Discurso durante a 200ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Conclamação aos governadores para adoção de ensino especial aos portadores de deficiência.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA SOCIAL.:
  • Conclamação aos governadores para adoção de ensino especial aos portadores de deficiência.
Publicação
Publicação no DSF de 02/11/2007 - Página 38939
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, AUMENTO, DESEMPREGO, FALTA, QUALIFICAÇÃO, POPULAÇÃO, PROTESTO, NEGLIGENCIA, GOVERNO, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO.
  • CONCLAMAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADOS, BRASIL, ATENÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, ATENDIMENTO, ENSINO ESPECIAL, EDUCAÇÃO, INCLUSÃO, ESCOLA PUBLICA, PREPARAÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, ANUNCIO, AUDIENCIA, ORADOR, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti e demais Senadores presentes, ontem, fiz uma espécie de provocação, dizendo que não ia falar para os Senadores, mas para as pessoas lá de longe, em suas casas, especialmente para os pais e mães de 750 mil jovens, especificamente os que fazem parte de um grupo que foi em busca de emprego nas agências de emprego deste País e saíram de lá sem emprego, sabendo que, dentro dos computadores, existem vagas. Outros 720 mil jovens conseguiram emprego. Mas esses ficaram sem emprego, sabendo que lá há vagas.

As pessoas, então, perguntam: “Então, houve alguma manipulação, houve alguma corrupção” - todos acham que tudo hoje é corrupção - “para que eles tenham saído sem emprego, tendo emprego guardado?” Senador, foi uma corrupção, mas de outro tipo. Não foi corrupção do protecionismo e da prevenção contra aqueles; foi a corrupção de não terem dado boa educação a eles no passado. Eles foram vítimas de um processo educacional que não lhes deu a cobertura devida no momento certo. Isso é também corrupção.

Porque nós nos acostumamos a ver corrupção no comportamento dos políticos, mas ignoramos a corrupção nas prioridades das políticas. Em geral, a corrupção nas prioridades é mais gritantemente imoral do que, até mesmo, a corrupção no comportamento dos políticos.

Ontem falei para esses pais e mães que não puderam dar educação a seus filhos, mas que continuam sem lutar para que seus netos tenham uma boa educação, e aí, daqui a alguns anos, serão seus netos que chegarão a uma agência de emprego, que se apresentarão procurando emprego, que sabem que ali dentro do computador há uma quantidade imensa de vagas e vão sair de lá sem o emprego, porque não levaram a formação necessária.

Houve um tempo, gente, em que para entrar em uma fábrica e ter um emprego - Senador Mão Santa, não sei se o senhor lembra disso - bastava mostrar que sua altura era maior do que o mínimo. Havia fábrica, Senador, que botava uma vara: quem fosse abaixo daquele tamanho não entrava, quem fosse acima entrava, para não deixar entrarem pequenos Não tinha necessidade de currículo, de formação, porque era com enxada que se trabalhava. Para trabalhar com enxada não precisa de formação; ou era com um torno - e aí precisaria de um pouquinho mais de formação. Já, hoje, é um computador. Hoje não são mais operários; são operadores. Hoje não vai haver emprego.

Mas hoje não quero falar para esses pais e mães cujos filhos estão sem emprego porque não estudaram no momento certo. Não quero falar para eles pedindo que não deixem que aconteça o mesmo com os seus netos; que exijam dos seus governantes escolas boas para seus netos e exijam dos seus netos que estudem. Hoje quero falar para outros, quero falar para os Governadores do Brasil, os 27 Governadores que raramente se lembram da necessidade de adotarem com carinho e cuidado aqueles que são portadores de deficiência.

Ontem recebi aqui, na Comissão de Educação, um grupo de pais e mães de Brasília, cujos filhos são portadores de deficiências - são autistas, tiveram problemas de paralisia infantil ou de paralisia cerebral, são portadores de deficiências visuais graves, são surdos -, e eles vieram dizer-me que não estão conseguindo o atendimento correto e necessário aqui no Distrito Federal.

Como Senador daqui, liguei imediatamente para o Secretário de Educação e marquei já uma conversa segunda-feira - porque amanhã é feriado -, para discutirmos o que fazer. E a gente sabe o quê. Todo mundo sabe que o que a gente precisa fazer com os jovens portadores de deficiência são duas coisas que permitirão integrá-los à sociedade: de um lado, a educação dentro da escola normal, a chamada educação inclusiva. Com exceção dos casos mais graves, a quase totalidade dos alunos pode estudar, mesmo sendo portadores de deficiência, com alunos que não o são. Essa educação inclusiva é positiva até para os chamados “normais”, convivendo com aqueles que têm suas deficiências, Senador Paim. Este é um lado: a educação inclusiva. De outro lado, é preciso evitar, Senador Paulo Paim, o risco de cairmos na tentação do experimentalismo de pedagogos que acham que a simples educação inclusiva é suficiente. Não é! Não é porque a educação inclusiva inclui a criança portadora, socialmente com seus colegas, mas não os inclui funcionalmente, porque a escola não garante emprego nem para os chamados normais, imagine para os portadores.

Eu tenho visitado escolas que são exclusivas, não inclusivas; são exclusivas para portadores de deficiência, e formam esses jovens. Vi escola que muda a vida daqueles que são portadores de Síndrome de Down, não na escola normal, mas numa escola especial, ensinando a trabalhar com cerâmica, a ser jardineiro. Houve um ótimo almoço preparado por cozinheiros e cozinheiras todos portadores de Síndrome de Down. São capazes de muitos trabalhos, inclusive dependendo do grau que eles têm.

Eu disse que vinha falar, nesse curto prazo, para os Governadores. Está na mão deles, Governadores, não nas nossas, Senadores, adotarem o ensino especial para os portadores de deficiência. É algo que a gente tem que tratar como uma dívida nossa com aqueles que, por razões que a gente sabe, não depende de um ou de outro, por razões da natureza, chegaram com a vista muito curta, com a audição insuficiente, com dificuldade de locomoção, com uma mente que não capta com a mesma dimensão dos outros. Todos estes, Senador Alvaro Dias, são, senão recuperáveis, capazes de ter uma vida feliz e útil. Basta que os Governadores assumam um cuidado especial com os portadores de necessidades especiais.

E eu insisto que esse cuidado especial - e termino Senador Mozarildo - requer duas linhas: a linha inclusiva, da inclusão dos portadores de deficiência nas escolas normais, tradicionais - e isso exige, claro, formar os professores, colocar infra-estrutura que permita a locomoção para os que não se locomovem; exige o cuidado psicológico com as outras crianças; exige gastar mais dinheiro, sim. E este é um ponto importante: a gente não pode ficar sem querer gastar.

Ninguém vai fazer economia para fazer a Copa do Mundo no Brasil. Ninguém. Não vai haver economia, Senador. Não vai haver economia para trazer a Copa do Mundo para cá. Por que é que a gente faz economia na hora de cuidar daqueles que não podem jogar futebol porque são vítimas de deficiências físicas?

É preciso cuidar da escola tradicional, ajustando-a para receber os portadores de deficiências; mas não vamos cair nesse discurso de que a educação inclusiva é suficiente: é preciso uma educação exclusiva também, para formar os portadores de deficiência de maneira a que eles obtenham um ofício. E a quase totalidade deles é capaz, sim, de ter um ofício e de integrar-se na sociedade. Isso é possível, e eu deixo aqui o apelo aos Governadores do Brasil.

Como sou do Distrito Federal, segunda-feira vou acompanhar essas mães e pais em uma audiência com o Secretário de Educação do Distrito Federal. Quem sabe aqui, na capital de todos os brasileiros, a gente não vá conseguir dar um exemplo de como tratar como se deve os portadores de deficiências e que exigem cuidados especiais?


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/11/2007 - Página 38939