Discurso durante a 220ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao bicentenário de nascimento de Theóphilo Benedicto Ottoni.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao bicentenário de nascimento de Theóphilo Benedicto Ottoni.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2007 - Página 42402
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, TEOFILO OTONI (MG), EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EMPRESARIO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, IMPLANTAÇÃO, REPUBLICA, APOIO, LIBERALISMO, PARTICIPAÇÃO, RECRIAÇÃO, BANCO DO BRASIL, CRIAÇÃO, ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INAUGURAÇÃO, MUNICIPIO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), INCENTIVO, IMIGRAÇÃO, ESTRANGEIRO, REGISTRO, VETO (VET), IMPERADOR, INDICAÇÃO, SENADO, COMENTARIO, LIVRO, REFERENCIA, BIOGRAFIA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana; Srs. Inácio Benedicto Ottoni e Tadeu Ottoni, representantes da família de Theóphilo Ottoni; Deputado Federal Saraiva Felipe; ex-Deputado e ex-Ministro Nilmário Miranda; Srs. Senadores; senhoras e senhores, minhas saudações. Quero saudar também a presença de dois Deputados Federais da cidade de Teófilo Otoni, Fábio Ramalho e Ademir Camilo, e me dirigir a todos, em especial, aos mineiros.

Theóphilo Ottoni: um homem, um sonho, uma cidade. O Senado da República reúne-se nesta tarde para render homenagens ao bicentenário de nascimento de uma das figuras mais notáveis e emblemáticas da política mineira no século XIX. Na última terça-feira, 27 de novembro, cumpriram-se duzentos anos do nascimento de um homem que, durante o Segundo Reinado, encarnou os predicados mais notáveis de um verdadeiro liberal. Homem de idéias e de ação, atuou com ousadia, dedicação e competência nos campos político, social e econômico, suportando com bravura estóica as adversidades e os contratempos que seus ideais e suas atitudes, sempre inequívocas, implicaram.

O legado de Theóphilo Ottoni venceu o tempo e ainda hoje é recepcionado, analisado e debatido pelas novas gerações. Suas lições e seu exemplo de vida continuam a repercutir em nosso Estado de Minas Gerais, que se enche de orgulho para celebrar data de tanta magnitude para todos nós.

Liberais e conservadores, a antinomia ou o binário que perpassa a história do pensamento político moderno se manifestou com vigor nos anos que se seguiram à Independência do Brasil. Uma e outra escola, que remanescem como forças modeladoras da intervenção política no mundo ocidental, reuniam, no Império, algumas das figuras mais notáveis no trabalho de construção do jovem Estado nacional brasileiro que então se esboçava.

Theóphilo Benedicto Ottoni, o primogênito de Jorge Benedicto Ottoni e Rosália Souza Maia, que veio à luz há exatos dois séculos na Vila do Príncipe, hoje cidade do Serro, formou suas convicções morais e políticas com precocidade. Influenciado pela leitura atenta dos clássicos, empolgado com o pensamento de Thomas Jefferson e sensível às lições dos mestres enciclopedistas franceses e às emanações provenientes do ideário iluminista, o jovem mineiro logo se reconheceu como um liberal. E por suas convicções contrárias ao establishment, levadas às últimas conseqüências, pagou, como veremos, um alto preço, conquistando o reconhecimento de seus aliados, admiradores e mesmo de seus adversários.

Durante toda a sua existência, foi intransigente na defesa dos preceitos republicanos, que viriam a estabelecer-se formalmente apenas no último quartel de seu século, e lutou pela prevalência do mérito e da igualdade entre os homens. Entendia a virtude como dedicação à causa pública, em oposição ao sistema de privilégios, títulos nobiliárquicos e comendas. Enfim, como bem destaca o jornalista Nilmário Miranda, ex-Ministro e ex-Deputado, um de seus principais biógrafos, contrapunha aos benefícios da consangüinidade e da origem familiar os mais autênticos valores republicanos.

Em pouco mais de seis décadas de vida, Theóphilo Ottoni participou e liderou várias iniciativas de alcance e repercussão em distintas esferas. Como político, já em 1831, com apenas 23 anos de idade, mobiliza seus conterrâneos da cidade do Serro contra a possibilidade de retrocesso da tenra democracia brasileira e participa de forma ativa do processo que culmina com a abdicação de Pedro I. Dois anos depois, em 1833, conduz o batalhão de voluntários na luta contra a sedição militar dos conservadores em Vila Rica. Pela primeira vez, pega em armas.

Sua rica trajetória pública inclui os postos de Vereador, Deputado Provincial e Deputado Geral em quatro mandatos, tendo inclusive exercido a Vice-Presidência da Câmara dos Deputados. Em 1842, com a dissolução da Câmara pelo Imperador e o desencadeamento da Revolução Liberal em São Paulo e Minas Gerais, Ottoni retorna a sua província natal e assume o comando da Revolução em Santa Luzia, onde combate com as tropas de Caxias. No ano seguinte, depois da prisão em Ouro Preto, foi julgado e absolvido em Mariana. Logo retorna ao Rio de Janeiro, onde, junto com seu irmão, atua como empresário; em 1845, é de novo eleito Deputado Geral.

O empreendedor repleto de idéias e ideais nos evidencia uma outra faceta marcante da personalidade de Theóphilo Ottoni. Entre 1847 e 1857, participa de importantes projetos nacionais, regionais e locais. Com o Barão de Mauá, atua na recriação do Banco do Brasil, além de presidir a Comissão da Praça do Comércio, que daria origem à Associação Comercial do Rio de Janeiro. No ano de 1853, inaugura Filadélfia, o núcleo central das colônias do Mucuri, que depois de sua morte se transformaria na cidade de Teófilo Otoni, e assume importante função no Banco do Brasil. Três anos depois, recepciona os primeiros colonos europeus -- suíços e alemães -- que migraram para o Mucuri. Em 1857, organiza e preside a Companhia de Seguros Marítimos e Terrestres.

Ao longo de sua vida, Theóphilo Ottoni soube conciliar com maestria o político e o empreendedor, dando plena vazão a seus múltiplos talentos. Contudo, é na cena pública que este eminente mineiro se destaca e oferece valiosos serviços ao povo de sua Província e do Brasil. O manifesto Circular aos Eleitores Mineiros, de 1860, marca o seu retorno à política, na tentativa de reorganizar o Partido Liberal, na década que viria a chamar-se “otonniana”. Com a Circular, Theóphilo Ottoni incendeia o imaginário popular e passa a liderar uma maré democrática, que desafia o Poder Moderador, a censura e o sistema eleitoral corrompido da época. No ano seguinte, assume papel relevante na Questão Christie, que causou sério estremecimento e ruptura nas relações do Brasil com a Inglaterra.

Em nada menos do que sete oportunidades, Ottoni compôs lista tríplice para o Senado; em seis ocasiões, teve seu nome vetado e preterido na indicação que cabia a Pedro II. Somente em 1864, cinco anos antes de seu falecimento, recebe o nihil obstat imperial. No Senado, como também nas outras assembléias das quais participou, Theóphilo Ottoni consagrou-se como um dos mais notáveis oradores brasileiros de todos os tempos.

Esse patriota que hoje homenageamos - homem culto, incorruptível, dotado de extraordinária visão de Estado e especial talento empreendedor - teve uma vida singular. Uma trajetória única que, depois de conduzi-lo a algumas das mais cobiçadas, decisivas e importantes posições nos âmbitos público e privado, culmina com sua morte no Rio de Janeiro. Decorrência da intoxicação miasmática adquirida em seu querido Mucuri, moribundo Theóphilo Ottoni é um homem pobre, totalmente desprovido de recursos materiais.

Mas, enfim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, autoridades e convidados especiais desta sessão especial, todos sabemos que Theóphilo Ottoni, ao completar-se o bicentenário do seu nascimento, vive. A sua idéia vive; vive na promissora cidade que adotou o seu nome e que honra o notável legado deste mineiro; vive na memória de seus conterrâneos e de todos brasileiros que cultivam as causas nobres. Conosco, a cidade de Teófilo Ottoni, sob a liderança da Prefeita Maria José Hauesein Freire e dos representantes populares na Câmara de Vereadores, presidida pelo Vereador Northon Neiva Diamantino, celebra esta efeméride cheia de entusiasmo e orgulho. E o faz em grande estilo, com intensa e rica programação cultural, que alcança e mobiliza os diversos segmentos desta adorável comunidade.

Theóphilo Ottoni: um homem, um sonho, uma cidade. Nesta pequena e despretensiosa peça oratória, procurei percorrer, com a recomendada ligeireza, os principais momentos da densa biografia de um dos grandes nomes da política de Minas e do Brasil, em toda nossa história. Paulo Pinheiro Chagas reflete bem em seu livro toda a vida de Theóphilo Ottoni, assim como faz também o nosso Deputado Nilmário Miranda. Acredito que consegui evidenciar os aspectos mais determinantes de sua visão de mundo e de sua atuação concreta, como político vigoroso e intimorato na defesa das convicções liberais. Refletindo sobre sua caminhada, vemos que Theóphilo Ottoni propugnou e lutou, literalmente, por desideratos que ainda hoje, no despertar do século XXI, acompanham-nos e nos desafiam.

Entendo que a melhor homenagem que podemos render à honrada memória de Theóphilo Benedicto Ottoni é continuar imprimindo os valores republicanos e liberais, que animaram toda a sua existência à vida brasileira, como o fazem seus ilustres conterrâneos ao cultivarem com especial denodo seu legado ético e político.

Muito obrigado.

Eram as palavras que queria trazer no bicentenário de Theóphilo Benedicto Ottoni, um grande mineiro. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2007 - Página 42402