Discurso durante a 198ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação dos produtores de leite de diversas regiões de Minas Gerais, com a indevida atribuição de fraude no produto, o que leva a queda de seu consumo.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA POPULAR.:
  • Preocupação dos produtores de leite de diversas regiões de Minas Gerais, com a indevida atribuição de fraude no produto, o que leva a queda de seu consumo.
Aparteantes
Mário Couto, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2007 - Página 38163
Assunto
Outros > ECONOMIA POPULAR.
Indexação
  • APREENSÃO, POSSIBILIDADE, DENUNCIA, FRAUDE, ADULTERAÇÃO, LEITE, COOPERATIVA, MUNICIPIO, UBERABA (MG), PASSOS (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ALCANCE, TOTAL, PRODUÇÃO, REGIÃO, AGRAVAÇÃO, PERDA, SUSPENSÃO, AQUISIÇÃO, DERIVADOS, OPORTUNIDADE, OCORRENCIA, MELHORIA, PREÇO, EXPECTATIVA, PRODUTOR, ANALOGIA, SITUAÇÃO, EPOCA, DIVULGAÇÃO, FEBRE AFTOSA, GADO, BRASIL, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO, REBANHO.
  • COMENTARIO, INICIATIVA, SECRETARIO DE ESTADO, AGRICULTURA, PECUARIA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ACOMPANHAMENTO, SITUAÇÃO, REFORÇO, FISCALIZAÇÃO, REITERAÇÃO, SUPERIORIDADE, QUALIDADE, PRODUÇÃO, LEITE, ESCLARECIMENTOS, DESCOBERTA, ADULTERAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, LOTE, COOPERATIVA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz a esta tribuna é a questão grave que aconteceu no meu Estado, Minas Gerais, recentemente, com o leite. Tivemos uma ação totalmente irregular, uma fraude que precisa ser investigada a fundo em relação à qualidade do leite em duas regiões do Estado: no Triângulo Mineiro, na cidade de Uberaba, e no Sudoeste do Estado, na cidade de Passos. São duas cooperativas de leite, que, conforme foi noticiado pela imprensa, adicionaram soda cáustica e água oxigenada ao leite.

É evidente que isso causou um temor generalizado e um prejuízo a toda a imagem da cadeia produtiva do leite no País. A fiscalização precisa, evidentemente, ser aprimorada, para que a população não corra o risco que está correndo ou que correu com a distribuição de leite adulterado.

Entretanto, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, precisamos deixar a questão bem circunscrita a essa duas regiões. Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil. Produz o leite em toda a sua extensão territorial. São regiões diferentes, com climas diferentes, separadas, às vezes, por distâncias enormes, e, a esta altura, criar uma imagem de que todo leite produzido em Minas Gerais estaria contaminado é, na verdade, uma ação contra o Estado, contra os produtores de leite de Minas Gerais. São produtores que vão desde o produtor de dez litros de leite por dia até grandes produtores; são produtores do leite in natura, passando também pelos produtores de queijo, do queijo minas, tão reconhecido em todo o País.

Nós realmente percebemos, como representantes de Minas Gerais, a preocupação de diversas regiões do Estado que já começam a sentir o prejuízo pela generalização indevida que tem acontecido.

Assim é que produtores de leite do Sul de Minas já tiveram perda na produção; outros já tiveram a suspensão da compra de produtos lácteos, alvos de uma generalização, volto a dizer, totalmente indevida. O Sul de Minas, a Zona da Mata, a região do Leste mineiro, a região do Norte de Minas e o próprio Triângulo são regiões que produzem leite de boa qualidade e necessário. Não é possível que, de repente, se vai criar uma imagem de que o leite é um produto que pode ser abandonado, que o leite não é importante.

É fundamental que tenhamos o reconhecimento de que existem problemas, o reconhecimento de que a fiscalização não agiu corretamente, mas é mesmo importante que não se generalize, que não se leve a esse verdadeiro terrorismo que, neste momento, começa a prejudicar de maneira muito clara os produtores das diversas regiões de Minas Gerais que não têm nada a ver com o fato criminoso que aconteceu em duas das cooperativas.

Eu quero até, Senador Alvaro Dias, fazer um paralelo. Quando se divulgou que o gado brasileiro tinha aftosa, suspendeu-se a compra da carne brasileira por alguns países, e, na verdade, a aftosa estava restrita a algumas regiões do País. Não se podia fazer uma generalização que prejudicava todo o rebanho bovino brasileiro, toda a exportação de carne. Com muito custo, isso tem sido compreendido. Ainda temos dificuldades com a exportação de carne para alguns países que teimam em generalizar alguns focos específicos de aftosa que ocorreram no País. Faço essa analogia com a questão do leite. Nós temos um foco, um problema localizado na ação de uma das cooperativas da região de Uberaba e em uma outra da região de Passos de Minas, que são regiões próximas, vizinhas uma da outra - o Sudoeste e o Triângulo Mineiro.

No entanto, não é um fato que esteja presente em todo o Estado e em todo o leite de Minas Gerais. Os números já são, Senador Romeu Tuma, muito preocupantes e mostram que já existe um prejuízo crescente para os produtores, para as empresas e, eu diria, para a própria população, que acaba tendo medo de consumir o leite. Daí a necessidade de que fique bem claro que se trata de uma questão circunscrita e não de uma questão que atinja toda a produção leiteira de Minas Gerais.

Ouço o Senador Romeu Tuma com muito prazer.

O Sr. Romeu Tuma (Bloco/PTB - SP) - Cumprimento V. Exª por defender o seu Estado com convicção, visto V. Exª já ter sido Governador e conhecer bem essa área, que colabora com a economia do Estado. E hoje o Brasil é um grande produtor de leite. Agora há pouco, eu discutia com os jornalistas - discussão no bom sentido - sobre o problema da febre aftosa, a que V. Exª se referiu, quando se faz uma generalização. O País entra num sufoco internacional. Hoje, no Parlamento do Mercosul, em uma Subcomissão Especial, tem-se discutido como sair dessa pressão, principalmente da Europa. Quando, em um lugarzinho lá nos cafundós, há o aparecimento de um caso de febre aftosa, eles castigam todo o Estado, o País, ou, talvez, até o continente, o que passa a ser, em tese, uma concorrência desleal. Estamos discutindo isso. É claro que, em relação ao problema do leite, temos de nos preocupar muito mais com a agência responsável, que não fiscalizou.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Exatamente.

O Sr. Romeu Tuma (Bloco/PTB - SP) - Essa é a grande verdade. Quer dizer, se o que aconteceu em uma indústria foi generalizado para as outras, é porque ninguém fiscalizou. Quem tinha a obrigação assinava o ponto, ia para casa e, tranqüilamente, não mais se discutia. É um problema sério e grave; é crime contra a saúde pública. Assim, temos de identificar quais são os locais e não generalizá-los. Daqui a pouco, ninguém tomará leite ou quem tomar talvez esteja consumindo leite impróprio. Penso que tem de haver serenidade na investigação. Quando vira caso de polícia, buscamos realmente cautela para não haver generalização. A polícia investiga e sabe quais são os locais onde ocorreram os delitos. Se generalizar e mandar suspender em todo o País, talvez haja injustiças no futuro, com conseqüências graves para o País. Acho que se tem a liberdade - o inquérito está aberto - de buscar as áreas onde foram realmente praticados os desvios. O químico disse que negociou com quatro ou cinco produtores de transformação do leite. Há empresas grandes que compram leite in natura, produzem o leite para vender e, normalmente, não fazem uso da fórmula química que talvez tenha sido produzida por esse químico que está se defendendo. Não vou entrar no mérito porque não conheço todos os fatos, mas apenas os que estão sendo relatados pela imprensa. Não sou contra, não. Acho que se tem de investigar, mas é preciso ter cautela. Peço desculpas por interromper seu discurso.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Agradeço sua intervenção, Senador Romeu Tuma, porque vem exatamente mostrar que temos de buscar a serenidade. A palavra que V. Exª usou é a que trago neste momento.

O Ministro da Agricultura foi cauteloso em suas afirmações. Não quero, de maneira alguma, que a investigação seja paralisada; queremos que a investigação vá fundo, mas não é possível que isso ocorra exatamente no momento em que os produtores de leite tiveram um pouco aumentada sua expectativa.

O leite teve, durante muito tempo, um preço extremamente baixo, um preço aviltado. Tivemos um número grande de produtores de leite se afastando da produção, vendendo ou alugando as terras para outras produções exatamente porque o preço do leite era muito baixo. Houve uma recuperação, e, neste momento, surge outro problema: é oito ou oitenta. Não podemos ficar sujeitos a esse movimento pendular: ou se diz que o leite é péssimo, ou se diz que é ótimo. O leite tem problemas, mas não se pode generalizar.

Ouço o Senador Mário Couto com muito prazer.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - É muito oportuna a fala de V. Exª da tribuna do Senado. Ela serve, inclusive, de alerta à população brasileira, que, de repente, entrou em pânico em relação ao consumo de leite. É muito importante que V. Exª vá à tribuna na tarde de hoje esclarecer que, na realidade, não se pode generalizar. Nem todos os produtos têm o mesmo problema. Foi importante a consideração de V. Exª, porque a população brasileira, de repente, generaliza, entra em pânico geral; não pode mais ver leite na prateleira. O Senador Tuma tem razão. Vi uma reportagem no Jornal Nacional, da Rede Globo, na qual uma pessoa, que não se identificou, respondia às seguintes perguntas do repórter: “Mas não tinha fiscalização?” A pessoa, oculta, dizia: “Tinha”. E o repórter insistia: “Mas os fiscais vinham aqui fiscalizar?” E a pessoa respondias: “Não. Ou melhor, de vez em quando eles vinham”. E o repórter: “Quantas vezes por semana?” A pessoa entrevistada: “Era para virem todos os dias da semana, mas, às vezes, não vinham nenhuma vez na semana”. O que ele quis dizer com isso? Não precisava dizer. Houve um acerto para que os fiscais não fossem e fizessem, como se diz na gíria popular, vista grossa. Eu, que fiz um pronunciamento ontem sobre corrupção, ratifico o meu pensamento: essas coisas que se vê no cotidiano deste País já viraram uma cultura. É impressionante! O fiscal, que tem a obrigação de zelar pela saúde pública, vai a uma empresa de leite, pega propina e faz vista grossa. E onde acaba o prejuízo? Na população que consome um leite que se pode chamar de envenenado. Sempre escutei, lá na minha Salvaterra querida, no Marajó, dizerem assim: “Se o pai da família não der um bom exemplo, os filhos seguem o mau exemplo que o pai dá”. Se o nosso grande Líder, Presidente da República, diz tranqüilamente que não viu nada, que não sabe de nada, que no governo dele não tem corrupção - e todo mundo sabe que tem -, o pai, o grande líder, o Presidente está dando mau exemplo. O que vive aqui embaixo, o fiscal pobre coitado, diz: “Ora, se o Presidente diz que não viu, que não sabe de nada, eu também posso fazer o que quero aqui embaixo”. É assim que a sociedade brasileira está vivendo hoje. Parabéns pelo oportuno pronunciamento de V. Exª!

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Mário Couto.

V. Exª vai exatamente ao ponto, ou seja, vamos reforçar a ação de fiscalização, vamos cobrar daqueles fiscais que não fizeram a sua tarefa corretamente, se é que isso aconteceu.

O Secretário de Agricultura e Pecuária de Minas já está, evidentemente, acompanhando a questão de perto. Felizmente, mais de 90% da produção mineira é de boa qualidade, pode ser consumida normalmente. Temos dezenas de cooperativas, temos milhares de produtores, temos grandes empresas - uma delas é a Itambé, que é uma empresa mineira de grade porte. Não há nenhum problema quanto ao leite dessas empresas, e, mesmo naquelas em que foi detectada a adulteração, sabe-se que isso ocorreu em lotes específicos e localizados.

Então, Sr. Presidente, queria ressaltar aqui a preocupação com a qualidade do leite produzido e, ao mesmo tempo, a preocupação com uma generalização que prejudica milhares e milhares de pessoas, produtores do leite de boa qualidade que Minas produz.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2007 - Página 38163