Discurso durante a 213ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre a dispensa de técnicos do IPEA, em razão de matéria veiculada no jornal O Globo, de autoria da jornalista Míriam Leitão. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Esclarecimentos sobre a dispensa de técnicos do IPEA, em razão de matéria veiculada no jornal O Globo, de autoria da jornalista Míriam Leitão. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2007 - Página 41571
Assunto
Outros > SENADO. IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, PEDIDO, PRORROGAÇÃO, LICENÇA, RENAN CALHEIROS, SENADOR, DEMONSTRAÇÃO, AUSENCIA, ACORDO, DEFESA, DECLARAÇÃO DE VOTO, JULGAMENTO, MANDATO PARLAMENTAR, REGISTRO, POSIÇÃO, ORADOR, APOIO, RELATORIO, CASSAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO.
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ACUSAÇÃO, TENTATIVA, GOVERNO, MANIPULAÇÃO, IDEOLOGIA, MEMBROS, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), REITERAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, SAIDA, PESQUISADOR, SERVIDOR, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), APOSENTADO, CONCLUSÃO, CONVENIO, TRABALHO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA.
  • QUESTIONAMENTO, IMPOSSIBILIDADE, RESTRIÇÃO, CONVICÇÃO, DIVERSIDADE, PESQUISADOR, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA).

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pela Liderança do PRB. Com revisão do orador.) - E se houvesse o acordo, Sr. Presidente, apenas complementando, o Senador não entraria com o seu pedido de licença, que foi muito esclarecedor. Sem sombra de dúvida, nós temos realmente que caminhar para o voto aberto.

Senador Alvaro Dias, na outra votação, votei a favor do Senador Renan Calheiros. Dei ao Senador o benefício da dúvida, porque sempre foi um grande maestro desta Casa, sempre foi um grande líder que soube levar os argumentos. Desta vez, o relatório do Senador Jefferson Péres é imbatível. De tal maneira que nossas posições do PRB... Essa não é uma questão fechada no meu Partido, como também não o é a CPMF. Votaremos com a consciência. Essa é a minha consciência; não significa que seja a de outro Senador do meu Partido.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs e Srs. telespectadores da TV Senado e da Rádio Senado e demais brasileiros que nos honram com a sua presença aqui, no Plenário desta Casa.

Venho apenas fazer um rápido pronunciamento com relação a um artigo que hoje me surpreendeu, da jornalista Míriam Leitão, na coluna “Panorama Econômico”, de O Globo. Ela faz a defesa daquilo que ontem já foi debatido aqui, e que expliquei com fatos, desmontando as suposições de que haja qualquer tipo de intenção de fazer patrulhamento ideológico no IPEA ou de coibir pensamentos de linhas diferentes da política econômica do Governo, da qual eu sou crítico.

A verdade é que, Sr. Presidente, o Sr. Fábio e o Sr. Otávio Tourinho são funcionários do BNDES, cujo convênio que os abriga no IPEA expira no dia 7 de dezembro e, por isso, eles tinham de ser devolvidos. Podem voltar. E, se voltarem, caí por terra essa notícia da coluna da Miriam Leitão, que, com brilhantismo, tem feito a sua coluna - da qual discordo -, assiduamente e defendendo seu ponto de vista.

Ela é um arauto, uma porta-voz da especulação financeira. Mas cada brasileiro escolhe o que vai defender na vida. Escolhe a biografia que quer ter e pela qual quer ser lembrado por seus filhos e pelos demais irmãos e conterrâneos. Essa foi a que ela escolheu. Não concordo, mas respeito.

Os pesquisadores são do BNDES. Voltarão se forem indicados pelo Luciano Coutinho para fazerem outro estudo e pelo tempo que for assim determinado por convênio. Não há nenhuma perseguição, caça às bruxas. É um convênio que vence. Não acatar isso significa infringir leis da administração pública. Não é isso que se espera de um administrador, que, amanhã, poderá sofrer sanções por isso.

Os outros dois citados no artigo - o Gervásio e o Régis - são aposentados.

Senador Flexa Ribeiro, o Ipea tem mais de mil pesquisadores. Ninguém consegue cercear a convicção de mil pesquisadores. Não podemos considerar cerceio ideológico a saída de quatro pesquisadores - dois, cujo convênio venceu, e dois, que são aposentados -, e que segundo parecer da Procuradoria não poderiam permanecer lá, só porque o Presidente do Ipea está fazendo gestões para criar um novo modelo de incorporação de pesquisadores, inclusive trazendo quadros acadêmicos, exatamente pelo interesse de se manter no Ipea a diversidade das opiniões, dos debates, o que é muito bom.

Agora, eu quero lembrar à comentarista que, desta tribuna, há dois anos, fui eu o Senador que denunciou que os economistas do Banco Central só eram autorizados a fazer curso de mestrado e de pós-graduação se fosse na Fundação Getúlio Vargas ou na PUC, que são duas belíssimas instituições do meu Estado, mas que não detêm o monopólio do saber na economia.

Na minha profissão, a engenharia, existem ábacos, tabelas, normas técnicas, todo mundo sabe qual a resistência do concreto, da madeira, do aço, conhecem a flexão, a torção, o cisalhamento, o que for. Na economia, não. É uma ciência humana, e existem muitas coisas a serem debatidas. Portanto, não é aceitável que haja uma ditadura do pensamento único.

Graças a Deus, obtive vitória, porque o Banco Central, pela primeira vez, liberou um economista para fazer pós-graduação na Universidade Federal Fluminense. E ele a fez, com brilhantismo. Defendeu a tese e voltou ao Banco.

Então, gostaria de terminar o meu pronunciamento, depois de esclarecer os fatos e desmontar os argumentos da coluna, o que me entristece. Eu não esperava isso da Miriam, que ela insinuasse que algo estranho iria acontecer no Ipea, pois, após o Prof. Mangabeira Unger assumir a Secretaria de Ações de Longo Prazo, dois auxiliares do Senador Crivella teriam ido ao Ipea em busca de cargos, de DAS.

Na ocasião, desta tribuna, eu disse que liguei para o então Presidente do Ipea, para que ele me passasse os nomes dos supostos assistentes que foram em busca de cargos, pois queria puni-los, afastá-los do partido, porque essa não é uma prática do PRB. Nunca recebi esses nomes.

O PRB surgiu por uma iniciativa minha quando eu era líder nesta Casa do então PL, que hoje não existe mais. O Vice-Presidente da República também era do PL. Nós dois saímos do PL exatamente porque nos incomodamos com o “mensalão” e com tantas outras práticas políticas que maculavam a nossa consciência. Deixei de ser líder para ser Senador de um partido que começava, e o Vice-Presidente, a mesma coisa, arriscando, aos 75 anos, depois de ter enfrentado um câncer, a oportunidade de ser vice na chapa de Lula, porque todos acreditavam que Lula não iria convidar alguém de um partido que começava, sem tempo de televisão e sem fundo partidário.

Foi um gesto de consciência e não é justo que a recompensa disso seja essa insinuação de uma jornalista que é porta-voz da especulação financeira. Espero também que a jornalista, que respeitamos e pela qual tenho apreço, considere os fatos aqui trazidos, considere, também, em seus argumentos, o absurdo que é cogitar que o Ipea, com milhares de pesquisadores, possa ter qualquer tipo de patrulhamento, vigilância ou ditadura, como a que havia no Banco Central e que se rompeu por minha luta nesta tribuna.

Sr. Presidente, fico imensamente grato a V. Exª, cuja generosidade nos comove a todos. Eu até declarei meu voto aqui no triste caso... Sr. Presidente, eu declaro com tristeza, com angústia mesmo. É o duro e frio cumprimento do dever que nos impõe o Regimento desta Casa e, com tristeza, anuncio isso, mas assim é a nossa vida.

Portanto, Sr. Presidente, espero que este breve pronunciamento, no qual extravasei aqui meus sentimentos, possa ter, de alguma forma, contribuído para a consciência política nacional.

Muito obrigado, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2007 - Página 41571