Discurso durante a 206ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a descoberta de uma grande reserva de petróleo no Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Reflexão sobre a descoberta de uma grande reserva de petróleo no Brasil.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2007 - Página 39933
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, DESCOBERTA, RESERVA, PETROLEO, BACIA DE SANTOS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GARANTIA, AUTO SUFICIENCIA, SOBERANIA NACIONAL, FAVORECIMENTO, ACIONISTA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), AUSENCIA, REDUÇÃO, POBREZA, BENEFICIO, MAIORIA, POPULAÇÃO, PAIS.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, FAMILIA, INCENTIVO, EDUCAÇÃO, FILHO, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, PAES, PROFESSOR, GOVERNO, MELHORIA, ENSINO, SALARIO, CAPACIDADE, APRENDIZAGEM, CONHECIMENTO, APERFEIÇOAMENTO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL.
  • QUESTIONAMENTO, INSUFICIENCIA, SALARIO, PROFESSOR, COMPARAÇÃO, REMUNERAÇÃO, SERVIDOR, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), SUPERIORIDADE, VERBA, INVESTIMENTO, GARANTIA, AUTO SUFICIENCIA, PETROLEO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - E a generosidade privilegiada do Senador Mão Santa.

Muito obrigado, Senador Mão Santa. Creio que não vou precisar de tanto tempo, Sr. Presidente.

Eu vim porque no dia de hoje o Brasil está comemorando, de acordo com todos os jornais brasileiros, Senador Geraldo Mesquita, a descoberta de uma reserva de petróleo que vai dobrar as reservas atuais de petróleo do Brasil. Ou seja, é um fato, sem dúvida, alvissareiro, mas que merece algumas reflexões.

Em primeiro lugar, isso não seria possível sem um sistemático trabalho, ao longo de cinqüenta anos, de todos os partidos, de todos os governos, em torno de uma entidade chamada Petrobras. Ou seja, o Brasil se une pelo petróleo, o Brasil se une pela Copa do Mundo.

Faltam sete anos, e todos os Governadores estão brigando para apoiar o Presidente Lula. Todos. E dizem que, no Brasil, um pacto é impossível; que, no Brasil, não há possibilidade de unir as Lideranças em torno de objetivos.

É claro que há! Em dois dias inteiros juntos, o Presidente e Governadores da Oposição a ele indo a Genebra e vindo de lá. Se se considerar o tempo de vôo, só no avião ficaram quase um dia inteiro trancados, conversando, conversando, conversando sobre a Copa do Mundo. E, há cinqüenta anos, conversamos e agimos apoiando a Petrobras. Há um pacto nacional para tornar o Brasil auto-suficiente. E conseguimos. Mais do que isso, segundo o Presidente e a Ministra Dilma, a partir de agora, seremos parte da Opep. Isso é alvissareiro.

Agora, o que ninguém lembra, Sr. Presidente, é que, no mesmo dia em que se descobre uma reserva imensa de petróleo, oito bilhões de barris, nesse mesmo dia, no Brasil, estamos jogando fora uma reserva maior ainda de energia. Nesse mesmo dia, talvez 80% das crianças brasileiras ou não foram à aula ou foram, mas saíram logo depois da merenda; ou foram, mas ficaram brincando ao invés de entrarem na sala de aula ou foram e entraram na sala de aula, mas não prestaram atenção a nada; ou foram e prestaram atenção, mas o professor, desmotivado por falta de salário, não conseguiu dar a aula ou não teve interesse; ou foram, os professores deram as aulas, mas não dispunham de equipamentos modernos, como computador, televisão.

Ou seja, no mesmo dia em que a gente descobre ou comunica a descoberta de um poço de petróleo, a gente joga fora uma energia muito mais sublime e permanente que é a inteligência do Brasil, porque esse dia perdido vai se repetir hoje, amanhã e amanhã e amanhã, como se repete há cinco séculos em que estamos jogando fora.

O mais incrível é que essa energia que a gente joga fora é a única permanente. Mesmo com oito bilhões a mais de poços de petróleo, daqui a 20, 30, 50 anos, esse petróleo terá se esgotado. Petróleo, cada vez que você tira um barril, não volta; ao contrário, polui lá em cima. Petróleo é uma reserva esgotável de energia, mas o cérebro não. Morre o cientista, mas ele passa as suas descobertas; morre o grande escritor, mas ele deixou os seus livros; morre o professor, mas ele ensinou às crianças. A inteligência de um povo é um bem permanentemente renovável. Mais do que renovável, ele se multiplica. Mas a gente insiste em gastar tudo o que tem para pesquisar petróleo, competentemente, do ponto de vista técnico, mas imoralmente, do ponto de vista ético, ao deixar de lado a mais sábia das energias, que é a inteligência.

É como o discurso, Senador Mão Santa, que o senhor falou que eu fiz na semana passada ou nesta semana mesmo, segunda-feira, em que eu disse: Mas, para o Brasil está bom demais, porque a gente escolheu um imperador em vez de um presidente; mas, para o Brasil já estava bom demais. A gente fez a Lei do Ventre Livre em vez da abolição, mas para o Brasil já estava bom demais. Nós somos um gigante deitado em berço esplêndido, mas, para o Brasil, estar deitado num berço esplêndido é bom demais. E assim a gente vai seguindo a história deste País.

Descobrir um novo poço de petróleo, imenso, enorme, que nos faz um país rico em energia fóssil é bom demais, mesmo que a gente esteja jogando fora a outra energia.

Senador Mão Santa, a produção hoje é de 1,5 milhão por dia; vai subir para 3 milhões quando isso estiver funcionando, daqui a alguns anos. Se multiplicar pelos dias do ano, será quase bilhão de barris por ano. Multiplique por US$100.00, multiplique por dois para pôr em reais e bastaria 1% disso para a gente fazer a revolução de que a gente precisa na educação. Ninguém fala em royalties sobre o petróleo para fazer a pesquisa, a exploração e o desenvolvimento da energia inteligência, como o Presidente Chávez está fazendo. Digam o que quiserem dele. Muita coisa é verdade sobre o autoritarismo que ele tenta exercer, mas lá o petróleo venezuelano está servindo em parte para eles desenvolverem a inteligência da Venezuela. Os árabes estão desenvolvendo, apesar de um país com pouca população. Nós não estamos.

Mas eu quero falar um pouco mais dessa reflexão sobre essa contradição terrível: um país que consegue tirar petróleo... As pessoas não sabem a dificuldade. É no fundo do mar, dois quilômetros abaixo do solo do mar. É uma tecnologia que os outros países não têm. A gente tem, usa e tira o proveito disso. E, ao mesmo tempo, joga fora a outra energia tão mais simples.

Mas eu não quero falar para o Senador, e sim para quem está me escutando, quem está me ouvindo, para lembrar que essa descoberta é fantástica para o Brasil, vai trazer alguns benefícios para você, em casa, mas não vai trazer tanto quanto se pensa, porque o Brasil é algo fundamental, mas também cada família é algo fundamental. Graças a essa reserva, o Brasil não estará mais vulnerável no dia em que uma guerra mundial impedir de recebermos petróleo do exterior. Aqui vamos ter. E isso é muito bom para você, para cada um de nós.

Mas, pelo que li nos jornais, até agora, só quem venceu e ganhou com essa pesquisa, do ponto de vista individual, foram os acionistas da Petrobras, que tiveram um aumento de 14%. Nem um real desses 14% vai para você, em casa, vai para a nação brasileira. A gente fala tanto contra a CPMF, e com razão, e esquece que, de anteontem para ontem, um grupo de ricos brasileiros acionistas da Petrobras tiveram um aumento de 14% na sua fortuna, pelo menos na parte que corresponde às ações. O jornal de hoje - não vou citar o nome - fala de uma pessoa que ganhou R$30 milhões.

Você que está me ouvindo tem de entender que o verdadeiro poço de petróleo que é seu está dormindo no quarto ao lado: é a sua criança. Ela está comendo com você à mesa, ao seu lado. É o seu filho, a sua filha. Você tem de entender que o verdadeiro poço de petróleo de cada família são os seus filhos, as suas crianças. Aquele outro poço de petróleo é do Brasil e é bom que a gente o tenha como brasileiros. É fundamental, importante e necessário para a soberania; ajudará cada um de nós no dia em que houver uma guerra no Oriente Médio e não pudermos receber o petróleo aqui. Afora isso, a ajuda é para o País e não para o indivíduo.

O verdadeiro benefício que se pode tirar é você próprio fazer o que a Petrobras fez no fundo do mar. Mas você não precisa fazer no fundo do mar nem mesmo gastando dinheiro. Você pode fazer se mobilizando, primeiramente em casa, para exigir do seu filho que ele estude. Educação não é uma questão apenas de escola e dos professores. É também dos pais. Não jogue a culpa nos professores, na escola. Você tem que se mobilizar dentro de casa para que o seu filho estude. Ele é o seu poço de petróleo; você é a Petrobrás da sua família.

Segundo, tem que se mobilizar na escola, tem que ir lá, porque os professores estão desmotivados. Você tem que ir lá, reclamar dos professores e apoiar os professores naquilo em que eles precisam, para conseguir recursos melhores, para aumentar o salário deles. Sem a mobilização dos pais os professores não conseguem ou passam cem dias de greve para terem 10% de aumento. E 10% não resolvem o problema dos professores, nem 30% nem 50% nem 100%. Tem que ser um aumento substancial. Você tem que apoiar os professores, mas também cobrar deles. E não só salário. Tem que cobrar que eles fiquem dando aula, que seus filhos aprendam e que tenham ensinamentos bons.

Você é a Petrobrás do seu filho, você é a Petrobrás do seu futuro, da sua família! E o seu poço de petróleo é o cérebro dos seus filhos. Alguns de vocês que ainda estão na idade de estudar também têm como desenvolver o potencial que têm dentro de vocês, como o Brasil tem, em suas entranhas, debaixo do subsolo, na bacia de Santos. A gente consegue chegar lá, montar uma plataforma, furar quilômetros de terra e de sal, chupar o petróleo, transformar em gasolina. É uma riqueza complexa, complicada, cara, que só foi possível porque alguns pais, anos atrás, insuflaram os seus filhos a estudar, porque os seus filhos estudaram e viraram os engenheiros da Petrobras, viraram os técnicos de nível médio da Petrobras. Aquele petróleo lá em baixo, que tem duzentos milhões de anos, ficaria lá mais um bilhão de anos se não fosse a inteligência humana.

O verdadeiro instrumento de produção energética é a inteligência. Primeiro, porque, se não fosse a inteligência da engenharia brasileira, o petróleo continuaria lá. Segundo, porque se tivesse inteligência para tirar o petróleo, mas não tivesse para refinar petróleo, de nada adiantaria, porque o petróleo é uma lama, que só vira algo positivo quando se transforma em diesel, quando se transforma em gasolina.

Não só isso! É que vai acabar! E, quando acabar, só haverá um jeito: é ter pessoas pensando em como fazer energia do ar, da água, do urânio, fontes alternativas, da cana, como a gente faz o etanol.

Por isso, eu queria que você que hoje lê contente, como brasileiro, que ganhamos o direito de sediar a Copa do Mundo, sinta a mesma alegria ao descobrir que você tem dentro de sua casa um poço de petróleo, talvez ainda inexplorado, que depende de você como orientador, como cobrador, como exigente de que seu filho estude e exigente de que a escola funcione bem. Mas não esqueça: a escola não vai funcionar bem se não houver governo que cuide tão bem da escola quanto os governos brasileiros cuidaram da Petrobras ao longo de cinqüenta anos.

Você tem que brigar para que os governos brasileiros façam uma espécie de “Escolabras”, faça das nossas 168 mil escolas uma entidade com a eficiência da Petrobras, só que, em vez de tirar petróleo, refinar petróleo, produzir inteligência, desenvolver inteligência. Depende de você. Você tem que entender que você tem que fazer isso para o bem de sua família e pelo bem de seu País, do nosso Brasil. O seu filho, bem formado, tem futuro. E o seu filho, bem formado, vai trazer o futuro para o Brasil no dia em que essas reservas de Santos acabarem. Porque elas vão acabar. Ai não se sabe se são vinte, trinta, quarenta anos. Mas não é muito mais do que isso.

Então, vamos tirar a lição das coisas boas. Vamos tirar lição do fato de que o Brasil, de repente, entre talvez até, como disse a Ministra Dilma, na Opep, como exportador de petróleo. Por que a gente não consegue ser exportador de patentes, de invenções? Por que a gente consegue exportar petróleo e não consegue ter um Prêmio Nobel? Por que a gente consegue ter petróleo e as famílias continuam pobres? Porque a gente não deu educação igual para todos.

E a Petrobras descobrindo todo esse petróleo vai ser bom para o Brasil, mas não vai reduzir em nada a pobreza brasileira. Não tem nada a ver: mais petróleo e menos riqueza social. Nada a ver. A não ser que a gente case esses dois através da escola. Senão, a gente vai ter mais petróleo para os ricos consumirem nos seus carros. A gente vai ter um país mais soberano ou menos vulnerável quando houver uma guerra internacional que proíba os grandes petroleiros chegarem aqui aos nossos portos. Mas, no seu porto, na sua casa, tudo vai continuar na mesma situação. Os acionistas vão ganhar dinheiro. O Brasil, como nação, vai ser menos vulnerável. Isso é bom, não é ruim.

Mas você não vai ganhar direto, porque você não quer, porque você não está alerta, você não se mobiliza, porque você não participa, porque você aceita, porque você se acomoda com o fato de que o Brasil é campeão na Copa do Mundo, com o fato de que o Brasil descobre petróleo a mais, com o fato de que o Brasil é um grande produtor de automóvel, porque o Brasil já é a 8ª ou 9ª potência econômica. Mas se acomoda porque o Brasil está lá depois do 70º lugar em condições sociais. E comemoramos como um grande feito que, hoje, 40 milhões de pessoas vivem numa transferência minúscula de renda. Deveríamos estar comemorando o fato de que isso não é necessário. Mas comemoramos isso como uma grande coisa. Estamos acomodados.

Vamos fazer como a Petrobras, que não está acomodada. Ela recebe o apoio de todos os Governos, tem a inteligência nacional e paga bem. Comparemos o salário dos funcionários da Petrobras com o dos funcionários das escolas e veremos porque somos auto-suficientes em petróleo e ridiculamente dependentes e atrasados em educação. Se o salário dos professores fosse tão bom quanto o dos funcionários da Petrobras, Senador Mão Santa, se o dinheiro que se gasta numa plataforma fosse gasto nas escolas, se o pacto nacional que mantém a Petrobras há 50 anos trabalhando fosse usado para desenvolver um programa educacional, se o Brasil pensasse nas crianças com o mesmo carinho que tem para com os barris de petróleo, seria outra a situação brasileira. Mas não fazemos isso. Comemoramos porque, para o Brasil, como disse o Senador Mão Santa, repetindo, já está bom demais: tem petróleo. Para que ter criança estudando?

Esta é a idéia que fica quando lemos os jornais de hoje: um fato a comemorar. Não vamos diminuir a importância da descoberta desse poço de petróleo que está na bacia de Santos - se isso se confirmar, porque alguns têm dúvida, pelo momento em que apareceu essa notícia, ou seja, quando se têm as notícias da crise energética e do apagão energético. Se confirmada, é para comemorar-se, mas não para dizer que para o Brasil está bom demais. Não, não está bom demais! E a culpa é de cada um de nós. Em casa, junto aos nossos pocinhos de petróleo, que são os nossos meninos e meninas - esse pocinho de petróleo que é do tamanho apenas de um cérebro, que é cinzento, e não preto como é, e não negro como é o petróleo -, vamos trabalhar com a mesma força, com o mesmo empenho para desenvolver a verdadeira energia brasileira que é a energia da inteligência.

Para isso, precisa-se de mobilização. Não acredito que os governantes o façam. Passou o tempo. E a própria Petrobras só começou porque o povo brasileiro foi à rua, porque, senão, ela não teria acontecido, Senador Geraldo Mesquita, V. Exª sabe muito bem disso. A Petrobras foi fruto de uma campanha: “O Petróleo é nosso”. Morreu gente nessa campanha. A gente precisa fazer uma campanha: “Educação já!”, como se fez o “Petróleo é nosso”, como se fez “Diretas já”, como se fez “Anistia”. Cada campanha brasileira só deu resultado quando o povo foi à rua. Não vai adiantar discurso de um, dois, três, dez Senadores aqui, enquanto não houver uma mobilização nacional para que a gente faça com o cérebro de nossas crianças aquilo que a gente faz com os poços de petróleo: cuidar, ir atrás, identificar onde estão, colocar o sistema de extrair saber, como a gente tem o sistema de extrair petróleo, refinar esse saber bruto que está na cabeça de cada um como refinamos petróleo para transformar em gasolina. Isso é tão possível, gente!

Bastava uma CPMF, 0,38% sobre cada barril de petróleo, para termos o dinheiro para fazer a revolução educacional. Mas fazemos o contrário. Esses barris de petróleo não trarão qualquer benefício para a educação brasileira e, ao mesmo tempo, estamos tirando dinheiro previsto para a educação pela Lei Calmon - que destinava 18% da receita da União para a educação. Com essa tal de DRU misturada à CPMF que votaremos, em vez de 18%, apenas 15% irão para a educação. Tiramos 20% dos 18%, ou seja, neste País, enquanto descobrimos, exploramos e comemoramos a descoberta de novos poços de petróleo, destruímos, abortamos, impedimos o desenvolvimento do maior de todos os poços energéticos que um País pode ter, que é a inteligência do seu povo, que começa no desenvolvimento da inteligência de suas crianças.

Vamos comemorar, mas sabemos que é pouco, é muito pouco se considerarmos o longo prazo e o bem-estar não apenas da Nação brasileira como entidade, mas também de cada família, cada pessoa, cada criança de hoje que amanhã será um adulto.

O Senador Geraldo Mesquita pediu um aparte. Peço desculpas por demorar tanto.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª apenas demorou 20 minutos, foram os mais importantes na História do Senado. Estamos aqui, eu e o Geraldo Mesquita Júnior.

Eu já li muito sobre o Senado e sei que o João Calmon escreveu sobre a história da educação, o Darcy Ribeiro, no seu livro, O Povo Brasileiro, mas ninguém falou tão bem como V. Exª. Pacientemente, o Geraldo Mesquita Júnior está aí para participar.

Portanto, quero me congratular e dizer que não é em vão, pois, como diz Fernando Pessoa, “vale a pena quando a alma não é pequena”. V. Exª, neste instante, é ouvido pelo magnífico e extraordinário serviço da televisão do Senado, que hoje o povo brasileiro busca porque aqui está a verdade. V. Exª fala pela fabulosa Rádio Senado.

E quero aqui prestar uma gratidão. Sabemos que isso é reproduzido no Jornal do Senado, mas temos outro veículo importante que temos olvidado: a Agência Senado.

Essa Agência torna esta Instituição numa das mais valorosas na defesa da democracia brasileira. É um dos veículos do sistema de comunicação do Senado.

A Agência Senado, que integra o sistema de comunicação do Senado, realiza a cobertura jornalística de todos os trabalhos da Casa e disponibiliza esse material no decorrer do dia pela Internet e em tempo real. Além de notas e reportagens completas, que são transmitidas gratuitamente pela rede, a Agência produz uma agenda diária das atividades do Plenário e de todas as comissões do Senado.

Esse veículo também divulga dois boletins eletrônicos distribuídos ao longo do dia, de maneira a manter o leitor informado sobre o que está acontecendo momentos após a ocorrência do fato. Além disso, a Agência fornece imagens digitais diárias e recentes dos acontecimentos e dos Srs. Senadores e alimenta a barra de notícias exibida pela TV Senado. Recentemente, lançou uma página eletrônica com noticiário em inglês e espanhol.

Toda a cobertura é divulgada com rapidez e repercussão para jornais e agências públicas e privadas de notícias do País. A Agência é um dos veículos de comunicação do Senado que mais cresceu em audiência nos últimos anos: em 2004, registrou 1 milhão de acessos; em 2005, pulou para 4,5 milhões; e, nos 4 primeiros meses de 2006, já havia ultrapassado a casa de 2 milhões de visitantes, fechando o ano com mais de 5 milhões de acessos.

Dirigida por Valéria Ribeiro Franklin, a Agência movimenta diariamente uma equipe de repórteres para divulgar, em primeira mão, para toda a mídia nacional e internacional, todas as atividades legislativas, levando ao conhecimento do País a atividade do Senado Federal e colaborando para que os discursos dos Srs. Senadores sejam corretamente interpretados pela sociedade.

V. Exª fique certo, Senador Geraldo Mesquita, que tivemos o privilégio de estar ao vivo aqui debatendo, e isso não foi em vão. Talvez seja o momento mais feliz para a Nação brasileira o que vamos colher da inteligência de V. Exª, Senador Cristovam, mandando os brasileiros cultivarem nossa maior riqueza: o cérebro de nossas crianças.

Passo a palavra ao Senador Geraldo Mesquita.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª hoje se superou. E o interessante disso é que, no seu caso, temos certeza absoluta de que, amanhã, V. Exª se superará mais uma vez. Eu estava aqui dividido entre o desejo de aparteá-lo e o medo de interferir no seu discurso e quebrar esse encanto que V. Exª construiu hoje aqui. O Senador Mão Santa tem razão. V. Exª hoje construiu uma ode à educação, uma ode ao povo brasileiro, uma ode à inteligência. V. Exª hoje criou uma imagem que deveria se fixar na mente de todos nós: a de que temos poços de petróleo nos quartos dos nossos filhos, das nossas crianças em todo o País. Não diria poços de petróleo, mas poços de energia renovável, como V. Exª mesmo disse. São energias que, se receberem investimentos, estímulos, além de serem renováveis, produzirão a riqueza do País. Petróleo é efêmero. V. Exª, inclusive, já vaticinou: daqui a 40, 50 anos, o grande poço descoberto será pó, mas o povo brasileiro é permanente. Há necessidade de criarmos as melhores condições para que nossas crianças, nossos jovens, o povo brasileiro, enfim, produza inteligência. Essa é a energia do mundo, essa é que é a energia que permite, inclusive, o surgimento de uma Petrobras, como V. Exª bem lembrou. Essa é que é a energia em que devemos investir, Senador Buarque. Como eu disse, eu estava aqui, dividido, pois não queria quebrar o encanto de seu discurso, mas eu não podia deixar de parabenizá-lo. Hoje o Senador Mão Santa, mais uma vez, tem razão. Confesso a V. Exª aqui, eu não me lembro de um pronunciamento, diria a V. Exª até, tão encantador como o que V. Exª produziu hoje aqui no plenário. É um pronunciamento que deveria ser impresso como nossa “constituiçãozinha” para ser distribuído pelo País afora, em letras pequenininhas, mas impresso e distribuído a cada brasileiro, para pensemos no que V. Exª disse hoje aqui, na imagem que V. Exª construiu. Ficamos com a cabeça voltada para o poço de petróleo que descobrimos, que, não resta dúvida, tem a sua importância, e, com isso, negligenciamos os poços de energia que nós temos dentro de casa, dentro do nosso País, neste mundão de Brasil. Parabéns a V. Exª e que Deus permita que V. Exª continue com essa inteligência. V. Exª é acusado, inclusive, de ter um único discurso, acerca da educação. Mas olhe a diferença: V. Exª, talvez, tenha um único discurso, mas, dentro desse único discurso, todo dia V. Exª mostra a este Plenário, a este País, formas diferentes de tratar a questão da educação. Aí é que reside a importância e o mérito da sua atuação nesta Casa, como homem público, e neste País. Parabéns!

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado aos dois Senadores.

Quero dizer que fico sinceramente emocionado, mas...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Permita-me, Drª Claúdia Lyra - e quis Deus que eu e o Senador Geraldo Mesquita estivéssemos aqui representando o Senado -, que este pronunciamento do Senador Cristovam Buarque seja buscado. A Casa já publicou livros sobre os melhores pronunciamentos do Senado e se fez até CD - idéia do Senador Antonio Carlos Magalhães. Então, que seja buscado, Drª Claudia Lyra, este pronunciamento e levado ao Presidente da Casa, para que, na próxima edição, seja incluído entre os melhores pronunciamentos feito nesta Casa.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, Senador Geraldo Mesquita Júnior, não quero diminuir a generosidade de vocês, mas eu não vou deixar de fazer uma confissão.

Apesar de tudo isso que os senhores dizem, eu ontem estava assistindo, já muito tarde da noite, o noticiário de uma dessas cadeias internacionais e que falava de um homem colombiano, cujo filho foi seqüestrado, que decidiu caminhar pela Colômbia inteira, inclusive carregando umas correntes nele amarradas, para defender a paz na Colômbia. E dei um susto na minha esposa quando lhe disse: “será que, em vez de fazer discurso engravatado, naquele frio do ar condicionado do Senado, não seria melhor eu ir para o Chuí e começar uma caminhada até o Oiapoque falando de educação, falando da revolução de que o Brasil precisa?”

Senador, temos conhecimento de todos esses veículos que o Senado usa - felizmente e graças a ele, o que falamos aqui chega a algum lugar -, mas infelizmente e sinceramente, a imprensa hoje só se interessa pela CPMF, como foi com o “mensalão” antes. E só vai se interessar, daqui a alguns meses, pelo próximo escândalo, e não haverá um único jornalista para querer falar disso.

Por isso, ontem eu me perguntei, apesar de tudo isso, Senador Mão Santa, será que o melhor lugar para ajudarmos a fazer a revolução é aqui, nesta tribuna, mesmo com todos esses veículos, ou fazermos uma grande caminhada neste País? O susto que dei na minha esposa quando falei isso, é claro, não durou muito, porque eu acho que, na idade em que estou, e do tamanho que é o Brasil, talvez eu exagerasse em meu quixotismo ao fazer isso. Então, por conta da idade e do tamanho do Brasil, vou continuar aqui, falando essas mesmas coisas, enquanto tiver energia.

Agradeço aos Senadores a gentileza. E, por favor, não foi para os Senadores que eu falei, mas para cada um de vocês que estão em casa. Não se esqueça, você tem um poço de petróleo em casa, um, dois, três, quatro, seus filhos. Agora, você precisa fazer como a Petrobras. Ela transforma uma matéria bruta que é a lama chamada petróleo, escondida no subsolo, em gasolina, em diesel; e vocês precisam transformar essa coisa que vocês não vêem, a massa cinzenta que existe dentro da cabeça de cada um de seus filhos, em inteligência. Para isso, prestem atenção, acompanhem, exijam das crianças que vão à escola, briguem com os professores, apóiem os professores, exijam equipamentos. E os professores não podem fazer isso se não tiverem o apoio de vocês junto às autoridades, junto a cada governante. Vão à Prefeitura, vão à sede do Governo, manifestem-se; façam como as gerações anteriores fizeram para que o petróleo fosse nosso, para que se criasse a Petrobras, lutem para criar uma espécie de “Escolobras” neste País. E não esqueçam que, a cada quatro anos, vocês escolhem aqueles que vão decidir o futuro do Brasil: só com petróleo, que se acaba, ou também com inteligência; só para beneficiar uma grande empresa nacional, ou para beneficiar a família de vocês também. Lembrem-se disso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2007 - Página 39933