Pronunciamento de Arthur Virgílio em 21/02/2008
Discurso durante a 11ª Sessão Especial, no Senado Federal
Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-deputado federal Chico Pinto. Saúda a memória do Senador Jonas Pinheiro.
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-deputado federal Chico Pinto. Saúda a memória do Senador Jonas Pinheiro.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/02/2008 - Página 3312
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, FRANCISCO PINTO, EX-DEPUTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, HOMENAGEM, PERSONAGEM ILUSTRE, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO.
- COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, FUNERAL, JONAS PINHEIRO, SENADOR, REGISTRO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, SETOR, AGROPECUARIA.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, subscrevi um requerimento, ao lado dos Senadores Alvaro Dias, João Pedro e mais alguns outros ilustres colegas nossos sem saber que o Senador Pedro Simon, o Senador Jarbas Vasconcelos e o Senador Heráclito já haviam providenciado uma outra homenagem. Mas creio que, em se tratando de Chico Pinto, quanto mais melhor. E sei que nós falamos por toda a Casa.
Eu ouvi o depoimento interessante, esclarecedor, do Senador Inácio Arruda; ouvi o depoimento emocionado dessa figura racional mas nem por isso pouco cálida nos seus sentimentos que é o Senador Jarbas Vasconcelos; ouvi o depoimento também tocado, comovido, do Senador Pedro Simon, e sinto que devo dar aqui a minha própria contribuição, procurar falar algo que não redunde, que acrescente ao que disseram companheiros tão queridos e tão ilustres.
Eu fui amigo pessoal de Chico Pinto e fui deputado com ele no PMDB, que era o partido que abrigava o grosso dos opositores ao regime ditatorial. Mas no PSDB nem tudo eram flores na minha relação política com Francisco Pinto; tínhamos uma relação fraterna mas discrepávamos muitas vezes. Pertencíamos ambos à esquerda do Partido, mas tínhamos visões táticas que nem sempre coincidiam. A solidariedade a ele quando da violência que sofreu no Governo Geisel, retirado da Câmara dos Deputados porque disse uma absoluta verdade a respeito do ditador Augusto Pinochet e, a partir daí, foi trancafiado em um quartel do Exército Brasileiro por seis longos meses, com a dignidade de recusar o indulto de Natal, oficiando ao Presidente Geisel, dizendo a S. Exª “Por favor me poupe do perdão que eu não lhe solicitei.” Geisel queria incluí-lo no indulto de Natal, e Chico disse, em um ofício muito curto ao Presidente Geisel: “Excelência, me poupe do perdão que não solicitei”. E optou por passar o Natal preso, para não coonestar, de forma alguma, o que poderia parecer uma “generosidade” - estou aspeando a palavra generosidade - do regime autoritário.
Mas eu dizia a V. Exª que, muitas vezes, havia discrepância entre nós. Chegamos a pertencer ao grupo Travessia, que era um grupo mais à esquerda do Partido, e nem sempre coincidíamos na escolha dos nossos Líderes, nem sempre coincidíamos - eu repito - no jogo tático-estratégico a seguir.
Certa vez, por exemplo, Chico, que era um extremado, em reunião de uma dessas Comissões da Câmara dos Deputados, muito desesperado, irritado com o clima de insegurança lá de fora - o General Newton Cruz praticando todos os absurdos, todos os desrespeitos a Parlamentares e, sobretudo, àqueles que não eram detentores de nenhum mandato popular -, chegou a sugerir que os Deputados fizessem uma greve em solidariedade aos Professores. Ele foi prontamente rebatido pelo Deputado Marcelo Cordeiro, da Bahia, que disse: “Chico, se fizermos greve, aí o Newton Cruz não espanca, ele assassinará os professores.”
Ele era uma figura, portanto, impulsiva, de pouca tribuna, mas de muita articulação - disse muito bem o Senador Arruda. Ele sabia, como ninguém, o que dizer para a imprensa nos seus briefings quase diários, quando Secretário-Geral Nacional do PMDB. Muito firme nas suas posições, corajoso. Não era de se retratar. Muito querido em Feira de Santana, muito estimado e muito respeitado até pelos seus adversários. Chico Pinto era um homem generoso.
Quando eu falo dele, eu me lembro de figuras que, como ele, exercitaram um papel relevante na luta por democracia neste País. Muitos deles vivos e bem vivos, graças a Deus, como José Eudes, Bete Mendes, Alencar Furtado - o velho Alencar Furtado, aquele das viúvas do quem sabe, das viúvas do talvez, cassado justamente pela coragem que teve de expor as vísceras do regime. Quando se obteve uma nesga de liberdade, conseguiu-se o horário gratuito de televisão, que foi muito bem utilizado pelo PMDB, com a ida à televisão de Alceu Collares para falar da questão trabalhista, com a ida à televisão de Franco Montoro para falar de economia, com a ida à televisão de Ulysses Guimarães, que era o Líder das Oposições, e com a ida à televisão de Alencar Furtado, que fez o discurso que comoveu o País, falando de anistia, falando de tortura, falando de desrespeito aos direitos básicos da pessoa humana.
Sr. Presidente, eu gostaria de lembrar de Elquisson Soares, de Airton Soares, de Valmor de Luca, de Luiz Henrique da Silveira, de Pimenta da Veiga. Eu gostaria de recordar lembrando sempre que estava coerente com o que é, em sua posição de sempre, o atual Senador Jarbas Vasconcelos, o meu prezado Heráclito Fortes. Gostaria de homenagear todos eles e pensar se não estamos sendo omissos, se não deveríamos fazer uma homenagem em vida a Alencar Furtado - por sinal, sogro de Chico Pinto -, alguém que fez tanto pelo País, um País que cultiva pouco a sua memória, um País que esquece seus heróis, um País que tem pouco orgulho de seus heróis e não os cultiva, repito.
Chico Pìnto morreu quase que no esquecimento. Fazia uma publicação, de caráter nacionalista, com idéias econômicas das quais divirjo. Uma vez, recebi um recado pelo Valmor de Luca - eu era Líder do Governo passado -, dizendo: “Olha, o Chico pergunta se você não quer escrever um artigo na revista dele”. Eu falei: “Muito bem. Se me derem a liberdade de discrepar, eu faço, com muito prazer”. Acabei não fazendo, mas ele me respondeu dizendo que sim, que eu poderia discrepar à vontade, porque era um democrata - Chico Pinto, que estava ali a falar. Chico Pinto mereceria ter sido homenageado por nós antes, muito antes, e volto a lembrar da figura emblemática de Alencar Furtado.
Outro dia, encontrei às portas do Congresso - ia haver um evento espiritualista -, uma senhora que me perguntou se eu era eu. Eu falei que óbvio, que eu era o Senador Arthur Virgílio. E ela me abraçou. Era a viúva do Deputado Freitas Nobre, que foi meu líder aqui. Espiritualista, amigo de Chico Xavier, figura de uma bondade inexcedível e de uma coragem muito forte, de uma coragem muito expressiva.
Eu não sei se alguém homenageou Freitas Nobre pelo País. Prefeito de Manaus, eu fiz um complexo esportivo no bairro Santa Etelvina, ao qual dei o nome de Deputado Freitas Nobre. Não sei se alguém mais homenageou Freitas Nobre. Parece até que não foi, por cinco vezes, líder, consecutivamente, do PMDB, resistindo, com sua coragem serena, ao regime de arbítrio. Parece até que não foi.
Eu, portanto, aproveito o ensejo da homenagem a Chico Pinto para me lembrar de como olvidamos Freitas Nobre, de como não reconhecemos os que tanto fizeram para que estivéssemos aqui disputando as nossas posições, e como podemos ainda homenagear Alencar Furtado, nós, Sr. Presidente, que nem sabemos o dia do falecimento do Dr. Ulysses.
Se eu perguntasse a qualquer companheiro... Talvez Heráclito me dissesse. Perdão, Heráclito.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Dia 12 de outubro.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Dia 11 de outubro?
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Doze.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Doze de outubro. Eu não saberia dizer.
Eu não me lembro de ter sido homenageado o Dr. Ulysses. Não me lembro. Lembro-me no calor de seu desaparecimento. Não me lembro.
Mas, Sr. Presidente, temos esse dever, e a minha sensação em relação a Chico Pinto é de saudade, é de dor, é até de remorso, porque alguns amigos disseram assim: “O Chico está muito doente. Vamos visitá-lo!”. E eu falei: “Vamos”. E a lufa-lufa diária do Congresso Nacional me impediu de ir lá. Eu deveria ter ido, poderia ter ido, ele estava lúcido. Poderia ter ido! Acabei não indo, e nem esses companheiros foram também. Poderia ter ido! Deveria ter ido!
Encerro, Sr. Presidente, dizendo que, ontem, nós e V. Exª também prestamos homenagem ao Senador Jonas Pinheiro, nosso colega, que estava cercado de uma multidão em sua pequena cidade natal no Mato Grosso. Descemos no avião presidencial, em Cuiabá; fomos de ônibus até a cidade dele; retornamos por Cuiabá e chegamos a Brasília já no meio da noite.
É um contraste: Jonas foi adversário meu, de Heráclito, de Jarbas e de Chico Pinto, na Câmara dos Deputados, e, nem por isso, deixava de ser o amigo, o cordial, o colega correto que prometia e cumpria as coisas que prometia. E percebi, ontem, o caráter da relação dele com seu povo. Muita gente à sua volta, homenagem bonita e significativa.
Jonas fará falta ao setor agropecuário, ao setor do agronegócio.
Ele, que era silencioso como sempre, um dos líderes mais eficazes desse segmento econômico tão importante para o Brasil.
Jonas, silencioso como sempre, low profile, dele se dizia que, no episódio CPMF, votaria com o Governo porque o Governador de lá pediria para ele votar. Enfim, especulava-se, e eu próprio cheguei a fazer essa especulação. Será que o Jonas fica conosco, será que o Jonas vai roer a corda? E o Jonas quieto, sem dizer sim nem não, na hora da votação, votou literalmente conosco. Não votou conosco, votou com a consciência dele.
Ele será substituído por um colega que conhecemos, o Gilberto Goellner, que teve uma bela passagem, em uma interinidade, quando de um tratamento de saúde de Jonas Pinheiro. Mas deixa uma saudade enorme, deixa um vazio, deixa... Eu assistia ontem a um tape de uma das nossas sessões do Congresso e lá estava a Senadora Serys, sorridente, ao lado de um Jonas sorridente. Não sei o que falavam. Ele sentado, ela em pé. Estavam ambos conversando qualquer trivialidade e, de repente, a morte o saca do nosso convívio.
Tenho, portanto, muita emoção ao poder falar de figuras politicamente tão díspares, mas unidas ambas pela coerência, e, eu, unidas a elas, a Chico Pinto e a Jonas Pinheiro, pelo sentimento.