Discurso durante a 227ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a disputa pela indicação na bancada do PMDB para a Presidência do Senado Federal, dizendo-se estimulado pelo movimento liderado pelos senadores Cristovam Buarque e Eduardo Suplicy para candidatura de S.Exa.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Considerações sobre a disputa pela indicação na bancada do PMDB para a Presidência do Senado Federal, dizendo-se estimulado pelo movimento liderado pelos senadores Cristovam Buarque e Eduardo Suplicy para candidatura de S.Exa.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Heráclito Fortes, Mão Santa, Neuto de Conto, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2007 - Página 44356
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • REGISTRO, INDICAÇÃO, NOME, ORADOR, CANDIDATO, PRESIDENCIA, SENADO, ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), AUSENCIA, APOIO, CANDIDATURA, COMENTARIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA.
  • ALEGAÇÕES, RELEVANCIA, QUALIDADE, ESCOLHA, PRESIDENTE, SENADO, NECESSIDADE, EMPENHO, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, LEGISLATIVO.
  • AGRADECIMENTO, INDICAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA, SENADO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna porque vai para debate uma discussão em torno da Presidência do Senado e uma pergunta com relação a minha pessoa.

Eu falei, quando o Líder Raupp fez uma reunião da Bancada no sentido de os candidatos se apresentarem, de quem era candidato, e eu não me apresentei. Realmente, não sou candidato. Mas, aí, alguns Parlamentares - o Senador Cristovam, que nos honra com sua presença, e o Senador Suplicy - colheram uma lista de nomes que falavam na minha candidatura e falaram com líderes do MDB: “Estão apresentando o nome do Pedro Simon para ele ser o candidato”. Aí, a resposta foi: “Olha, o Pedro Simon é uma boa candidatura, mas ele não aceita, ele não aceita”. Aí, o Senador Cristovam, o Senador Suplicy e outros cobraram de mim, até de uma maneira quase que - eu diria - áspera: “O senhor não pode fazer isso. O senhor pode sair candidato, pode não sair candidato. O Senado vive uma hora difícil. A única coisa que ninguém pode dizer é que não aceita”. Aí eu disse, com todas as letras: “O problema é o seguinte: não é problema de eu aceitar ou de eu não aceitar, eu sei que a minha Bancada não me indica”. Eu sei que o comando da minha Bancada, o Presidente, o Líder, os que têm, ao longo...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O Senador Raupp.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não é o Senador Líder, é um conjunto de circunstâncias. Pelo amor de Deus, não levem isso para o lado pessoal. É um conjunto de circunstâncias em que isso acontece.

Estou aqui há 25 anos no Senado, e, no MDB, desde o velho PTB, eu estou. Fiquei no comando desse Partido durante muito tempo - o Dr. Ulysses, eu -, de Primeiro Vice-Presidente, assumindo a Presidência, de Secretário-Geral, durante muito tempo. A partir da morte do Dr. Ulysses, da morte do Tancredo, da morte do Teotônio, outro grupo está comando, que é o atual Presidente, que é o Jader, que é o Renan, que é o Sarney. É o grupo que está no comando de uma via partidária; eles não se identificam comigo, e eu não me identifico com eles. Então, é natural.

Eu disse para os Senadores: “Eu não tenho nenhuma chance de ser indicado”. Aí eles me disseram: “Bom, o senhor não ter chance de ser indicado é uma coisa, agora o senhor dizer que não aceita é outra coisa”.

Então, me fizeram um pedido, um apelo para que eu dissesse que, se a Bancada do PMDB me indicasse, eu aceitaria. Se a Bancada do PMDB não me indicar, eu não venho disputar em plenário, ainda que tenha todos os votos que não sejam os do MDB. Eu me submeto à decisão da minha Bancada, eu tenho de aceitar isso, não vai ser eu, com toda a minha vida, com toda a minha história...

Outra coisa, Sr. Presidente, eu estou há 25 anos no Senado, sou a pessoa mais antiga nesta Casa. Eu nunca fui - não é Presidente? -, eu nunca fui membro da Mesa, eu não fui Presidente de nenhuma Comissão, porque não faz parte do meu esquema de trabalho, não faz parte do meu estilo. Eu nunca fiz uma viagem para o exterior com passagem do Senado Federal. Não é meu estilo. Então, não é agora, numa hora que nem esta...

Desde o primeiro momento, eu venho dizendo, desde que se falava na possibilidade de o Renan renunciar, eu dizia: E aí, como é que vai ser? Eu acho que deve ser uma candidatura de muita responsabilidade.

Não pode ser uma candidatura que assuma a Presidência do Senado para ser antigoverno. Numa hora de crise como esta, alguém vai assumir para se contrapor ao Governo? Não é o momento. Não deve ser, também, uma candidatura ao contrário, que esteja aqui para ser de uma fidelidade canina ao Governo. Tem de ter independência, respeito. Ajudar a vencer a crise, sim! Ajudar o Governo a avançar, sim! Ajudar a nos livrar desta hora que estamos vivendo, sim! Mas com um respeito recíproco entre os Três Poderes, que são soberanos e devem trabalhar harmonicamente”. Isso eu sempre defendi.

Alguns jornais até me perguntaram: “Simon, Presidente do Senado, vai fazer uma guerra contra o Governo, vai ser uma coisa”. Eu disse: “Pára um pouquinho”. Eu fui um homem, modéstia à parte - desculpem-me -, que, durante os 16 anos em que fui Deputado Estadual, eu, praticamente, era o Presidente do MDB, o Líder da Bancada, o Líder da Oposição. Nós tínhamos 33 Deputados, e a Arena tinha o resto: eram 17 Deputados. O domínio era todo nosso.

Escolher o Prefeito de Porto Alegre... O Prefeito de Porto Alegre quem nomeava era o Governador e, depois, passava pela Assembléia - não havia eleição direta. Então, o Governador indica, e a Assembléia escolhe. Aí, vem o Guazzelli, que era o Governador e queria me indicar o Jair Soares, que era o grande... Eu disse: “Não. Com Jair Soares eu não concordo”. “Por que tu não concordas”? “O Jair Soares é o candidato a Governador”. Vejam o que é o destino - eu devia ter concordado: terminou que ganhamos a eleição, depois. “O Jair Soares é um cara da Arena, é um cara fixado. Eu acho que você tem de indicar um nome. Eu não estou pedindo para ti indicar um cara do MDB”. Nós tínhamos maioria, nós iríamos votar. “Eu vou indicar. Sou eu quem indica”! “Tu indicas, tens responsabilidade de indicar. Mas, eu, do MDB, tenho a responsabilidade de eleger. Tu tens liberdade de indicar quem quiser e eu tenho a liberdade de eleger ou não eleger quem eu acho que deve se eleito”.

Veio lá o Vilela, um técnico do gabinete de assessoramento do Brizola Governador, e foi escolhido por unanimidade. O MDB estava no chão, mal, horrível.

E a guerra do pólo petroquímico? Vai para o Rio Grande, não vai para o Rio Grande. Não queriam dar de jeito algum. O Pedro Simon, Presidente da Oposição, Líder do MDB na Assembléia Legislativa, foi pedir uma comissão especial, e comandou a comissão especial para o pólo petroquímico. Fizemos uma guerra fantástica. Foi um dos momentos mais bonitos da história do Rio Grande do Sul, uniu todo o Rio Grande do Sul.

Houve um momento em que se reuniram - o Guazzelli reuniu todo o Rio Grande do Sul - 55 Deputados, todo o Governo do Estado, o Tribunal de Justiça, o Arcebispo, o Cardeal, empresários, trabalhadores. Foi um movimento enorme do Rio Grande do Sul para ir ao Geisel. Aí o Guazzelli falou: “Estamos aqui; estão aqui o fulano, o fulano, o fulano, o fulano. Em nome do Rio Grande do Sul, vai falar o chefe da Oposição”. E deu a palavra para mim. Modéstia à parte, nós o convencemos, e o pólo foi para o Rio Grande do Sul. O pólo foi para o Rio Grande do Sul. O mesmo raciocínio ocorreu com a Piratini.

Eu dizia uma frase: o que é bom para o Rio Grande do Sul é bom para o MDB. E a nossa Oposição era radical. A nossa Oposição era ao Peracchi, era ao Triches, ao Guazzelli, era radical. Nós éramos uma Oposição dura. Não tínhamos um cargo, não tínhamos um emprego, não tínhamos uma nomeação. Era uma Oposição dura, mas tínhamos a grandeza de encontrar a Oposição ali e o Rio Grande do Sul aqui. Uma coisa assim deve ser feita agora.

Primeiro, eu acho que a intromissão do Lula é um pouco infeliz. Eu acho que o Lula devia acompanhar o processo, até porque ele tem aqui 55 Senadores. Com muitos dos 81 Senadores ele tem amizade e tem respeito. Se bem que ele fez uma seleção muito grande.

O Sarney é um nome? É, é um grande nome, é um nome excepcional. Foi Presidente da República, já foi quatro anos Presidente da Casa, membro e vai ser Presidente da Academia Brasileira de Letras. É uma coisa bacana: Presidente do Senado e Presidente da Academia Brasileira de Letras. É uma coisa que nunca aconteceu. Vai acontecer pela primeira vez. É um negócio que soa para o Senado: vamos ter um Presidente da Academia e Presidente do Senado.

A imprensa toda veio me cobrar o que é que eu acho de o Lula insistir com o Sarney. Eu disse que acho muito bom. Acho correto. Aí disseram: “E por quê”? “Não, mas eu acho que a vida dá volta”.

Vejam como a vida tem velhas nuanças. Quem diria, dez anos atrás, que o Lula apresentaria, como seu candidato, como o homem da sua confiança, para caminhar junto, o Sarney? Vejam como houve uma evolução. O Lula evoluiu. Não é mais aquele Lula de tanto tempo atrás. E, cá entre nós, o Sarney também evoluiu: não é o Presidente da Arena da época do regime militar! Então, são coisas que acontecem.

Mas o que eu digo é o seguinte, Sr. Presidente, convém que se esclareça: não há nenhum perigo de o Pedro Simon concorrer em plenário com candidatura avulsa. Isso não existe. Nem com candidatura de oposição, menos ainda! Eu continuo dizendo: eu não sou candidato. “Ah, mas se a Bancada se reunir e decidir que tu és candidato”? Aí, eu sou candidato. Só que isso não vai acontecer.

Perdoe-me, meu Líder. Eu tenho muito carinho por ti, mas eu conheço 20 vezes mais do que tu, porque eu estou 20 anos aqui antes que tu. Tu nem te dás conta. Isso não vai acontecer.

São esquemas que estão aí: o Renan, o Jader Barbalho, o Sarney... Essa coisa. É o esquema que está aí. E o Pedro Simon é uma figura estranha a isso. Eu sei disso. Estava conversando com o Sarney. O que ele já está pensando? Vou agora para ficar por um ano ou deixo para o ano que vem, para ficar quatro anos? E é uma pergunta que tem lógica. Agora é um ano só, conturbado, difícil. Se não for agora, no ano que vem serão quatro anos. Então, ele faz as memórias dele este ano e daqui a quatro anos pega a Presidência.

Agora, Pedro Simon! Não sou candidato, porque tenho a racionalidade de entender as circunstâncias. Eu sei que, assim como o imposto sobre o cheque vai passar, e tenho dito isso há seis meses, se o Governo tem força, tem poder, tem argumentos os mais variáveis, é claro, para convencer, o candidato vai ser, se o Lula insistir, o próprio Sarney ou, se eles acertarem, quem eles acharem que deve ser.

Tenho a modéstia de entender que sou MDB muito antes que Sarney, Renan ou Lula. Eu venho de um período lá de trás, mas tenho que reconhecer que hoje, infelizmente, o MDB é esse. Ah, mas eu tenho que sair! Vou sair para onde? Para fazer o quê? Luto dentro do PMDB, continuo lutando, acredito que temos um futuro importante, uma missão importante, mas não gostaria que a imprensa publicasse: Ah, o Simon agora é mais um candidato! Não.

Houve um movimento responsável, com o qual eu me emociono, do Suplicy e do Cristovam, que é suprapartidário, no sentido de dizer: ao PMDB cabe indicar, mas nós podemos também sugerir um nome que consideramos da maior importância, que é o Pedro Simon. É um direito. Se me indicarem, eu aceito, mas não pensem que tenho a infantilidade de imaginar que sai a candidatura. Não sai a indicação. Então, tudo bem.

Senador Cristovam.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, é exatamente por essa dúvida que o senhor tem em relação a ser o escolhido pelo PMDB que, primeiro, precisamos fazer o apelo que estamos fazendo ao PMDB, e fico feliz de ter aqui o Senador Raupp; e, segundo, é exatamente essa dificuldade que mostra a importância de o senhor ser o candidato. O PMDB de hoje precisa retomar o espírito do velho MDB e entender que esta Casa está precisando de uma mudança do tipo que houve em 1985. O Senado está ajoelhado diante do povo, pedindo desculpas; está ajoelhado diante do Presidente da República, pedindo favores; está ajoelhado diante do Poder Judiciário, com medo das medidas judiciais que virão amanhã, que a gente não sabe quais são, em geral porque não fizemos o dever de casa na hora. É preciso desajoelhar o Senado. E esse desajoelhamento exige, Senador Raupp, alguém que assuma a Presidência, onde está ali o Paim, com uma cara nova, diferente sob dois aspectos: a credibilidade diante da opinião pública e a autonomia diante dos dois outros Poderes. Não para que seja oposição ao Presidente Lula. Não. Seria degradar o Senado ter um Presidente que se comportasse como sendo de oposição. Mas precisamos da autonomia dos três Poderes. E hoje creio que se esse nome, essa cara vier como sendo escolhida pelo Presidente da República e como uma continuidade do Presidente Renan, com todo o respeito e carinho que eu tenha por ele, nós vamos continuar de joelhos. Não vou dizer que o senhor é o único nome do PMDB. Não. Longe de mim dizer uma coisa dessa. Mas é preciso que saibam que o senhor seria esse nome, sem dúvida, na cabeça de todo o povo brasileiro. Pode haver outro. Eu até diria que há outros. Mas teremos de convencer o povo brasileiro. Por isso, creio que o senhor deveria pensar. Fiz aqui, hoje, um apelo. Eu fiz três apelos aqui, hoje: um apelo ao PMDB, para que entendesse a importância desse momento histórico; ao senhor, para que aceitasse; e ao Presidente Sarney, para que entendesse que isso não vai aumentar a sua biografia nem vai melhorar a posição do Senado. Fiz um histórico das boas coisas e lembranças que tenho do Presidente Sarney, um homem que cumpriu tudo o que estava traçado para fazer a redemocratização, quando muitos não acreditavam que ele faria.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Ele não saiu um milímetro. O senhor era Ministro dele na época...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu fui Chefe de Gabinete do Ministério da Justiça. Assumi a Reitoria e acompanhei bem isso. Ele não saiu um milímetro do que era preciso fazer. Saiu muito melhor a receita do que a encomenda...

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - ...no caso do Governo Sarney. Mas hoje, se ele vier aqui, ele chegará como escolha do Presidente Lula. Ele chegará como um Ministro do Presidente Lula assumindo a Presidência. Além disso, as relações muito umbilicais que ele manteve esse tempo todo com o grupo do Presidente Renan Calheiros vai passar à opinião pública que houve a continuidade, que o Presidente Renan nem renunciou, apenas passou o bastão. Essa é a imagem que vai ficar. Sarney é muito maior de que isso. Por isso o apelo. Mas o outro apelo é ao senhor, no sentido de aceitar. Mas não apenas aceitar caso haja unanimidade. Não. Ir para a luta no PMDB, dizendo: “Eu, diante deste momento, não posso deixar de colocar meu nome...”

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu aceito a disputa na Bancada do PMDB.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem. É isso que eu queria ouvir.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu aceito a disputa, não tem problema algum. Meu nome vai à disputa. Só quero que o amigo me faça um favor: eu sei que vou perder...

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não importa.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Espere aí. Pode acontecer isso. Eu sei, conheço o ambiente, eu sei quem é.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Isso é uma grandeza sua.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas vou disputar.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Esta é uma grandeza: entrar numa luta achando, não vou dizer sabendo, que vai perder. Agora, eu quero dizer ao Senador Raupp que ontem, quando falei por telefone com o Senador Pedro Simon, eu disse para ele que, por nós, se o nome que vier - não quer dizer que seja só o seu, pode vir outro bom também - não trouxer essa cara nova... E nós gostaríamos que o senhor aceitasse ser candidato avulso. E o senhor disse que não era,...

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não aceito.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - ...que não faz parte do seu jogo.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sinceramente, não faz parte do meu estilo.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - O senhor quer ser candidato pelo PMDB. Eu quero esclarecer isso de público. E lamentei essa posição, mas respeito. Para deixar clara a sua posição. Então, eu fico contente. Agora está mais claro para mim. O senhor acha que não será escolhido. O Senador Raupp vai falar depois de mim, se o Senador Paim permitir. Vou ouvir dele.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vamos respeitar o Senador Raupp. É o pensamento dele, com as contingências que levam a isso. Ele não tem nada a ver com isso.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas o senhor colocou o seu nome e está disposto a disputar, mesmo que perca. Então, Senador, eu fico muito feliz com esse esclarecimento.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não!

Entende V. Exª não ser nada pessoal. Eu tenho o maior carinho, o maior respeito, a maior admiração. V. Exª entrou em um esquema complicado. Nós tivemos uma vitória muito grande com a sua eleição, com o seu nome; tínhamos muitas restrições ao seu antecessor na Liderança e mudou muitas coisas. Realmente V. Exª mudou, mas não tem condições de mudar o contexto geral na hora em que a bancada está vivendo.

Com o maior prazer.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Muito obrigado. Quero que V. Exª entenda que a recíproca é verdadeira. Tenho o maior carinho, o maior respeito pelo Senador Pedro Simon. Sei que V. Exª é um apaixonado pelo Rio Grande do Sul, pelo Brasil e pelo Parlamento, o Senado Federal. O que eu posso dizer, se V. Exª for candidato da bancada, é como eu tenho dito para os outros: será um ótimo candidato, como tenho falado para o Senador Garibaldi Alves Filho. Como Líder, não sou o comandante. Eu não comando, não tenho todos os 20 Senadores na minha mão, porque é um sistema democrático. Tenho falado que sou um coordenador da bancada, para quem apresento as deliberações. Até o momento, temos quatro candidatos. O Senador Garibaldi Alves foi o primeiro que se lançou. Tenho falado para a imprensa e para todos que é um ótimo candidato. O Senador Neuto de Conto também se lançou como um ótimo candidato, assim como os Senadores Valter Pereira e Leomar Quintanilha. Como Líder, tenho que dizer que todos são bons candidatos, porque são Senadores da minha Bancada. O Senador Pedro Simon é um ótimo candidato.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E o candidato que o Presidente da República está dizendo que é dele, o Senador José Sarney, V. Exª me diz que é um bom candidato.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Se aparecerem mais candidatos, se o Presidente José Sarney disser para a bancada que é candidato, eu vou dizer que é um ótimo candidato também. E vamos para a disputa. O que o Líder vai fazer é reunir, na terça-feira, às 9 horas, quantos candidatos houver e colocar em votação secreta - democrática, porém, secreta -, dentro da bancada, para escolher o candidato da bancada. O que eu quero desejar é boa sorte a todos esses candidatos ao chegarmos lá. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não, Senador Neuto.

O Sr. Neuto de Conto (PMDB - SC) - Eminente Senador, amigo, companheiro de PMDB, Pedro Simon, eu me inscrevi como candidato na bancada para buscar o apoio e, se apoiado, disputar no plenário a Presidência do Senado da República. Naquele momento, conversei com V. Exª...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Isso é verdade.

O Sr. Neuto de Conto (PMDB - SC) - ...sobre essa disposição, e V. Exª me deu até incentivo. Foi por várias solicitações que participamos da reunião e colocamos a nossa posição, embora Senador novo, no primeiro mandato,...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas político muito carimbado aqui.

O Sr. Neuto de Conto (PMDB - SC) - ...com três mandatos de Vereador, de Deputado Estadual, três mandatos federais. Como Deputado Federal, com muito orgulho, em uma missão muito árdua, conseguimos relatar o plano da estabilização da economia do País. Foi beneficiado o governo anterior, mas o grande aproveitamento está sendo feito por este. O grande beneficiado é a nossa Pátria, o Brasil, o nosso real. Ocupamos quatro diferentes Secretarias de Estado em Santa Catarina. Desde a Secretaria da Agricultura, a Secretaria da Fazenda, a Secretaria da Casa Civil, e temos uma proposta muito simples. O primeiro passo é a independência do Senado Federal. A dependência não pode ser recorrente, costumeira, do Judiciário, que não pode estar aqui, eminente Senador Pedro Simon, a legislar pelo Executivo por meio da CPMF. Nós achamos que a transparência tem que ser plena, total, e temos de respeitar muito os demais Poderes. Digo a V. Exª que sou seu eleitor.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A recíproca é verdadeira.

O Sr. Neuto de Conto (PMDB - SC) - Sou seu eleitor. E gostaria imensamente de produzir um debate dentro da bancada e sairmos muito unidos, para que possamos dar ao Brasil, aos brasileiros, a transparência, a independência, uma cara nova. E recuperar não só o Senado da República, mas os políticos, para que cada Senador seja homenageado e honrado quando for às ruas do nosso País. Por isso, cumprimento V. Exª com muita humildade, dizendo que nós temos condições, sim, Sr. Presidente Paim, de produzir uma reforma política. Podemos, sim, buscar uma reforma política que encontre um caminho para que este País possa ter, principalmente no eleitoral e na partidária, uma reforma tributária, meu caro amigo Senador, que reduza a pirâmide, que alargue as bases, que desonere a produção, que tribute o consumo, e, além disso, buscarmos um pacto federativo para que todos os brasileiros sejam iguais. Eu o cumprimento, eu o saúdo e desejo vê-lo na nossa bancada para disputarmos, com a participação de V. Exª, a Mesa do Senado da República.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Querido Senador, eu tenho o maior carinho e o maior respeito por V. Exª. Nós somos irmãos e vizinhos, Rio Grande e Santa Catarina. Eu conheço V. Exª lá de trás, da época difícil do velho MDB. E V. Exª é um dos grandes Líderes, um dos grandes nomes que o nosso Partido tem. Na Câmara dos Deputados, na Assembléia Legislativa, nos vários cargos no Palácio do Governo de Santa Catarina, V. Exª se desempenhou com uma dignidade muito grande. V. Exª realmente falou comigo, e eu lhe disse que não era candidato. E achei que V. Exª era um grande nome e que reunia todas as condições de ser um grande Presidente. E disse mais, que V. Exª, primeiro, tem a experiência e a tarimba parlamentar de um longo período, mas chegou aqui no Senado agora, não tem nenhuma área, V. Exª poderia fazer realmente o novo e caminhar em termos de buscarmos o que é necessário.

Eu felicito V. Exª e volto a lhe dizer: eu não podia fugir de um “peitaço” que levei: “O senhor não quer ser?” Não quero ser, não tenho condições de ser. “Mas, numa hora que nem esta, o senhor vai não?” Não, entendo que não tenho chance no Partido - o que é diferente de eles dizerem: “Ele não quer ser”. Agora, eles terão de se reunir e dizer: “O Simon, não. É outro o candidato”. Pode ser V. Exª, por quem tenho o maior apreço.

Agradeço muito a V. Exª.

Era isso, Sr. Presidente.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sr. Presidente, aproveitando que estamos numa sexta-feira, para que o público, os jornalistas e o Sr. Senador terem uma idéia, o que eu e o Senador Eduardo Suplicy fizemos ontem, em pouquíssimas horas, foi recolher assinaturas. Vou ler os nomes em ordem alfabética para se ter uma idéia de como é o clima: Adelmir Santana (DEM), Alvaro Dias (PSDB), Antonio Carlos Valadares (PSB), Arthur Virgílio (PSDB), Augusto Botelho (PT), Cícero Lucena (PSDB), eu próprio (PDT), Delcídio Amaral (PT), Demóstenes Torres (DEM), Eduardo Azeredo (PSDB), Eduardo Suplicy (PT), Eliseu Resende (DEM), Flávio Arns (PT), Flexa Ribeiro (PSDB), Gerson Camata (PMDB) - nós não pedimos a nenhum peemedebista, foi por acaso que ele assinou, porque, senão, o Senador Mão Santa teria sido o primeiro -, Heráclito Fortes (DEM), Jayme Campos (DEM), João Durval (PDT), José Nery (P-SOL), Lúcia Vânia (PSDB), Marcelo Crivella (PRB), Mário Couto (PSDB), Marisa Serrano (PSDB), Osmar Dias (PDT), Patrícia Saboya (PDT), Paulo Paim (PT), Romeu Tuma (PTB), Sérgio Zambiasi (PTB) e Tasso Jereissati (PSDB). Dois não encontramos ontem, mas eu sei que assinarão, Jefferson Péres e Osmar Dias. Então, esta é a lista até agora. Mas segunda-feira, certamente, estará ampliada para enviarmos ao Presidente do PMDB. E aqui não buscamos nenhum do PMDB, para não constrangê-los, já que a carta é para eles. Isso eu espero que o senhor tome como um gesto de lavar a alma, como se diz, porque o senhor vê todos os partidos, e ninguém assinou por acaso. Porque a gente sabe que aqui no Senado muitas vezes a gente pede (assine esta emenda constitucional), e a gente assina, para depois debater. Aqui, não, nós pedimos que lessem com cuidado um parágrafo que a gente escreveu. Todos os que assinaram leram. E alguns disseram: Segunda-feira quero voltar a conversar sobre isso. Então, já são 32 nomes que a gente tem aqui - incluindo os que não assinaram, mas que eu sei que assinarão - que querem que o nome para “desajoelhar” o Senado seja o seu.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª não calcula a emoção com que recebo a manifestação de V. Exª. Eu acho que nos meus 25 anos de Senado este é o momento mais importante da minha vida. Ao receber uma manifestação dos mais variados partidos, que fazem uma indicação que nem essa, por si só a missão já está cumprida. Valeu a pena.

Agradeço a V. Exª, principalmente, que chegou aqui, estamos nos conhecendo, e que, no entanto, faz esse trabalho. Acho que nós devemos entender. Eu sinto que esse trabalho não é a indicação do Pedro Simon, é a preocupação com a hora que estamos vivendo. Pode ser o Pedro Simon, pode ser quem for, mas nós temos que ter a compenetração de que a hora é muito importante. E o que eu digo a V. Exª é o seguinte: sei o motivo pelo qual V. Exª faz essa indicação. E sei que, se eu fosse indicado, eu faria o que V. Exª espera que eu faça. Por isso estamos nessa, Senador!

Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, V. Exª é crente em Deus, e também o sou. Minha mãe era terceira franciscana como V. Exª. E penso que temos de ter confiança na divina providência. Creio que Deus não iria abandonar a gente, não, nem o Senado. Lendo o Livro de Deus, vi “Golias, acaba!”, e vai o menino Davi dar uma forcinha; o povo dele, escravizado; vai Moisés. Aqui, temos a imagem de Deus, do filho d’Ele. Então, depois dessa confusão toda, desse tsunami, desse vendaval por que passamos, penso que Deus tenha preparado o nome de V. Exª para este momento. Foi até bom que o compromisso de V. Exª tenha saído da reunião, mas eu disse que estou com V. Exª até o último instante e defendi o seu nome. Houve um que contestou e argumentei em sua defesa. Mas vi os outros todos se renderem ao nome de V. Exª. O Presidente Sarney, um dia, eu disse: “Sr. Democracia”. Ele é um homem, hoje, universal, teve os desígnios dele, os momentos mais difíceis da democracia. V. Exª foi cirineu dele, Ministro da Agricultura, com toda a lealdade. Eu entendo que V. Exª é esse nome, e despontou ontem quando vi o Suplicy, o Cristovam Buarque... E a lista surgiu ontem. Mozarildo ainda me disse para assinar. Então, eu acho que estamos precisando de V. Exª. V. Exª é o momento. Eu sei que há dificuldades. Vitória sem luta é vitória sem glória. V. Exª merece esta glória, tem de haver uma luta. Guiou-me um poeta do Nordeste, que disse: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar”. V. Exª é do bravo Rio Grande do Sul, de lutas, da Guerra Farroupilha, dos Lanceiros Negros, lutas trabalhistas, Alberto Pasqualini, Getúlio, João Goulart. Tem de haver uma luta. Disseram-me e vou dizer com franqueza: “é difícil”. Paim, se penso, logo existo (Descartes). Realmente, é difícil. Não é fácil. Eu sou cirurgião, mas tenho a noção exata do momento. O cirurgião sabe quando deve operar. Mas, mais difícil. Eu não queria ter essa missão. Eu podia lançar uma missão muito agradável, muito fácil, honrosa. Já recebi mil e-mails, aplausos, só por tê-la lançado, mas o mais difícil é o PMDB queimar o nome de V. Exª, não aceitar o nome de V. Exª. Sempre acreditei, não me decepcione, que o bem vence o mal. V. Exª sempre pregou isso e bem. São Francisco, paz e bem. É por isso. Mercadante, bem aqui, é um homem extraordinário, eu me dou bem com ele. Disse para o Tião, que V. Exª é o segundo, o mais preparado. Ali, Paim, disse aqui, não sei o pensamento dele, apesar da intimidade. E ele veio com o Presidente Sarney. Acho extraordinário o seu currículo, é o senhor democracia do mundo. Foi ele que enfrentou o Chávez, o primeiro estadista ali. V. Exª foi ministro dele. Acho isso do Presidente Sarney, que enriquece sim, todos nós votamos nele, mas acho que agora a hora e a vez é de V. Exª no Senado da República. E vou dizer por que acho isso. Estava com universitários, freqüento muito, e a gente tem sempre esses debates, a mocidade é pura. E todo mundo viu que ia terminar nisto: nós votamos no Presidente Renan. É a praxe: o partido majoritário. E eu, no meio de uma universidade, disse: não, vai acabar sendo o PMDB. Olha, lá no Piauí - o Piauí é o mais bravo do povo brasileiro. Paim, aí, quando eu fui dando os nomes, quando falou em Pedro Simon, rapaz, eu fiquei até - lá no meu terreiro, lá no meu Estado -, todo o mundo se levantou: É Pedro Simon. Lá, no Piauí, os estudantes me disseram: é Mão Santa. Não é por ser do PMDB. É Pedro Simon. Então, eu entendo que esta Casa não pode estar afastada do povo. V. Exª já ganha aqui no plenário. Há trinta e tantos, somando um do PMDB, você já tem maioria. Ganhou a mocidade, ganhou o povo e vai ganhar a democracia. Lembre-se de que V. Exª é um gaúcho, o precursor da República, o precursor da liberdade dos negros, de luta. V. Exª, que esteve com Teotônio, moribundo, canceroso, mas não fugiu da luta, foi até o fim. Nós estamos precisando. Como eu disse: o Presidente Sarney é o Sr. Democracia. Quando eu disse, hoje, Professor Cristovam, V. Exª é o Sr. Educação. E, V. Exª, eu quero dizer: é o Sr. Presidente do Senado da República. Aí nós poderemos dizer, como os romanos diziam, o Senado e o povo de Roma, nós poderemos aqui falar: o Senado e o povo do Brasil.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Querido Senador, muito obrigado. Há muito tempo V. Exª vem demonstrando um carinho e um afeto muito grande por mim. E eu tenho um respeito e uma admiração muito grande por V. Exª. V. Exª é autêntico. Eu já disse a V. Exª que, no Rio Grande do Sul, é impressionante a análise e o debate dos que assistem à TV Senado. E são muitos, principalmente no Rio Grande do Sul. É impressionante a audiência da TV Senado, e eles falam muito e me perguntam quem é V. Exª. “Mas quem é esse Mão Santa, afinal? E por que é Mão Santa?” E digo: “Ele é Mão Santa porque é um cirurgião de primeiríssima grandeza, operou todo mundo no Piauí, não cobrando nada de ninguém, e as pessoas o consideram um santo porque devem a vida a ele”. E agradeço.

Estamos vivendo agora, meu querido Cristovam, sob a Presidência de V. Exª, Senador Paim, e para mim, é uma honra tê-lo neste momento como meu fiador na Presidência, um momento importante. Vamos dirigir um pedido ao Lula, à Bancada do PMDB, a todos, para que este seja um momento de afirmação. O que o Senador Cristovam diz é que temos de sair disso vendo uma luz do outro lado e entendendo que é hora de se fazer alguma coisa, e dá para fazer. Olha, dá para fazer. Tenho a convicção de que, se queremos dar esse sentido de perspectiva nova ao Congresso brasileiro, podemos fazer. Estamos vivendo, talvez, o momento mais importante. Estou aqui há 25 anos e presidi uma Comissão do Senado por 7 anos. Inicialmente, era uma reunião do Ministro da Justiça, com os Presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas, da Câmara, do Senado, com o Procurador-Geral da República, para discutir a questão da criminalidade. Interesse total, preocupação total, não avançou nada.

Hoje está diferente. Hoje se sente que há um propósito nesse sentido. Hoje se sente que o Judiciário entende que alguma coisa tem que ser feita. Nós, nessa crise que estamos vivendo, temos uma preocupação no sentido de fazer alguma coisa. E o próprio Lula... Eu não sei... Eu tenho um carinho muito grande pelo Lula, mas sou um homem magoado porque joguei tudo no Lula. Eu achei que era a vez do Brasil.

E está diferente. Semana passada, conversei com ele e fiquei emocionado pela capacidade. Como esse homem avançou na inteligência, no debate! Mas não sei... Acho que se o Lula conservasse um pouquinho do Lula antigo, se o Lula pudesse chamar de volta, para ficar de secretário dele, ali do lado dele, o Frei Betto; se ele pudesse ver aquelas pessoas do velho PT daquele início, aquelas pessoas maravilhosas, podia ser uma utopia difícil. E ele agora é Presidente e, como Presidente, tem que exercer, tem que executar, e as utopias não se fazem de uma hora para outra. Mas vamos respeitar: é da soma das utopias que a gente chega lá.

O artigo que Frei Betto publicou é emocionante. Nele, a gente vê a beleza daquela pessoa, o sentimento dele, o amor que ele tem pelo Lula. Frei Betto é utópico, pode ser, mas vamos respeitar. Não é só, afinal, o ex-Chefe da Casa Civil. Estive lá e vi a atual Chefe da Casa Civil. Que diferença! Que diferença o que era e o que é. Hoje, é uma senhora compenetrada, responsável, se vê que é uma pessoa que está preocupada. O Paim estava lá comigo, a gente sai de lá com respeito. É outra realidade, podem dizer o que disserem, mas a gente bota a mão no fogo. Eu acho que se o Lula olhasse isso seria tão bom, porque, na verdade, nós todos cometemos erros, e erros muito sérios.

Eu me lembro aqui, lá naquele início, quando apareceu na televisão aquele Waldomiro pegando dinheiro e botando no bolso, em que combinavam com ele como era, como é que não era. Eu fui ao Lula e falei, falei com o Líder do PT: “Pelo amor de Deus, demite esse cara já que tu dás a marca do Governo, que tu dá orientação no teu Governo”. Esperou um ano e tanto... Pedi uma CPI, os Líderes do PMDB e do PT não indicaram. Aí fomos ao Presidente do Senado para insistir que ele indicasse os nomes, e ele não indicou. E os Líderes do PMDB, do PT lançaram uma nota - a coisa mais fantástica que ouvi, nem no regime da ditadura: “CPI aqui só quando os Lideres quiserem”. Quer dizer, o artigo da Constituição que diz que a CPI é um direito da minoria e um terço pode convocá-la... E o Supremo teve que mandar instalar a CPI. E instalou! Só que um ano e quatro meses depois. Se nós tivéssemos feito lá no início, se meu querido Lula tivesse tomado a posição “demite”, muita coisa que veio depois não teria vindo.

Essas coisas eu falo no sentido de mostrar que há um caminho pela frente. Esse caminho tem que ser de paz, tem que ser de entendimento, mas não tem que ser de submissão. Não tem que ser de um Poder se impor ao outro, porque não ganha nem o que baixa a cabeça nem muito menos o que impõe, determina pela faca.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Simon, V. Exª, como sempre, preciso. Tem a precisão milimétrica de um bisturi em uma microcirurgia. O Presidente Lula, quando recebeu as duas cartas com pedido de demissão, a do Frei Betto e do Kotscho, devia ter parado para ver se alguma coisa estava errada. V. Exª tem absoluta razão. Ele tinha vindo de um trauma - se é que houve trauma - da questão do Waldomiro. De repente, dois companheiros, inatacáveis, como Kotscho e como Frei Betto, pedem demissão. E todos sabem que a demissão era exatamente por discordar de alguns métodos, de alguma evolução metodológica das práticas do Partido. Quando houve a punição de Heloísa Helena, que foi colocada como traidora do Partido... Traidora de quê? Eu vi, conheço fotografias. Na véspera da cassação, Senador Paim, da punição da Senadora Heloísa Helena, lideranças do Partido dos Trabalhadores, nesse Hotel Blue Tree, o mais luxuoso de Brasília, comemorando a cassação que aconteceria no dia seguinte, tomando whisky Johnny Walker, selo azul - o mais caro da praça - com guaraná. Uma mistura de mau gosto. Separados, são duas coisas fantásticas; misturados... Nunca quiseram saber o porquê da mágoa de Heloísa Helena; pelo contrário, enxotaram Heloísa Helena. E aí estamos vendo - vimos recentemente o final de uma CPI e estamos vendo uma CPI que nasce para moralizar as ONGs - o PT montar uma tropa de choque para não deixar que se esclareçam os fatos. V. Exª tem absoluta razão. Quanto à sua candidatura, não preciso dizer a V. Exª da admiração, do carinho e da torcida que tenho por V. Exª, mas, como V. Exª, tenho minhas amarras partidárias. Rezo para que o PMDB lhe traga candidato. Se não acontecer e V. Exª for candidato no risco e na coragem, estaremos juntos. Acho até que não podemos perder a oportunidade de tê-lo como Presidente da Casa. Mas não posso me adiantar em uma decisão que, no primeiro turno, é partidária. Aí, sim, o Lula tinha muita razão em dizer: “Vocês precisam ter juízo na escolha do Presidente da Casa”, não na decisão de cada um sobre a CPMF. V. Exª está de parabéns.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo ao meu amigo Cristovam, aos meus bravos companheiros que, na minha humildade, na minha pequenez, vivo um momento muito emocionante. Tenho de me lembrar de que sou franciscano para não me encher de vaidade e saber que somos o que somos. Que Deus encontre o nosso caminho!

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2007 - Página 44356