Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória de Ernesto Che Guevara.

Autor
Fátima Cleide (PT - Partido dos Trabalhadores/RO)
Nome completo: Fátima Cleide Rodrigues da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de Ernesto Che Guevara.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2007 - Página 36930
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ERNESTO CHE GUEVARA, VULTO HISTORICO, REVOLUÇÃO, SOCIALISMO, AMERICA LATINA, REGISTRO, BIOGRAFIA, LUTA, SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA SOCIAL, LIBERDADE, INTEGRAÇÃO, POVO, REPRESENTAÇÃO, IDEOLOGIA, IDENTIFICAÇÃO, JUVENTUDE, COMBATE, EXPLORAÇÃO, IMPERIALISMO.

     A SRA. FÁTIMA CLEIDE (Bloco/PT - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Sras. E Srs. Senadores quando Ernesto Guevara Lynch de la Serna, o “Che”, morre, aos 39 anos de idade, no dia 9 de outubro de 1967, executado pelo Exército boliviano, para alguns, Che Guevara já era um mito.

     A morte de Ernesto foi arrasadora para milhões de latino-americanos, pois mostrou claramente a dimensão humana do nosso querido Che! É esse homem, exemplo de luta pela igualdade e pela dignidade humana, e não o mito, que hoje devemos evocar nesta homenagem.

     A mitificação de Che é, na prática, o esquecimento de seu exemplo revolucionário, da sua capacidade de mobilizar os corações e as mentes na busca de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

     Os primeiros passos de Ernesto em direção a Che foram dados ainda no início da idade adulta.

     Estudante de Medicina, filho de uma família socialmente bem situada, tendo crescido em um ambiente de estímulo e proteção, de conforto e segurança, Ernesto tem seu primeiro contato com a dura realidade latino-americana ao fazer a famosa viagem pelo Continente com seu amigo Alberto Granado, viagem que imortalizou em seus diários e que inspirou o belo filme do diretor brasileiro Walter Salles. É então que torna contato direto com a exploração e a injustiça, com a doença e com a pobreza - mas também com a generosidade e a solidariedade que brotam espontaneamente do povo.

     Mais tarde, na Guatemala, experimenta diretamente os abusos do imperialismo, quando a interferência norte-americana não só derruba o governo do Presidente Arbenz Guzmán, que tentava levar adiante uma ousada reforma agrária, como apóia a instalação de uma ditadura militar. É então que Guevara percebe que a luta por uma América Latina mais livre e justa passava necessariamente, naquela conjuntura, pelo enfrentamento dos abusos do imperialismo, encarnado de forma especialmente vívida na velha política intervencionista norte-americana.

     Seja como for, Senhor Presidente, a visão de Che Guevara sobre América Latina - de sua unidade, de seus problemas e dos caminhos comuns que deveria trilhar para conseguir superar sua condição de explorada e espoliada, visão construída ao longo de sua própria experiência, é parte fundamental de sua teoria política e, ao mesmo tempo, uma referência para a luta de nossos povos contra o imperialismo e outras formas de dominação.

     Assim como a visão de Simon Bolívar, no Século XIX, foi fundamental para o imaginário político subjacente aos movimentos de independência dos países latino-americanos, a visão revolucionária de Che Guevara incorporou-se definitivamente ao ideário de diversos movimentos políticos que, ao longo dos anos 60, lutavam para concretizar a superação definitiva da condição colonial a que historicamente a América Latina estava submetida.

     Da Guatemala, Che Guevara passa ao México, onde finalmente conhece Rani e Fidel Castro, amizades que marcarão definitivamente seu destino e, efetivamente, o nascimento do projeto de libertação da América Latina. Com os dois irmãos cubanos, instala-se, em 1956, na Sierra Madre, em Cuba, de onde parte o bem-sucedido movimento revolucionário que derruba, três anos depois, em 1959, o governo corrupto de Fulgêncio Batista. É ao longo desses três anos de guerrilha que consolida-se a liderança do Comandante Che Guevara, o médico revolucionário.

     Depois disso, depois do sucesso em Cuba, seu olhar volta-se para horizontes mais amplos: para a África, que, afinal, compartilha conosco o destino colonial de exploração e espoliação. É do antigo Congo Belga que Che Guevara parte de volta à América, à selva boliviana, onde finalmente encontra a morte. Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, A morte de Che não apagou a memória do povo latino-americano. Sua lembrança é a lembrança da luta libertária, é a lembrança da proposta de um outro mundo possível, onde o ser humano está à frente dos interesses do capital.

     Che Guevara é o exemplo do poder transformador da juventude. Tinha menos de 30 anos quando se uniu, na Sierra Madre, a Fidel Castro - e também ele, embora dois anos mais velho do que Che, ainda não havia chegado aos 30.

     Em maio de 1968, a história de Che Guevara e seu exemplo de vida é uma referência para a rebelião

dos estudantes em Paris. Aos poucos, essa identificação dos jovens com a figura heróica de Che, com seus ideais e com sua atuação, transformam-no em um herói popular, imortalizando a célebre fotografia de Alberto Korda, que inspirou um dos famosos painéis multicoloridos de Andy Warhol e multiplicou-se, em inúmeras versões, pelo mundo afora.

     Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, |mesmo aqueles que hoje não concordam com as idéias ou com a ação de Che Guevara não têm como deixar de reconhecer que seu exemplo marcou indelevelmente o imaginário contemporâneo.

     A todos nós, atores políticos, em especial, o exemplo de Che Guevara é fonte inesgotável de oportunidades de reflexão. Mesmo para aqueles que discordam de suas premissas, de suas conclusões ou dos meios que escolheu para realizar seus objetivos, é inegável que sua sensibilidade para a peculiaridade da situação latino-americana - e, mesmo, das condições de exploração do chamado “terceiro mundo” em geral - é ainda exemplar. Mesmo que pegar em armas não seja uma opção desejável, o exemplos de rejeição veemente das condições de injustiça e de espoliação, sempre impostas pelas diversas encarnações do imperialismo, permanece, para nós, como necessidade objetiva de superação histórica.

     E eu, que na minha militância tive muitas vezes Che Guevara como exemplo de lutador e fidelidade à causa popular, concluo, como Fidel, dizendo:

     HASTA SIEMPRE, COMANDANTE!

     Muito obrigada!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2007 - Página 36930