Discurso durante a 222ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamenta saída da Dra. Zilda Arns, da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança. Apelo ao Presidente Lula pela revogação do Decreto 6.170, de 25 de julho de 2007.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL. :
  • Lamenta saída da Dra. Zilda Arns, da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança. Apelo ao Presidente Lula pela revogação do Decreto 6.170, de 25 de julho de 2007.
Publicação
Publicação no DSF de 04/12/2007 - Página 42946
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REVOGAÇÃO, DECRETO EXECUTIVO, PROIBIÇÃO, REPASSE, ENTIDADE, DIRIGENTE, PARENTE, MEMBROS, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • APREENSÃO, SAIDA, ZILDA ARNS, MEDICO, COORDENADOR, INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, IGREJA CATOLICA, EFICACIA, ATUAÇÃO, OBTENÇÃO, RECONHECIMENTO, TRABALHO, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL, ATENDIMENTO, CRIANÇA, FAMILIA, POPULAÇÃO CARENTE, RECEBIMENTO, INDICAÇÃO, PREMIO, PAZ, MUNDO, COMBATE, DESNUTRIÇÃO, DETALHAMENTO, HISTORIA, PROJETO, MORTALIDADE INFANTIL.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna para lastimar um decreto presidencial que acaba afastando da coordenação nacional da Pastoral da Criança a Drª Zilda Arns, médica, pediatra, sanitarista, notável cidadã brasileira, cujo trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente; uma extraordinária mulher.

Sua notória competência profissional, notadamente sua obra como Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, organismo da ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, valeu-lhe a indicação ao Prêmio Nobel da Paz em vários anos consecutivos.

Após 25 anos à frente da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, essa organização ecumênica, que une fé e vida no acompanhamento de crianças, famílias e gestantes carentes em todo o Brasil, a Drª Zilda Arns não ocupa mais essa função desde o dia 29 de novembro.

Por mais insano que pareça, Sr. Presidente, o Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007, vetou repasse à entidade cujo dirigente tenha parentesco em linha direta, colateral ou por afinidade até o segundo grau com qualquer membro dos três Poderes.

Pasmem: o fato de ter o Senador Flávio Arns como sobrinho levou a Drª Zilda a deixar a Coordenação da Pastoral da Criança. A insanidade dos burocratas de plantão!

É evidente que o Senador Flávio Arns deve estar constrangido até por ter sido causa, obviamente não intencional, do afastamento da sua tia, Drª Zilda Arns.

É incompreensível um decreto dessa natureza. A edição desse decreto é a prova cabal da falta da sensibilidade, a ausência completa de razoabilidade. As mentes iluminadas que conceberam esse decreto não devem discernir sobre o trabalho realizado pela Drª Zilda, ao longo de mais de duas décadas à frente da Pastoral da Criança.

São quase dois milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes acompanhadas, todos os meses, em ações básicas de saúde e nutrição, educação e cidadania, indistintamente de cor, raça, credo religioso ou político.

Tudo começou em 1982, ao longo de um debate sobre a miséria, em Genebra. O então Secretário Executivo da Unicef, James Grant, sugeriu ao cardeal Dom Paulo Evaristo Arns que a Igreja poderia reverter a situação da mortalidade infantil no Brasil. Ao retornar ao Brasil, Dom Paulo Evaristo Arns procurou a Drª Zilda, sua irmã, e lhe relatou sobre o debate na Unicef.

Em 1983, nasceu a Pastoral da Criança, a partir de um projeto da Drª Zilda e com o apoio da Unicef. A primeira experiência foi desenvolvida no Município de Florestópolis, no Paraná. A redução dos índices de mortalidade infantil naquele Município, de 127 mortes a cada 1.000 crianças nascidas vivas para 28.000 por mil, após um ano de implantação do projeto, levou a Drª Zilda a apresentar seu projeto aos bispos do Brasil, reunidos em Assembléia-Geral. A partir de então, a Pastoral da Criança foi sendo expandida pela Igreja, por intermédio de sua organização e por sua capilaridade, a todos os Estados brasileiros.

            A experiência exitosa da Pastoral da Criança sob a coordenação da Drª Zilda levou a entidade a servir de modelo a países da África (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau) e da Ásia (Timor Leste e Filipinas), bem como a se irradiar pela América Latina (Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Equador e México.

Vale ressaltar, Sr. Presidente, que os primeiros treinamentos na implantação do projeto em países africanos foram ministrados pela própria Drª Zilda Arns.

O reconhecimento internacional pelo seu trabalho pode ser observado nos inúmeros prêmios nacionais e internacionais conferidos à sua pessoa: Prêmio Internacional em Administração Sanitária, da Organização Pan-Americana de Saúde; Personalidade Brasileira de Destaque, do Unicef; Prêmio Humanitário, do Lions Clube Internacional; Comenda da Ordem Nacional do Mérito Educativo; Medalha de Direitos Humanos, da Comunidade Judaica Internacional; Prêmio Heroína da Saúde Pública das Américas, da Organização Pan-Americana de Saúde entre inúmeras comendas...

(Interrupção do som.)

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - ... e outros prêmios.

O nosso gesto, a nossa homenagem da tribuna do Senado Federal é o reconhecimento do magnífico trabalho desenvolvido pela Drª Zilda Arns na área da saúde, especialmente no atendimento materno-infantil. A sociedade organizada agradece e aplaude toda a dedicação dessa notável médica, símbolo da competência e da bravura da mulher brasileira. Muito obrigada, Drª Zilda Arns.

Lamentamos que um entrave despropositado - um capricho da burocracia de plantão - possa privar de uma figura da estatura de Zilda Arns à frente da Pastoral da Criança. A sua tenacidade, sua vocação cidadã, seu espírito público incansável não permitirão que ela abandone a luta nem a causa que abraçou. Drª Zilda deve continuar na equipe da instituição, visitando localidades dentro e fora do País.

O seu alerta não pode ser ignorado:

O trabalho da Pastoral da Criança em 43 mil comunidades do País está ameaçado e pode parar: o decreto foi muito mal elaborado. A assessoria que elaborou o documento nunca pisou o pé na estrada, é desligada da realidade brasileira e castiga os que chegam às mais pobres comunidades, como a Pastoral.

            A obrigatoriedade fixada pelo decreto de as entidades efetuarem pagamentos exclusivamente mediante crédito em conta bancária de titularidade dos fornecedores e prestadores de serviços é deslocada da realidade. Estou concluindo, Sr. Presidente.

Como declarou a Drª Zilda ao retornar de uma viagem ao Norte do País: “Visitei cinco Estados da Amazônia. Quer dizer que, para pagar um barco, tem de dar um cheque? Torna-se inviável. São coisas feitas para acabar com as entidades do terceiro setor ou porque ignoram a realidade brasileira”.

Para Zilda Arns, o terceiro setor “é uma grande alavanca que ajuda a população pobre”. Ela sugere que o Presidente Lula revogue o decreto e, quando for substituí-lo, convoque pessoas capacitadas a contribuir com a melhoria das relações do setor com o Governo.

Portanto, Sr. Presidente, cabe aqui um apelo ao Presidente Lula. Drª Zilda Arns, com toda experiência que adquiriu nesses anos, faz esse apelo, e nós o reiteramos desta tribuna. O Presidente Lula tem de revogar esse decreto e estudar um novo decreto.

Ao formularmos os melhores votos de êxito à missão da Irmão Vera Lúcia Altoé, nova Coordenadora da Pastoral da Criança, esperamos que ela possa sensibilizar as autoridades do Governo Federal a rever o Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007.

As nossas homenagens à Drª Zilda Arns.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/12/2007 - Página 42946