Discurso durante a 199ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Desapontamento da sociedade brasileira com o resultado da CPI do Apagão Aéreo, que encerrou seus trabalhos rejeitando o relatório do senador Demóstenes Torres. Desafios do Brasil para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2014.

Autor
Raimundo Colombo (DEM - Democratas/SC)
Nome completo: João Raimundo Colombo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), TRANSPORTE AEREO. ESPORTE.:
  • Desapontamento da sociedade brasileira com o resultado da CPI do Apagão Aéreo, que encerrou seus trabalhos rejeitando o relatório do senador Demóstenes Torres. Desafios do Brasil para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2014.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2007 - Página 38619
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), TRANSPORTE AEREO. ESPORTE.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, MARIO COUTO, SENADOR, ESTADO DO PARA (PA), APOIO, PROTESTO, ARQUIVAMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), TRANSPORTE AEREO, COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, DEFESA, IMPORTANCIA, COMISSÃO, REDUÇÃO, CRISE, SISTEMA NACIONAL, AVIAÇÃO CIVIL.
  • HOMENAGEM, BRASIL, SEDE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, REGISTRO, RELEVANCIA, ESPORTE, UNIÃO, POPULAÇÃO, COMENTARIO, PERIODO, HISTORIA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO, ENERGIA ELETRICA, REDUÇÃO, VIOLENCIA, ACIDENTE DE TRANSITO, GARANTIA, SEGURANÇA, CAMPEONATO MUNDIAL.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assisti à última reunião da CPI do Apagão Aéreo e dela participei, usando da palavra. Assisti a uma parte do desabafo do Senador Mário Couto em seu pronunciamento, ao qual me associo completamente. Realmente foi um momento triste para esta Casa. Foi muito ruim o que aconteceu ali.

O Senador Demóstenes Torres e toda a equipe, o próprio Presidente Tião Viana, o Vice-Presidente Renato Casagrande, enfim, todos os membros da CPI nos dedicamos bastante. E muitas pessoas participaram daquelas reuniões, deram sua contribuição, trouxeram seu exemplo, mostraram os fatos que são de conhecimento de todo o povo brasileiro. Não é uma CPI com objetivo abstrato, desconhecido, interno; é uma CPI de profunda repercussão nacional. Falar que não existe crise aérea neste País é não estar acompanhando o que acontece no dia-a-dia das pessoas. Ontem mesmo, a reunião teve de ser transferida, porque os Senadores não puderam chegar, já que os vôos estavam todos atrasados.

Isso, sem colocar que, nessa CPI, os estudos que se faziam também diziam respeito a vítimas. Foram tratados dois acidentes aéreos: aquele da Gol e, logo após, o da TAM. E a intenção foi mostrar que precisava e precisa ser feita alguma coisa profunda e rápida. Não se pode tratar isso com descaso. O próprio Governo reconhece isso.

Praticamente, todos os diretores da Anac foram derrubados. E hoje se anunciou que sairia mais um. Parece que era o último, que insistia em ficar, o Diretor Rolando Lero. Ele diz que não há crise, que não sabe nada, que não há apagão.

E ali houve uma dedicação muito grande; inclusive, representantes da Aeronáutica até se emocionaram - um Brigadeiro chorou. Muitas pessoas acompanharam todo esse trabalho, e o problema ainda persiste, e a coisa já vai a longo prazo. É verdade, sentimos isso, que já houve melhora, mas ali havia e há alguma coisa de muito grave. Existe uma relação muito ruim do setor público, das empresas de fiscalização com as empresas privadas, e quem tem pago a conta é o povo.

Dessa forma, a nossa expectativa quanto a tudo aquilo que foi feito com tanta dedicação e com profunda competência, há necessidade de se dizer, por parte do Relator, Senador Demóstenes Torres, hoje recebeu uma paulada pela falta de reconhecimento, de valorização do trabalho feito.

É evidente que, no Parlamento, discordar é correto, possível, legal, não há nenhuma dúvida. Mas ali se cumpriu uma missão clara: o Governo não queria a apuração, como quando evitou a quebra de sigilo bancário do Sr. Carlos Wilson, que, de forma clara, era o maior acusado.

Seria necessário dizer também que a CPI ouviu muitas pessoas idôneas, que fizeram relatos, pessoas do Ministério Público, que levaram fatos comprovados de corrupção, de desvio de recursos, de superfaturamento. Nada disso é abstrato; são coisas concretas, reais, que fazem parte do relatório. Assim, a forma como foi feito, com o resultado que se produziu, deixa-nos a todos entristecidos.

No Brasil, a classe política está desgastada, desmoralizada, sobretudo o Parlamento. Interessa ao Executivo desgastar esta Casa, a todos. E vamos ser realistas: também temos contribuído para que isso aconteça, de tal forma que a opinião pública reflete um fato, e não uma ilusão.

Mas hoje perdemos uma oportunidade de recuperar um pouco a nossa imagem. Fizemos o contrário: nós a pioramos ainda mais. Depois de tanto trabalho, de ter ouvido tantas pessoas, de ter chamado a atenção do Brasil inteiro, na hora de concluir os trabalhos, de apresentar o resultado, de propor soluções, de dar encaminhamento às novas atitudes, vem-se com um voto em separado, ignora-se tudo isso, joga-se na lata do lixo, desvaloriza-se tudo.

A opinião pública, mais uma vez, tem todo o direito de se sentir enganada, agredida pelos fatos; mais uma vez, temos de nos curvar diante da tal maioria. E esse negócio de maioria é muito relativo: metade mais um não é maioria nem na “China”, é um elemento de força. Maioria é quando a grande maioria tem a mesma opinião. Isso é resultado de uma disputa.

Só nos restou nos retirarmos da reunião e prestar nossa absoluta solidariedade ao Senador Demóstenes Torres e a todos que vieram depor, que deram sua contribuição, que trouxeram suas informações, que sugeriram procedimentos, que apontaram caminhos, que reconheceram erros, que apontaram erros cometidos, que mostraram os fatos da corrupção.

Todavia, não devemos, em nenhum momento, desanimar. O processo é esse. A sociedade se organiza e se mobiliza; a conscientização é o último fator, vem depois disso tudo, leva tempo. O Brasil vive um processo de mudança - não é só alternância, é mudança mesmo. Há que se mudar muito e profundamente.

Lamento tudo isso e demonstro minha indignação, minha tristeza com tudo que aconteceu.

O objetivo do meu pronunciamento hoje, como esportista que fui, como esportista que ainda sou, Senador Paulo Duque, embora com muito esforço, pois ainda pratico esporte, o futebol, é expressar a nossa alegria, Senador Alvaro Dias - V. Exª é um dos ícones da proteção ao nosso esporte, da busca da sua recuperação; liderou esse processo por meio da CPI, importa-se até hoje com o assunto, move ações nesse sentido -, e comemorar a vinda da Copa de 2014. Mas não só isso: também alertar sobre o que pode vir em conseqüência disso.

O futebol, no Brasil, é um elemento da identidade nacional. Não há novela; não há guerra - e o Pelé parou uma guerra; não há campanha política, nada identifica tanto o povo brasileiro, nada o une tanto, nada aproxima tanto as pessoas, nada faz com que o grito de todos seja um só como quando a Seleção Brasileira entra em campo.

A história da Copa de 50 talvez seja a origem disso tudo. Aquela catástrofe, aquele acidente, aquela frustração fez com que encontrássemos dentro de nós a força suficiente para superarmos e nos tornarmos melhores.

Sou da geração que acompanhou mais propriamente a Copa de 70, e sabemos dizer o nome dos jogadores. Sou torcedor do Santos, embora lá de Santa Catarina. Sou fanático pelo Santos; sócio, acompanho todos os jogos. Estamos em segundo lugar, desta vez, Senador Expedito Júnior - V. Exª também é santista. Não deu para sermos campeões, mas vamos continuar sendo o melhor time do mundo, porque aquela época foi gloriosa. E acompanhamos o esporte sendo construído dessa forma. Quem viajou para o exterior e não fez referência a Pelé, a Garrincha. Naquela época, os times ficavam dez anos com a mesma escalação. Qualquer pessoa, em qualquer lugar, sabia o nome de todos os jogadores, sob a mesma bandeira, com aquela mesma identidade, que depois foi superada por essa outra fase mais profissional, mas ainda com líderes, como Romário e Ronaldo.

Infelizmente, não dá para dizer isso hoje. Já nem sabemos qual é o time. Se me pedirem para escalar o Santos aqui, vou ter dificuldade. Penso que nenhum de vocês vai conseguir escalar seus times de coração, porque não dá mais. A coisa virou um mercado.

Estamos perdendo essa identidade. Esses valores estão se perdendo. O esporte está deixando de ser uma unanimidade, um elemento da identidade nacional. O pessoal se encontra no aeroporto, com um treino só, tenta representar aquela que foi uma bandeira de todos nós e vai mostrando, ao longo do tempo, que estamos jogando fora essa unanimidade nacional. É uma perda de identidade, uma coisa que me entristece.

A Copa de 2014 pode ser uma oportunidade, mas não pode ser pão e circo. Não é apenas fazer estádios, reformar os estacionamentos; é muito mais do que isso. Temos de oferecer, neste momento, a grande avaliação das mudanças que precisamos fazer.

Fazer a Copa do Mundo com esses índices de violência com os quais convivemos nas grandes cidades é uma irresponsabilidade. Temos de combatê-la ainda mais, porque aí vamos ser vitrine, e essa é a oportunidade. Não adianta apenas arrumar os estacionamentos, se não corrigirmos o problema das estradas. Morrem mais pessoas em acidentes de carro no Brasil do que na guerra do Iraque. Temos de enfrentar isso.

Temos de falar de infra-estrutura; temos de resolver a questão do apagão aéreo. Como vamos trazer turistas do mundo inteiro, se estamos convivendo, nos aeroportos, com o atraso dos vôos e com as superlotações?

Existem outros desafios, como o da energia elétrica. Se não fizermos investimentos, se não houver um entendimento dentro do Governo para as questões ambientais e de infra-estrutura, não vamos ter energia elétrica suficiente. Vamos ter de apagar a iluminação de alguns pontos das cidades para poder acender os estádios e transmitir para o mundo uma coisa que de fato não existe.

Nós temos de cuidar do trânsito nas cidades. O Brasil tem 2,2 milhões de carros circulando, e não temos ampliação das estradas. Estamos vivendo com essa realidade que se faz presente.

Vir a Copa do Mundo ao Brasil é uma grande notícia; é realmente uma grande oportunidade. Satisfaz a todos nós; porém, é importante que se preserve a identidade que o esporte representa e que conquistou ao longo do tempo através de muitos ídolos. Aqui podemos citar tantos que são referências para todos nós. E não podemos continuar até lá fazendo com que atletas com 16 ou 17 anos, como o Alexandre Pato, que jogou duas partidas e já vai para o exterior. Todos seguem o mesmo caminho, e se vai perdendo essa identidade.

É importante que a gente não precise, para ligar a luz do estádio, apagar um outro ponto da cidade porque vai faltar energia elétrica. Temos que resolver esses problemas.

Nesse contexto, saúdo o Brasil como sede da Copa de 2014, mas alerto para que a gente possa fazer uma grande Copa e atender aos anseios sobretudo do povo brasileiro. Esse é o desafio de todos nós.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2007 - Página 38619