Discurso no Senado Federal

Elogia o pontificado de Sua Santidade o Papa Bento XVI. Requer decisão do Congresso Nacional para a realização, em 2008, das reformas tributária e política.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. REFORMA TRIBUTARIA. REFORMA POLITICA.:
  • Elogia o pontificado de Sua Santidade o Papa Bento XVI. Requer decisão do Congresso Nacional para a realização, em 2008, das reformas tributária e política.
Publicação
Publicação no DSF de 25/12/2007 - Página 46943
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. REFORMA TRIBUTARIA. REFORMA POLITICA.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PAPA, BENTO XVI, RELEVANCIA, VISITA, BRASIL, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ENCICLICA.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, CARDEAL, ELOGIO, IMPORTANCIA, CRIAÇÃO, ENCICLICA, AUMENTO, EXPECTATIVA, CRISTÃO, MELHORIA, JUSTIÇA, MUNDO.
  • DEFESA, RELEVANCIA, REALIZAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMA POLITICA, BENEFICIO, BRASIL.

     O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente nobre Senador Mão Santa, antes de começar minha oração gostaria de agradecer as generosas referências que V. Exª fez a respeito da minha vida pública.

     Srªs e Srs. Senadores - eu gostaria de destacar a presença do Senador Geraldo Mesquita Júnior e do Senador Augusto Botelho -, minhas senhoras e meus senhores, hoje estamos concluindo a 1ª Sessão Legislativa da 53ª Legislatura, e a conclusão dos nossos trabalhos coincide com a proximidade do Natal. Isso nos faz refletir sobre a atividade do Congresso Nacional deste ano, e de modo particular do Senado Federal: foi um ano difícil, mas ao final o concluímos de forma exitosa. Também nos faz refletir um pouco sobre o sentido do Natal, sobretudo porque somos um país caracterizadamente de origem cristã.

     Sabemos, Sr. Presidente, que a celebração do Natal é algo que se repete há mais de dois mil anos. “Eu vos trago a boa nova de uma grande alegria: É que hoje vos nasceu o salvador, Cristo, o Senhor” é o que proclama o Evangelho de Lucas. Vivendo o tempo do Advento, São João Batista nos convida a preparar os caminhos do Senhor.

     Este ano que ora se encerra foi marcado no Brasil pela primeira visita do Papa Bento XVI e também pelo recebimento da graça da canonização do primeiro Santo brasileiro, Santo Antônio de Pádua Galvão.

     E não menos importante se realizou em Aparecida, São Paulo, a V Conferência do Celam, reunindo as igrejas da América Latina e do Caribe.

     Anote-se por oportuno que, nos seus trinta meses de pontificado, o Papa Bento XVI já expediu duas encíclicas: a primeira, intitulada Deus Caritas Est, ou seja, Deus é amor; e, em trinta de novembro passado, a segunda, Spe Salvi, sobre a esperança, isto é, salvos pela esperança, que, aliás, se apóia em um texto de São Paulo, o apóstolo dos gentios. É na minha opinião São Paulo que faz a melhor definição de fé. Ele disse em uma das suas cartas que “a fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem”. São Paulo, portanto, nos deixou muitas e lúcidas reflexão sobre o sentido da fé.

     Nós sabemos que a encíclicas, de modo geral, têm um caráter ou dogmático - e muitas vezes o Papa fala ex cathedra -, ou doutrinário e são dirigidas aos bispos e fiéis do mundo católico. E o título de cada encíclica é retirado das duas primeiras palavras do texto originário, em latim. No caso da Esp Salvi, a expressão é extraída do Versículo 24 do Capítulo VIII da Carta de São Paulo aos Romanos, chamando - aliás, mais do que isso, conclamando - os católicos e todas as pessoas de boa vontade a aceitarem a palavra redentora de Deus, pois “na esperança, fomos salvos”, visto que o que distingue os cristãos é saberem que sua vida “não acaba no vazio”.

     Aliás, eu gostaria de dizer que todos sabemos que Bento XVI é um homem de extraordinária cultura, quer pelo leque de línguas que fala, quer pelo conhecimento profundo dos mais diversos sistemas filosóficos e teológicos. Por seu modo de se expressar, as necessidades humanas e as verdades divinas, dada a natureza técnica e científica daquelas, por mais que ele se esforce, nem sempre são exaradas com facilidade de percepção, mesmo aos estudiosos, quanto mais às pessoas do povo.

     Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, recentemente elevado, merecidamente, à condição de Cardeal, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 8 de dezembro deste ano, observa que Bento XVI, “na primeira Encíclica, tratou da caridade (Deus Caritas Est)”, isto é, Deus é amor.

     Na segunda Carta Encíclica, salienta Dom Odilo Pedro Scherer, o Papa aborda o tema da esperança cristã, lançado justamente no tempo do Advento, vivido pela Igreja como “tempo de esperança”.

     E volto a citar Dom Odilo. “Falta agora uma encíclica sobre a fé, para completar a trilogia sobre as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) que fazem parte da essência da vida cristã”, que nós aprendemos desde cedo.

     O texto da encíclica papal, Spe Salvi, distendido em oito partes, constrói-se basicamente sobre duas perguntas: Em que reside essa esperança redentora? E o que dela se pode esperar? “A esperança é um estado de espírito ou uma convicção que nos projeta para o futuro e já nos faz viver em função desse futuro; quem espera ansiosamente uma visita já vive antecipadamente as emoções do encontro”, diz Dom Odilo no artigo a que já me referi e acrescenta: “A mulher que espera um filho traz a experiência da maternidade bem antes do parto e até já projeta o futuro do bebê. As esperanças humanas tornam a vida interessante e são como molas que projetam para o futuro e, de alguma forma, o trazem para o presente. A vida sem esperanças seria triste e sem cor.”

     É evidente, porém, que a Encíclica Spe Salvi, a que me refiro, não analisa apenas as esperanças humanas, que são importantes. Antes, também, procura mostrar a importância da esperança cristã que decorre da fé em Deus.

     Daí a necessidade de uma esperança religiosa, senão cristã, muito mais rica e fortalecida e, por isso, muito mais proveitosa, pois, em primeiro lugar, ela “decorre da fé em Deus e é algo que dá, portanto, novo sabor à vida”.

     Somente Cristo, é bom frisar, torna o homem verdadeiramente livre, eis que o ser humano não é um escravo do universo nem das leis da natureza e da casualidade da matéria: “Não são os elementos do cosmos que comandam o mundo e o homem, mas é Deus pessoal, que governa as estrelas, ou seja, o universo. Somos livres, porque o céu não está vazio [portanto, quem tem o céu tem, conseqüentemente, a consciência de uma vida eterna], porque o Senhor do Universo é Deus, que em Jesus se revelou como Amor.”

“Bento XVI desnuda [em sua encíclica recentemente lançada] a inconsistência das esperanças materialistas e vai fundo em sua crítica ao materialismo marxista”, salientou o Professor Carlos Alberto di Franco, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo este mês. E adianta: “Marx mostrou com exatidão como realizar a derrubada das estruturas.

     Mas [diz o Papa Bento XVI] não nos disse como as coisas deveriam proceder depois...” Marx “esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e sua liberdade...” 

     Não é a ciência, lembra o Professor Carlos Alberto di Franco, que redime o homem. O homem é redimido pelo amor.

     Dom Odilo Scherer parafraseia o documento papal ao afirmar: “quem crê em Deus nunca está sozinho e não conta apenas com os próprios recursos e energias para alcançar a meta da existência. A verdadeira esperança cristã, longe de fechar o homem no individualismo ou de aliená-lo de suas tarefas nesta vida, o compromete ainda mais nas responsabilidades terrenas, para plasmar este mundo dos homens de acordo com o reino de Deus”.

     Em suma, “a aspiração à verdadeira justiça é o objeto da esperança”, complementa Dom Scherer. “O coração humano tem fome e sede de justiça e não se satisfaz com meia justiça. Enfim, Deus é e cria justiça. Esse é nosso consolo e nossa esperança”.

     Bento XVI esclarece que a fé nesse julgamento é antes de tudo a esperança e reitera que “existe ressurreição da carne, justiça e o fim do sofrimento”.

     No final do banquete eterno, os maus não se sentarão indistintamente à mesa junto com as vítimas como se nada tivesse acontecido.O juízo de Deus, esclarece D. Odilo, não deve, todavia, ser visto como uma instância terrível e sem apelação, pois será exercido sempre no tribunal da justiça e da graça. E, assim, a Encíclica nos recorda que o objeto principal da nossa esperança é a vida eterna, um desejo que nasce da fé.

     Diante das muitas esperanças sobre as quais construímos nossa vida, é preciso perceber que só Deus é a grande esperança e que o homem tem necessidade de Deus. “Temos certeza de que esses ensinamentos do Santo Padre Bento XVI se constituirão para nossas comunidades e para toda a humanidade tão necessitada da grande esperança, como afirmou a CNBB em nota expedida por seus dirigentes, que dá sentido e vida para vencer as dificuldades do dia-a-dia”.

     Sr. Presidente, espero, ao encerrar este ano legislativo, que possamos continuar cumprindo, e da melhor forma possível, as nossas tarefas, isto é, buscando construir um País melhor. Para esse fim, é fundamental que nos conscientizemos de que cabe ao Congresso Nacional nestes tempos cumprir uma tarefa essencial para que o País cresça como desejamos, ou seja, socialmente justo, com instituições consolidadas e ampliando a sua integração no mundo, que cada vez mais se globaliza. Para que isso aconteça, é fundamental, necessário, que façamos brotar, logo no começo do próximo ano, um grande projeto de reforma tributária ou, se quiserem, um grande ajuste fiscal, porque, sem isso, o País não crescerá a taxas mais altas. Conseqüentemente, continuaremos a conviver com grandes desigualdades sociais.

     Mas é importante também, Sr. Presidente, que façamos as chamadas reformas institucionais, como chama assim a imprensa, as reformas políticas, fundamentais para que se elevem os níveis de governabilidade no País.

     Sem a reforma tributária, de um lado, e a reforma política, de outro, certamente, não avançaremos como devemos. Mais do que isso: o Brasil verá, mais uma vez, adiado o seu sonho de ser uma nação desenvolvida, justa, democrática, com instituições sólidas e estáveis.

     Por isso, eu concluo as minhas palavras, renovando as nossas esperanças - esperanças humanas -, depois de um ano extremamente difícil aqui no Senado, como foi o ano de 2007, nós esperamos que 2008 possa ser o ano em que, ao final, seja realizado aquilo que é essencial, a meu ver - e creio que já há um sentimento na sociedade neste sentido -, as chamadas reformas fiscal e política.

     Sr. Presidente, solicito a V. Exª que seja transcrito em anexo ao discurso que acabo de proferir, o artigo do jornalista José Maria Mayrink, publicado no dia 1º de dezembro deste mês, intitulado Papa Lança Texto sobre a Esperança. Trata-se de uma excelente síntese daquilo que constitui a última encíclica do Papa Bento XVI a respeito da esperança, que é, juntamente com a fé e a caridade, uma virtude teologal.

     Era o que eu tinha a dizer.

     Muito grato a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/12/2007 - Página 46943