Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o excesso de medidas provisórias.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.:
  • Preocupação com o excesso de medidas provisórias.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2008 - Página 4356
Assunto
Outros > ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.
Indexação
  • DESCRIÇÃO, PATRIMONIO TURISTICO, LITORAL, ESTADO DO PIAUI (PI), VIAGEM, ORADOR.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESUSO, AEROPORTO INTERNACIONAL, PREJUIZO, TURISMO, ADVERTENCIA, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, MUNICIPIOS.
  • CRITICA, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ESPECIFICAÇÃO, PROIBIÇÃO, COMERCIO, BEBIDA ALCOOLICA, ESTABELECIMENTO COMERCIAL, MARGEM, RODOVIA, PREJUIZO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, COMERCIANTE, PASSAGEIRO, ONIBUS, DEFESA, PUNIÇÃO, MOTORISTA, COMPARAÇÃO, SIMILARIDADE, OCORRENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mário Couto, que preside esta sessão de segunda-feira, dia 3 de março, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

            Senador Alvaro Dias, lembro-me do pai de V. Exª. Eu não o conheci pessoalmente, mas V. Exª me passou o telefone e cheguei a conversar com ele. Eu o vi assim como meu pai, como um homem austero, responsável. Árvore boa dá bons frutos. Há pouco falei, no mesmo telefone em que conversei com seu pai, com a sua encantadora esposa e a convidei a passar uma lua-de-mel no Delta do Piauí.

            Deus fez a sua parte: onde eu nasci é o lugar mais bonito do mundo. Eu acho que, se Ele fez o mundo em sete dias, Ele passou bem uns cinco fazendo o meu litoral: o Delta do rio Parnaíba. Eu sei que Ele levou algumas horas na Ilha do Marajó.

            Senador João Pedro, do Amazonas, o rio Parnaíba não se lança no mar como o Amazonas, sem inspiração. O rio Parnaíba, depois de percorrer 1.458 quilômetros, abre-se, dando um abraço. Daí se chamar delta, como a letra grega delta. Deus só quis fazer isso três vezes no mundo: fez no rio Nilo, em mar aberto, fez no Vietnã, no Mekong - mas lá é cheio de confusão e guerra... Na Argentina, há um delta, mas não é em mar aberto. Ele se lança no Mar del Plata, que não é um mar, mas um rio. Então, não é em mar aberto. Eles o chamaram de mar porque o “bicho” é largo, 250 quilômetros, mas hoje se sabe que é um rio.

            Então, só existem três. Eles se lançam e se abrem, lembrando uma letra grega. Mário Couto, é mais como uma mão, porque ele se abre em cinco rios. Uma mão, com certeza, santa, porque as sinuosidades dos novos rios fazem nascer 78 ilhas. Setenta e oito ilhas!

            Senador Alvaro Dias, olha para onde eu mandei sua esposa passar uma nova lua-de-mel.

            É o seguinte: dois terços são do Maranhão e um terço das ilhas é do Piauí. A ilha de Santa Izabel é a maior. Foi lá onde nasceu Evandro Lins e Silva, único jurista igual a Rui Barbosa. Esse STF que está aí não precisa buscar exemplos em outros lugares, e sim em Evandro Lins e Silva, que não se curvou nem no período da ditadura!

            A Justiça, como diz Aristóteles, tem que brilhar mais do que a coroa dos reis. Está mais alta a coroa da Justiça do que a dos sábios. Ele nasceu nesta ilha, ligada a minha cidade. Mas é a beleza do turismo.

            Senador Alvaro Dias, V. Exª conhece Sebastião Néry. Ele foi lá no Piauí, esse fenômeno intelectual e político, que foi eleito em três Estados: Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro... Ele é quem melhor interpreta a política. Ele foi ao Piauí quando eu governava o Estado. Recuperamos o teatro, mostramos... Mas eu o levei ao Delta. Vou ser franco, João Pedro. Lá no delta, não é nada da Amazônia, grandão...

            Eu não tenho lancha, mas era Governador e consegui com dois amigos que têm lancha. Eu sou como o Luiz Inácio: gosto de tomar umas. Não escondo, não tem nada... Aí é que eu vou entrar nessa de tomar umas, porque tenho que...

            Eu ia numa lancha, o Sebastião Néry, que tem um problema assim no pescoço, ia com a esposa, e a gente tomava uns uísques e uns Swings. Meu Secretário de Saúde lá é danado... Nome de uísque bom eu aprendi.

            Aí, Eurípedes, tem aquele negócio de ostra. Você já comeu ostra? Mas aquilo é bom e é bom dos nativos, dos menininhos. Aquilo, para abrir... Eu sou cirurgião. Você já comeu, João Pedro? Ali ele bota um sal, um tempero, com uma dose de uísque... É bom para danar... É bom dos menininhos, dos nativos. Você já abriu ostra? Eu sou cirurgião, mas eles têm mais habilidade. A gente come ostra de lata.

            Aí, eu ia na lancha, com o Sebastião Néry e outros, e outra do lado, com o Secretário... E eu tomando umas, como Luiz Inácio, eu confesso... Quando eu vi, o Sebastião Néry disse: “Pára! Pára! Pára!” Eu fiquei preocupado. Eu pensei que alguém tivesse caído, que alguém tivesse tomado uma e morrido afogado. Eu fiquei preocupado.

            Sebastião Néry, olha... Leiam o livro “Por que Collor venceu as Eleições”. Ele é um cidadão do mundo. Ele com o Papa João Paulo, ele conheceu, lá, Karol... Ele anda no mundo, teve uma namorada por lá, contando... Então, eu quero dizer, com isso, que ele conhece o mundo. Eu fiquei bom logo. “Que diabo? Deve ter afogado alguém aí, não é? Deve ter caído...” Que nada! Ele disse: “Nunca vi, Governador, uma beleza dessas”. Aí eu tomei um suspiro, porque pensei que alguém tinha era afogado, que tivesse caído a mulher dele, um negócio assim...

            O mar, verdes mares bravios, o rio, as brancas dunas e o mangue, o encontro dessa natureza.

            Mas isso tudo, ô, João Pedro... Esses aloprados mentem muito! Esses aloprados não servem. Esses aloprados estão lascados, porque a mentira não leva a lugar nenhum.

            Aeroporto Internacional de Parnaíba... Não há nem mais teco-teco. Não há nem mais teco-teco. E os aloprados bradam para o mundo todo, mentem, mentem, mentem! De Goebbels, do Hitler: “uma mentira repetida várias vezes se torna verdade”. Não há nem teco-teco.

            Quando eu era menino, eu ia para o Rio de Janeiro, ô, Pedro.

            Ô, Luiz Inácio, como mente esse PT. E o Governador, mentiroso!

            Aeroporto Internacional... Não há nem teco-teco mais.

            Quando eu era menino, Eurípedes, cansei de ir ao Rio de Janeiro. A gente saía, o avião ia para o brejo, Teresina, Petrolina. Rapaz, era um pinga-pinga, e eu saltava, menino, para tomar um refrigerante e dizia que conheci. Conheci nada. Sergipe! O último era Salvador. Passavam quatro horas, chegava lá, no Rio. Havia PanAir, AeroBrasil, Aerovias, AeroNorte e Paraense Transporte Aéreo, PTA. Botaram o apelido, no Pará: Prepara a Tua Alma, porque, de vez em quando, caía um bicho. Mas havia. Agora não existe nem teco-teco.

            Fui lá, com Adalgisinha, de carro, de Teresina ao litoral.

            Tudo mentira, Luiz Inácio. Não há nada! Não há nem teco-teco.

            Eu e o Heráclito conseguimos dois aviões, um OceanAir. O Governador comprou as passagens e não pagou, o cabra tirou a linha. Depois, o Abdon Teixeira, grande empresário, colocou com cheque, o diabo. Rapaz, o Governo ainda compra e não paga. Aí, eles tiram a linha. É...

            Não deve, não tem credor, os banqueiros americanos, mas devem aos aposentados, devem a tudo que é empresário. A dívida interna é maior. É ou não é, Mário?

            Sim, mas não há mais! Mas é bom. Deus escreve por linhas tortas.

            Eu saí com Adalsiginha. Olha, para o litoral são 340 km. Minha cidade é Parnaíba, Luís Correia é a praia mais disputada.

            Olha, e as cidades... A desgraceira.

            Ô, João, você é um homem de bem. Você aí. Esse negócio de falar de suplente, eu nunca falei, não, pelo respeito que tenho ao suplente, e você é um deles. Você vê que eu nunca... Eu vi que Fernando Henrique foi suplente e foi o melhor. Eu vou falar negócio de suplente! Cada um tem o seu destino. Fernando Henrique foi suplente, Alberto Silva. Eu conheço. Nunca falei.

            Mas leve isso ao Luiz Inácio. Aí, eu fui, num carro com Adalgisa. Meu amigo, olha, eu fui prefeitinho. Deus me livre! Um dia, eu saí da Prefeitura, e estava a maior confusão, porque, foi para trabalhar, eu mandava a Dalva orar. Aí, os diabos deram, para o mesmo lugar, dois, dois negócios, esses quiosques que vendem em praça. Aí, a confusão. Eu saí para arrumar outro.

            Foi para trabalhar, eu me preocupava. A gente tem de facilitar.

            Eu fiz um camelódromo. Peguei uma praça, cujo nome era o de um tio meu, porque não se podem colocar os camelôs onde não haja gente. Vamos sacrificar. Depois, danados, vocês não....Coloquei no melhor lugar, do lado do mercado, porque deve ter viabilidade. Não se pode colocá-los longe, não. Coronel Lucas de Moraes Correia, da minha família; e eu sacrifiquei, para pôr um camelódromo lá. O Brizola tinha feito um negócio desse, né? Mas eu me preocupo com o trabalho.

            Olha, há um homem... V. Exª é feliz por estar ouvindo. Leve para o Luiz Inácio. Joaquim Costa. Empresário, da Federação das Indústrias, um homem puro. Cerâmica. Eu nunca me esqueço. Ele trabalhou lá no Governo. Ele me encontrou um dia: “Como é que vai”? Aí, ele disse a seguinte frase - atentai bem: “Mão Santa”... Você diz “trabalhou em Governo”... “A vida lá fora tá é difícil”. Eu disse “que diabo é lá fora? Como é”? “A vida lá fora tá é difícil”. Que diabo de “lá fora”?

            Olha aí, Pedro! Olha, você é o único feliz. Olha o que ele diz. Que é lá fora? Aí, ele, um homem de bem, disse: “Olha, empresário, cerâmica, imposto, leis trabalhistas, fiscais, trabalhistas...A vida lá fora tá é difícil”. A vida está boa é para os aloprados, que ganham um DAS-6, que é R$10.448, 00, pela porta larga, sem fazer concurso! Lá fora, esse povo... Tá difícil! Tá difícil, Luiz Inácio! Tá difícil!

            Vossa Excelência pegou um... Sindicatos ricos, não sei o quê! Não foi difícil a sua vida, Luiz Inácio. Difícil está para os velhinhos, hoje para os aposentados.

            Olha, eu saí. Eu o convido. Meu amigo, o que tem de gente falida, desgraçada, acabada com essa... Vem aí a medida provisória: não bebe nas estradas. Pessoas que, há 20 anos, têm um restaurantezinho que vive daquilo...

            A minha cidade, Parnaíba, de Simplício Dias e de João Paulo dos Reis Velloso... Rapaz, dá é mais! Eu disse 10? Vem desde a Baixa da Carnaúba, são 16 quilômetros. São 26 quilômetros traçados pela estrada federal, pela BR. Imaginem quanta gente eu vi chorando! Quantas faixas contra esse Luiz Inácio!

            A natureza é lenta. Vamos pensar. Isso aqui é para fazer - viu, Paulo Paim? - leis boas e justas. Os aloprados, que, de certo, não têm o que fazer, querem mostrar serviço, porque este País não precisava mais do que 16 Ministros... Os Estados Unidos só têm de 14 a 16 Secretários - como eles chamam os Ministros. Então, vem medida provisória. Aí, querem mostrar serviço para o Luiz Inácio: “Olha, eu fiz essa aqui; eu fiz essa aqui”. E o Luiz Inácio disse que não gosta de ler. Ele mesmo disse que dá uma canseira ler uma página de livro. É melhor fazer uma... Então, aqueles aloprados Ministros, para mostrar serviço: “Luiz Inácio, está aqui uma medida provisória; é boa, vai resolver”. Ele mesmo disse... Ele nem leu... E ela entope aqui. Aí, vem essa loucura.

            Ali, na Câmara Federal, desmoralizada, desgastada, “chinagliada”... Perna aberta... Mas está vindo para cá.

            Olha aí, ô, caboclo! Esse Agripino, Arthur, nós vamos reunir aqueles 35 machos, aqueles... Vocês já leram sobre os 300 de Esparta contra Xerxes?

            Nós vamos enterrar esse negócio. Mas para ver.

            Vou dar um exemplo do que está errado, Luiz Inácio.

            Ô, João Pedro, por que está errado? Está certo: beber, não bebe. Tudo mentira. Não é a verdade. Sou médico... Quer dizer, vou no avião - esses bichos gostam de viajar. Você não viaja, não, mas eles, ô pessoal que gosta de viajar. Devia ter um aerolula para cada. Rapaz, onde a gente entra é gente do PT.

            Então, a gente vai no avião, a gente pode beber cerveja, pode beber vinho, pode beber uísque; se é internacional, a gente bebe.

            Ô, Paim. Aí, um homem que trabalhou, tirou suas feriazinhas, resolve comprar uma passagem de ônibus para se deslocar. Então, ele não tem direito, o passageiro, de tomar uma latinha de cerveja, para relaxar? Porque gosta. Tomar um copo? Nós tomamos.

            Olha aí. Isso não resolve, não. Deve punir... O aviador não pode tomar o vinho - está certo -, a cerveja, o uísque, porque deve ser profissional. Mas o passageiro, no ônibus... Faliu tudo que foi rede de trabalho, e estão na miséria há 10, 20 anos. E não tem nada a ver.

            Vou citar dois fatos. Eu sei mesmo. Se eu não estivesse aqui, desistiria disso, rapaz. Dois fatos. Conheço os Estados Unidos. Fico lá na Collins em um hotelzinho barato. Arrumei um amigo português, que é gerente de lá. Chego, dou-lhe um vinho, e ele faz baratinho. Mas é longe, mais ou menos, 8.000 Collins - 8.000 é o número.

            Há um posto a 300 metros, Paulo Paim, onde quase todos os motoristas são brasileiros e brasileiras. Está assim de brasileiro lá, ganhando a vida, porque aqui está difícil, Luiz Inácio. Converso com os caras. Então, saio do hotel e não pego táxi logo ali na porta, não. Vou a pé até o posto dos brasileiros. É mulher, é homem, e converso com os caras, é claro. Eles estão certos, viu, Lula? E pergunto: “Por que vocês estão aqui?” “Porque, com 20 anos, eu me aposento e vou conseguir aqui de US$2,500.00 a US$3,000.00 dólares de aposentadoria. Para cá não é muito, não, mas volto para onde vim, para minha Minas, estou comprando, e está lá.” Conversando com um deles, Presidente Mário Couto, eu disse: “Meu amigo, é melhor trabalhar de noite ou de dia para ganhar dinheiro?” É brasileiro lá ganhando dinheiro. O motorista respondeu: “Senador, de noite.” Eu olhei assim e disse: “Mas, de noite, rapaz? Eu ando aí por essa Miami, Coral Gables, e em cada jardim há quatro carros quando não são cinco. Como vocês vão ganhar dinheiro de noite, se todo mundo tem carro aqui, e a gente não vê nem ônibus?” Ele disse: “Alto lá. Pois é de noite que a gente ganha dinheiro, porque as chamadas de táxi à noite são em Coral Gables, o bairro mais rico. Todo mundo tem quatro ou cinco carros, mas, quando um americano vai jantar fora, ele telefona para um taxista. Ora, se ele tem quatro carros, não tem US$10 ou US$15? Ele vai tomar umas e é educado.” É a educação. Tiraram aquela cadeira da educação. Não havia Moral e Cívica? Tiraram. Ele disse: “Jamais um americano sai à noite para jantar com um de seus quatro carros.” Ele é educado. Ele não pode. É contra a lei. Vai preso. Não é Estado de direito, é estado policial. Um soldado prende logo, ele fica mesmo e não há quem tire. Um policial tem moral, dignidade e vergonha.

            A Justiça aqui demora. Jamais. É educação. Vou dar um exemplo logo. No meio dessa estada, fiquei lá. Entrei, fiquei numa mesa e tomei uma. Quando vi, havia uma professora. Tomamos uma, e daquele jeito. Quando eu via, tomava em meu copo, bebia, melava tudo. A gente tem de ir agüentando. E eu disse para a mulher: “Vamos.” - para vocês verem como somos mal-educados. “Minha filha, não pode.” E ela disse assim: “Vamos. Não, você pensa o quê? Eu tenho carro. Eu sou rica.” Rapaz, como sai uma...

            Somos mal-educados, Luiz Inácio. Isso não vai resolver nada.

            Não temos é que ser severos, a lei para punir o culpado, o motorista, o branco, o rico, o deputado, o senador, a professora universitária. O que for pego no bafômetro, esse, sim, esse vamos punir.

            Mas a pobrezinha da família, que tem um restaurante! Eu não sei se ocorreu, viu, João Pedro, que há 30 anos vive daquilo, com decência. O homem e a mulher de vergonha, que estão numa viagem, num ônibus, a quem deu vontade, na hora do almoço, de tomar uma cervejinha. Tomar. Ele que está ali. Aquilo relaxa. Esse negócio... Luiz Inácio, nós apenas gostamos de tomar umas, eu e você. Você toma a sua Havana, eu tomo a Mangueira, do Piauí.

            Mas nós não criamos esse negócio não. Outro dia eu pensei, João Pedro, que o vinho era mais velho. Eu comprei um livro lá no Chile, a história do mundo. A cerveja é mais velha. Rapaz, mas que diabo! A gente fica com aquele negócio de Cristo e pensa que o mundo começou com Cristo! Não!

            É porque a água... Nós sabemos que é portadora. A cólera, as doenças quase todas são transmitidas pela água. Então, eles observaram que botando a levedura ela esterilizava. Tinha menos doença. Então, eles vêm tomando cerveja muito antes do vinho, daquele negócio que o Cristo multiplicou.

            Então, isso aí tem. Nós não somos muçulmanos. Eu nem tenho conta. Esse negócio é costume, é educação. Porque, viu, João Pedro, uma vez eu fui convidado com um bicho aí para ir à embaixada da Líbia. E eu estava com um assessor daqueles que gostam de tomar uns e parece que ele tinha uma promessa. Depois de seis horas ele tinha que tomar qualquer negócio. E nada de garçom! Aí, eu cheguei para o embaixador e disse: olha, arruma aí um negócio, porque esse meu assessor tem uma promessa. E ele disse: “Não, não pode! Maomé não deixa.” Aí, eu, no meu espírito brincalhão, disse: Por isso é que eu sou cristão. Cristão é melhor. Ele até multiplicou os vinhos e tal. Aí sabe o que é que ele disse, o gozador? Ele disse: “É, mas nós temos outras compensações.” Aí eu disse: Que compensações? E ele disse: “Olha, lá a gente pode casar quatro vezes.” Mas eu estou satisfeito só com a Adalgisinha e estou dizendo como foi a história.

            Então a nossa cultura é essa! Ô Alvaro Dias, ô João Pedro, V. Exª, que é cabra macho, não tem nenhuma... Eu quero, aqui, que nós analisemos isso. Ele vai vir aqui. Ou vamos ver se a gente enterra, ou se bota uma emenda.

            Onde a rodovia passa há hotéis. Rapaz, olha só que inferno, o cara tem a sua pousada, asfaltada, tradicional. Não vende bebida alcoólica. O cara vai perder o hotelzinho dele, que ele fez. Está sendo perseguido, está sendo preso. Então, a gente tem que ver. Eles estão trabalhando, eles estão corretos. Vamos buscar os responsáveis. Agora, tem um bocado de aloprado aí, que quer estar na mídia. Aí começa a mentir: “Diminuíram os acidentes!”. Diminuiu foi uma ova, estão bebendo aí, quando querem beber! Tem que punir é o motorista. Tem que liberar. Quer dizer, no avião, a gente pode beber, pode tomar, porque somos mais ricos. E os que vão no ônibus não podem.

            Então, eu quero fazer esse apelo. Olha, não tem nenhuma independência, Luiz Inácio. D. Pedro I disse “independência ou morte” sem a independência econômica. V. Exª acaba aloprado, com essa medida provisória que está vindo aí, tornando escravos milhares e milhares e milhares de donos de restaurantes, donos de bares, donos de pousadas, donos de hotéis. Isso eu senti agora e quero entrar no debate. Peço o apoio de V. Exª para refletirmos, porque a nossa missão aqui é dar um basta nesses aloprados; é dizer como Cícero disse: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”.

            Até quando os aloprados vão abusar do nosso Senado com essas medidas provisórias? Que nasça daqui uma lei boa e justa; que se respeitem aqueles que trabalhavam e ganhavam com o trabalho a dignidade e o sustento de suas famílias.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2008 - Página 4356