O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, após a leitura feita por V. Exª da carta que torna irreversível a decisão do Presidente Renan Calheiros de se afastar por 45 dias, quero dizer que acho que foi o desfecho que todos esperávamos. E será bom para o próprio Senador Renan Calheiros, para que, longe das pressões e do dia-a-dia, ele possa refletir melhor, inclusive sobre estratégia de defesa. Daí por que quero louvar a coragem e a atitude por ele tomadas, que não foi somente uma decisão pessoal, mas também uma decisão visando ao funcionamento da Casa.

     Mas, Sr. Presidente Tião Viana, quem lhe fala agora não é o Senador Heráclito Fortes, mas o amigo.

     A partir de hoje, os holofotes da Nação estarão voltados para V. Exª. Os holofotes com focos sinceros e os holofotes insinceros. Tem V. Exª, a partir deste instante, uma responsabilidade que talvez não tenha tido nem tempo de avaliar a dimensão e o tamanho.

     Eu o conheço nesta convivência aqui de quase seis anos e posso aquilatar a maneira tranqüila e serena com que V. Exª, ao longo de todo esse tempo, tomou suas decisões. Se é que lhe posso dar algum conselho, o único que me ocorre é: não se afaste do seu comportamento.

     Aliás, em bom momento chega a este plenário o Senador José Sarney. O Senador José Sarney viveu, em uma circunstância totalmente diferente, uma situação um pouco parecida. O Senador José Sarney, Vice-Presidente da chapa de Tancredo Neves, passou todo o período em que Tancredo Neves agonizava no hospital tendo o maior cuidado nas atitudes a tomar.

     Eu me lembro de que uma vez o José Aparecido me dizia que era preciso que se compreendesse o Senador Sarney nesse período. Se olhasse sorrindo, diziam que era o desejo do poder; se olhasse de lado, estava querendo companhia. E o José Aparecido, com aquela inteligência fantástica dele, descrevia toda a gesticulação e toda a atitude que o então interino José Sarney poderia tomar e ser motivo de comentários ou de interpretação da imprensa - e não só da classe política.

     E o nobre Senador soube comportar-se com muita correção, conservando todas as indicações do Dr. Tancredo Neves. Eu me lembro de que ele até chamou, à época, o Aécio Neves, membro da família de Tancredo, para confirmar os compromissos assumidos.

     E V. Exª sabe que nesses momentos aparecem compromissos que nunca existiram. E o então Presidente em exercício José Sarney teve o cuidado de ouvir todas as pessoas.

     V. Exª, em outras circunstâncias, vai passar agora por um momento muito delicado na sua vida. Eu pessoalmente, como disse aqui, não tenho nenhuma desconfiança das atitudes de V. Exª, mas tenho do seu Partido.

     Infelizmente o seu Partido não merece nesta Casa a confiança que V. Exª pessoalmente merece. E esse é o primeiro entrave com que V. Exª haverá de se deparar.

     Mas, com a habilidade que tem, estou convicto de que se sairá muito bem nessa função. E espero que, nesses episódios, sem nenhuma pressa, sem nenhum atropelo, a história lhe reserve posições importantes, porque mérito e qualificação V. Exª tem.

     Daí por que... Desculpe-me estar lhe fazendo este alerta, que não é exatamente para o bem de V. Exª, mas para o bem desta Casa, que tem de ter tranqüilidade a partir de agora.

     É preciso vencer o tempo perdido. A atitude de V. Exª de já começar a equacionar calendário de votações é o primeiro passo. Mas nós temos de avançar muito mais. Nós estamos com a Casa parada, e ela precisa voltar a andar. A responsabilidade - o Brasil sabe, e os oitenta Senadores saberão, terão consciência - recairá sobre os ombros de V. Exª. Segure que o peso é forte. Mas tenho certeza de que V. Exª não vai decepcionar o País.

     Muito obrigado.