que dá para comprar uma “maconhazinha de leve”.

Então, antigamente, Getúlio Vargas, ô Luiz Inácio, dava a bolsa mérito.

Esse era um estudante pobre, que se formou em Medicina e foi melhor médico que eu. Era meu anestesista e já morreu. Ele estava do lado.

No momento do discurso, um dos oradores, que não sabia o meu nome e que eu representava o homenageado, virou-se e disse: “Esse doutor, aí, das mãos santas, operou-me e estou bem”. Naquela brincadeira, o apelido “pegou”.

Ô Demóstenes, o Dr. Joaquim Narciso espalhou que eu tinha as mãos santas porque, assim, ele ganhava mais com as anestesias. Ele recebia bolsa mérito. Era pobre, foi um dos mais brilhantes médicos, mas, durante toda a sua vida, o Governo deu-lhe uma bolsa. Ele estudava de graça. Agora, inventaram uma tal de “bolsa maconha”, que vem por aí, como o Senador Demóstenes anunciou.

Eu digo que devemos aprender com Átila, rei dos hunos, ô Luiz Inácio: “premiai os bons e puni os maus”. É o inverso do que está fazendo.

Como estão os médicos, Paim?

Esse Dr. Cândido de Almeida Athayde morreu quando eu era Governador do Estado. Foi na cidade dele que recebi esse aposto de Mão Santa, criado pelos maranhenses de Tutóia e Barro Duro.

Quando o velho diretor da Santa Casa tinha 94 anos, coloquei-lhe uma medalha no peito, Papaléo, a Grã-Cruz da Ordem Estadual do Mérito Renascença, do Piauí.

Demóstenes, ô homem de dignidade, ô homem de vergonha! Ele morreu com 95 anos, medalhado, mas, na véspera, operou.

Ô Jayme Campos, ele representava o médico com vergonha, e os médicos têm vergonha.

Esse é o Governo que acaba com os médicos.

Ele, com 95 anos, trabalhava por necessidade, porque essas aposentadorias de médicos são uma porcaria. Muitas viuvinhas de médicos ganham menos de R$1.000,00. Esse médico, com 95 anos, trabalhava por necessidade e por vergonha.

Concedo um aparte ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, falarei de forma muito rápida.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois é, ontem, a jornalista Carol, do blog do Noblat, perguntou-me por que eu o chamava de “Paim” e não de “Excelência”.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Eu vou responder. V. Exª me chama diretamente de Paim pela sensibilidade de V. Exª, a sensibilidade que têm os profissionais da área médica. Quero apenas homenagear V. Exª neste seu dia, que é o Dia de todos os Médicos, e, por extensão, homenagear a todos os Médicos do País. Sou testemunha da sensibilidade desses profissionais aqui mesmo no Plenário. A maioria dos Senadores vota sempre a favor das questões de cunho social, mas, sem sombra de dúvida, os médicos aqui, todas as vezes que há um tema ligado diretamente aos interesses da população, devido a essa sensibilidade, votamos sempre na mesma direção, votamos juntos. Quero dar este testemunho. Agradeço o trabalho que V. Exª faz e a forma carinhosa como se dirige a mim, o que tem sido, no meu Estado, motivo de alegria para o meu povo, que diz: “Olha, o Senador Mão Santa, tem um carinho muito grande por você!” Parabéns!

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu gostaria que V. Exª - Deus escreve certo por linhas tortas -, que está aí no Dia do Médico, lembrasse o nosso título da “Boca Maldita”, do Paraná, e me concedesse cinco minutos - cinco minutos pela classe médica e cinco minutos para que eu prestasse homenagem aos médicos do Paraná, do Rio Grande do Sul e do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Vamos conceder três minutos a V. Exª. Antes, porém, lembro-lhe que houve uma decisão de Mesa no sentido da necessidade de se cumprir o horário regimental. No entanto, V. Exª terá a concessão de mais três ou quatro minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agora que o Presidente Tião Viana é médico também, quero prestar esta homenagem.

Por que tantos médicos na política?

Presidente Papaléo, a Organização Mundial de Saúde diz que saúde não é apenas a ausência de enfermidade ou doença; é o mais completo bem-estar físico, mental e social. Social, sim. O médico tem que combater o pauperismo, a miséria e a fome. Aí, se aproxima e assim surge. Eu não ia perder tempo, mas dizia o que nós significamos também na política. Nós somos Juscelino Kubitscheck de Oliveira, arrancado aqui, cassado e humilhado, mas hoje, nos corações de todos brasileiros como o maior exemplo.

Aqui também nós tivemos um Presidente médico, não o nosso amigo Tião Viana, que está dizendo que está interino, mas nós tivemos o Nilo Coelho, do Nordeste, um exemplo. Por isso que os profissionais abraço.

O Jornal do Brasil diz: “Médicos fogem dos hospitais”. “Isto é uma vergonha!”, como diz Boris Casoy.

Deoclécio Dantas, um jornalista lá do Piauí, que foi Deputado, diria: “Isto é uma lástima”. “Médicos fogem dos hospitais”, diz a manchete do Jornal do Brasil, ao lamentar, Jayme Campos, que muitos médicos plantonistas, do Rio de Janeiro, tanto do Município como do Estado - vou ler apenas o que grifei, para mostrar que “é uma lástima”, como Deoclécio Dantas dizia; “é uma vergonha”, na fala de Boris Casoy.

E o Luiz Inácio disse que não sabe, não viu; disse que está tudo bom, que é o padrão. Mas diz Márcia Rosa, Presidente do Cremerj, que “a remuneração inicial da rede municipal vai de R$700 a R$1.300”. Assim não dá? Numa cidade grande, os médicos têm de arrumar três, quatro, cinco empregos, e haja estresse, enfarte, suicídio e tal. Então, é isto. E mais: “Trinta por cento dos médicos da rede pública adoeceram por causa das más condições de trabalho”. Esta é a reportagem.

No meu Piauí, os médicos Felipe Eulálio e Leonardo Eulálio “reclamam dos baixos salários e da alta sobrecarga”. Médicos e anestesistas em greve no meu Piauí. Então, pouco temos a comemorar.

Para encerrar, peço ao Presidente que me conceda alguns minutos mais. O Senador Mozarildo Cavalcanti incumbiu-me - S. Exª todos os anos faz uma reunião especial com os médicos e até nisso fraquejamos; isso é bom, porque retrata, hoje, a dificuldade que vive a classe médica.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª vai me conceder quantos minutos para falar do discurso enviado à Mesa pelo Senador Mozarildo, nosso Colega, que está lá em Roraima, defendendo os sem-terra.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Um minuto é suficiente. O Mozarildo sabe sintetizar bem.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois é. O Senador Mozarildo simboliza e também sintetiza a grandeza da classe médica. Li o trabalho dele, o qual passarei à Mesa para ser registrado nos Anais. Mas tirei do discurso do Papaléo um segundo fato pesquisado por S. Exª, nosso Colega.

No Brasil, atualmente, 90 mil pacientes com câncer estão impedidos de fazer radioterapia [Esta é uma pesquisa feita pelo Senador Mozarildo. Noventa mil! Porque o Governo não funciona: não há saúde; só tem mentira; só tem propaganda];. 13 milhões de hipertensos e 4 milhões e meio de diabéticos não estão recebendo o tratamento adequado; quase 50% das mulheres grávidas não completam as sete consultas recomendadas no período pré-natal; e 25% das pessoas com hanseníase, tuberculose e malária também têm problemas de atendimento.

            Ontem - atentai bem! -, todos os jornais publicaram que o Ministro Temporão reconhece uma epidemia de dengue. Há mais de ano que denuncio o mosquito da dengue, o mesmo mosquitinho que Oswaldo Cruz curava, que está acabando com o Governo de Luiz Inácio: dengue, tuberculose e malária!

Que este Dia do Médico seja um clamor, como Cícero dizia: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?” Até quando, Luiz Inácio, Vossa Excelência vai massacrar os médicos e a saúde do Brasil?

 

************************************************************************************************DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MÃO SANTA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Discurso do Senador Mozarildo Cavalcanti”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2007 - Página 36378