Discurso durante a 240ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2007 - Página 46298
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, SOLIDARIEDADE, BUSCA, JUSTIÇA SOCIAL, ATUAÇÃO, PREPARAÇÃO, JUVENTUDE, PARCERIA, CONSTRUÇÃO, PAIS, CIDADANIA, REGISTRO, IDONEIDADE, DIRETRIZ, CRIATIVIDADE, MODERNIZAÇÃO, ARQUITETURA, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, ARTES.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal e, por conseqüência, do Congresso Nacional; Exmº Sr. Senador Inácio Arruda, que, juntamente com a Líder Ideli Salvatti, Senador Aloizio Mercadante e Senador Eduardo Suplicy, requereu fosse prestada esta homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer; prezado amigo Carlos Oscar Niemeyer Magalhães, neto do homenageado, que é uma forma de presença viva de Niemeyer aqui, por intermédio dos mecanismos que os meios eletrônicos hoje propiciam; Srª Edenize Sousa, Gerente do Espaço Oscar Niemeyer, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores;

Durante a Primeira Grande Guerra Mundial, o Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson propôs 14 pontos que poderiam levar ao fim do conflito. O então chanceler da França o interpelou: “Deus se conformou em dar 10 mandamentos e o senhor quer nos trazer aqui 14 pontos”, sinal de que o Presidente teria ido além do que Deus prescrevera. 

Eu poderia aplicar isso à vida de Oscar Niemeyer. Como nós poderíamos falar de uma vida tão proba e fecunda quanto a do Oscar Niemeyer em tão pouco tempo? E, por isso mesmo, eu não vou me atrever a fazer uma síntese de alguém que é já passageiro de dois séculos e que tem não somente uma vida caracterizada por uma grande coerência, mas que tem uma contribuição oferecida ao País e ao mundo que o tornou um cidadão do século.

Portanto, falar de Niemeyer é falar de alguém que além de ser - perdoem-me o lugar comum - uma unanimidade nacional, mas é também um cidadão do mundo. Certamente, é o brasileiro, no campo da cultura, da ciência e da arte, mais conhecido e respeitado do Planeta. Não vou tocar aqui todos os pontos dessa múltipla personalidade de Oscar Niemeyer. Vou me ater apenas a quatro, até para que não se alongue a minha manifestação.

Em primeiro lugar, eu lembraria o humanismo. Oscar Niemeyer é um perito em humanidade. A ele se poderá aplicar o que disse Terêncio, o grande poeta latino: “Nada do que é humano lhe é estranho”, porque Niemeyer é mais do que um arquiteto, mais do que um escultor, mais do que um artista, mais do que um poeta. Niemeyer tem uma visão dilatada do mundo e seus problemas, o que se reflete, sobretudo, na preocupação com o social. A palavra-chave dele, aqui já salientada, é “solidariedade”, mais do que associativismo, porque ela ultrapassa o limite da agregação para se converter numa ação concreta em favor dos menos favorecidos. Niemeyer é cidadão com essa percepção do mundo. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, poderíamos dizer que ele “tem duas mãos e o sentimento do mundo”.

Outra característica de Oscar Niemeyer, a arte de criar, no mundo real de hoje, um mundo mais humano.

O segundo ponto, aqui também já aludido, diz respeito ao cuidado à preocupação que Niemeyer sempre expressou pelos jovens: a dileção - a predileção diria até - pelos jovens. Sabemos que o Brasil, não somente é um País jovem, mas um País dos jovens. Pensar o jovem é pensar o futuro; e pensar o futuro é sonhar ser possível converter o Brasil numa grande nação. E daí por que não devemos podemos ter outra conduta que não seja marcada por uma grande provisão de otimismo, o que levou Juscelino Kubitschek, de quem Niemeyer era amigo também, a dizer que, com relação ao Brasil, “o otimista pode errar, mas o pessimista começa errando”.

A atenção de Niemeyer para com os jovens, através do idealismo destes, é construir uma nação que seja parceira dos sonhos de liberdade, solidariedade, paz, fraternidade e igualdade, enfim, a construção de um futuro que seja realmente expressão daquilo que nosso País deve ser.

O tempo, no campo da cultura, não é o simples perpassar cronológico. O tempo significa conjugar transformação e permanência em sua fecunda interposição entre presente, passado e futuro. O que levou Gilberto Freyre a dizer que o tempo é tríbio. Niemeyer, com acuidade, certa feita observou: “Nossa tarefa... é criar, hoje, o passado do amanhã”. E foi com essa preocupação que Niemeyer, recentemente, revelou o desejo de instituir, na Fundação que ostenta seu nome e tem, como Diretora-Executiva, sua neta Ana Lúcia Niemeyer, uma Escola de Arquitetura e Humanidades. O que ele deseja é não apenas formar técnicos, que são imprescindíveis, mas, muito mais do que isso, ele quer formar cidadãos na múltipla expressão da palavra, ou seja, pessoas atentas ao que o homem necessita: pão, espírito, justiça e liberdade.

O terceiro ponto na vida de Oscar Niemeyer, que tanto admiro há muito tempo e tive a ventura de conhecer nos idos de 1975 e 1976, é sua coerência de vida, essa compatibilidade entre o pensar e o agir. É muito difícil manter essa coerência, mesmo porque o processo vital é de múltiplos desafios. Mas Niemeyer permaneceu sempre fiel a si mesmo, a sua vida é de uma linearidade que ninguém desconhece e por isso é tão estimado e respeitado.

Poderia aplicar, com relação a Niemeyer, uma frase de Tancredo Neves, em carta dirigida ao então candidato a Vice-Presidente José Sarney:: “No campo da política, o exemplo é mais importante do que o discurso”. Niemeyer tem vida retilínea, que nos serve de paradigma e faz com que a sociedade o veja como modelo e que os jovens o elejam como ídolo. Daí não podermos deixar de, nesta hora, destacar esse aspecto tão significativo de sua formação, do seu caráter.

O último ponto a que me referirei diz respeito ao fato de ser Niemeyer, mais do que um arquiteto, um escultor, um artista, um poeta, um inventor, enfim, uma pessoa que tem ampla percepção do mundo, capaz de tornar possível o que sonhamos, não somente para o País, mas para a humanidade, nesses atribulados dias em que vivemos. Foi por isso que Niemeyer se tornou uma personalidade acatada em todo o país e igualmente respeitada e querida no exterior. Porque Niemeyer, através do seu traço, foi o inventor de novas formas, descobriu novos caminhos e, por isso, enriqueceu a nossa civilização.

Não por outra razão, ele, recentemente, teve reconhecida por instituições inglesas a sua inscrição como um dos cem gênios do século, em homenagem ao que ele vem fazendo, através da sua arte, para que torne possível converter os sonhos em realidade.

Sabemos que as formas de arte que permanecem na memória dos homens são inventadas. E Niemeyer é uma vida toda marcada por essa característica muito peculiar, de estar, ao mesmo tempo, sendo coerente e inventando novas formas de arte, deslumbrando a todos nós e enriquecendo o mundo da cultura, da ciência e da arte.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2007 - Página 46298