Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da criação de um plano estrutural para o turismo no Brasil.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TURISMO.:
  • Defesa da criação de um plano estrutural para o turismo no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2008 - Página 3352
Assunto
Outros > TURISMO.
Indexação
  • PROTESTO, INEXISTENCIA, PLANO, ESTRUTURAÇÃO, APROVEITAMENTO, PATRIMONIO TURISTICO, BRASIL, COMENTARIO, RIQUEZAS, EXTENSÃO, TERRITORIO, CULTURA.
  • REGISTRO, CONFLITO, MUSICO, MUNICIPIO, CABEDELO (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), PROXIMIDADE, CAPITAL DE ESTADO, DISPUTA, ESPAÇO, EXECUÇÃO, MUSICA, UNIÃO, HORARIO NOTURNO, ATRAÇÃO, TURISTA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, PREFEITO, SECRETARIO DE ESTADO, MINISTRO DE ESTADO, TURISMO, BUSCA, ENTENDIMENTO.
  • AGRADECIMENTO, POPULAÇÃO, ACOLHIMENTO, ORADOR, VISITA, MUNICIPIO, JOÃO PESSOA (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), COMENTARIO, SUPERIORIDADE, AUDIENCIA, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de um início de tarde em que a pressão chegou a limites críticos neste plenário, eu quero aproveitar este final de sessão para falar. Eu poderia falar de coisas amenas, mas não, quero falar um pouco aqui das belezas do Brasil.

É lamentável que um País como o nosso, com o potencial turístico que possui, não tenha tido ainda, meu caro Senador Delcídio, um plano estrutural para o setor que transcenda governos. Se nós olharmos aqui no plenário, vamos ver o Senador João Pedro, que é de um Estado onde há, talvez, o maior volume concentrado de belezas naturais do planeta.

O mundo inteiro tem, pela Amazônia, um verdadeiro fascínio, pelo seu ar de mistério, pelas suas florestas impenetráveis, pelos seus rios, e, silenciosamente, milhares e milhares de turistas, todo ano, se dirigem àquela região.

O Mato Grosso do Sul de V. Exª não fica atrás; o Amapá, agora cantado em prosa e verso pela Beija-Flor, cujo enredo tornou-a campeã, é outro exemplo; o Tocantins, do Senador João Ribeiro, com o Jalapão e outras riquezas naturais; o meu Piauí e do Mão Santa, com o Delta do Parnaíba, com os poços jorrantes de Cristino Castro, com a Serra da Capivara, com as Sete Cidades; meu caro Expedito Júnior, com a beleza de Rondônia. Estou dizendo tudo isso, Sr. Presidente, para chegar a algo que me chamou atenção no Nordeste brasileiro, cujo registro quero fazer, hoje, apelando para o bom senso do bravo povo paraibano.

Há dois anos, tive a oportunidade, Senador Delcídio Amaral, e penso que V. Exª conhece esse espetáculo, de ver, ao cair da tarde, à margem do rio Sanhauá, próximo a João Pessoa, em Cabedelo, em uma localidade chamada Jacaré, o espetáculo da interpretação do Bolero de Ravel, pelo músico local chamado Jurandir. Talvez, em turismo, tenha sido o que de mais sensacional houve no Brasil, porque se aproveitou o que a natureza nos deu, que é o rio, o espetáculo do sol se pondo e, há anos, um músico teve a criativa idéia de, à medida em que o sol se punha, interpretar em trombone e saxofone a sinfonia de Bach. Acrescentou a esse espetáculo uma canoa. Então, ele desliza pelas águas do Sanhauá, enquanto o sol vai se pondo sob um silêncio absoluto e aqueles acordes fortes de um bem definido e harmonioso saxofone. O espetáculo foi ganhando turistas e eu achava que devia a minha mulher a oportunidade de também presenciar aquele espetáculo, coisa que fiz neste final de semana. Ele não pára aí, é complementado. Logo em seguida, um violinista, Paulo Barreto, se não me engano, interpreta também, sob o mais absoluto silêncio, a Ave-Maria.

Ocorre que, por falta de ação das autoridades de turismo ou de orientação, uma divergência entre os que fazem aquele tipo de turismo, que é um turismo sem ajuda governamental até porque é um turismo barato, resultou em um atrito. E hoje os turistas que para lá se dirigem vêem não apenas um saxofonista, mas três ou quatro, um atrapalhando o outro por causa da propagação do som. Evidentemente, aquele espetáculo, sem paz de espírito, sem absoluta tranqüilidade e um silêncio profundo, perde muito em sua beleza. E temo que, se as autoridades paraibanas - Secretário de Turismo, Prefeito de Cabedelo - não tomarem uma providência, dentro de pouco tempo se possa ter uma fuga de turistas, porque o objetivo primordial passa a perder sentido e valor.

A minha primeira palavra era um apelo para ver se entre eles mesmos haveria um entendimento. Não conheço a origem da briga, não sei o motivo, mas eles têm de pensar no turista, respeitar o turista que para ali vai assistir a esse espetáculo e entrar no entendimento que, se me perguntar qual é, não sei, mas haverá de se encontrar. O que não é agradável é você, em tempos diferentes, ouvir os acordes da mesma música, tendo um conflito auditivo completamente desagradável.

O espetáculo, repito, além de extraordinário e sensacional, mostra a capacidade criativa do cidadão brasileiro, porque, sem nenhum investimento, meu caro Senador João Pedro, consegue fazer algo que atrai quatro, cinco mil turistas. O Brasil inteiro freqüenta aquele ambiente. Mão Santa, aí me dá uma inveja danada. Temos o pôr-do-sol mais bonito do Brasil, que é o encontro das águas do Poti com o Parnaíba, e ninguém teve a idéia de fazer isso em nossa bonita Teresina.

Mas faço esse apelo. Faço um apelo até à Ministra Marta Suplicy, que já deve ter ido lá, quero crer. Mas, se não foi, faça isso urgentemente, não só pela beleza, mas também pela necessidade de até, quem sabe, intervir nessa questão, de forma amigável, por meio do diálogo, porque ali, pela força, não vai. Tem de ser pelo entendimento, com bom senso. Sei que quem começou, o pioneiro, chama-se Jurandir. Agora, é preciso ver se houve um desacerto comercial. O que foi não importa. A verdade é que o turista tem de ser respeitado e aquele tesouro que eles possuem deve ser mantido, porque realmente é uma conquista fantástica, produto da criação do homem.

Mas, Senador Mão Santa, passei um dia e meio em João Pessoa e fiquei positivamente impressionado com o sucesso da TV Senado. Depois foi que me dei conta de que, lá, ela é uma TV aberta. É uma TV aberta e assistida pela classe média, pelos aposentados, pelos funcionários públicos.

Imaginem os senhores que eu fui, no domingo de manhã, comprar jornal - aquela velha mania de saber quem está falando mal de quem -, dei 50 passos do hotel em que estava até uma banca de revista. Comecei a ser cumprimentado por taxistas, pelos funcionários e me deparei com uma cena interessante: em frente ao tradicional Hotel Tambaú existem dois bares, Pau Duro e Pau Mole, de livre escolha pela freqüência: um, por mais jovens, o outro, por aposentados. Ali, eles fazem um verdadeiro diagnóstico do que acontece, discutem o País, discutem João Pessoa e, o que é melhor, a fofoca da cidade.

Como tínhamos em Teresina a Rádio Calçada, hoje, é o Senadinho lá do shopping center. É uma coisa divertidíssima. Quero inclusive agradecer a maneira como todos eles me trataram. Quero dizer que essa minha ida a João Pessoa me deu mais força para continuar nessa luta, porque, a partir do momento, Mão Santa, em que percorremos este Brasil e começamos a ver que este trabalho daqui é assistido e que o cidadão sabe diferenciar o comportamento de cada um, isso nos deixa tranqüilo e nos anima.

Quero agradecer também ao meu colega Efraim Morais, nosso colega Senador, que se desdobrou em cortesia e carinho, acompanhando a mim, minha mulher e o casal que nos acompanhava, por toda a fantástica João Pessoa.

Mas eu sou um azarado, Senador João Pedro. Tem um restaurante em João Pessoa de que gosto muito. Tinha ido lá na campanha, quando fui coordenador do Alckmin, e vi um pianista - gosto muito de música, não tanto quanto o Senador Delcídio Amaral - que me impressionou porque é aquele pianista que toca sem incomodar. Mas me dei conta que o restaurante se chama Olho de Lula. Infelizmente, é meio baixo. A gente vê pelo desenho da placa que não enxerga bem. Mas, tirada a brincadeira, é um restaurante fantástico. Se o dono estiver me ouvindo, troque imediatamente esse nome, porque tem de ser um restaurante isento. Mas, com nome ou sem nome, vou continuar a freqüentá-lo, porque, já da outra vez, encontrei um pianista chamado Santos, uma coisa rara. V. Exª veja como me ligo nessas coisas.

E lá tive a oportunidade de conhecer uma figura, um jornalista em João Pessoa, filho de um extraordinário homem público brasileiro, que era Abelardo Jurema. Tive a oportunidade de conviver, quando jovem, azar da idade, com o pai dele, que voltava do exílio. Tinha sido Ministro da Justiça de Jango. Tive uma convivência muito próxima e uma admiração pelo seu tio, que foi Senador, Deputado por Pernambuco, Aderbal Jurema.

Vou encerrar, Sr. Presidente, fazendo esse registro e um apelo à sociedade de João Pessoa e da Paraíba: que se unam, mas se unam mesmo, no sentido de encontrar uma saída para que os artistas que lutam pela vida, mostrando a sua arte naquele entardecer - e é um espetáculo diário - encontrem uma solução e harmonia para que a paz de espírito dos que vão lá e para que a harmonia não sejam quebradas. Tenho certeza de que a criatividade dos que tiveram aquela idéia é marcante e precisa ser preservada.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2008 - Página 3352