O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Muito obrigado pelo “benevolente”, Senador Magno Malta. Trago um assunto aqui, Senador Magno Malta, e, como V. Exª está presidindo a Mesa e não poderá me apartear, e como eu sei que o assunto tem residência fixa no seu coração, tomo a liberdade de falar em meu nome e em seu nome também sobre o assunto. Eu havia me comprometido aqui, tempos atrás, de, sempre que possível, intercalar os pronunciamentos das matérias que trago ao Senado Federal com os reclamos daqueles que nos escrevem, mandam e-mails, cartas, por vezes angustiadas, trazendo questões e problemas que os afligem, à sua comunidade ou ao grupo ao qual pertencem.

Trago, hoje, a esta Casa, Senador Magno Malta, um assunto muito importante. Recebi um e-mail da Claudete, datado de 4 de março em que ela - aliás, ela não pede nada para si, não pede nada para o grupamento ao qual pertence - que coisa linda! -,pede que a gente dê atenção e volte os olhos para uma criança abandonada. Aproveito o e-mail enviado pela Claudete para a gente ferir um pouquinho este assunto aqui em plenário.

V. Exª, Senador Magno Malta, que é pai de tantos filhos, que acolhe tantas crianças na instituição que V. Exª dirige, quero dizer que fiquei tocado com o e-mail enviado pela Claudete. Ela nos fala de uma criança, o Tiago, que, há dois anos, foi encontrado sozinho. Olha a carinha dele, Senador Magno Malta (o Sr. Senador Geraldo Mesquita mostra a fotografia da criança); peço a atenção da TV Senado, do jornal do Senado para que focalizem a carinha do Tiago. Ao ver a carinha do Tiago, lembrei-me do meu neto anos atrás. Sr. Presidente, o Tiago foi encontrado sozinho, perambulando por uma região aqui em Brasília, e hoje vive em um abrigo chamado Nosso Lar, no Núcleo Bandeirante. Nosso Lar abriga 70 crianças, dentre elas, órfãs, abandonadas, perdidas...

Senador Mago Malta, esse é um dramas que o País vive. E, V. Exª, aqui, conhece o assunto com muito mais profundidade. É um drama.

A Claudete pede simplesmente - e o abrigo de menores Nosso Lar também faz esse apelo; eu entrei no site do abrigo e colhi informações, e está lá. É verdade. O Tiago está lá, quietinho, comportadinho. Segundo Claudete, ele foi encontrado bem vestido, caladinho, quietinho e sabia dizer apenas o seu próprio nome. Ele não conseguiu dar nenhuma pista da sua origem, da sua família, para permitir que as autoridades encontrassem os seus familiares.

Portanto, hoje, vim à tribuna para, logicamente, em uma comunicação inadiável, já que o nosso tempo é muito curto, fazer esse apelo, Senador Magno Malta, aos nossos instrumentos de comunicação - à TV Senado, ao jornal do Senado e à rádio Senado -, para que possam entrar nessa corrente. Pede-se a quem receber esse e-mail que o passe adiante para quem for possível, na tentativa de que, de uma hora para outra, alguém identifique o Tiago, e consiga localizá-lo nessa instituição, Nosso Lar, situado no Núcleo Bandeirante aqui em Brasília.

Vou fornecer à Mesa da Casa, ao nosso serviço de comunicação, os dados, através dos quais eu entrei no site, colhi a foto ampliada do Tiago. Quem sabe o jornal do Senado, que tantos serviços presta a esta Casa e à Nação brasileira possa estampar a foto do Tiago? Quem sabe a TV Senado que é tão ouvida pelos brasileiros dos quatro cantos do País, quem sabe a gente não possa contribuir para que uma criança, entre as milhares que se encontram numa situação como esta em nosso País, Senador Magno Malta, possa ter a felicidade de reencontrar seus parentes, seus pais, seus irmão - quem sabe ele tem irmãos inclusive.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR-ES) - Senador Geraldo Mesquita, não é praxe, porque o Regimento Interno não permite, que o Presidente faça parte do debate. Mas há momentos na vida em que a graça tem de ser maior do que a lei. Isso é coisa da graça. Graça é favor merecido. A TV Senado tem a obrigação de fazer isso, não somente, ao repetir o pronunciamento de V. Exª, mostrar essa foto; mas, sim, criar algum mecanismo - e acho que deveria fazer isso com mais intensidade. Muita gente gosta de música clássica, mas este é um País que gosta de coisa popular. Quando vejo a TV Senado - e tenho muito respeito por isso - gastando parte do seu tempo mostrando música clássica, penso que a TV Senado poderia estar prestando serviço de utilidade pública. Questiono isso e preciso colocar isso no papel e passar para o Presidente. Lembro-me de que, em outra ocasião, oficiei ao então Presidente da Casa - não a este Presidente - que fizesse matéria com pessoas drogadas, com famílias sofridas, que visitassem os abrigos, as pessoas que recolhem, que dessem uma força grande, que mostrassem a luta que, muitas vezes, parece inglória, das pessoas que recolhem os menos favorecidos nas ruas. “Não, mas não é bem assim..”. Tenho todo o respeito pela música clássica, embora eu goste é de Amado Batista, de música sertaneja, de samba - eu sou brasileiro mesmo, mas tenho todo o respeito por música clássica,. Em mim, isso dói muito. Quer dizer, há um desespero incontido no coração de pessoas que fazem o abrigo. Acerca desse e-mail que ela mandou para V. Exª; há muitos vieses a serem analisados: quem sabe esse menino foi abandonado por autodeliberação de quem não quis ficar com ele. Aí entra outra discussão: a Lei da Adoção, que não oferece facilidades para o cidadão brasileiro. Se uma família aparecer agora e quiser esse menino, eles vão criar todos os entraves do mundo. Mas se uma família estrangeira quiser adotá-lo, estará tudo liberado para levar embora esse menino. A matéria posta por V. Exª, esse e-mail, que parece tão simples, é muito importante. E V. Exª fala pausadamente, como lhe é peculiar, visivelmente conduzido pela emoção do e-mail, pela situação da criança. É assim que o Brasil enxerga isso neste momento, razão pela qual entrei em debate com V. Exª, ainda que o Regimento Interno diga que a liturgia do cargo não permite que o Presidente faça isso, mas digo que há momentos em que a graça tem de ser muito maior do que aquilo que está no texto da lei.

É preciso que os veículos de comunicação cumpram um outro papel. Qual é o problema, por exemplo, de a TV Senado fazer uma matéria lá no Acre, com um Senador que tem um trabalho, há trinta anos, ajudando crianças que vivem no meio do seringal? A luta do Senador Sibá, por exemplo. Aí alguns dizem: isso caracteriza publicidade política. Que história é essa? Que história é essa? Que história é essa? Aí então, com todo o respeito do mundo, vamos ficar fazendo música clássica, quando, na verdade, era preciso prestar um serviço de utilidade pública com essa veemência. Eu acho que esse é um marco. Eu, Presidente da Mesa, vou fazer esse encaminhamento e, quem sabe, esse seja um começo de um dia novo aqui, com este pronunciamento de V. Exª.

V. Exª está de parabéns.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Magno Malta. Há situações na vida que não acontecem por acaso. Não é por acaso que V. Exª está presidindo a Mesa nesse momento. Digo isso porque conheço V. Exª, o que V. Exª faz nessa área, nesse assunto, abrigando jovens no seu Estado, a meninada que vem da droga, e recuperando essa garotada.

Trouxe a questão do Tiago porque, segundo informam o abrigo Nosso Lar e a própria moça que me enviou o e-mail, ele está prestes a entrar em fase de adoção e essa é uma tentativa que se poderia fazer. A hipótese de V. Exª de que ele possa ter sido abandonado deliberadamente pode ser verdadeira ou não. Deveríamos esgotar todos os recursos possíveis para localizar a família do Tiago e, em não sendo possível, rezar para que o Tiago encontre um lar que lhe dê carinho, que lhe dê guarida, que lhe dê amor, que lhe dê conforto.

Encaminho o pedido a V. Exª, e não poderia ir para melhores mãos, Faço votos de que os meios de comunicação do Senado Federal possam divulgar de forma ampla o fato de que essa criança foi achada e está sendo bem tratada no abrigo Nosso Lar, no Núcleo Bandeirante, e que precisa urgentemente de que façam algo para que sua família seja localizada e identificada.

Muito obrigado pela tolerância, Senador Magno Malta.

Passo o material às mãos de V. Exª.