Discurso durante a 207ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Desembargador Antonio José Feu Rosa, no Espírito Santo. Reflexão sobre as discussões em torno do narcotráfico e o perfil dos consumidores de drogas no Brasil. (como Líder)

Autor
Renato Casagrande (PSB - Partido Socialista Brasileiro/ES)
Nome completo: José Renato Casagrande
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DROGA. POLITICA SOCIAL.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Desembargador Antonio José Feu Rosa, no Espírito Santo. Reflexão sobre as discussões em torno do narcotráfico e o perfil dos consumidores de drogas no Brasil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2007 - Página 40071
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DROGA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DESEMBARGADOR, PRESIDENTE, TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), EX-DEPUTADO, ESCRITOR, SAUDAÇÃO, PESAMES, FAMILIA.
  • ANALISE, DEBATE, POLITICA, SETOR PUBLICO, COMBATE, TRAFICO, DROGA, INSUFICIENCIA, PRISÃO, TRAFICANTE, NECESSIDADE, REPRESSÃO, USUARIO, PATROCINIO, VIOLENCIA.
  • COMENTARIO, PESQUISA, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), UTILIZAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, DESCRIÇÃO, CARACTERISTICA, USUARIO, DROGA, JUVENTUDE, CLASSE SOCIAL, RIQUEZAS, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), DEFESA, INCLUSÃO, POLITICA SOCIAL, INGRESSO, ADOLESCENCIA.
  • ELOGIO, PRONUNCIAMENTO, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG), DEFESA, AMPLIAÇÃO, CAMPANHA EDUCACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, JUVENTUDE.
  • DEBATE, FILME NACIONAL, DESCRIÇÃO, TRABALHO, POLICIA, FAVELA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMBATE, TRAFICANTE, DROGA, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INFLUENCIA, LEGISLAÇÃO, ECONOMIA, EDUCAÇÃO, NATUREZA SOCIAL, TRAFICO, DEFESA, DISCRIMINAÇÃO, COMERCIO, ENTORPECENTE.

O SR. RENATO CASAGRANDE (Bloco/PSB - ES. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente Senador João Pedro, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, primeiro farei o registro de uma perda no Estado do Espírito Santo, Sr. Presidente. Perdemos, neste último sábado, o ex-Desembargador Antônio José Miguel Feu Rosa aos 73 anos de idade, vítima de um câncer. Antônio José foi Desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo; além disso, foi Deputado Federal, representando a população do Estado do Espírito Santo, e escritor; escreveu diversos livros e artigos. Pela doença que se abateu sobre ele veio a falecer.

Então, quero render minha homenagem à sua vida, à sua história; e minhas condolências e o meu apoio à família do ex-Desembargador, do ex-Deputado Federal Antônio Miguel José Feu Rosa; o meu apoio à sua esposa, ao seu filho, que também é Desembargador, Pedro Miguel Feu Rosa; ao seu irmão, que é o João Miguel Feu Rosa, que foi Deputado Federal diversas vezes nesta Casa. Deixo aqui o meu abraço à sua família, o meu apoio a ela, e o meu voto de pesar pelo falecimento do Dr. Antônio José Miguel Feu Rosa.

Sr. Presidente, as discussões acadêmicas parlamentares e as políticas de Estado em torno do narcotráfico, via de regra, têm um foco: as ações e o perfil do traficante, homem predominantemente de origem pobre, migrante, social e politicamente marginalizado, que se esconde nos morros e nas periferias das cidades, onde sobrevivem as camadas mais desassistidas e discriminadas da nossa população.

Por desmazelo da nossa sociedade e dos agentes responsáveis pelo combate e repressão ao narcotráfico e pela omissão dos poderes públicos, o outro lado da questão, aquele que dá sentido de existir ao narcotraficante como profissão e ao narcotráfico como atividade econômica, sempre foi relegado a uma discussão secundária.

Falo do consumidor. Homens e mulheres, adolescentes e jovens, que compram e consomem drogas, legitimando, no pior sentido da palavra, a atividade do tráfico de drogas e do traficante.

Pois bem, agora, a Fundação Getúlio Vargas, a partir de informações coletadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, vai fundo nessa questão e revela o perfil dos consumidores de drogas do Brasil.

O estudo O Estado da Juventude: drogas, prisões e acidentes, de autoria do pesquisador Marcelo Néri, coloca-nos diante de uma dura realidade, quando define o perfil do consumidor de droga do Brasil como homem, jovem e da classe A, que é quem financia efetivamente o tráfico de drogas neste País, de acordo com o perfil levantado por esta pesquisa que é o perfil do consumidor de droga ilícita neste País.

De acordo com o levantamento, reproduzido em recente reportagem do Jornal Correio Braziliense - que peço que ela seja registrada nos Anais desta Casa -, 85% dos consumidores de drogas no Brasil são brancos, dos quais 62% estão na classe A. Sessenta por cento deles têm de 8 a 11 anos de estudo - a média de estudo é de 5 anos no Brasil; 80% ocupam a posição de filhos dentro de casa, no lugar de chefe da família ou cônjuge.

Segundo o estudo, 35,82% desses jovens têm entre 10 e 19 anos (16, 53% da população nessa faixa) e consomem ou já consumiram drogas. O percentual sobe para 50,74% entre 20 e 29 anos, o que corresponde a 23,11% da população brasileira.

Outro dado interessante do levantamento aponta que 49% desses jovens têm cartão de crédito, num universo de apenas 17% da população em geral que contam com essa vantagem financeira. Enquanto somente 17% da população tem cartão de crédito, os jovens que têm essa atividade são, em percentual, 49% dessas pessoas que militam ilicitamente no tráfico de drogas. Enquanto 12% da população têm cheque especial, desses, 35% são consumidores de drogas.

Ao revelar o perfil do consumidor de drogas no Brasil, os dados nos impõem a necessidade de o Estado intensificar a promoção das políticas públicas de inserção social dos jovens menos favorecidas, mas olhando também para os filhos das classes média e alta deste País.

Quero concordar com o Professor Robson Sávio, da Universidade Federal de Minas Gerais, que comenta o levantamento da FGV, defendendo o incremento de campanhas educacionais no sentido de conscientizar os jovens com um engajamento sério das escolas.

A temática da relação da violência urbana com o tráfico de drogas não é nova, mas o filme Tropa de Elite o recolocou em pauta com pleno vigor. Prova disso é o número de reportagens, artigos e matérias sobre o assunto tratado pelo filme quando não sobre o próprio filme, que é polêmico, mas trouxe o debate sobre o tráfico de drogas e seu financiamento no País.

A coluna do ensaísta Roberto Pompeu de Toledo na revista Veja chama a atenção para a dificuldade de se tratar de forma parcial a questão relatada no filme. O argumento do autor é que, apesar de serem os traficantes inimigos da sociedade, não são somente eles os reais causadores do problema.

Dois outros fatores são fortes obstáculos ao combate às drogas: os valores sociais e as leis econômicas. Como revelou a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, a tolerância e até certa “glamourização” do uso de drogas em camadas superiores da sociedade é o que fomenta a demanda por consumo.

Diz Pompeu de Toledo textualmente, “no caso das drogas, também está igualmente claro que, esgotada a possibilidade de eliminar o inimigo, mais dia, menos dia, se imporá, como único e inevitável, a solução de substituir o tráfico pelo comércio à luz do dia.” E prossegue, Sr. Presidente: “Muito estudo, muito debate e muita reflexão indicarão o modo de fazê-lo, mas desde já um ponto é claro: as decisões terão de ser tomadas em foro e âmbito internacional. Não há como adotar tal medida em um país só, muito menos em um país periférico como o Brasil, sob pena de condená-lo à condição de Estado pária.”

Embora polêmica, a afirmação merece reflexão, pois o que os fatos demonstram é a ineficácia da estratégia atual, que privilegia quase que de forma exclusiva a ação repressiva policial como método de combate ao tráfico.

Penso serem necessárias, em um curto prazo, ações do Governo Federal, estaduais e municipais inicialmente tratando o consumo de drogas como uma questão de saúde pública. Depois, chamo à responsabilidade o Poder Legislativo pela necessidade de cada um de nós passa a ter agora de nos debruçarmos sobre os dados revelados pela pesquisa FGV em busca de caminhos mais construtivos para nossa juventude.

Sr. Presidente, o tema do tráfico de drogas é importante e cada vez mais atual. As alternativas e os debates são importantes para nós na sociedade brasileira. O debate da comercialização de drogas está colocado para que possamos fazê-lo aqui e em âmbito internacional. Pompeu, o colunista da revista Veja, colocou de forma bastante clara a sua posição: se houvesse uma decisão internacional. Portanto, esse é um tema polêmico e o Congresso não poderá fugir a esse debate.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR RENATO CASAGRANDE EM SEU DISCURSO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e o § 2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“O inimigo que nem o Bope encara”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2007 - Página 40071