Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao pronunciamento feito pelo Presidente desta Casa, Senador Garibaldi Alves Filho, na sessão inaugural da presente sessão legislativa. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLATIVO. SENADO.:
  • Comentários ao pronunciamento feito pelo Presidente desta Casa, Senador Garibaldi Alves Filho, na sessão inaugural da presente sessão legislativa. (como Líder)
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2008 - Página 2901
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLATIVO. SENADO.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, GARIBALDI ALVES FILHO, PRESIDENTE, SENADO, ABERTURA, SESSÃO LEGISLATIVA, CRITICA, INTERFERENCIA, USURPAÇÃO, EXECUTIVO, COMPETENCIA, LEGISLATIVO, EXCESSO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PREJUIZO.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, SENADO, OMISSÃO, DEBATE, IMPEDIMENTO, INTERFERENCIA, EXECUTIVO, AUSENCIA, APRECIAÇÃO, VETO (VET), PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROJETO DE LEI, APROVAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, FAVORECIMENTO, DESRESPEITO, PRERROGATIVA, LEGISLATIVO.
  • DEFESA, EMPENHO, SENADO, ACELERAÇÃO, APROVAÇÃO, ORÇAMENTO.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é bom que V. Exª esteja presente, Senador Garibaldi Alves, pois V. Exª é a figura central do meu discurso de hoje, que é a propósito do pronunciamento feito por V. Exª na sessão inaugural da presente sessão legislativa.

            Espanta-me, Senador Garibaldi, que seu discurso, naquela ocasião, da maior importância para o Congresso Nacional, não tenha conseguido obter, nesta Casa, a repercussão devida.

            V. Exª, para surpresa minha, confesso-lhe, não fez um discurso protocolar. V. Exª foi crítico e tocou em pontos cruciais.

Leio alguns trechos do seu discurso, Senador Garibaldi. Disse V. Exª: “Não se pode ocultar, não se pode tapar o sol com a peneira que a atividade precípua do Parlamento, a de legislar, tem-se atrofiado dia após dia. Refiro-me à verdadeira transferência da elaboração legislativa para o Executivo através das medidas provisórias”.

            Srªs e Srs. Senadores, como não foi objeto de discussão, nesta Casa, essa fala do Presidente Garibaldi Alves?

            Logo adiante, diz o seguinte:

         “O grande mal que elas causam” - as medidas provisórias - “é que dispensam o Parlamento da função criadora das leis, amesquinham a atividade dos representantes do povo, minam a função legislativa, evitam o debate livre e ainda acuam o Congresso Nacional, cerceado na iniciativa de medida reclamada pelo interesse público.”

            Como é que este Senado fica em silêncio diante de considerações dessa ordem, feitas pelo Presidente da Casa, não pelo Presidente do Congresso Nacional, como muitas pessoas pensam?

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Jefferson Peres, permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Pois não, Senador Mozarildo, só um instante.

            Já ouvi até parlamentares dizerem que V. Exª é o Presidente do Congresso Nacional, mas não o é. O Congresso não tem presidente. O Presidente do Senado Federal preside as sessões conjuntas da Câmara e do Senado.

            De qualquer modo, foi o Presidente do Senado Federal quem disse que este Poder está emasculado na sua função precípua. Como é que esta Casa não discute isso e não encara isso com a seriedade devida?

            Senador Mozarildo Cavalcanti.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Jefferson Péres, concordo com as colocações que V. Exª está fazendo, mas eu gostaria de observar que, no dia seguinte à fala do Presidente, ocupei a tribuna e ressaltei esses pontos, principalmente, e com destaque, o atrofiamento da ação legislativa, por culpa, primordialmente do Poder Executivo, que encharca o Poder Legislativo de medidas provisórias e de outros projetos de urgência, mas também por culpa nossa, que não mudamos o rito das medidas provisórias, como já foi aprovado no Senado. Portanto, quero-me somar ao protesto de V. Exª. Realmente, deveria haver um movimento mais forte, no Senado, a respeito da fala do nosso Presidente.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Pois não, Senador Mozarildo. Eu não disse que ninguém se pronunciou. Eu disse que não houve a repercussão devida, muito maior, que não ficasse apenas nas manifestações de alguns Senadores, mas que fosse objeto de preocupação principalmente das Lideranças da Casa.

            O Poder Executivo tem culpa, mas a culpa maior é nossa, Senador Mozarildo.

            Eu tenho dito, freqüentemente, Senador Garibaldi, que se eu fosse Presidente da República e um Congresso complacente, um Congresso amesquinhado aceitasse isso, eu emitiria, como estão fazendo, uma medida provisória por semana. É tão cômodo para o Legislativo legislar. É tão cômodo, Sr. Presidente.

            Senador Garibaldi Alves, 10%, apenas, das leis aprovadas neste Congresso são de iniciativa da Câmara e do Senado. Cerca de 90% ou são projetos enviados à Casa pelo Executivo, ou provenientes de medidas provisórias. E mais, Sr. Presidente, V. Exª tocou também na questão dos vetos: do pouco que fazemos aqui, em matéria de legislação, dos 10% - é uma função residual, portanto -, o Poder Executivo veta grande parte. E o que acontece, Senador Garibaldi Alves? O Congresso sequer aprecia os vetos do Presidente da República às leis que este próprio Congresso aprovou. São 600 a 800 vetos até hoje não apreciados.

            V. Exª quer - como, ainda hoje, foi objeto da reunião com o Presidente da Câmara dos Deputados - livrar-se desse estoque maldito e colocar em dia a apreciação de veto.

            Que culpa tem o Presidente da República de este Congresso não apreciar os seus vetos? Somos nós próprios que não cumprimos os nossos deveres, Senador Garibaldi Alves Filho.

            V. Exª tocou em outro ponto: o Orçamento. Qual é a principal lei que qualquer Parlamento tem de apreciar? É a lei orçamentária anual. E o que acontece? A proposta é elaborada pelo Executivo e, aqui, aprovam-se algumas emendas. O Poder Executivo veta muitas delas, nós não apreciamos os vetos e o veto fica valendo como lei. E mais: do que resta de emendas aprovadas neste Congresso, o Executivo contingencia e libera o que quer e como quer. E nós, como V. Exª observou, nem sequer cumprimos o prazo para aprovar a lei. Estamos às vésperas do mês de março e o Congresso Nacional não aprovou o Orçamento de 2008.

            Sr. Presidente, eu não vou-me prolongar.

            V. Exª partiu das palavras para a ação, articulou-se com o Presidente da Câmara, tem reunido os Líderes. Meus cumprimentos, pois V. Exª está-me surpreendendo, confesso. V. Exª é um homem tão calmo, tão tranqüilo. Muita gente pensava que V. Exª iria cumprir um mandato tampão, de forma cinzenta, medíocre, mas se V. Exª conseguir levar adiante essas suas preocupações e fazer com que o Congresso se afirme como Poder, V. Exª terá marcado a sua passagem, nesta Casa, e fechado-a com chave de ouro.

            Não desanime, Presidente Garibaldi Alves. Conte com a minha colaboração e com a de toda a Bancada do PDT nesta Casa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2008 - Página 2901