Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcrição de matéria publicada no jornal O Globo, de domingo e segunda-feira, que revela o trabalho humano, vigoroso e corajoso de Dom Eugênio Sales.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcrição de matéria publicada no jornal O Globo, de domingo e segunda-feira, que revela o trabalho humano, vigoroso e corajoso de Dom Eugênio Sales.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/2008 - Página 4479
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, VIDA PUBLICA, EUGENIO SALES, BISPO, DEFESA, DIREITOS HUMANOS, PERIODO, DITADURA, AUXILIO, PRESO POLITICO, HOMENAGEM, CONTRIBUIÇÃO, BRASIL.

O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, muito obrigado a V. Exª.

Venho a esta tribuna para pedir a transcrição nos Anais da Casa de matéria publicada no jornal O Globo, de domingo e segunda-feira, que revela o trabalho humano, vigoroso e corajoso de Dom Eugênio Sales, durante os anos em que vivemos regimes autoritários no Cone Sul.

Sua ação vigorosa e cristã salvou a vida de milhares de refugiados políticos. Ele intermediou, com seu temperamento, solturas e dissuadiu muitas ações militares de perseguição e violência. Dom Eugênio salvou vidas e evitou muitos sofrimentos.

Ele o fez despojado das luzes de quem quer aparecer. Eu sou amigo, há muitos anos, de Dom Eugênio Sales. Com ele tive muitos e muitos encontros, mas nunca ouvi de seus lábios nenhuma referência a esses fatos levados ao conhecimento do País pelo jornal O Globo. Não os anunciava, certamente, porque não era um militante; ele era um homem de ação, ele era um homem de resultados. D. Eugênio exerceu para o País uma função que revela agora o seu temperamento de ser um homem discreto, de ser um homem religioso, de ser um homem cristão, que não queria, de maneira nenhuma, figurar no noticiário. O que desejava era, realmente, cumprir uma missão humanitária, que ele cumpriu muito bem.

O Padre Vieira, Sr. Presidente, tem um sermão -- e eu cito muito o Padre Vieira --, chamado o Sermão da Sexagésima, que ele fez em Lisboa enquanto cumpria a missão no Maranhão. Nos seus livros, ele o colocou em primeiro lugar, entre os sermões que chamava de Quaresmais. Ele diz, nesse sermão, que há dois tipos de sacerdotes: aqueles que pregam pela palavra e aqueles que pregam pela ação -- aqueles que não têm outra finalidade senão aquela de, pelas obras, darem os seus exemplos.

Nesse sermão, o Padre Vieira desenvolve um tema baseado no Velho Testamento, em que ele pega aquelas palavras que lá estão escritas que diz: do semeador que vai a semear. Ecce exiit qui seminat, seminare. Sai o semeador para semear. Percebemos que Padre Vieira distingue: o semeador e o homem que semeia, que não são a mesma coisa. O semeador é uma palavra, mas o homem que semeia é o homem de ação. Dom Eugênio, na realidade, encarna aquilo que Padre Vieira, no Sermão da Sexagésima, falava sobre os pregadores. Ele era o homem da ação; ele não era somente o homem da palavra.

Dom Eugênio está colocado entre os nomes maiores da Igreja do Brasil. O que O Globo revelou foi uma ação persistente, uma ação continuada, uma ação difícil naqueles tempos, mas que demonstrava aquilo que Dom Eugênio sempre teve: a coragem moral. Por isso mereceu o respeito do País e dos seus superiores, com os cargos que ocupou no Vaticano e a ação que desenvolveu no Brasil não só como pregador, mas também como escritor, um homem que constantemente está exercendo o direito de dar seus pensamentos.

Agora, Dom Eugênio é um homem que já envelheceu. Outro dia, ele me dizia que, nas suas noites, na sua solidão, no Palácio São Joaquim, passa a noite ouvindo os tiros das metralhadoras, daquela coisa terrível que é aquela guerra que se trava entre traficantes e criminosos nas favelas do Rio de Janeiro. Ele me disse: “Eu, hoje, só tenho, para cumprir com meu trabalho, a minha oração.”

É esse homem que envelhece e que ainda está com os ouvidos abertos para essa luta da violência urbana. É um homem, portanto, que merece nosso respeito e a nossa admiração. Devemos nos orgulhar de ter no Brasil um homem da dimensão moral e pessoal, com a história de Dom Eugênio Sales.

Portanto, este é o sentido das minhas palavras: pedir que fique nos Anais desta Casa esse documento da História do Brasil.

Muito obrigado a V. Exª. Desculpe-me se ultrapassei os três minutos.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JOSÉ SARNEY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

O Vaticano pediu e eu preteria dialogar e salvar;

Igreja Católica do Brasil se opôs à da Argentina;

O General do Papa; e

CNBB: Dom Eugênio deu unidade à Igreja brasileira;


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/2008 - Página 4479