Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Governador José Aparecido de Oliveira.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Governador José Aparecido de Oliveira.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2007 - Página 37075
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOSE APARECIDO DE OLIVEIRA, EX GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), ELOGIO, VIDA PUBLICA, PRESERVAÇÃO, CAPITAL FEDERAL, PATRIMONIO CULTURAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO).

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Com a licença dos demais oradores inscritos, pedi a palavra, porque ontem eu não me encontrava neste plenário, quando foi apresentado pedido de voto de pesar pelo falecimento de José Aparecido de Oliveira. E hoje estou aqui não só para subscrever esse requerimento, como também para dizer que me incluo entre aqueles que devem receber pesar, porque fui seu amigo estreito, durante cinqüenta anos; foi uma amizade de todos os dias, uma amizade que extrapolou a política para ser uma amizade pessoal, da qual eu tinha - e tenho - um grande orgulho e uma grande satisfação.

            Conheci José Aparecido em 1958, no Rio de Janeiro, quando ele era Secretário do então Deputado José Magalhães Pinto. Logo verificamos em José Aparecido uma liderança extraordinária, liderança que ele exerceu durante toda a sua vida, com a sua capacidade de conviver, o seu gosto de fazer amigos. Ele cultivava a amizade como se cultivam os campos e os jardins. Ele tinha essa capacidade de reunir em torno de si pessoas e, ao mesmo tempo, de dar o seu afeto, de extrapolar a sua estima a essas pessoas que ele reunia.

            Eu me lembro de que, primeiro entre os intelectuais do Rio de Janeiro daquele tempo, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e, entre os políticos mais velhos, Milton Campos, Sobral Pinto e Oscar Niemeyer foram amigos íntimos de José Aparecido de Oliveira. Recordo-me, também, de que ele teve posição destacada em 1960, na eleição do Presidente Jânio Quadros. Eu participava também daquele grupo, com Seixas Dória, Clovis Ferro Costa, Edilson Távora e alguns outros deputados. Acompanhávamos o candidato a Presidente pelo Brasil inteiro, e José Aparecido era, sem dúvida, o grande articulador, um dos maiores articuladores, que desenvolvia a sua ação em benefício da candidatura vitoriosa do Presidente Jânio Quadros. E foi Secretário do Presidente Jânio Quadros durante o tempo - os seis meses - em que de sua Presidência, também com uma atuação destacada, não somente como Secretário, mas como grande articulador político.

            José Aparecido de Oliveira tinha ainda uma grande qualidade: a de manter, na diversidade, a unidade das amizades que fazia. Assim, ele foi um grande amigo também do Presidente Juscelino Kubitschek, do Presidente João Goulart, do Presidente Tancredo Neves. Foi - já não digo apenas meu amigo dileto - a quem convoquei para ser Governador de Brasília. Aqui, em sua administração, quis priorizar a preservação da Capital, para que ela não fosse descaracterizada. Junto com Niemeyer, ele pôde justamente fazer esse trabalho, de tal modo que Brasília se transformou em Patrimônio da Humanidade.

            José Aparecido tinha uma personalidade extraordinária, que foi, talvez, a maior de todas as suas virtudes; era um dos mecanismos com que ele exercia suas virtudes.

            Foi Ministro de Estado, Ministro da Cultura durante o tempo em que eu fui Presidente. Com ele mantive, durante toda a vida, uma estreita convivência; até os seus últimos dias, quase diariamente, tive a oportunidade de conversar com ele e de incentivá-lo a encarar a vida. Até o fim dos seus dias sempre esteve preocupado com o Brasil.

            Não quero esquecer de dizer que ele foi um dos amigos mais íntimos também do Presidente Itamar Franco, de quem foi Embaixador e por quem foi convidado para ser Ministro. Assim, José Aparecido conseguiu, justamente como eu disse, através das amizades, ser a grande personalidade que foi.

            Mas eu ia dizendo que, até os últimos dias, ele esteve preocupado com o Brasil. Era um ser político que acompanhava tudo o que acontecia com o seu País, com a sua Pátria, com os fatos nacionais. Ele também era muito fiel às suas idéias. Era um homem que tinha as suas convicções e, por causa delas, foi vítima de uma brutalidade, que foi a cassação do seu mandato e a sua exclusão da vida pública durante dez anos. Nesse período, viveu com dignidade absoluta. Não saiu do Brasil: ficou aqui vivendo e sofrendo aqueles dias.

            Todos nós, seus amigos, jamais o abandonamos ou deixamos de estar com ele e assim pudemos ver o renascer, com a democracia, da sua carreira política, que se consagrou na governadoria de Brasília e como Ministro de Estado.

            Portanto, é com grande pesar que também me associo a essa manifestação do Senado. Sinto-me, de certa forma, igualmente recebendo os pêsames do Senado pela perda que o Brasil sofreu e que eu, como seu amigo, também sofri.

            Posso confessar que também tenho esse gosto pela convivência, sei ter o amor pelas pessoas, sei prezar as amizades, sei respeitar a dignidade das pessoas. Portanto, é com esse sentimento que sinto a perda de um grande amigo.

            Na minha idade, a gente já começa a falar muito sobre as despedidas, mas são despedidas e adeuses que marcam a nossa vida e que, portanto, fazem parte dela.

            Que Deus o tenha na Sua glória, José Aparecido de Oliveira!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2007 - Página 37075