Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

O descaso do governo federal com o setor agrícola.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • O descaso do governo federal com o setor agrícola.
Publicação
Publicação no DSF de 07/11/2007 - Página 39258
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, CORRESPONDENCIA, CIDADÃO, RECLAMAÇÃO, SITUAÇÃO, AGRICULTOR, FRUTICULTURA, LARANJA, MUNICIPIO, JABOTICABAL (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRISE, DESEMPREGO, SUPERIORIDADE, CUSTO, PRODUÇÃO, FALTA, INCENTIVO, GOVERNO, REGISTRO, DADOS, TRANSFERENCIA, CULTIVO, CANA DE AÇUCAR, PROTESTO, NEGLIGENCIA, GOVERNO FEDERAL.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebo, diariamente, correspondências de brasileiros e brasileiras de todas as partes do País e, mesmo, do estrangeiro. Acredito que isso é um sinal de que tenho desempenhado a contento minhas tarefas e, também, de que o meu partido, o Democratas, tem sido uma voz para milhões de brasileiros.

Essas cartas nos permitem perceber o que é o Brasil de verdade, mensurar os seus problemas e cobrar por soluções. Trago hoje aos nobres colegas o conteúdo de uma correspondência que me foi enviada da cidade paulista de Jaboticabal.

Jaboticabal é uma daquelas simpáticas cidades do interior paulista, cuja economia é fundada basicamente na agricultura. Digno de nota é o campus da Universidade Estadual Paulista, cujos cursos voltados para agricultura e veterinária são conhecidos em todo o Brasil.

Apesar de todas essas características positivas, Jaboticabal também é outra cidade que não conseguiu escapar do trator petista. Na correspondência que recebi, há uma enorme reclamação contra a situação na agricultura.

Apesar das vitórias que o setor agrícola tem obtido para o Brasil, fica claro que o Governo Federal pouco colabora para isso. Quem mais sofre é a parcela da população que foi, durante muito tempo, utilizada como meio para atingir determinados fins. No caso do cultivo de cítricos, é precisamente o apanhador de laranja, aquele trabalhador com pouca qualificação profissional, o mais afetado pela crise que vem assolando a citricultura.

A relação de causa e efeito é óbvia: se o agricultor enfrenta uma crise, vai deixar de plantar e, conseqüentemente, de contratar pessoas. Há, no final das contas, menos emprego e renda para quem mais precisa.

O plantador de laranja tem sido duramente afetado. Vejam que, comparado com um ano atrás, o plantador precisa colher 214% a mais para comprar a mesma quantidade de adubo. Hoje, para comprar uma tonelada de adubo, são necessárias 224 caixas de laranja. É muita coisa!.

Esse é um exemplo muito evidente de como está cada vez mais caro produzir laranja. O resultado é que, apesar de o mercado ter sido favorável ao longo da década, haja vista que a produção norte-americana sofreu reveses decorrentes de desastres naturais, a produção brasileira se manteve praticamente estável. É lógico concluir, pois, que houve pouco incentivo para o citricultor. Outros dados corroboram essa interpretação, como a redução da área de plantio: em São Paulo, a área plantada diminuiu 15% e, em Minas Gerais, 31%.

Na região do missivista, a produtividade, entre 2001 e 2005, caiu de 630 para 620 caixas por hectare. A área cultivada, em relação ao total, caiu de 14% para 13%. É de se notar que há um movimento em que os citricultores deixam de ser produtores para se tornarem meros arrendatários de terra. Isso é perceptível pelo aumento da quantidade de área destinada para a cana-de-açúcar. Se em 2001 a vantagem era de 4 vezes mais para a cana, em 2005 passou para 5 vezes mais cana do que laranja.

Detecta-se, portanto, um contexto de crise, em que está cada vez mais caro plantar, em que o pequeno agricultor se vê, cada vez mais, sem capacidade de produzir. Como decorrência, a área de plantio tem sido arrendada.

Não tenho a menor dúvida de que a situação decorre de descaso por parte do Governo Federal que, com sua política econômica nefasta, pune quem trabalha. A taxa de câmbio favorece a China, não o produtor brasileiro. Os juros estratosféricos favorecem o rentista, não o produtor brasileiro. A falta de investimento em pesquisa agrícola favorece o concorrente estrangeiro, não o produtor brasileiro. Por fim, as barreiras comerciais nos Estados Unidos e na Europa constituem uma arma apontada para o produtor brasileiro -- e contra a qual o Governo Federal não faz absolutamente nada.

Sr. Presidente, espero, neste rápido pronunciamento, ter alertado para um problema que vem afligindo os nossos agricultores, que se vêem desamparados pelo governo federal. Espero que, passados, cinco anos, finalmente o “homem” comece a trabalhar”.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/11/2007 - Página 39258