Discurso durante a 224ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de trecho do livro de autoria de José Murilo de Carvalho em homenagem pelo transcurso dos 116 anos da morte de Dom Pedro II.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. HOMENAGEM.:
  • Leitura de trecho do livro de autoria de José Murilo de Carvalho em homenagem pelo transcurso dos 116 anos da morte de Dom Pedro II.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2007 - Página 43610
Assunto
Outros > SENADO. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, ESCOLHA, PRESIDENTE, SENADO.
  • REGISTRO, ANIVERSARIO DE MORTE, HOMENAGEM, PEDRO II (PI), IMPERADOR, LEITURA, TRECHO, LIVRO, AUTOR, HISTORIADOR, DESCRIÇÃO, FUNERAL, ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu vim preparado para focalizar e relembrar um pouco os episódios que ocorreram aqui ontem, mas acho que é bom dar uma pausa, para ver se o Senado, como disse ali o Senador Suplicy, encontra um nome que possa começar o grande trabalho de soerguer, de levantar e de dar ao Senado a expressão que ele teve na vida política brasileira.

            Vou recordar aqui alguns fatos. Hoje estamos comemorando - comemorando, não sei -, sentindo pesar pelos 116 anos da morte de Dom Pedro II. Aconselhado pelo Governador Paulo Hartung, que se encontra agora aqui no plenário do Senado, eu li o livro do José Murilo de Carvalho que narra a história da vida de Dom Pedro II. E vou ler aqui um trecho do livro que enfoca exatamente o que ocorreu logo após a morte desse grande brasileiro que durante 50 anos governou o Brasil, mas que modestamente rejeitou a pensão que lhe foi oferecida e foi morrer pobre, em Paris, com as suas despesas pagas pela então Condessa de Paris.

            Diz José Murilo de Carvalho:

            A repercussão em Paris e na Europa [da morte de D. Pedro II] foi imediata, entre povo e governos. O presidente da república francesa, Sadi Carnot, determinou honras militares, ignorando o protesto do representante do governo brasileiro. [Já começou mal a República brasileira.] As honras militares eram devidas a D. Pedro por ser titular da Grã-Cruz da Legião de Honra. No final do dia 5 [dia em que ele morreu], 2 mil telegramas e centenas de coroas de flores já haviam chegado ao hotel [humilde onde faleceu], uma delas enviada pela rainha Vitória [da Inglaterra]. O corpo foi embalsamado e levado no dia 8 à noite para a igreja da Madeleine em cortejo oficial, no mesmo carro usado nos funerais do ex-Presidente Thiers, que conhecera em 1871. A igreja [La Madeleine] tinha as paredes forradas de preto, e enorme catafalco fora colocado no centro da nave.

            Para nova irritação do governo [republicano] brasileiro, o caixão fora coberto com a bandeira imperial. No dia 9, houve exéquias solenes, com a presença do general Brugère, chefe da Casa Militar, representando Sadi Carnot; dos presidentes do Senado e da Câmara [da França]; de quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França e da Academia de Ciências Morais; da família imperial; de representantes de muitas outras casas reais, e de vários brasileiros, aos quais se juntava [o grande escritor português] Eça de Queiroz. Joaquim Nabuco observou que a nave da Madeleine parecia abrigar um congresso do espírito humano. Presentes também muitos representantes de outros governos, inclusive da América, exclusive do Brasil.

            Da Madaleine partiu imenso cortejo, composto de doze regimentos comandados por um general e formado por cerca de 200 mil pessoas. [Maior exéquia que já houve de um ex-governante brasileiro no mundo.] Ao som da Marcha fúnebre de Chopin, o corpo foi levado para a estação de Austerlitz, de onde seguiu de trem para Portugal. D. Pedro, após a morte, teve, no exterior, toda a pompa que recusara em vida. Escrevendo para um jornal do Rio de Janeiro, Joaquim Nabuco observou que nesse dia o coração brasileiro pulsara no peito da França. As homenagens continuaram durante a viagem e se encerraram nos funerais realizados em São Vicente de Fora, perto de Lisboa, no dia 12 de dezembro. O corpo foi colocado no jazigo da família Bragança, entre o da madrasta, D. Amélia, e o da mulher, D. Teresa Cristina. Novamente, a República não se fez representar nas últimas homenagens.

            Nos Estados Unidos, o New York Times do dia 5 de dezembro não poupou elogios. Em texto de duas colunas, reproduziu a frase de Gladstone segundo a qual D. Pedro seria o governante modelo do mundo e acrescentou outros louvores por conta própria. D. Pedro, segundo o jornal, foi ‘o mais ilustrado monarca do século’ e ‘tornou o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser’.

            Os adversários brasileiros do imperador, criticando sua política, ressaltavam sempre seu patriotismo, honestidade, desinteresse, espírito de justiça, dedicação ao trabalho, tolerância, simplicidade. O republicano José Veríssimo salientou que a maior dívida do Brasil com D. Pedro era a atmosfera de liberdade que proporcionara às atividades do espírito. Em seu governo, resumiu: “Todos pensávamos como queríamos e dizíamos o que pensávamos. Eu não sei que maior elogio se possa fazer a um estadista”.

            Como as coisas na República não andam bem, dediquei essa minha fala inicial, na sessão de hoje, Sr. Presidente, à memória daquele que foi o grande Imperador do Brasil e que garantiu a unidade do território brasileiro...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Senador Gerson, permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Encerrando, Sr. Presidente, eu queria dizer que ele foi o grande governante do Brasil, que garantiu a nossa unidade territorial. Enquanto a América Espanhola se fracionou, o Brasil compõe este continente, graças à ação de D. Pedro II - às vezes, até tendo de usar arma, mas quase sempre por meio da conciliação.

            Senador Crivella, eu teria o maior prazer em ouvi-lo, mas, como estou falando para uma comunicação inadiável, estou impedido pelo Regimento Interno de ouvi-lo. No entanto, considero a sua fala agregada ao meu pronunciamento. Já imagino que muito melhor do que eu V. Exª expressaria a admiração do Brasil por essa grande figura que foi D. Pedro II.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2007 - Página 43610