Discurso durante a 228ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cobrança pelo resgate da qualidade da educação no Brasil, ante o péssimo desempenho de estudantes brasileiros no ranking mundial. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Cobrança pelo resgate da qualidade da educação no Brasil, ante o péssimo desempenho de estudantes brasileiros no ranking mundial. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2007 - Página 44556
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, PRECARIEDADE, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, APREENSÃO, INFERIORIDADE, CLASSIFICAÇÃO, BRASIL, AVALIAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, CONHECIMENTO, ESTUDANTE, DEFESA, PRIORIDADE, DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL, ESCLARECIMENTOS, PAIS, CAPACIDADE, RECUPERAÇÃO, CRISE, ECONOMIA.
  • APREENSÃO, CRISE, EDUCAÇÃO, PREJUIZO, QUALIFICAÇÃO, MÃO DE OBRA, OBSTACULO, ATRAÇÃO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, BRASIL, ANUNCIO, DECISÃO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, ENCAMINHAMENTO, REQUERIMENTO, CONVOCAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ESCLARECIMENTOS, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, ATRASO, DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, estou inscrito para falar hoje e havia preparado um discurso em função de uma afirmação do Presidente Lula, repetida diversas vezes, ultimamente, de que o Brasil está vivendo um período de grande risco. Estou de acordo com ele quando diz que o Brasil vive um grande risco.

Lamentavelmente, o discurso que eu iria fazer com os detalhes desse risco vou ter que adiar, por compromissos relacionados com o Distrito Federal. Por isso, graças ao Senador Osmar Dias, estou falando no período da Liderança de uma forma mais concisa, porque acho que o tema é importante, Senador João Pedro. Mas voltarei aqui a falar sobre isso.

O Presidente Lula tem dito que o Brasil está em risco por causa da CPMF. Eu acho que o Brasil está em grande risco, Senador João Pedro, mas não por causa da CPMF. Acredito que a CPMF, se for rejeitada, trará problemas para o Brasil. Acredito que poderemos entrar numa crise fiscal.

Acredito que alguns programas sociais sofrerão revezes muito fortes. Mas o Brasil superaria isso. Agora, o que o Brasil não vai superar, o verdadeiro risco que este País vive hoje diz respeito às notícias dessas últimas semanas sobre a vergonha do quadro educacional brasileiro.

Senador João Pedro, nós estamos em 50º lugar entre Países no que se refere ao conhecimento de nossas crianças em termos de leitura, de matemática, de ciências! Que futuro tem este País? Que futuro tem um País que está nessa posição, patinando, que não sai dela e que não está fazendo o dever de casa para sair dessa situação?

A expressão “País em risco” não é minha, nem do Presidente Lula. A expressão “País em risco” é o título de um documento de quase 20 anos, elaborado por uma comissão especial convocada pelo Presidente Clinton, para analisar a crise da educação nos Estados Unidos, um País que está lá em cima na classificação.

Agora, Senador, alguém ouviu o Presidente Lula dizer que é preciso fazer alguma coisa para sair da crise educacional? Quando houve uma crise nos aeroportos, o Presidente demitiu o Ministro da Defesa. Foi para a televisão e disse: ”Eu dou dois meses para resolver a situação”. Conseguiu demitir o Presidente da Anac, que é um cargo com mandato. Arranjou dinheiro, Senador Mão Santa, para fazer novos aeroportos e trenzinhos que vão do centro da cidade para o aeroporto.

V. Exª, Senador Mão Santa, ouviu o Presidente Lula convocar o Ministro da Educação para dizer por que estamos nessa posição em relação ao resto do mundo?

O senhor ouviu, por acaso, o Presidente da República convocar o seu Ministério para discutir a situação da Educação? Alguém o viu acusar a elite brasileira, que ele acusa todos os dias, de não querer pagar impostos? Alguém o ouviu acusar a elite brasileira pelo fato de que há 500 anos a Educação está abandona neste País? Ninguém ouve. É um silêncio total.

Os resultados vergonhosos, ameaçadores, trágicos, que vemos da situação educacional brasileira, só mereceu respostas de pessoas do terceiro escalão brasileiro.

O Lula ignorou redondamente a crise educacional manifestada nas últimas avaliações, como se ele não tivesse nada a ver com isso, e o País não tivesse nada a perder com isso.

O Brasil, Senador Mão Santa, é um País em risco. Em risco que quebra, mas de uma quebra profunda, quase que definitiva, mas não é por causa da CPMF. A meu ver, a CPMF ameaça, sim, a estabilidade deste País. Eu acho que ela trará crise se não for aprovada, mas será resolvida em poucos meses ou antes, até porque já vivemos outras crises financeiras. Não seria a primeira crise fiscal do Brasil. Já tivemos outras crises fiscais.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª me concede um aparte?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu não sei se tenho direito a apartes, Senador.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Neste momento de comunicação de Liderança, por cinco minutos, não há direito a aparte. Se o Senador Cristovam Buarque quiser conceder a V. Exª cinco minutos, eu dou uma segurada aqui.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Concedo se o senhor prorrogar um pouco a minha fala. Ouço o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Agora, entendi a filosofia dos orientais. Eles dizem que da crise vem prosperidade e felicidade. Não tem nada de crise. Virá a verdade. Ô professor, com todo o respeito, assino embaixo toda crítica, ou melhor, advertência, lamentação que V. Exª tem feito ao saber. Nós levamos “pau” em ciências - os alunos brasileiros ficaram estarrecidos quando perguntaram os movimentos da Terra -, em matemática e leitura. Mas queremos dizer a V. Exª que há um Senador aqui que é Procurador da Fazenda, honrado, como V. Exª: o Senador Geraldo Mesquita. S. Exª disse bem dali da tribuna que os técnicos da repartição dele, estudando - S. Exª é Procurador -, verificaram que isso significa menos de 3% do geral. E, se combatermos a sonegação, a corrupção, a incompetência e tivermos austeridade, a própria Secretaria, o Ministério da Fazenda tira isso. O dinheiro fica no Brasil. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Assim é o dinheiro. Ele vai ficar em outras mãos; nas mãos honradas das donas-de-casa. Não vai haver crise, não.

(Interrupção do som.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI. Fora do microfone.) - Será como os orientais dizem: vai haver prosperidade e felicidade se nós plantarmos a verdade neste País.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço, Senador Mão Santa. Mas veja por que o País está em risco: mesmo quando trago para cá o risco da educação, uma pessoa formidável, preocupada como o senhor, traz o discurso para as finanças. A gente não consegue despertar para a crise mais profunda - a qual o senhor citou, inclusive, no começo de sua fala -, que é o “pau” que a gente levou. Fala-se que foi em leitura, em ciências e em matemática, mas é que só foram essas três! Se fizessem provas de história e de geografia, de tudo que se fizesse, a gente ia ficar entre os últimos Países do mundo inteiro.

Senador Paim, isso significa o fim do País nos próximos anos. Não há mais futuro para nenhum País se ele não tiver uma massa de população educada com qualidade. Não há mais futuro. Joguem o dinheiro que quiserem aqui dentro, mas não haverá mão-de-obra qualificada para fazer esse capital funcionar. A partir de agora, o capital vem para onde há mão-de-obra qualificada. Não faz muito, a Intel, essa grande empresa mundial, escolheu a Costa Rica para se instalar em vez do Brasil. Sabe por que, Senador João Pedro? Porque lá o pessoal está educado; porque lá se fala um pouco de inglês; porque lá se sabe um pouco de computador.

Aqui, estamos perdendo em tudo. O País está em risco! E o Presidente da República não diz uma palavra! Ele não disse uma palavra sobre a reprovação que o Brasil teve nos exames internacionais na área da educação.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Cristovam?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Volto a insistir com o Presidente, para saber se eu posso dar aparte.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Neste período, normalmente, não há apartes, porque o tempo da Liderança é de cinco minutos. Agora, como já permitimos um aparte de um minuto ao Senador Mão Santa, se V. Exª conseguir, em um minuto, fazer o aparte...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Cristovam, primeiro, quero manifestar a minha solidariedade ao pronunciamento de V. Exª, que - chamo atenção - será oportuno. Ainda é tempo de o Presidente Lula convocar o Ministro da Educação e todas as pessoas envolvidas no que poderá ser um resgate da qualidade da educação no Brasil diante dos exames que foram divulgados, em que, infelizmente, o Brasil não está bem. Então estou de pleno acordo com V. Exª sobre o seu brado. Gostaria também, Senador Cristovam Buarque, de aqui transmitir uma palavra sobre o que V. Exª falou na quinta e na sexta-feira sobre a definição tão importante que nós Senadores teremos, os 81...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, o Senador Heráclito Fortes já reclamou à Mesa com razão, porque os oradores inscritos não conseguem falar. Faço um apelo a V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, como eu acabo de vir do hospital Sarah Kubitschek, vou pedir a palavra pela ordem para falar sobre a Senadora Roseana Sarney, logo após a conclusão da palavra do Senador Cristovam Buarque, assim respeitando o tempo que V. Exª me concedeu.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Peço apenas um minuto a mais por causa dos apartes e porque cinco minutos é pouco. Voltarei a falar deste assunto, mas não queria deixar passar.

No dia em que saiu, Senador Heráclito Fortes, a notícia de que o Brasil estava em uma péssima situação na Educação, Senador Wellington Salgado, saiu a notícia de que o Presidente Lula estava muito triste, mas era porque o Corinthians tinha sido rebaixado para a segunda divisão.

Com todo o respeito que tenho a essa imensa e querida torcida, eu acho que o fato de o Brasil ter sido derrotado em Educação também merecia uma manifestação qualquer que fosse de tristeza e de preocupação do Presidente.

O Senador Suplicy falou na convocação ainda do Ministro. Amanhã, na Comissão de Educação, nós vamos fazer um requerimento convidando-o - não podemos convocar um Ministro da Educação - para que ele diga por que, na visão do Ministério, essa é a situação. Que ele diga, inclusive, como diz o Presidente, que a culpa - e tem razão nesse caso - é da elite que há 500 anos governa este País, e não só dos últimos 6, mas que ele diga o que foi feito nestes 6 que não deu certo; que ele diga o que vai ser feito nos próximos 6 anos; que ele diga qual é o projeto de longo prazo para que a gente saia dessa tragédia, Senador Geraldo Mesquita, porque o País está em risco.

E ninguém consegue convencer desse risco, porque a gente só tem olhos para a CPMF, a crise fiscal; a gente só tem olhos para a corrupção no comportamento dos políticos, a crise ética; a gente não vê a crise de médio e longo prazo que virá de uma população despreparada intelectualmente, despreparada na qualificação, para enfrentar e construir o futuro.

Senador Paim, agradeço que tenha sido possível trazer este assunto hoje, mas eu acho que ele merece ser debatido com mais profundidade.

Concluo dizendo que, quando os aeroportos entraram em crise, imediatamente foi convocada aqui uma CPI, e ninguém está querendo convocar uma CPI da Educação no Brasil, uma CPI do Futuro. Isso sim é que devia ser obrigação do Senado Federal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2007 - Página 44556