Discurso durante a 197ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Denúncias de que o Governo do Estado do Pará estaria alugando imóvel por quatro anos sem licitação. A corrupção no Governo Lula.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Denúncias de que o Governo do Estado do Pará estaria alugando imóvel por quatro anos sem licitação. A corrupção no Governo Lula.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 30/10/2007 - Página 38020
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), EXCESSO, PREÇO, ALUGUEL, IMOVEL, GOVERNO ESTADUAL, AUSENCIA, LICITAÇÃO, REGISTRO, DADOS, GASTOS PUBLICOS.
  • CRITICA, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, CRESCIMENTO, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, IRREGULARIDADE, LICITAÇÃO, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), ANALISE, REDUÇÃO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, HIPOTESE, ILEGALIDADE, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, PUNIÇÃO, CONTROLE.
  • COMENTARIO, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, REDUÇÃO, SALARIO, MEDICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ANALISE, ANTERIORIDADE, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODO, ATUAÇÃO, SINDICALISTA, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, ATUALIDADE.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, volto a esta tribuna, na tarde desta segunda-feira, e sei que, novamente, devo chatear algumas pessoas, porque vou falar da Governadora do meu Estado. E já não é a primeira vez que venho a esta tribuna, meu grande Líder Pedro Simon, falar da Governadora do meu Estado.

Eu tive a sorte, Senador, da bondade do povo do meu Estado em me trazer para que eu pudesse realizar um grande sonho na minha vida, que era poder usar esta tribuna.

Eu ficava olhando a TV Senado, V. Exª, um dos maiores oradores deste País, e desejava vir para cá, para cobrar das autoridades do meu Estado e do meu País aquilo que o povo deseja, Senador.

O povo do meu Estado foi muito bondoso comigo: concedeu-me o direito de vir para cá com 1,5 milhão de votos! Fui o Senador mais votado da história do Pará. A minha votação superou a votação dos candidatos a Governador do meu Estado.

Então, eu tenho que vir aqui cumprir a minha obrigação, Sr. Presidente, de denunciar aquilo que o povo não quer, aquilo que o povo está vendo.

Pensariam os paraenses de mim se ali estivesse sentado, sem dar nenhuma bola para o que está acontecendo no meu Estado? O que diriam os paraenses da minha pessoa? Esse rapaz queria tanto se tornar Senador da República, pediu que lhe concedêssemos o direito de ir para lá, para usar aquela tribuna, e em nenhum momento se preocupa com os problemas do nosso Estado?! E olhem como eu estaria, neste momento, aqui, minhas senhoras e meus senhores! Por isso quero pedir desculpas àquele que não me entendem. Podem procurar minha vida! Estão vasculhando a minha vida?! Podem procurar... Não tenho receio algum e esta voz não vai calar.

Como posso me calar diante deste fato: a Governadora do Pará alugou um imóvel para o Governo - pasmem, senhoras e senhores... Alugou um imóvel, Senador Cristovam Buarque! Olhe aqui, Senador. Já até me apelidaram de pica-pau, porque bato na tribuna o tempo todo. Mas é o meu estilo, Senador, eu tenho que bater na tribuna. Não posso deixar de fazê-lo. Sinto uma agonia em ver esse tipo de coisa.

Olhem só: a Governadora do meu Estado... Paraenses, vocês, que me concederem o direito de estar aqui, eternamente obrigado, mas R$2.160.000,00 foi o valor do aluguel de um imóvel sem licitação feito pela Governadora do meu Estado.

Eu posso ficar calado diante desse fato, Senador? Não dá! Não dá! Não tem jeito de eu me calar! Se V. Exª fizer a conta matemática considerando os quatro anos em que foi alugado o imóvel, o resultado será de algo em torno de mais de R$40 mil por mês. Ora, olhe essa imaginação! Será que a Governadora do meu Estado não poderia imaginar, na sua cabeça, que, com R$2.160.000,00, daria para fazer um prédio de doze andares em quatro anos? Daria para ela construir um prédio de doze andares em quatro anos com todo esse dinheiro!

Aí, pergunto-me: será que isso é certo? Acho que não! Existe algum interesse nisso, Senador. Não pode! É irreal! É inacreditável! Não dá para acreditar! Com isso, dá para ir ao programa do Chico Anísio, um programa de humor. Isso é uma piada!

Aliás, as coisas vão tão mal, tão mal no meu Estado! Pena. Não tenho nada contra a Governadora, absolutamente nada. Não sou - e vou repetir o que já falei aqui, Presidente Mesquita - daqueles que torcem pela derrota de alguém. Não sou. Seria eu leviano se torcesse pela derrota do meu Estado. Eu quero o sucesso da Governadora. Mas, como a Governadora está indo, ela não vai ter sucesso. Infelizmente. É petista o Governo lá, Sr. Presidente. É petista. E isso é comum no Governo do PT.

Agora mesmo a imprensa publica, quase todos os jornais publicaram - mas não deram destaque, porque a coisa já virou cotidiano, rotina -, corrupção no Governo Lula. Já não se dá mais destaque nos jornais. Não deu destaque.

Mas os jornais, especialmente a Folha de S.Paulo, discretamente mostram mais uma corrupção do PT no Governo Lula na licitação da Caixa Econômica, da empresa chamada Damovo: R$500 mil em troca de uma licitação. Isso é comum, Senador, a coisa virou rotina. A Imprensa nem dá mais destaque à corrupção no Governo Lula. Pior, há quanto tempo começou? Veio para a sociedade observar a partir do Waldomiro. Veio o Waldomiro, começaram a vir Ministros, um, dois, três, quatro. Aí, virou quadrilha. Na minha terra, quatro é quadrilha. E não só foram quatro. Foram mais de quatro. E a corrupção, Senador Cristovam, tomou conta do País. Entrou até na família do Presidente Lula.

Veio então o compadre, veio o irmão, veio o filho, todos envolvidos na corrupção. Churrasqueiro, tudo. Envolveu tudo. É lógico, é lógico: ninguém está preso. Ninguém está preso, mas a corrupção está tomando conta deste País de uma maneira generalizada e virou rotina, virou tão rotineiro que a Imprensa nem dá mais destaque de mais escândalos no Governo Lula. O Governo está devendo muito ao povo brasileiro.

E quando se tem corrupção, Presidente, do jeito que este Brasil está, não se pode dar bem-estar social a uma população. A corrupção no Brasil, meus senhores e minhas senhoras, é tão acentuada, é tão profunda, é tão aguda que virou hoje o que se chama sem controle. Não dá, com esse nível de corrupção instalado neste País, não dá para se investir. E quanto mais o Governo arrecadar, pode ter certeza, Sr. Presidente, mais corrupção teremos neste País. A primeira coisa que o Presidente Lula devia pedir ao povo brasileiro era que denunciasse as corrupções para que ele pudesse acabar com a corrupção neste País.

Cadê a saúde que a Senadora falou há pouco? A saúde? Agora mesmo estão fechando dois setores de neurocirurgia no Rio de Janeiro. E sabem por que estão fechando os setores de neurocirurgia? Neurocirurgia, e o Rio de Janeiro é uma das cidades mais violentas deste Brasil, o Estado onde acontece o maior número de acidente de trânsito neste País? Estão fechando dois hospitais, um na Penha e outro em Campo Grande.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª me dá um aparte?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Vou lhe dar.

E sabem por que estão fechando os dois hospitais, brasileiros? Sabem por quê? Aí, a Senadora... Eu entendo a Senadora. Não estou questionando a Senadora. Até acho bonito aqueles que tomam decisões próprias. Acho bonito! Por causa de salário. Sabe quanto ganha, Senador, um médico no Rio de Janeiro, no Hospital Getúlio Vargas, sabe quanto ganha um neurocirurgião, um profissional? Mil e trezentos reais por mês. Mil e trezentos reais por mês! Eles se demitiram. Lógico! Foram procurar suas vidas.

Eles não podem servir a um Governo que deixa a corrupção tomar conta do País e não paga aos médicos o que realmente eles precisam para desenvolver seu trabalho profissional. Dois hospitais deixaram de ter neurocirurgiões por estarem recebendo R$1,3 mil por mês. Isso é um crime, Senador! Isso é um crime, Senador!

Eu o escuto com muita honra, Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª aborda um tema interessante. E eu queria chamar a atenção dos Senadores Cristovam Buarque e Senador Pedro Simon sobre isto: a bisbilhotagem que fazem na vida dos Parlamentares, principalmente na dos Senadores. Isso não vem de agora. Essa prática vem desde o Governo passado, que é o atual Governo. O Senador Geraldo Mesquita lembra-se muito bem do episódio que estourou com a denúncia daquele caseiro. E, por conta daquilo, saíram investigando contas de bancários e de Parlamentares - dentre os quais eu fui vítima. Agora, eu quero perguntar a V. Exª: do Waldomiro aos aloprados, quem foi punido até agora pelo Governo?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Ninguém, ninguém.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam, um caso só. Quem foi punido?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Ninguém.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Qual foi o caso que teve uma conclusão para se dar uma satisfação à opinião pública?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - E o povo brasileiro tem obrigação de ficar calado com a renovação da CPMF. Não adianta arrecadar. O dinheiro sai pelo ralo!

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois é. Os aloprados estão voltando aos pouquinhos. Uns ocupando cargo na administração direta, outros ocupando funções a pedido da administração direta. Mas punição, infelizmente neste País, nenhuma. Daí por que, Senador Mário Couto, esse pessoal age com tanta segurança e com tanta desfaçatez. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Mas aí, Senador, quando o Presidente Lula - V. Exª lembra, porque estava aqui - sentiu que sua popularidade começou a cair, no primeiro mandato, com tanta corrupção, aquele operário, sindicalista, pensou o seguinte: minha popularidade está caindo; preciso estancar essa queda de popularidade.

E aí o que ele fez? Lembrou-se dos pobres coitados que ele prometeu ajudar tanto. Lembrou-se dos miseráveis! Lembrou-se dos miseráveis, porque ele tinha certeza que, se ele não lançasse o Bolsa-Família, a popularidade dele ia a zero! Ia para zero! E aí ele lançou o Bolsa-Família. Popularidade restabelecida na hora! Criou-se, então, uma chapa de aço protetora do Presidente Lula e aí a corrupção aumentou, nobre Senador Heráclito Fortes. Este é um drama e, com a chapa de aço que foi colocada no Presidente, ninguém toca no Presidente, mas a corrupção contamina este País.

Em toda a história desta Nação, queridos brasileiros e brasileiras, foram casos de corrupção constantes, recordes, 130 escândalos de corrupção e mais um agora com o da Caixa. Quero saber, meu nobre Líder, até quando o Brasil vai agüentar isso.

Cadê aquele operário, aquele sindicalista, meu nobre Senador Pedro Simon, que, no ABC Paulista, subia nos palanques para dizer aos brasileiros metalúrgicos que iria fazer as reformas neste País? Onde estão as reformas neste País? Cadê aquele operário sindicalista que subia no palanque do ABC para dizer que iria combater a violência neste País? Será, brasileiros e brasileiras, que este País ainda agüenta tanta violência? Quais as providências que o Governo Lula toma para que a violência seja estancada neste País? Criou um tal de PAC; agora tudo é o tal de PAC. Não sai nada. Criou o tal de PAC para a segurança. O que foi feito por meio desse PAC da segurança? E haja morrer brasileiros e brasileiras neste País!

Cadê aquele operário sindicalista que, no palanque do ABC, prometeu dar melhor saúde aos brasileiros? Os brasileiros estão morrendo nas filas dos hospitais! O médico no Brasil ganha R$1,3 mil! Os médicos brasileiros estão em greve!

Cadê aquele operário sindicalista que disse que ia proteger os aposentados e pensionistas? Olha o que o operário sindicalista está fazendo com os aposentados e pensionistas! Olhem, brasileiros e brasileiras!

Cadê aquele operário sindicalista que disse que ia implantar a reforma agrária neste País? E continua a cair, sindicalista; no campo, continuam as invasões. Agora mesmo tenho notícia de que uma milícia organizada está invadindo as fazendas no meu Estado, sem que nenhuma providência seja tomada. Dá até para desconfiar! Dá até para desconfiar que isso aí seja organizado.

Cadê o operário, aquele operário sindicalista que dizia que a pobreza iria terminar? Cadê aquele operário sindicalista que dizia que iria gerar milhões e milhões de empregos para os brasileiros? Onde está ele? Onde está ele? Envolvido num mar de corrupção! Envolvido em troca de favores! Envolvido em dar cargos públicos para aprovar, no Congresso Nacional, as suas vontades! Esse é que é o sindicalista!

Onde está ele? O povo brasileiro quer saber onde está aquele sindicalista operário que pregava um País melhor, que pregava uma sociedade melhor. Será que esse que está aí na Presidência da República é aquele mesmo do ABC Paulista que prometia tanto aos brasileiros? Será que é esse mesmo? Não! Infelizmente, meu povo querido do Brasil e do Pará, não é o mesmo. Esse que está aí agora se transformou. Jamais, jamais...

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou terminar, Sr. Presidente.

Jamais, jamais teremos aquele.

Desço desta tribuna, Presidente, indignado, triste, porque não era isso que, nem eu, nem o povo brasileiro desejávamos. Queríamos, Senador Geraldo Mesquita Júnior, que fosse aquele mesmo operário; que ele pudesse lutar pelo emprego, contra a corrupção, protegendo os brasileiros, melhorando a saúde deste País, combatendo a corrupção. Era isto que queríamos: que fosse verdade, Senador, o que ele tanto falou no ABC.

Desço desta tribuna triste, porque jamais, jamais, na história deste País, teremos o mesmo Lula de antigamente. Esse Lula que está aí não é aquele. Esse Lula que está aí está desgraçando o nosso País.

Muito obrigado, Presidente, pela sua tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/10/2007 - Página 38020