Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de ofício encaminhado ao Presidente Lula de comunicação aos brasileiros feita por José Celso Martinez Corrêa, diretor e dramaturgo, em que relata a saga de Canudos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Leitura de ofício encaminhado ao Presidente Lula de comunicação aos brasileiros feita por José Celso Martinez Corrêa, diretor e dramaturgo, em que relata a saga de Canudos.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2007 - Página 36387
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ENCAMINHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LEITURA, OFICIO, AUTORIA, DIRETOR, TEATRO, CONVITE, PEÇA TEATRAL, APRESENTAÇÃO, MUNICIPIO, QUIXERAMOBIM (CE), ESTADO DO CEARA (CE), CANUDOS (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), RESGATE, MEMORIA NACIONAL, LUTA, SOLIDARIEDADE, POVO, VULTO HISTORICO, VITIMA, GENOCIDIO, HISTORIA, BRASIL, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, PRESENÇA, AUTORIDADE, BANCADA, REGIÃO NORDESTE.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador. ) - Senador Alvaro Dias, Presidente desta sessão, estou encaminhando ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seguinte Ofício:

Prezado Senhor Presidente, venho encaminhar a Vossa Excelência a comunicação aos brasileiros de José Celso Martinez Corrêa, diretor e dramaturgo brasileiro, em que relata a saga de Canudos, de Antônio Maciel Conselheiro, da população que lá vivia: 25 habitantes até 1997, quando aquela que era a segunda cidade da Bahia foi dizimada. Também sobre a extraordinária obra de Euclides da Cunha, Os Sertões, transformada em peça pelo grupo de teatro Uzina Ozona ou Oficina, em cinco atos, a que já assisti e recomendo a todos os brasileiros, cada um de seis a sete horas, que tem comovido milhares de pessoas que já a assistiram em São Paulo, no Rio de Janeiro, em festivais de teatro na Alemanha e que agora será apresentado em Quixeramobim, justamente onde nasceu Antônio Maciel Conselheiro, no Ceará, e em Canudos, na Bahia.

Quero transmitir a Vossa Excelência, Presidente Lula, o convite de José Celso a, na oportunidade que lhe for conveniente, assistir a Os Sertões, se possível em Quixeramobim ou em Canudos.

Hoje, neste instante, Sr. Presidente Alvaro Dias, o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, está visitando o Teatro Oficina, em São Paulo, justamente para estudar a possibilidade de realizar o tombamento definitivo do Teatro Oficina e da área em torno, tal como foi idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi.

No manifesto, José Celso diz:

Ó! Brasileiros

Nós brasileiros,

do Rio Grande do Sul ao Amazonas,

em 5 de outubro de 1897,

nós,

representados então por 6.000 militares,

massacramos

em nome da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade,

a segunda cidade da Bahia, depois de Salvador.

25.000 habitantes,

edificada em Mutirões,

de doze casas erguidas por dia,

organizada em Conselhos,

exportadora de Couro de Bode pra Europa.

Esta cidade possuía gente de crença enorme em si mesmo,

em seu poder,

uma crença forte e consoladora” como escreveu Euclides da Cunha.  

Tudo isso foi Massacrado.

Ninguém da cidade de Canudos, se entregou.

“Caso único na história”.

Nossos representantes fardados,

jogaram querosene e queimaram tudo

e ainda,com gente viva lá dentro.

Nós, Recém Nascidos Republicanos,

tornamos cinzas,

apocalipse de yesteraday

como os de now,

a rebelião de Canudos,

a última, da República Velha,

a mais perigosa,

a mais rica,

a mais audaciosa,

a mais empesteadoramente bela!

Sobre esse sangue degolado,

derramado no Palco da Luta,

foi erguido o fundamento,

a legitimidade

a “Ordem e o Progresso”

da nossa atual velhíssima República.

Cortaram até “Ordem, Amor e Progresso”, que era o que se falava originalmente.

Depois do Apocalipse do Fogo,

pouco a pouco, os sobreviventes da guerra

e outros doidos de deus, retornaram ao lugar Tabu:

e construíram uma segunda Canudos.

A ditadura militar,

trouxe depois do Apocalypse do Fogo,

o Dilúvio das Águas.

A Cidade renascida foi inundada,

a estátua árvore, de Mario Cravo de Conselheiro,

onde o povo acendia velas ao Bom Jesus,

foi retirada da Praça de Salvador Bahia, depois do Golpe de 1964.

Canudos foi reconstruída pela terceira vez.

Teve seu apogeu no centenário de Conselheiro:

quando foi asfaltada a estrada que levava ao Caminho

da Jerusalém do Sertão,

Mas o asfalto da estrada virou pedra,

não foi conservado.

A 3ª Cidade de Canudos,

está agora,

isolada de nós,

e do Globo.

E não se conforma com isso,

como Dona Joselina da Pousada Recanto Por do Sol.

Isailton o guia memorialista do Museu de Canudos,

guardião do Morro da Favela, tombado aos cuidados da Universidade da Bahia.

Esta hoje, quase exatamente,

como Euclides descrevia o lugar

de antes da Guerra: “a Terra Ignota

A estréia mundial da mídia Telegrafo

foi na Guerra do Fim do Mundo de Canudos,

que tornou-se lugar conhecido em todo Planeta.

Todos grandes artistas brasileiros Glauber, Oswald, Gilberto Freyre,

Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, e muitos e muitos,

Ligaram-se na anunciação do povo brasileiro de “Os Sertões”.

É o grão da nossa revolução cultural,

a rocha viva regerando, o ser-estar brasileiro,

sempre.

Hoje o Sertão virou Mar,

mas de lixo plástico.

Canudos tem agora 11 mil habitantes menos que em 1897.

Mas há lá, um povo novo, querendo crescer,

com Lan House instalada há pouco tempo na rua principal,

com a gestão do Prefeito Adailton,

que faz aniversário no dia seguinte a Cosme Damião,

um Historiador,

uma criança muito apaixonada,

por fazer tudo, por sua região,

pela terceira vez.

 

Está na hora de todos nós brasileiros

fazermos a redenção,

a justiça história,

o pedido de perdão

por estes Massacres,

onde se inclue principalmente,

o da nossa negligência de mais de 100 anos,

por não ter feito nada pelo lugar,

quando tomamos consciência

que tínhamos destruído a nós mesmos,

a cidade deste povo irmão,

deste sertanejo, antes de tudo um forte.

O Livro “Os Sertões

foi o primeiro ataque ao escândalo de dois Brasis desiguais,

com a Repressão do próprio Estado Brasileiro,

massacrando, degolando, seu povo.

Euclides foi inspirado por todas as línguas de fogo do Espírito Santo.

Escrito em todas as línguas,

linguagens, ciências, poesias,

começou a interpretar,

através do Crime praticado pela nacionalidade,

o próprio Brasil,

para nós mesmos brasileiros

e para todo mundo.

Os Sertões” é o livro mais traduzido do Brasil.

Da China,

que o define shakesperianemente como “Poema Ilimitado”.

A Alemanha,

onde é lido em Papel Bíblia,

numa edição da SurKampfVerlag, a maior editora alemã,

como grande poeta da Guerra Atual Mundial do Terror de hoje ainda.

8 de outubro de 2007,

40 anos do assassinato do Chê na Bolívia pré-Guarani.

Fanáticos” de todas as universidades do mundo

vêm conhecer a cidade do DNA,

inspirador do conceito de “crime das nacionalidades

criado pelo brasileiro Euclides da Cunha em 2 de 12 de 1902 (data do lançamento do livro)

no Rio de Janeiro;

atraídos pelo sertanejo, antes de tudo, esse forte;

pela estruturação ao vivo, política da cidade em forma de Mutirão

e Conselhos.

Desde o primeiro Massacre,

nenhuma atitude concreta

por nós brasileiros, foi tomada.

As cidades do mundo que passaram pelo que passou Canudos,

foram reerguidas,

Hiroshima, Berlim Leningrado, Bagé,

e tornaram-se pontos irradiadores de vida,

Corações-Chacras do Amor Des-Massacrante.

Daqui do Rio de Janeiro,

de onde o Brasil inteiro era convocado para Massacrar Canudos,

escrevo, preparando-me para a temporada em Quixeramobim,

cidade Natal de Antônio Maciel, o Conselheiro.

Esta cidade está em plena Primavera.

Há movimento de seus jovens

que nos convidaram

e criaram condições juntamente com o Prefeito Edmilson Júnior,

que bancou 50% do alto Custo das 5 partes de “Os Sertões

para estrearmos lá, no dia 14 de novembro próximo.

E faço o convite aos Senadores do Ceará - Senadora Patrícia Saboya e Senadores Tasso Jereissati e Inácio Arruda - para que no dia 14 de novembro próximo, assistam a Os Sertões, na cidade de Quixeramobim.

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, sob gestão de Auto Filho,

apoiou fortemente, e criou uma logística para que ônibus de todo Estado acorram

para o coração do Ceará como é chamado Quixeramobim,

e montem acampamentos para estar no evento.

Um pra lá de Woodstock dos tempos atuais.

De lá seguimos para Canudos, para fazer “Os Sertões” no Belíssimo Estádio de Futebol, em Canudos.

Propusemos o apoio pessoalmente ao Governador da Bahia Jaques Wagner,

e por telefone para a Prá lá de Primeira Dama Fátima,

que tem se destacado como revolucionária incansável do crescimento da cultura na Bahia.

 

O Secretário da Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, diretor do grupo de Teatro do Olodum, é um dos entusiastas desta ação.

Mas não basta fazermos lá por cinco dias nosso espetáculo.

Baixa a Magia do Teatro,

a Internet Transmite,

o mundo comove-se ou não,

e nós voltamos a São Paulo e

Canudos retorna a Terra Ignota.

Não, isso não vai acontecer.

É hora do Desmassacre!

Pela luta contra o crime das nacionalidades,

a favor do crescimento do Sertão Brasileiro,

quero

que os anos e anos de trabalho que nós da Associação Teatro Oficina Uzina Uzona,

tivemos,

para afazer a incorporação de Theatro do livro de Euclides,

como um real Desmassacre,

inspirem como estão inspirando a mim,

TeAtos:

Atos de investimentos maciço na irrigação das águas paradas do açude de Cocorobó,

que serviu até agora, somente para afogar a Memória de Canudos.

Que se abram artérias e mais artérias da água no corpo da Terra,

e faça da cidade um Vastíssimo Pomar Sem Donos.

Que

Luciano Coutinho na Direção do BNDES

Gedel Vieira Lima ministro de integração nacional,

do Ministério da Integração Nacional

o Ministro de Assuntos Estratégicos, recém-nomeado, filósofo e jurista Roberto Mangabeira Unger,

Marta Suplicy, Ministra do Turismo,

Gilberto Gil, Ministro da Cultura,

promovam um movimento de investimento rheal

naquele belo e riquíssimo losango da Bandeira brasileira,

Canudos,

a Jerusalém dos Sertões,

capital de todos os imensos quintais dos Estados do Nordeste que para lá dão.

O desenvolvimento econômico da região vai propiciar a epifanía

da Caatinga sob Guarda da Universidade da Bahia:

o lendário Morro da Favela,

assim chamado pela planta que é chapa fervente envenenada se a invadimos,

mas que a caricia dos ventos das madrugadas, provoca orvalho dos sons das

lágrimas de Paulinho da Viola.

De lá veio a primeira Favela do Brasil - a da Providência, onde, pra não morrer, foram morar os soldados do Exército Brasileiro contra Canudos, que não tiveram seu soldo pago pelo Estado,

que faliu com a guerra.

Canudos acesa, acende, o Monte Santo, o Razo da Catarina, a Pedra do Reino, as Cavernas de São Bom Jesus da Lapa e todos os sitios Iluminados do sentimento orfico brasileiro pagão chamado de “fanatismo” pelos positivistas.

Para o Ministério das Relações Exteriores, de Celso Amorim,

para o Iphan e a Monumenta de Fernando de Almeida fica a missão de liderar o movimento

pela transformação de Canudos em Patrimônio Mundial da Unesco.

Neste lugar, poderemos os que estivermos vivos, brevemente proclamar a Nova Abolição do Cativeiro: O Fim da Guerra do Narco Trafico com a Descriminalização da Droga no Brasil e sua passagem pro Ministério da Saúde e sem deixar a Souza Cruz tirar o comércio das mãos dos que por ele lutaram, nestes anos obscuros e sangrentos.

Presidente Lula, seu jogo de cintura, sua política de Caetê Antropófago, tem de estar na Pagelança deste movimento.

E aqui seguem esclarecimentos que eu peço para serem transcritos, Sr. Presidente, de Luís Paulo Neiva, Professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), sobre o Parque Estadual de Canudos e o Açude Cocorobó:

“Sem perda de tempo, aproveitemos esse momento excepcional do Brasil”, de José Celso Martinez Corrêa, que conclui a sua ode aos brasileiros com uma palavra tradicional do teatro. Presidente Alvaro Dias e prezados Senadores, se me permitem, como é próprio do texto que eu estou aqui lendo, lerei uma palavra que usualmente aqui não seria falada, em respeito ao decoro parlamentar, mas uma palavra usual da linguagem brasileira: “MERDA” é a forma como José Celso conclui, mas que tem o sentido positivo de augurar que todos - Senadores, o Congresso Nacional, os Ministros aqui citados, o Governador Jaques Wagner, a sua esposa Fátima, e, sobretudo também, aqueles que são os Senadores pela Bahia, pelo Ceará, de todo o Nordeste, do Norte do Brasil, de todos nós, do Rio Grande do Sul ao Acre, ao Pará - possamos resgatar a memória daqueles que foram dizimados em Canudos por uma ação que, obviamente, hoje todos relembramos e que não honra as Forças Armadas brasileiras.

Ali se cometeu um equívoco. Muito melhor teria sido que aquelas pessoas soubessem já que o comando das Forças Armadas...

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -... que as Forças Armadas brasileiras, com espírito outro, o espírito de paz, próprio do povo brasileiro, tivessem ali realizado um diálogo e percebido que Antônio Conselheiro, na verdade, que havia lido a Utopia de Thomas More, queria construir uma sociedade de padrões diferentes, de valores diferentes, de valores inclusive de maior solidariedade. E será importante possamos resgatar muito da memória de Canudos, inclusive estimulando o governo da Bahia, o governo de Canudos e o governo brasileiro, do Presidente Luiz Inácio da Silva, que passou por Canudos. Fui uma das pessoas que estiveram visitando Canudos na Caravana da Cidadania, vindo de Caetés, Garanhuns até São Paulo, ao lado do Presidente Lula, que sabe perfeitamente que Canudos hoje merece ser resgatada em seu aspecto heróico e histórico do povo brasileiro. E as 11 mil pessoas que estão habitando Canudos merecem também a sua redenção.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Término do texto de José Celso Martinez Corrêa


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2007 - Página 36387