Discurso durante a 205ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a fragilidade e insegurança do sistema aéreo nacional, demonstrada por um garoto cuiabano que embarcou em aeronave sem ser percebido.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Preocupação com a fragilidade e insegurança do sistema aéreo nacional, demonstrada por um garoto cuiabano que embarcou em aeronave sem ser percebido.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2007 - Página 39734
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, VIAGEM, MENOR, TRANSPORTE AEREO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUSENCIA, AUTORIZAÇÃO, COMPROVAÇÃO, FALTA, SEGURANÇA, SISTEMA DE CONTROLE, AEROPORTO, EMPRESA.
  • EXPECTATIVA, APERFEIÇOAMENTO, PROTOCOLO, VIGILANCIA, EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUARIA (INFRAERO), AGENCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC), EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, PREVENÇÃO, PROBLEMA, RISCOS, SEGURANÇA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, MINISTERIO DA DEFESA, AERONAUTICA.

O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei rápido, até porque, dado o adiantar da hora, vários colegas Senadores que ainda vão falar desejam viajar na noite de hoje.

Sr. Presidente, ocupo a tribuna na tarde de hoje para falar de um assunto que a imprensa nacional divulgou esta semana: um menino que voou de Cuiabá, mais especificamente de Várzea Grande, do Aeroporto Internacional de Mato Grosso, percorrendo um grande trajeto de Cuiabá até a cidade de São Paulo. Trata-se de um fato grave, tendo em vista a falta de segurança que oferecem nossos aeroportos.

Depois de muitas lágrimas, sofrimentos e tragédias na aviação brasileira, coube a uma criança a tarefa de demonstrar, de forma cabal e definitiva, toda fragilidade e insegurança do sistema aeroportuário nacional. Bastou a travessura de um menino cuiabano de onze anos para comprometer os padrões de vigilância dos aeroportos e companhias aéreas.

A pressuposta confiança no rigor das autoridades do setor foi desmontada pela imaginação fértil de um garoto, que, para fugir de um castigo dos pais, viajou de Cuiabá a São Paulo, sem passagem, dinheiro e documentos.

Esse fato ganhou generoso espaço na imprensa nacional esta semana, dividindo as atenções com a suspensão das operações da BRA e sobre o futuro da direção da Anac.

Senador Valter Pereira, seria uma notícia divertida, se não fosse trágica. Primeiro, por escancarar o despreparo de nossas autoridades para gerir um segmento tão competitivo e sofisticado; segundo, por revelar como é fácil desviar uma criança por um aeroporto sem chamar a atenção dos agentes policiais ou seguranças.

No dia 18 de outubro, o menino V.S.S. - não vou relevar o nome por ser tratar de um menor -, após uma briga no colégio, com medo da represália dos pais, resolveu fugir de casa. E o fez de forma espetacular. Sem dinheiro ou documento, tomou um ônibus no bairro Tancredo Neves, em Cuiabá, e foi parar em Várzea Grande, cidade onde resido.

De madrugada, no Aeroporto Marechal Rondon, burlou a vigilância e chegou até a sala de embarque. Sentindo facilidade, foi mais longe. Sem bilhete, encarou a fila de passageiros e embarcou num vôo da companhia Gol para a cidade de São Paulo.

Segundo seu próprio relato, ao ser abordado por uma aeromoça, apenas informou que sua mãe estava algumas filas atrás. A comissária não se certificou, e o menino seguiu tranqüilamente a sua viagem. A travessura só foi descoberta quando funcionários do aeroporto de Cumbica acharam estranho um garoto desacompanhado perambulando sozinho, por horas, no imenso terminal de passageiros. O menino foi entregue ao Conselho Tutelar, que, no dia 22 de outubro, o devolveu à sua família.

Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, embora nem a Infraero nem a Gol Linhas Aéreas confirmem o embarque da criança em Várzea Grande, o episódio foi testemunhado involuntariamente pelo Deputado Estadual do PP de Mato Grosso, Walter Rabelo, que chegou mesmo a conversar com a criança. O Parlamentar achou incomum um garoto desacompanhado em um vôo noturno, mas se conteve diante da normalidade com que a tripulação tratou o assunto.

Pois é justamente este o caso: nossa aviação não vive dias normais. A insegurança e o medo são companheiros de viagem de qualquer passageiro. Não bastassem os atrasos, a precariedade no atendimento aos clientes e a malha aérea confusa, agora aparece também a falta de inteligência na segurança dos aeroportos.

Que doravante, Senador Mozarildo Cavalcanti, a partir desse lamentável incidente, novos protocolos de vigilância sejam firmados entre a Infraero, a Anac e as companhias aéreas. Porque um próximo caso pode não reproduzir uma traquinagem infantil, mas sim um evento de proporções graves e sinistras.

Fico ainda mais consternado, Srs. Senadores, por esse fato ter ocorrido em minha cidade, Várzea Grande, e por envolver uma família humilde que passou dias de aflição e angústia, antes de o caso ter seu desfecho.

De qualquer forma, é inadmissível que se repita na vida real o que o cinema consagrou como comédia. O episódio envolvendo o menino de onze anos não deixa nada em ficção e absurdo ao filme “Esqueceram de mim”, de enredo semelhante. A diferença é que, em uma produção, os riscos são medidos; ao contrário, a realidade oferece finais inesperados e, às vezes, trágicos.

O fato é que, hoje em dia, no Brasil, qualquer usuário de transporte aéreo pode muito bem olhar para os céus e lamentar: “Esqueceram de mim...”.

Este é o alerta que faço, uma vez mais, como tenho feito quando ocupo a tribuna, para o sistema de segurança de nossos aeroportos. É inconcebível que tudo isso esteja acontecendo, Senador Wellington Salgado e Senador Valter Pereira, em pleno século XXI.

Imaginem o risco que todos nós estamos correndo, pela precariedade e ineficiência do transporte aéreo, de nossos aeroportos, no que diz respeito às pistas - e muitas delas são precárias -, e pela questão da malha aeroviária.

E, agora, por incrível que pareça, também a questão da segurança das pessoas que andam de avião. Por irresponsabilidade e ineficiência, aconteceu esse episódio de Mato Grosso, ou seja, de Cuiabá até o Estado de São Paulo.

De forma que esse é um alerta, para chamar a atenção das autoridades, não só da Infraero, da Anac, do Ministério da Defesa, da Aeronáutica, como também daqueles que têm a responsabilidade de oferecer segurança a todos que trafegam de aviões nos céus do Brasil.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2007 - Página 39734