Discurso durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamento sobre o corte de 17 por cento na distribuição de gás natural para os Estados do Rio e São Paulo, anunciado ontem pela Petrobras.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Questionamento sobre o corte de 17 por cento na distribuição de gás natural para os Estados do Rio e São Paulo, anunciado ontem pela Petrobras.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2007 - Página 40209
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), REDUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, GAS, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PREJUIZO, POSTO DE GASOLINA, INDUSTRIA, UTILIZAÇÃO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO.
  • COMENTARIO, ALEGAÇÕES, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CIRCUNSTANCIAS, REDUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, GAS, NECESSIDADE, CUMPRIMENTO, COMPROMISSO, AGENCIA NACIONAL DE ENERGIA ELETRICA (ANEEL), GARANTIA, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, USINA, GAS NATURAL.
  • ANALISE, CRITICA, ESPECIALISTA, AUSENCIA, PLANEJAMENTO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ATUAÇÃO, MERCADO INTERNO, GAS.
  • COMENTARIO, PERIODO, INCENTIVO, GOVERNO, UTILIZAÇÃO, GAS NATURAL, EXPANSÃO, DISTRIBUIDOR, CONVERSÃO, AUTOMOVEL, CONSUMO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, CRESCIMENTO, FORNECIMENTO, BRASIL.
  • ANALISE, INVESTIMENTO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), EXTRAÇÃO, GAS NATURAL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, REGISTRO, INTERRUPÇÃO, ABASTECIMENTO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PREJUIZO, BRASIL.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, CONSTRUÇÃO, GASODUTO, MELHORIA, SITUAÇÃO, GAS, BRASIL, REDUÇÃO, NECESSIDADE, IMPORTAÇÃO, BENEFICIO, AUMENTO, QUALIDADE, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, DISTRIBUIÇÃO, PAIS.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, estão faltando explicações satisfatórias para o corte de 17 por cento na distribuição de gás natural para os Estados do Rio e São Paulo, anunciado ontem pela Petrobras. No Rio, o corte foi suspenso hoje por ordem da Justiça, mas 89 postos de combustíveis e 8 grandes indústrias, entre as quais a Companhia Siderúrgica Nacional e a Bayer, ficaram sem energia.

A Bayer chegou a fechar suas três fábricas em Belford Roxo. Em São Paulo, a Comgás teve que fazer um acordo com 7 indústrias dependentes de gás natural para que ele seja substituído por óleo combustível até que a situação se normalize.

A Petrobras alega ter sido obrigada a limitar temporariamente a entrega de gás para conseguir cumprir um termo de compromisso assinado com a Agência Nacional de Energia Elétrica que garante a geração de energia elétrica das usinas a gás natural.

A nota divulgada pela empresa pouco esclarece. Pelo contrário, reforça a suspeita de que estejam certos os especialistas que, há meses, vêm criticando a falta de planejamento no mercado de gás. Qual a garantia de que não acontecerá em breve um apagão de energia, já que a Petrobras parece não ter condições de fornecer o gás prometido às usinas termoelétricas?

Quando o governo lançou, em 2004 o plano de massificação do uso do gás, as redes de distribuição se expandiram, veículos foram convertidos para utilizar gás natural e o consumo cresceu mais de 12 por cento ao ano. Só que esse crescimento foi baseado na presunção de que contaríamos com um eterno suprimento de gás boliviano.

Entre 2001 e 2006, a produção de gás nacional cresceu 8 por cento ao ano, e as importações de gás boliviano aumentaram a uma taxa anual de 19 por cento. A Petrobras investiu 1 bilhão e 500 milhões de dólares para viabilizar a extração do gás natural na Bolívia. Mas aí aconteceu o inesperado: um governo populista e imprevisível assumiu o poder naquele país, tomou as refinarias brasileiras e colocou em risco o fornecimento de gás.

Continuamos dependendo do gás boliviano mas, por incrível que pareça, nada fizemos até agora para evitar o desperdício de nossas reservas. De acordo com um levantamento feito pelo engenheiro civil e consultor Humberto Viana Guimarães, com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, de janeiro a maio deste ano a Petrobras e outras empresas do setor deixaram de aproveitar 14 milhões e 780 mil metros cúbicos por dia, em média, de gás natural, que, convertido em valores, equivale a perdas de 360 milhões de dólares.

Enquanto isso, gastamos no mesmo período 622 milhões de dólares em importações. Tudo porque falta infra-estrutura para escoar o gás retirado dos poços brasileiros, falta um gasoduto de grande porte exclusivamente nacional. A saída é reinjetá-lo no solo ou queimá-lo. O percentual de gás retirado dos poços e não aproveitado é de mais de 30 por cento.

Estamos caminhando para uma situação idêntica à da Argentina, que hoje sofre com a escassez de eletricidade, e foi obrigada a reduzir o fornecimento de gás para a indústria. Um estudo recente da CNI, a Confederação Nacional da Indústria, mostra que a projeção total de consumo de gás natural para o ano que vem - incluindo a demanda das distribuidoras, das refinarias e todos os contratos das usinas termoelétricas - é de 91 milhões e 600 mil metros cúbicos diários. A oferta total, entretanto, deve ficar em 72 milhões e 400 mil metros cúbicos. Em tese, já em 2008 estaremos enfrentando um déficit de 19 milhões e 200 mil metros cúbicos de gás por dia. Isto corresponde a quase dois terços da capacidade do gasoduto Brasil-Bolívia.

O Brasil dispõe de reservas de gás natural avaliadas em 306 bilhões de metros cúbicos, mas hoje produz 48 milhões e 500 mil metros cúbicos por dia. Só o Espírito Santo tem uma reserva estimada em quase 35 bilhões de metros cúbicos de gás natural, mas a produção do Estado é de 1 milhão e 400 mil metros cúbicos por dia, bem abaixo de sua capacidade.

O atraso na construção de infra-estrutura é o responsável pela exploração insuficiente de nossas reservas, pelo desperdício do combustível extraído dos poços e pela dependência do gás boliviano, que, nas atuais circunstâncias, é extremamente arriscada. Já começamos a pagar pela imprevidência, e poderemos muito em breve chegar a uma situação crítica, caso não sejam tomadas providências urgentes.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2007 - Página 40209