Discurso durante a 192ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória de Ernesto Che Guevara.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de Ernesto Che Guevara.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2007 - Página 36927
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ERNESTO CHE GUEVARA, VULTO HISTORICO, REVOLUÇÃO, SOCIALISMO, AMERICA LATINA, INFLUENCIA, JUVENTUDE, COMBATE, EXPLORAÇÃO.
  • ANALISE, DESIGUALDADE SOCIAL, PAIS, MUNDO, EXCESSO, CONSUMO, MINORIA, POPULAÇÃO, GRAVIDADE, POBREZA, IMPORTANCIA, IDEOLOGIA, SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA SOCIAL, ELOGIO, REVOLUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador José Nery, Sr. Embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Juan Núñes Mosquera, nosso guerreiro Tiso Saenzi, Presidente da Associação dos Cubanos no Brasil, Sr. Senador João Pedro, colegas de tantos embates lá na Amazônia, demais aqui presentes, estava pensando em fazer um pronunciamento lido, mas acho que, quando se trata de homenagem, é chato demais ler, pois se perde a emoção.

Mas estava aqui me reportando ao pouco que estudei sobre a história do povo cubano, da Revolução Cubana, dos desafios que tem enfrentado desde 1959 até o presente momento, porque tive a oportunidade lá nos anos oitenta de ouvir pessoas que falavam da história das revoluções no mundo. Alguém teria contado que, quando estavam atravessando para chegar à Baía dos Porcos, e o mar estava revolto, um dos guerrilheiros caiu na água; que alguém teria dito que se parassem para pegá-lo iriam se atrasar e que ao chegarem à praia seriam recebidos à bala. Nesse ponto, Fidel teria dito: “A nossa luta é pela vida. Nós vamos buscá-lo”. E foram resgatá-lo. Chegando à praia, realmente foram recebidos à bala. Escaparam poucos. Ao chegarem a Sierra Maestra, já em segurança, Fidel Castro teria perguntado quantos tinham escapado. Responderam-lhe que, contando com o Comandante, quinze. Ele, então, teria se levantado e dito: “Se somos quinze, então vencemos”. Então esse foi dado como discurso mais curto de Fidel Castro.

Mas aqui falando de Che Guevara, lembro-me de que já escuto esse nome desde o início do início dos anos setenta, ainda era garoto. E vi a preocupação de meu pai... Imagine uma família de pessoas do interior do Estado e que ouve falar a palavra comunismo, principalmente naquele tempo - 1969. Entre 69/70, houve a ascensão de Salvador Allende ao governo chileno. Eu vi meu pai extremamente preocupado, conversando em casa, com todos: “Eita, agora tem uma espinha de garganta aqui encostado de nós. O comunismo está chegando aqui e já vai entrar no Brasil”. E falava em tom de preocupação. Somente depois que eu comecei a militar na Igreja Católica, especialmente na Teologia da Libertação, foi que pude ter acesso às informações, às leituras, a muitas publicações de Frei Betto e de tantos outros. Pudemos, então, conversar um pouco melhor sobre essa questão do papel revolucionário de uma pessoa. E fico aqui imaginando o que motiva um jovem a deixar tudo para trás e enveredar em um caminho desses. E, se nós não pudermos olhar as histórias dos sistemas econômicos, da relação entre os grupos sociais, será difícil compreender. E fico aqui imaginando: no período pré-feudal, as disputas levavam à escravidão branca. O sistema econômico da época levava à escravidão branca. O feudalismo suspende a relação escravista, porém cria o regime do senhor, do senhorio; do proprietário e do servidor. O capitalismo nasce sob a égide da liberdade, da igualdade, da fraternidade. Palavras muito bonitas para a Revolução Francesa, mas aprimorada pelos burgueses.

Quando se vai olhar em cima do que o sistema capitalista se ergueu, vê-se que as histórias são muito ruins. Li alguns livros que me foram recomendados sobre as indústrias da Inglaterra que levavam crianças e mulheres a trabalhar por até dezoito horas; havia uso de chicote; não era permitido dormir sobre as máquinas. Imaginem o que situações assim fazem na mente de uma pessoa como Ernesto Che Guevara! De lá para cá, o mundo girou e girou, e hoje ainda não conseguimos suprimir o que foi, no meu entendimento, a energia que motiva um processo como esse que vocês viveram. Ainda hoje a sociedade não encontrou um método que seja, digamos assim, mais pacífico na solução de graves problemas. O mundo ainda vive com um bilhão de pessoas que não têm acesso ao que é mais sagrado: a água e a comida.

O mundo inteiro diz que o caminho bom é o caminho norte-americano. Hoje todos sabemos que se dermos ao mundo o consumo do povo norte-americano, o planeta vai morrer, vai parar. Não temos espaço para a produção de alimentos, de bens de consumo pessoal ou seja de que nível for, para atender tamanha demanda.

Acabo de vir de uma reunião na África do Sul em que se tratou deste tema: como os pobres do mundo poderão participar de forma diferenciada na relação com os povos mais ricos? Trinta por cento da população do planeta consome 75% de tudo o que é produzido, de todas as riquezas. Aquele espírito de 1959 que moveu o povo cubano e todos os líderes anteriores - Martí, Zapata, Mao Tse-Tung, na China; Mandela, na África; Gandhi, na Índia, e tantos outros - se levantaram para chamar a atenção de seus povos para tomar um rumo diferente. É difícil para nós aqui, no Brasil, compreender a cabeça do povo cubano em uma hora dessa, especialmente a de um jovem como Ernesto Che Guevara.

Hoje ouvimos tantas pessoas dizendo que ele foi isso, foi aquilo, deixou de ser, exagerou em algumas coisas, mas virou um ídolo dos mais conhecidos no mundo. Vemos hoje, nas grandes bandas de rock, tatuagens nos braços, nos peitos de pessoas famosas que lembram o seu nome, estampas nas camisetas. É um dos rostos mais divulgados no mundo, mas mais do que isso é o seu espírito, o seu ideal. O que o fez pensar dessa maneira? A revolução estava no sangue. E pensava, segundo me foi dito, que ela não se encerrava no sucesso do povo cubano, mas pensava exatamente no sucesso dos povos das Américas, especialmente da América Latina.

Então, não poderia o povo cubano bradar a si próprio e dizer: conquistamos, chegamos ao nosso objetivo; portanto, já está resolvido o nosso problema e a situação dos outros povos é problema de cada um deles. Não, ele se destina e vem para a Bolívia, onde foi morto pelo Exército boliviano.

Segundo informações, ele passou pelo Estado do Acre. Até me foi dito que há uma trilha que teria sido utilizada por ele e que poderíamos pensar num ponto de lembrança da passagem dele na fronteira do Estado do Acre com a Bolívia. Há um hotel chamado Hotel Fronteira, no Município de Brasiléia, no Estado do Acre e alguns dizem que ele teria dormido uma noite ali. São histórias que nos aproximam um pouco daquela realidade, daquele momento.

Fica aqui, digamos assim, o que posso dizer neste momento de singela homenagem, em primeiro lugar, ao sucesso da revolução cubana por ter enfrentado o boicote econômico durante todos esses anos e ter emprestado a muitos lugares o que acho de mais salutar que é a inteligência humana. Quantos médicos cubanos têm saído, professores para ajudar a situação de Moçambique e tantos outros países da África. Inclusive aqui no Brasil, os Médicos da Família são uma tese muito utilizada no Brasil e é um empréstimo do conhecimento da medicina cubana. Muitos jovens hoje no Brasil querem estudar medicina lá com a experiência de vocês.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, neste momento, só nos resta gritar e bradar, como o nosso Presidente hoje, Senador José Nery, um viva não só a Ernesto Che Guevara, mas principalmente ao sucesso da revolução do povo cubano. Parabéns. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2007 - Página 36927