Discurso durante a 240ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.

Autor
Francisco Dornelles (PP - Progressistas/RJ)
Nome completo: Francisco Oswaldo Neves Dornelles
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2007 - Página 46303
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, MODERNIZAÇÃO, ARQUITETURA, CRIATIVIDADE, OBRAS, BRASIL, EXTERIOR, ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CAPITAL FEDERAL.

O SR. FRANCISCO DORNELLES (Bloco/PP - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves, Presidente do Senado Federal; Senador Marco Maciel, Presidente da Fundação Oscar Niemeyer; meu caro Senador Inácio Arruda; Sr. Carlos Oscar Niemeyer Magalhães; Srª Edenize Sousa, senhoras e senhores, como render as devidas homenagens...

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Francisco Dornelles, por gentileza, eu queria registrar a presença da Srª Elza Kunze Bastos, representante do Sindicato dos Arquitetos do Distrito Federal. Peço desculpas a V. Exª.

O SR. FRANCISCO DORNELLES (Bloco/PP - RJ) - Como render as devidas homenagens a um dos maiores arquitetos do século XX, que é também um dos brasileiros mais conhecidos e admirados no exterior? Como homenagear o carioca que levou a curva para a arquitetura moderna, espalhando a inventividade e a leveza dos seus edifícios por muitas cidades brasileiras e estrangeiras?

Como parabenizar, enfim, o ser humano o ser humano ímpar, de rara dignidade, um dos fundadores do Brasil moderno e, também, uma de suas mais definitivas expressões?

Quem julgava, a dez ou quinze anos atrás, que o genial criador do conjunto arquitetônico da Pampulha, dos edifícios monumentais de Brasília, da Universidade de Constantine, da Editora Mondadori, do Sambódromo viveria apenas dessas e de muitas outras glórias passadas enganou-se profundamente.

Oscar Niemeyer já ultrapassara seus 80 anos quando surpreendeu a todos criando a jóia arquitetônica que veio enfeitar uma das mais belas linhas litorâneas do mundo. O Museu de Arte Contemporânea de Niterói surpreende não só pela sua simples e ousada beleza como pela mais que feliz integração à paisagem da Baía da Guanabara.

Depois disso, Oscar Niemeyer continuou criando, em um ritmo que impressiona, prédios de conservação arrojada e lírica, tanto no Brasil como no exterior. Agora mesmo, em diversas cidades do mundo, tais como Niterói ou Avilés, na Espanha, há prédios de sua autoria sendo construídos. 

Sinto-me, senhoras e senhores, alguém que tem a felicidade de estar cercado pela criatividade de Oscar Niemeyer.

Sua ligação com Minas Gerais, onde nasci, é muito profunda. Foi com o Conjunto da Pampulha, onde se sobressai a Igreja de São Francisco, que Niemeyer alcançou seu primeiro grande vôo individual. Nesse projeto, que concede à curva uma presença e uma importância que tinham sido recusados pela arquitetura moderna, Niemeyer parece estar em íntimo diálogo com a escola barroca mineira, tão bem estudada pelo grande arquiteto e urbanista Lúcio Costa, seu mestre e amigo.

Alguns anos antes disso, em 1936, Niemeyer assinara, junto com Lúcio Costa e com Le Corbusier, o projeto da sede do Ministério da Educação, no centro do Rio de Janeiro, que se tornou um verdadeiro manifesto em concreto da nova escola.

Oscar Niemeyer confessa que uma parte pelo menos da inspiração mais profunda de sua obra arquitetônica vem do Estado e da cidade que eu represento, que é a cidade do Rio de Janeiro: da magnífica topografia sinuosa de uma cidade encantadora, que todos conhecem como Cidade Maravilhosa, com seus morros, montanhas e praias.

Essa paixão recebe sua consagração com a construção da Passarela do Samba, monumento arquitetônico à alegria e à maior festa da cultura brasileira, que, não fosse o bastante, cumpre também sua função social de escola pública ao longo de todo o ano.

Falar da presença de Oscar Niemeyer em Brasília soa como redundância, tão extensa e marcante ela é. Brasília, monumento da arquitetura moderna, resulta, entre outras coisas, da renovação de duas parcerias felizes de Oscar Niemeyer: com o Presidente Juscelino Kubitschek e com Lúcio Costa.

A inventividade de Niemeyer aqui vai se expressar tanto na modesta escala da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, como também na monumental e inimitável obra do Congresso Nacional, onde nos encontramos; tanto na surpreendente, senão milagrosa, Catedral, como nas linhas mais clássicas do Palácio do Itamaraty. A elegante simplicidade da Coluna da Alvorada tornou-se, por sua vez, um símbolo da nova Capital, encantando e correndo o mundo na década de 60.

Há um ano, no mesmo dia em que Niemeyer completava 99 de existência, pudemos assistir à inauguração do Complexo Cultural da República. Formado por um museu de arte e por uma biblioteca e localizado bem próximo ao centro geométrico do Plano Piloto - ou seja, a Estação Rodoviária -, o Complexo Cultural não só seduz os visitantes e moradores da Capital, como parece estar mostrando a necessidade de levar a cultura letrada e a cultura artística ali para onde o povo está.

De certa forma, é isso o que a arquitetura de Niemeyer sempre fez, trazendo para o dia-a-dia e para a consciência dos cidadãos a beleza das formas que se levantam do solo e criam um novo espaço habitável. Suas criações atestam o arrojo da imaginação humana e mostram que a beleza deve estar presente no espaço público, integrada à sua função social, anunciando, assim, uma vida coletiva mais bela e mais completa.

Sr. Presidente, o prazer ou privilégio, ao qual me referia, de conviver com a criatividade de Oscar Niemeyer tem seu lado mais íntimo e quase secreto. Em meu gabinete no Senado Federal, há um painel traçado pelas mãos de Oscar Niemeyer que ocupa toda uma parede. Trata-se de um presente do genial criador a seu amigo Darcy Ribeiro, que, quando Senador, nos anos 90, ocupou esse mesmo gabinete.

Os desenhos de Oscar Niemeyer recriam, livremente, aspectos de quatro de suas maiores obras. Duas delas são de universidades por ele projetadas: a Universidade de Brasília e a de Constantine, na Argélia. As outras duas correspondem a edificações de especial significado simbólico para nossa coletividade: a Passarela do Samba, ou Sambódromo, a que já me referi, e o Memorial da América Latina, sua mais original contribuição para a cidade de São Paulo.

Todas essas quatro obras tiveram a participação decidida e entusiasmada de Darcy Ribeiro, o que inspirou Oscar Niemeyer a presentear o amigo com bonitos desenhos de seu traço limpo e elegante. Esse painel, que hoje está hoje tombado como patrimônio do Senado Federal, tornou-se uma espécie de patrimônio informal dos representantes do Estado do Rio de Janeiro.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o privilégio de contemplar e de conviver com as obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer é partilhado por muitos brasileiros e também por cidadãos de outros países. O orgulho de que um brasileiro se tenha tornado um gênio ímpar da arquitetura moderna, um dos grandes artistas de um século intensamente criativo, pertence a toda a nossa população!

Parabéns, Oscar Niemeyer! Como Senador do Rio de Janeiro, cumprimento V. Exª. Sinto orgulho de ter uma pessoa como V. Exª presente, morando em nosso Estado. Parabéns, Oscar Niemeyer, por esse século de vida que nos brindou com tanta genialidade!

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2007 - Página 46303