Discurso durante a 224ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre resultados de pesquisa do Instituto IPSOS mostrando o nível impressionante de analfabetismo geográfico da população brasileira.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Considerações sobre resultados de pesquisa do Instituto IPSOS mostrando o nível impressionante de analfabetismo geográfico da população brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2007 - Página 43837
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, ESTUDO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, CONFIRMAÇÃO, SUPERIORIDADE, PERCENTAGEM, POPULAÇÃO, DESCONHECIMENTO, LOCALIZAÇÃO, BRASIL, MAPA GEOGRAFICO, MUNDO, DEMONSTRAÇÃO, PRECARIEDADE, ENSINO, GEOGRAFIA, PAIS.
  • CRITICA, ENSINO, GEOGRAFIA, BRASIL, QUESTIONAMENTO, METODOLOGIA, IDEOLOGIA, LIVRO DIDATICO, INSUFICIENCIA, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSOR, MATERIAL ESCOLAR.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos o hábito de fazer piada com estrangeiros, especialmente os norte-americanos, por acreditarem que a capital do Brasil é Buenos Aires. Pois bem, acho que perdemos qualquer direito de rir à custa dos habitantes dos Estados Unidos, depois da divulgação dos resultados de uma pesquisa do Instituto Ipsos, que mostra o nível impressionante de analfabetismo geográfico da população brasileira.

            De acordo com a pesquisa, que ouviu mil pessoas, em 70 municípios das 9 regiões metropolitanas do País, 50 por cento dos entrevistados, com um mapa do mundo aberto à sua frente, não souberam localizar o Brasil. O levantamento revela que metade dos brasileiros não tem a menor idéia de onde fica seu próprio país. Um percentual superior a 2 por cento chegou a dizer que o Brasil fica na África, e outros 2 por cento apontaram a Argentina. Do total de entrevistados, 29 por cento nem chegaram a arriscar uma resposta.

            Os pesquisadores não estavam entrevistando analfabetos. Quase 10 por cento dos que freqüentaram ou freqüentam cursos universitários não tinham idéia de que o Brasil fica na América do Sul. Entre os que completaram o ensino médio, o percentual salta para 30 por cento, e chega a 50 por cento entre os que iniciaram o ensino fundamental.

            Quanto à localização dos Estados, a situação não é melhor: só 9 por cento souberam mostrar onde fica o Ceará, 14 por cento apontaram corretamente o Pará no mapa, 23 por cento indicaram São Paulo com acerto e 24 por cento sabem onde fica a capital do País.

            Se não conseguem localizar seu próprio país, é claro que os brasileiros devem ter dificuldade muito maior para identificar outros países. 84 por cento foram incapazes de localizar a Argentina, 82 por cento não sabiam onde ficavam os Estados Unidos, 97 por cento não tinham idéia da localização da França, 92 por cento ignoravam onde fica o Japão.

            A pesquisa foi divulgada há pouco, no início deste mês, e constitui uma prova de que algo está muito errado no ensino de Geografia no Brasil. Vão longe os tempos em que cada sala de aula dispunha de mapas do nosso País, de um mapa-múndi e de um globo terrestre. Hoje em dia, a Geografia voltou-se para um enfoque político-ideológico, e adota livros em que a preocupação é ensinar aos estudantes que os países desenvolvidos são os responsáveis exclusivos pelos males de que padece o mundo em desenvolvimento, que o socialismo é o regime ideal, que o “neoliberalismo” é uma peste a ser exterminada, que devemos todos resistir à globalização, uma conspiração do imperialismo norte-americano para manter o chamado “terceiro mundo” em estado de eterna pobreza...

            Em resumo, ensina-se tudo, menos informações essenciais. Junte-se o viés ideológico dos livros didáticos ao despreparo dos professores e à carência de material escolar adequado, e está pronta a receita do desastre. O resultado é que, em pleno século 21, metade da nossa população não reconhece o país em que vive, nem o mundo que a cerca. Esse analfabetismo geográfico esconde algo ainda pior, pois é impossível ensinar História, por exemplo, a quem pensa estar vivendo na África

            A propósito dos norte-americanos, que dão motivo às nossas piadas, eles demonstram um conhecimento bem maior que o dos brasileiros. Em pesquisa semelhante realizada nos Estados Unidos, 86 por cento indicaram com precisão a localização do seu país, 81 por cento souberam dizer onde fica o México, 54 por cento localizaram a França e 47 por cento indicaram a posição correta da Argentina no mapa.

            Parece que atribuir uma grande ignorância geográfica aos norte-americanos não faz mais sentido. Quanto a nós, convém tomarmos medidas urgentes para corrigir as deficiências no ensino de Geografia, antes que nos tornemos personagens de piadas no resto do mundo...

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2007 - Página 43837