O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar meu pronunciamento, quero cumprimentar e registrar a presença dos companheiros Vereadores da cidade de Ipiranga do Norte: Ademir José, Sérgio Andrade e Sérgio Alencar. Sejam bem-vindos à Casa do povo, que é o Senado Federal e o Congresso Nacional.

Sr. Presidente, falo hoje de dois projetos de lei que venho de propor ao Senado Federal sobre a criação de duas universidades federais para nosso Estado de Mato Grosso. Contudo, farei um pequeno preâmbulo sobre como surgiu a Universidade Federal de Mato Grosso.

Antes de semear seus cerrados e planícies com grãos e pastos, os pioneiros mato-grossenses irrigaram naquela terra fértil a seiva do amanhã, plantando no coração das novas gerações a vontade de olhar para o futuro com coragem e confiança. Foi com esse espírito que, há cinqüenta anos, um grupo de bacharéis, liderados pelo professor Alcedino Pedroso da Silva, fundou a Faculdade de Direito de Cuiabá, embrião de honorável e profícua Universidade Federal de Mato Grosso.

Desde então, a entidade transformou-se no grande canteiro do saber de nossa região. Centro de excelência tecnológica e de propagação de conhecimento, a universidade surgiu em 1970, após um longo caminho que teve início com a implantação do curso de Direito, em 1957. Senadora Serys, que é professora da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1961, a faculdade foi federalizada, abrindo, assim, as portas para a criação da Universidade Federal de Mato Grosso, nove anos mais tarde.

Mas a luta para o funcionamento do primeiro curso universitário de Mato Grosso teve início, na verdade, em 1934. Desta data até o ano de 1957, muitas marchas e contramarchas postergaram a concretização deste sonho, acalentado por muitas gerações de jovens e intelectuais do nosso Estado.

Da primeira faculdade de Ciências Jurídicas, implantada no País, no Largo de São Francisco, na cidade de São Paulo, em 1827, Mato Grosso esperou 130 anos para assistir florescer sua instituição de ensino superior. Foi um longo tempo, não há dúvida, mas regiamente compensado pela magnitude de seus serviços prestados à nossa comunidade.

Dessa entidade brotam homens e mulheres livres, temperados no bronze da soberania, que apenas o saber confere àqueles que buscam na fonte transparente do discernimento a inspiração para construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao reconhecer o valor inestimável da Universidade Federal de Mato Grosso para a consolidação do processo de desenvolvimento do nosso Estado, devo reivindicar a implantação de duas outras universidades federais em nosso Estado: uma, na região Norte; outra, no Vale do Araguaia.

Pela posição estratégica e pelo alcance geopolítico destes territórios, as novas instituições podem significar a efetiva abertura de estudos sobre ecossistemas importantes para a preservação do bioma nacional. De outro lado, a geografia humana dessas duas regiões merece uma investigação mais profunda sobre os impactos das correntes migratórias diante do meio ambiente e de culturas indígenas milenares que habitam aquelas paragens.

Além desses aspectos, essas regiões precisam desenvolver tecnologias de manejo do solo, da ocupação territorial, da exploração dos recursos vegetais, do corte seletivo da madeira, do turismo e da própria geração de emprego e renda para milhares de jovens que cursam o nível secundário neste momento e se encontram sem perspectiva de um futuro promissor.

As universidades do Norte e do Vale do Araguaia serão cultivadas como sementes férteis para as novas gerações de mato-grossenses, fazendo brotar a compreensão de que a natureza produtiva de Mato Grosso tem de estar aliada à moderna ética universal da conservação e da exploração racional do meio ambiente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recentemente encaminhei exposição de motivos ao Exmº Sr. Ministro da Educação, Fernando Haddad, solicitando a transformação do campus avançado da UFMT dos Municípios de Barra do Garças e do Pontal do Araguaia, em unidade autônoma e própria, ou seja, na prática, fundando a Universidade do Vale do Araguaia, a Univale, com a implantação do curso de Medicina na região.

Mas resolvi também, Senador Geraldo Mesquita, dar um passo adiante, apresentando projeto de lei nesta Casa que cria as duas universidades federais de Mato Grosso, uma com sede em Sinop e outra, em Barra do Garças. Não e justo que o Estado produtivo e acolhedor de tantas correntes migratórias como o nosso espere mais de 130 anos para ter outras instituições federais de ensino superior. A hora é esta. Nossos jovens não podem esperar mais, Senador Flexa Ribeiro - e tenho visto a luta de V. Exª aqui para implantar a universidade do Sul do Pará, na cidade de Santarém.

Há 50 anos, apenas 83 estudantes ingressavam na Faculdade de Direito de Cuiabá. Hoje são 15.277 alunos matriculados nos vários campi da Universidade Federal de Mato Grosso. Milhares de cidadãos aguardam a mesma oportunidade. Não podemos frustrá-los. Temos de criar vagas, criar espaços de saber, criar pontes para o futuro, Senadora Serys Slhessarenko, valorosa mulher mato-grossense, exemplo de professora daquela universidade.

Como costumava dizer o médico Gabriel Novis Neves, primeiro Reitor da entidade, em memoráveis debates políticos, travados com o Embaixador Roberto Campos, na década de 80: “A universidade aprendeu a cultivar a nossa gente”. E eu, humildemente, complementaria sua frase hoje, aqui, afirmando que a universidade cultivou, em nossa terra, um canteiro que só cresce na alma das pessoas: a esperança!

Por isso, Srªs e Srs. Senadores, creio que nosso projeto é mais do que justo, na medida em que só seremos um país de primeiro mundo, ilustres Senadores, quando conseguirmos alfabetizar nossa juventude. No Brasil há poucas pessoas que tiveram a primazia de concluir o ensino de terceiro grau. No Brasil, 6% da população tem nível de terceiro grau. Na Argentina, que faz divisa com nosso Brasil, 29,6% da população tem o terceiro grau.

Só seremos um país mais justo, um país de mais oportunidades, um país com cidadania plena na medida em que alfabetizarmos nossa população, mas, acima de tudo, na medida em que o ensino de terceiro grau for acessível a todos.

Sr. Presidente, em nome do povo de Mato Grosso e, sobretudo, no da nossa juventude, estou propondo este projeto de lei. Espero que, quando ele vier para esta Casa, possamos contar com a solidariedade, com o apoio e, acima de tudo, com o compromisso das Srªs e dos Srs. Senadores para fazermos com que este País tenha educação ao alcance de todos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, e demais Senadores.