Discurso durante a 226ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a greve de fome do Bispo Dom Luiz Flávio Cappio, em protesto pela transposição das águas do Rio São Francisco.

Autor
Raimundo Colombo (DEM - Democratas/SC)
Nome completo: João Raimundo Colombo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Manifestação sobre a greve de fome do Bispo Dom Luiz Flávio Cappio, em protesto pela transposição das águas do Rio São Francisco.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/2007 - Página 44236
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, GREVE, FOME, BISPO, ESTADO DA BAHIA (BA), PROTESTO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, AUTORIDADE RELIGIOSA, CONCLAMAÇÃO, GOVERNO, RESPEITO, MANIFESTAÇÃO, ATENÇÃO, ANALISE, PROJETO.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, BISPO, DESTINATARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPROMISSO, SUSPENSÃO, PROCESSO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, AMPLIAÇÃO, DEBATE, GOVERNO, SOCIEDADE CIVIL, BUSCA, ALTERNATIVA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO SEMI ARIDA, PROTESTO, DESCUMPRIMENTO, ACORDO, INICIO, EXERCITO, OBRAS, ANUNCIO, RETOMADA, GREVE, FOME.
  • CONCLAMAÇÃO, SENADO, APOIO, GREVE, FOME, AMPLIAÇÃO, DEBATE, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

            O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, esta é uma Casa de representação, representamos o povo, fomos eleitos com essa missão. Tudo aquilo que acontece na sociedade brasileira que causa impacto, que se torna uma referência, que merece ser debatido é nosso dever trazer aqui. É importante que a gente seja a voz de quem não tem voz, a oportunidade para quem não a tenha, a esperança para quem não acredita.

            Quero trazer um assunto que me impacta diretamente, que é a greve de fome do Bispo Dom Luiz Flávio Cappio. Não dou sustentação ao meu discurso com uma posição de Oposição, nem mesmo de Governo, muito menos sobre a voz da política. Este é um assunto que está acima disso tudo, que não deve se envolver por isso. Não é uma questão do mérito da obra, porque não tenho conhecimentos profundos para discutir se essa obra deve ser feita da forma proposta ou de outra forma. Mas é meu dever - e o faço com muito orgulho - falar um pouco da figura do Frei Luiz Flávio Cappio, porque o conheço e o conheço bem.

            Quando jovem, ali por 1975, com bastante atuação no campo religioso - eu era Presidente do Movimento de Encontros, do Emaús -, eu o conheci como orientador religioso, como orientador espiritual. Convivi com ele alguns anos e procuro sempre buscar os seus ensinamentos, até hoje. É uma das pessoas mais especiais, ou, senão, a mais especial que conheci ao longo de toda minha vida. É um homem com força espiritual de remover montanhas, é um idealista, é um homem determinado a cumprir bem a sua missão de servir e que encontrou, na força da sua ação no sacerdócio, a razão de vida, e a ela se entregou totalmente.

            Lembro, no início, quando realizávamos retiros: nós íamos de carro e ele ia a pé, porque entendia que aquela era uma doação necessária para ele ter a inspiração e a sustentação para nos transmitir os seus ensinamentos.

            Ao longo do tempo, aprendi a admirá-lo e procurei sempre o seu convívio, por ser ele uma referência daquilo que há de melhor no ser humano. A atitude extrema de fazer uma greve de fome, desafiando tudo que ele está desafiando: interesses, contestações, submetendo-se a julgamentos, numa atitude extrema... Ele não é um homem qualquer. As autoridades e o Governo precisam tratá-lo como ele merece, com o respeito que ele precisa ter. O seu gesto, sobretudo, precisa ser respeitado e compreendido. Se ele se opõe, há razões fortes. Esse é o único instrumento que ele tem para fazer com que aqueles que são responsáveis parem um pouco, pensem se realmente este é o caminho e ouçam os seus argumentos.

            Quero ler a carta que Dom Luiz, agora Bispo, fez antes de iniciar a greve de fome. É endereçada ao Senhor Presidente da República:

Senhor Presidente,

Paz e Bem!

No dia 6/10/2005, em Cabrobó, Pernambuco, assumimos juntos um compromisso: o de suspender o processo de Transposição de Águas do Rio São Francisco e iniciar um amplo diálogo, governo e sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para o desenvolvimento sustentável para todo o semi-árido. Diante disso, suspendi o jejum e acreditei no pacto e no entendimento.

Dois anos se passaram, o diálogo foi apenas iniciado e logo interrompido. Já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do Semi-Árido: as ações previstas no Atlas do Nordeste, apresentadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), e as ações desenvolvidas pela articulação do Semi-Árido (ASA).

No dia 22 de fevereiro de 2007, protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e a continuidade do diálogo e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo Exército Brasileiro.

O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou o nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira.

Uma nação só se constrói com um povo que seja sério, a partir de seus dirigentes. A dignidade e a honradez são requisitos indispensáveis para a cidadania.

Portanto, retomo o meu jejum e oração. E só será suspenso com a retirada do Exército das obras do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco. Não existe outra alternativa.

Acredito que as forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública. Mas, quando Jesus se dispôs a doar a vida, não teve medo da cruz. Aceitou ser crucificado, pois este seria o preço a ser pago.

A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro.

‘Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho.’

Que o Deus da Vida seja penhor de Vida Plena.

O Brasil é uma terra de grandezas. Terá dirigentes com a mesma grandeza?

            Eu lembro essa época, quando nós nos reuníamos e Frei Luiz nos comunicou que iria desenvolver a sua missão no interior da Bahia, por ser aquela a região mais pobre do nosso País. E lá foi ele, Mão Santa, com uma sandália e uma muda de roupa, dormindo ao lado do rio. E essa experiência, essa sua vida, essa sua determinação, lá se vão mais de trinta anos.

            Esse é um homem que merece respeito, esse é um homem que é um exemplo de vida, de determinação e de idealismo. Greve de fome não é para covarde; é para quem tem coragem. Greve de fome não é, como disse o Ministro Geddel Vieira Lima, um ato de populismo. Ele não precisa de popularidade. Greve de fome não é chantagem, greve de fome não é ação política; é o alimento dos ideais dos homens de bem, que, com esse ideal, se tornam exemplo e são elementos e causa de transformação.

            É necessário dar a ele a oportunidade de fazer ouvir a sua voz, é necessário respeitar a coragem e a determinação de um homem de bem que dedicou e entregou a sua vida a servir as pessoas, sobretudo as mais pobres. Ninguém, neste País, tem o direito de desrespeitar uma atitude como essa, de tentar humilhar um homem como esse.

            Esta é a hora de os grandes ouvirem e fazerem-se respeitar, de dar a uma pessoa com essa qualidade humana e com essa determinação o direito de ser ouvida e fazer com ele o convencimento para, juntos, acharem a melhor causa. Ninguém tem o direito de virar as costas a uma ação como essa, que não é populista, que não é demagógica, que não é pobre, mas rica na sua essência.

            É necessário que esta Casa se posicione, seja a voz desse homem determinado que quer o debate sobre uma ação importante para o nosso País. Ninguém tem o direito de se calar numa hora como esta. O seu exemplo deve ecoar no coração de todos os homens de bem. Vamos dar a ele a oportunidade de se fazer ouvir e de promover um debate.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Colombo só para...

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mão Santa, em cinco minutos não cabe aparte. 

            O Sr. Mão Santa (PMDB-PI) - Mas em cinco segundos cabe. Só quero relembrar que Luiz Inácio fez greve de fome, o Paim fez greve de fome...

            O SR. ROMEU TUMA (PTB-SP) - Sr. Presidente, eu pediria licença porque o Senador...

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Tuma, causa constrangimento para quem preside a sessão anunciar que o Regimento diz uma coisa, e nunca praticar o Regimento.

            V. Exª pode pedir pela ordem em seguida.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Peço desculpas, mas não estou fazendo um aparte. Farei pela ordem o relato da greve de fome, que estava sob minha custódia. Tenho o direito de esclarecer historicamente o passado. 

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias.PSDB - PR) - V. Exª terá a palavra pela ordem, logo após o orador.

            O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Sr. Presidente, vou encerrar, está terminando o meu tempo, mas queria chamar a atenção de todos os Senadores, do Senado Federal, para darmos espaço a Dom Luiz Flávio Cappio - que a Igreja, a CNBB, se posicione e também lhe dê - para que o seu gesto tenha a repercussão necessária, que de fato esse assunto seja ouvido e que se lhe dêem as conseqüências necessárias. Não é um ato de covardia; é um ato de coragem. Não é um ato de populismo; é um ato de idealismo. E é assim que precisa ser compreendido. Não falo sobre o aspecto político, de forma alguma, mas como uma pessoa que aprendeu, na convivência, a admirar de forma profunda o líder religioso.

            Convivo muito com a Igreja brasileira e respeito a todos, mas não conheço ninguém .que tenha a condição espiritual, a força e a formação de Frei Luiz Flávio Cappio, Bispo da Barra, na Bahia, por seu exemplo de vida de longo tempo. Esse homem merece ser ouvido. Ele é um exemplo e precisa ter a compreensão das pessoas, porque é um homem acima, mas muito acima da média. É importante que todos tenham consciência disso.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/2007 - Página 44236