Discurso durante a 209ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Aplausos à iniciativa do Senador Marco Maciel, Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, de comemorar, em 2009, os 100 anos do falecimento de Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões". Saudação à encenação de "Os Sertões", em Quixeramobim e Canudos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. DROGA.:
  • Aplausos à iniciativa do Senador Marco Maciel, Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, de comemorar, em 2009, os 100 anos do falecimento de Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões". Saudação à encenação de "Os Sertões", em Quixeramobim e Canudos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2007 - Página 40849
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. DROGA.
Indexação
  • APOIO, PROPOSTA, SENADOR, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, MORTE, EUCLIDES DA CUNHA (BA), ESCRITORIO.
  • REITERAÇÃO, ELOGIO, DIRETOR, GRUPO, TEATRO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EXIBIÇÃO, PEÇA TEATRAL, MUNICIPIO, QUIXERAMOBIM (CE), ESTADO DO CEARA (CE), CANUDOS (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), PARTICIPAÇÃO, COMUNIDADE, ASSUNTO, HISTORIA, BRASIL, REVOLTA, POVO, LIDERANÇA, ANTONIO CONSELHEIRO, VULTO HISTORICO.
  • LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, DIRETOR, TEATRO, PERIODICO, CONVITE, EXIBIÇÃO, PEÇA TEATRAL, IMPORTANCIA, CONHECIMENTO, HISTORIA, EXPERIENCIA, REVOLTA, REPARAÇÃO, GENOCIDIO, DIVIDA, MUNICIPIO, CANUDOS (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), CONCLAMAÇÃO, INVESTIMENTO PUBLICO, LOCAL, RESGATE, CRIME, NACIONALIDADE, DEBATE, PROPOSTA, RENATO CASAGRANDE, SENADOR.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, ESCRITOR, DEFESA, DISCRIMINAÇÃO, DROGA, COMBATE, CRIME ORGANIZADO.
  • LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EVANDRO LINS E SILVA, JURISTA, DEFESA, DISCRIMINAÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, DESEMBARGADOR, TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONVITE, LEITURA, OBRA INTELECTUAL, EUCLIDES DA CUNHA (BA), ESCRITOR, HISTORIADOR.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, gostaria de registrar que considerei muito importante a proposta hoje feita pelo Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, nosso Senador Marco Maciel, de comemoração, em 2009, no Senado Federal, dos 100 anos do falecimento de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, uma obra que precisa ser lida com entusiasmo.

Quero, mais uma vez, enaltecer José Celso Martinez Corrêa, toda a equipe do Teatro Oficina, do grupo de teatro Uzyna Uzona, que, na tarde de hoje, a partir das 17h30min, em Quixeramobim, exatamente a terra de Antônio Maciel Conselheiro que, antes mesmo de Antonio Carlos Magalhães, recebeu o apelido de Malvadeza. Obviamente, Antonio Conselheiro também poderia ter tido o apelido contrário ao do Governador e nosso colega no Senado, o de “Ternura”, uma vez que ele foi um leitor de Utopia, que muito o influenciou para formar a comunidade de Canudos, que, ao final do século XIX, chegou a ter 25 mil habitantes. Foi a segunda maior cidade da Bahia depois de Salvador.

Por isso, é tão importante que o elenco do Oficina, inclusive contando com o apoio do Prefeito Edmilson Júnior, de Quixeramobim, e de todo o grupo de jovens da instituição Ifac, tenha mobilizado a cidade de Quixeramobim, para que possa haver hoje a estréia de Os Sertões.

Sr. Presidente, gostaria de ler parte da entrevista de José Celso Martinez Corrêa para o Terra Magazine, que diz como será a apresentação de Os Sertões em Canudos e em Quixeramobim.

Responde Zé Celso:

Nós já estamos convidando as pessoas em geral, o Brasil todo, o mesmo Brasil do Rio Grande do Sul ao Amazonas que, em 1897, foi lá e massacrou Canudos. O mesmo Brasil que viveu a ditadura militar nos anos 60 e 70, que inundou a segunda Canudos. Está convidado o Brasil de hoje que herdou esses Brasis todos e que vive nessa República, que se fundamentou nesse massacre. E também as pessoas que têm estudado Canudos, principalmente através do mais traduzido dos livros brasileiros Os Sertões. Há grupos de estudos nos Estados Unidos, na França, na Espanha, na Alemanha, no Japão, no mundo inteiro. É um convite pra todo mundo participar, no dia 28 de novembro, quarta-feira, no início dos ritos que vão ser realizados com cinco os espetáculos, levados ao lugar de origem, onde isso foi plantado: Canudos. O milagre de cidade com 25 mil habitantes, [...] organizada de uma maneira extremamente inteligente, contemporânea, como mutirão, como conselhos - massacrados depois pelo Exército. Nesse mesmo local, nós estamos transformando essa encenação. Ela vai pra capital dela. Ela vai pros gens dela, vai pra barriga, pro coração, ela vai dar um mergulho e uma saída do mergulho pretendendo exatamente a reparação dos massacres.

O que vai haver?

É realmente um grande rito de desmassacre e de reconstrução dessa terceira Canudos, que, desde 1986, teima em existir. Mas como desde o massacre o lugar ficou maldito... Já era maldito, aí o Antonio Conselheiro conseguiu sagrar o lugar. Poucas pessoas se aventuraram por essa cidade, mas acabaram formando uma cidade. Foi inundada e então se transformou noutra vez um lugar problemático. Até que a terceira ganhou o caráter de cidade oito anos depois da inundação, que foi em 1968. Ela tá com uma dificuldade muito grande de existir, pra abrigar toda a história que ela segura, que ela representa, que está naquela geografia, em toda a beleza geográfica extraordinária daquele lugar. É preciso que caia a ficha dos brasileiros. Nós temos uma dívida com Canudos. Principalmente nós da área da cultura, nós que lutamos por um Brasil mais livre, com mais oportunidades e igualdade. Eu me senti tendo uma dívida enorme com Canudos. Porque leio esse livro desde que sou garoto. Mas, nos últimos seis anos, passei a viver dele e, portanto, do lugar e das pessoas que fizeram o lugar. [sic]

Sobre sua visita a Canudos, responde José Celso ao Terra Magazine:

Chegando lá, eu tive um choque porque vi que nunca ninguém fez nada. Porque cidades mártires como Nagasaki, Hiroshima, esses lugares todos são reconstituídos, são cuidados, há uma reparação. Mesmo Berlim, Varsóvia, esses lugares todos. Em Varsóvia, foram reconstruídas até as rachaduras das paredes. No Brasil, isso sintomatiza uma irresponsabilidade, uma negligência e um auto-desprezo muito grande. Significa o nosso próprio massacre. Então, eu tô me endereçando aos poderes todos para que invistam em Canudos: Fome Zero, Integração Nacional, Infra-estrutura, Telecomunicações, Agricultura, Turismo, Cultura... E convido os artistas, inclusive as celebridades, pra estarem lá, pra fazer o lugar transparente. Porque é um lugar conhecido internacionalmente. Foi a primeira guerra telegrafada do mundo.

Glauber Rocha também é um marco cultural para aquela região. Filmou Deus e o Diabo na Terra do Sol em Monte Santo.

Exatamente. Monte Santo. Glauber tinha uma paixão pelo sertão e todo o cinema brasileiro girou em torno dos sertões por muito tempo. Glauber, Ruy Guerra, mesmo o filme que foi feito sobre Canudos, a novela sobre Euclides da Cunha, o livro de Vargas Llosa (A guerra do fim do mundo), o livro de Sandor Márai (Veredicto em Canudos), escritor húngaro maravilhoso, as inúmeras traduções de Os Sertões, em inúmeras línguas, até na China, onde foi traduzido como “Poema Ilimitado”... Quer dizer, tudo isso faz com que aquela cidade, além da beleza geográfica, se houver investimentos das áreas econômicas, se as águas que serviram para cobrir a memória de Canudos forem irrigadas para as terras de Canudos, vai poder produzir uva, vai poder ser um pomar, com exportação para o mundo todo.

Já tem o açude...

O Cocorobó! Agora, a cidade não tem burguesia. Só tem classe média. Comerciantes, o prefeito mesmo parece que vem de uma família de comerciantes. O prefeito Adaílton Gama é um historiador, está muito empenhado. Mas é preciso que haja investimentos. São mais que justos. Porque é uma reparação a um crime. Euclides da Cunha escreveu Os Sertões como um documento, atacando e denunciando esse crime. Ele termina o livro dizendo que infelizmente não há um Maudsley para os crimes da nacionalidade. Maudsley era um psiquiatra inglês, que relacionava crime e loucura. O próprio Euclides faz uma argumentação no livro que poderia fazer parte dos tribunais internacionais - por exemplo, esse que tentou julgar Pinochet e o ditador da Sérvia. Nós, brasileiros, cometemos um crime de nacionalidade contra uma comunidade de 20 mil habitantes, próspera, bem organizada. Baixaram as tropas de elite do Brasil. Tanto que até acho que nesse dia a gente deve afirmar muito a descriminalização das drogas.

Por quê? [pergunta a Terra Magazine]

Principalmente depois de ver “Tropa de Elite”, naquela cena em que o rapaz está lá fumando, fazendo trabalho de ONG, está lá com o traficante numa boa... Chega a polícia, mata o traficante, joga o menino no sangue e diz que foi ele que matou! Aquela cena me deu... Aquele pacotinho da maconha ali do lado me deu um insight total, que é uma guerra por duas bobagens, por duas besteiras, por aquele pacote de plástico de maconha. É uma coisa que o pessoal do Santo Daime sabe, é a Santa Maria, sagrada, um remédio, eu fumo há mais de 50 anos. E tem a cocaína, que mata muito menos que bala. Então, acho que é um absurdo. Toda aquela violência que existe hoje sobre a favela, é a mesma que existiu na primeira favela do Brasil...

Há esse vínculo histórico entre Canudos e os morros sitiados de hoje, não?

Claro. A primeira favela do Brasil. Porque Canudos, quando os soldados foram desempregados, o soldo não foi pago - o Estado faliu com a guerra - e os soldados foram morar no Morro da Providência, que chamavam de Favela, por causa da planta favela. Que é uma planta, aliás, que tem uns mistérios. Se você tocar nela, ela solta um líquido que te queima a mão, mas à noite ela orvalha, como se fosse um samba de dona Ivone Lara, do Paulinho da Viola...

Como surgiu a idéia da carta aos brasileiros, pedindo o resgate de Canudos?

Fiz logo que voltei de Canudos. E fiz outra já, mais específica, me endereçando especificamente ao Congresso, ao Executivo, ao Legislativo e Judiciário, para que incluam no orçamento de 2009 verba especial para Canudos, pra todas as obras que precisam ser feitas. Vamos tentar transmitir o espetáculo pela internet. Estamos convocando os artistas também. Por isso, liguei para Maria Padilha e Regina Casé. [sic]

José Celso também me ligou. Estou me programando para ir a Canudos, em um dos dias da apresentação.

Elas estão sendo as articuladoras de uma ida de celebridades para tornar o lugar mais transparente. Ivete Sangalo, Sônia Braga, Lucélia Santos...

É interessante como as observações de José Celso dizem respeito, por exemplo, ao tema que foi objeto da reflexão do Senador Renato Casagrande, anteontem, neste plenário, quando propôs que seja discutida a descriminalização das drogas, tema que também tem sido objeto de reflexão de outros Senadores, como do Senador Jefferson Péres, e é também objeto da carta escrita com muito bom humor por Millôr, publicada na revista Veja da semana passada. Gostaria, inclusive, de ler alguns trechos, pois diz Millôr, nesta interessante carta:

Companheiro Lula. Se me permite. Acho que ainda é tempo. Deixa pra lá essa tal de CPMF. Ou combine com seus companhos, afetos, apaniguados, todos os seus goodfellas, e também todos os seus adversários de boa-fé: a CPMF fica. Mas todo o dinheiro vai, como era idéia do Jatene, pra saúde. Não, corrige aí: pra doença.

Mas tu me perguntarás, na tua eterna dúvida filosófica: ‘E como é que vou governar, Millôr? O Manteiga disse que sem essa gaita não é possível tocar o país, quero dizer, o Bolsa Família'.

Honesto Lula (Otelo, do Shakespeare, pro Iago, do mesmo), a coisa é tão simples que salta aos olhos de um cego (deficiente visual): Libera as drogas! Tudo. É. TUDO!

Olha, companho, o dinheiro dos impostos sobre drogas (e fabrico e comercialização, transporte, tudo devidamente estatizado) vai dar até pra avião novo e algum pra distribuir entre os afro-africanos.

"Liberar drogas, Millôr, tu tá maluco? Só o Gabeira vai ficar a favor! Tu te responsabiliza pelo que vem depois?"

Eu não me responsabilizo por pomba nenhuma, companho, não sei o que vai acontecer depois. Quem tem prospectiva, expectação, probabilidades, antevisão, prenúncio, conjectura, prognóstico, antevisão, cheirar ao longe, prelibação, presciência, vaticínio, é economista. Pergunta aos economistas aí. Tem tanto.

Mas uma coisa eu te garanto: liberadas as drogas, na mesma hora, não é no dia seguinte, não, companho, desaparece o traficante. Não precisa esperar os tais 20 anos pra que a educação e o apoio social (escolas, creches, centros de cultura e o escambau) resolvam a questão. E uma coisa eu prevejo, companho - ninguém morre mais de bala perdida.

Efeito negativo - sei lá. Os Estados Unidos, que tanta coisa nos encinam, encinam ou insinão?, podem nos ensinar também essa. Nos 10 ou 12 anos que teve por lá a Prohibition (no Brasil Proibição ou, mais popular, Lei Seca) nunca se bebeu tanto. Imediatamente, como aqui, se criou o "crime organizado". E a polícia corrupta. O mínimo que os policiais honestos faziam era revelar uma batida. Lembra alguma coisa? Nos speakeasy ("Falabaixo!, cara, tem sempre gente ouvindo") era um luxo encher a cara.

Reinava então, rei de Chicago, o saudoso Al Capone (diz aí sinceramente: se aparecer um filme novo com ele você vai ou não vai correndo ao cinema?). Cada tempo tem o Che Guevara que merece.

E, lá como aqui, ninguém escapava - até o genial Piazzola, com 12 anos, de vez em quando o pai mandava entregar uma encomenda de moonlight (uísque de banheira).

Avião, sim, senhor.

Suspensa a Lei Seca, é claro que o crime derivou pra outras formas de lucro, como seqüestro e "proteção".

Claro que aqui - agora vou bancar o economista e prever - o crime também vai pra outros lados. Mas bala perdida, repito, nunca mais. Nem a morte e o crime estarão localizados em áreas onde vive grande parte da população pobre.

E é evidente que vai aumentar muito o assalto a banco. Quanto a isso, juro, não tenho opinião formada. Eles que são brancos que se entendam.

Ora, tanto a entrevista de José Celso quanto a carta de Millôr me fizeram lembrar da entrevista de Martha Mendonça a Evandro Lins e Silva, publicada pela revista Época em 21 de outubro de 2002.

Aos 90 anos, Evandro Lins e Silva, logo após ter havido um momento de extraordinária violência na cidade do Rio de Janeiro, responde às perguntas feitas pela referida revista.

ÉPOCA - A cidade do Rio de Janeiro viveu na semana passada mais uma noite de terror. Por que esses atos de violência dos traficantes estão se repetindo?

Evandro Lins e Silva - De fato, casos assim eram mais isolados. Meu pressentimento é de que o governo do Estado deve estar agindo com maior firmeza e o tráfico responde com demonstrações de força.

ÉPOCA - O que pode ser feito sobre as armas?

Lins e Silva - Deveriam ser proibidas a fabricação indiscriminada de armas e sua venda. Anulam-se todos os portes e parte-se do zero para voltar a liberar. Fabricação só a partir de pedido oficial, polícia, autoridades. E zero de entrada no país. O governo tem de cuidar disso. É sua função constitucional. O grande obstáculo é o enorme lobby da indústria de armas.

ÉPOCA - O senhor acredita no poder paralelo do crime organizado?

Lins e Silva - Existe um determinado poder que foge ao controle das autoridades e é localizado nas favelas: a disputa pelo comércio da droga. Com a falta de emprego e oportunidades na vida, as pessoas acabam aderindo a esse estilo de vida, se tornando parte disso, seja ativamente, seja por omissão. O traficante, por ganhar muito dinheiro, ganha o poder de corromper e cria uma teia de força muito grande.

ÉPOCA - Como combater o tráfico?

Lins e Silva - Combater à força é bobagem. O tráfico se tornou a oportunidade de emprego de muitas pessoas. É decorrente dos problemas socioeconômicos do país. Eu defendo a descriminalização das drogas.

ÉPOCA - E o que diria a nova lei?

Lins e Silva - Seriam permitidas a fabricação pelos laboratórios e a venda nas farmácias. Então se passaria a tomar conta das violações nessa venda, sendo necessário receita médica ou algum tipo de regra. Limites seriam criados. Se for feita uma venda irregular, que se puna a infração. Mas não seria mais crime. Dessa forma, a venda da droga sai da esfera marginal.

ÉPOCA - Sempre que o tema da descriminalização vem à tona, fala-se muito que o crime organizado se voltaria para outras ações, como assaltos, roubo de carros, e a violência continuaria...

Lins e Silva - Pode ser. Mas é preciso haver uma ação racional para cada área. O mais importante é focar no que realmente interessa, que é educar e dar oportunidade de emprego às pessoas. Isso, sim, reduziria todo tipo de crime. A solução, a longo prazo, é de natureza social. Mas, por ora, descriminalizar é um passo importante.

ÉPOCA - O senhor conhece muitas pessoas que concordem com isso?

Lins e Silva - Poucas. É uma solução polêmica e as pessoas gostam de discutir a questão moral que isso envolveria. Mas é um caminho muito simples e lógico. O mundo inteiro deveria seguir a mesma linha. A droga não é um problema brasileiro, é mundial [como, aliás, o Senador Renato Casagrande, do Espírito Santo, falou]. Claro que ao lado disso seria necessária uma campanha maciça no país condenando os efeitos da droga, em especial nas escolas. Mas há outras medidas importantes, como coibir o contrabando de armas.

Sr. Presidente Sibá Machado, a renda básica de cidadania, ao lado da boa educação e das medidas de prevenção, seria muito importante, porque é uma das medidas para se prover emprego a todos.

Gostaria, para concluir, de saudar novamente o propósito de, em 2009, no Senado, comemorarmos os 100 anos de falecimento de Euclides da Cunha como forma de homenageá-lo.

Ainda hoje, tomei conhecimento do artigo de Sidnei Agostinho Beneti, que está indicado para o Superior Tribunal de Justiça, exatamente por causa desse artigo, intitulado “Por que ler Euclides da Cunha?”, que achei tão bom e cuja leitura recomendo. Ele diz:

2. Euclides era fruto da intelectualidade da época, gestado no positivismo de Augusto Comte, vernaculizado ao peso didático de Benjamin Constant e do movimento republicano [...]

3. Os Sertões narra a história da Revolta de Canudos, que o governo, a comunicação social e a intelectualidade da época tomavam como uma revolta monarquista contra a República - A Nossa Vendéia, a repetir o Noventa e Três de Hugo, contra-revolução do interior em oposto à agitação política que fizera a Revolução Francesa e entre nós proclamara a República.

Sr. Presidente, peço que a matéria seja inserida nos Anais.

Mais uma vez, cumprimento Quixeramobim, a comunidade do Ceará e todos os que lá irão, para assistir ao filme Os Sertões.

Gostaria, inclusive, de convidar os Senadores do Ceará e os da Bahia, para hoje acompanharem as cinco apresentações de Os Sertões em Quixeramobim e, a partir do dia 28, nos cincos dias seguintes, em Canudos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

************************************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e 2º, do Regimento Interno.)

************************************************************************************************

Matéria referida:

“Por que ler Euclides da Cunha?”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2007 - Página 40849