Discurso durante a 18ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao eminente brasileiro Senador Jonas Pinheiro, que exerceu importantes cargos, dedicando sua vida pública a serviço do País e em defesa da agricultura brasileira.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao eminente brasileiro Senador Jonas Pinheiro, que exerceu importantes cargos, dedicando sua vida pública a serviço do País e em defesa da agricultura brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/2008 - Página 3982
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JONAS PINHEIRO, SENADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, REPUTAÇÃO, SENADO, COMENTARIO, SUPERIORIDADE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, FUNERAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gilberto Goellner, que preside esta sessão destinada a homenagear o Senador Jonas Pinheiro; Senador Maguito Vilela, V. Exª representa - Deus escreve certo por linhas tortas - muito bem todos os Senadores que passaram por aqui. Sua simplicidade e seu amor aos mais humildes lhe dão essa representatividade.

As autoridades presentes são tantas... Eu prefiro saudar, então, só a esposa de Jonas Pinheiro, Celcita.

Isso é muito significativo para mim. Eu perdi meu pai na véspera de uma eleição e, depois, perdi a eleição para Prefeito da cidade. Nem senti, porque... Ele, fisicamente, até se assemelhava a Jonas. Meu pai era humilde, minha mãe, intelectual. Eu digo aqui que ela deixou um dos escritos mais importantes da literatura do Brasil.

Minha mãe tem livros publicados pela Vozes, como A Vida é um Hino ao Amor. Ela escreveu, ô, Jayme Campos, eu fico encantado: Nossa Senhora, a Viúva. Eu nunca vi isso. Eu já li muitos livros sobre Nossa Senhora. Então, minha mãe, uns quinze anos depois - eu já era Governador - faleceu. Então, ela escreveu: Nossa Senhora, a Viúva. Esse sofrimento de mulher.

A imagem, até fisicamente, e a simplicidade de Jonas me lembram meu pai.

Deus - agradeço a Deus que tem sido muito bom para mim - me colocou detrás do Jonas, como se fosse ele uma luz a nos guiar. Ali detrás, cinco anos ali, e eu atrás dele.

Lembro-me de que eu e o Maguito... Maguito é uma figura extraordinária. Poucos homens têm a decência, a dignidade e a correção do Maguito. Fui Governador na mesma época que ele. Aliás, quando fui eleito, eu estive em Goiás aprendendo a governar com Iris Rezende e com a equipe do Maguito. Mas o Maguito, na eleição do Presidente Luiz Inácio, “lulou” totalmente, com as suas razões, e eu “deslulei”. Eu votei em 1994 em Luiz Inácio. E eu brincava: esse PMDB devia ter candidato. Como eu tinha vontade de ser candidato contra esse Luiz Inácio! Aí abracei Rigotto, Garotinho, Itamar, Pedro Simon e nada do PMDB. E o Maguito “lulando”, com suas razões.

Eu me lembro que, brincando, eu disse: eu queria ser candidato contra esse Luiz Inácio. Vi que todo mundo ficou incrédulo e eu disse: não, eu faria um governo melhor porque o meu secretário de agricultura já está aqui. Era o Jonas. Assim, já teria resolvido a metade dos problemas do Brasil. Mas Deus chamou o Jonas para Ministro seu. É muito mais forte do que a gente, e Deus é quem sabe das coisas. Essa é a verdade.

A minha mãe me ensinou a ler muito - ela era intelectual - e eu li um pensamento, ô Jayme Campos. E o Jonas foi um dos servidores deste Senado que mais serviços prestou. Deus escreve certo por linhas tortas. Eu vi o sofrimento da minha mãe. Hein, Celcita? Deus é que sabe das coisas. Diz a história que Deus mandou seu filho, que se sacrificou, para nos salvar depois de muitas tentativas que não deram certo, como o dilúvio. Mandou o Cristo, e todos tiveram a esperança de chegar à casa do Pai, como Ele prometeu.

E Jonas? Todos nós sabemos a figura.

Eu me lembro que eu aprendi de um filósofo, ô Jayme Campos. Lacordaire é o nome. Outro dia, um jornalista me perguntou: “Mas por que você diz nome?” E foi porque eu troquei um - às vezes, a gente troca. Eu disse: é porque, depois, um conhece a frase e vai dizer que eu estava roubando, pois a frase é de Fulano de tal. Assim, foi Lacordaire que disse: “A humildade une os homens; o orgulho divide os homens”. Então, eu aprendi e percebi que o filósofo estava certo.

Maguito, tenho saudade de você, quando você era Presidente do PMDB. Maguito, eu fui ao enterro, eu lutei para ir ao enterro. Aqui está o livro do Ramez Tebet, que eu recebi da viúva, também um grande amigo, lá do Mato Grosso. Eu telefonei cedo e a resposta foi que não, o vôo estava lotado. O avião era pequeno. Eu disse: “Que negócio é esse? Que está lotado o quê? O Senado gasta tanto dinheiro aí. Vamos embora, eu quero um lugar. Recorri ao PFL, ao José Agripino, ao Heráclito. Que diabo é isso, Heráclito? Seu partido... Me dê um lugar aí. Não foi nada não. Aí isso chegou até o Luiz Inácio. Eu agradeço, viu, Maguito? Aí ele viu o problema. E disseram: “O Mão Santa está criando caso aqui, porque ele quer ir e não tem mais lugar, por que vamos num aviãozinho pequeno”. Aí ele cedeu o Sucatão, aquele que foi do Fernando Henrique. Mas está novinho, está bom. Aí encheu.

Mas eu fui porque a Bíblia diz:”Alegrai nos momentos de alegria, e chorai nos momentos de tristeza”. E era o Jonas, que Deus botou na minha frente. Eu considero isso um simbolismo. Eu não posso esquecer esses cinco anos. E não vou reviver os diálogos, porque cada um tem muita história. Mas aí nós fomos.

Então, este Senado da República deve a Jonas, como nós devemos a Deus esperança de chegar aos céus com Cristo. Este Senado estava vivendo maus momentos. Nós sofremos. Houve discursos bem ali na Câmara para fechar o Senado. Na Câmara, que não tem condição nenhuma. Aonde chegou o nosso desgaste? Houve pesquisas outro dia. E nós vivíamos o momento. Eu sempre dizia que nós nos esforçávamos, que aqui isso era complicado.

Para o Senadinho de Cristo, ele convocou só doze e deu confusão. Não deu confusão no Senadinho de Cristo? Não eram doze? Rolou dinheiro. Houve confusão. Aqui tinha que dar confusão.

Eu via os homens; eu via todo dia, na minha frente, a dignidade, o respeito, a decência de um homem que falava pouco. Ramez Tebet falava muito, mas muito bem; era um grande orador. Jonas, característica diferente, mas era igual para o Brasil.

Num momento de maior desgaste desta Casa, dos políticos, segundo as pesquisas, que eu relegava, não acreditava, e nós chegamos lá no Sucatão que o Luiz Inácio nos emprestou. Depois, Maguito, chegou o peemedezinho alugado e nem me convidaram. Estou com saudade de você. Chegaram lá isolados e foi bom porque eles ficaram assim... Mas estavam lá.

Então, um quadro vale por dez mil palavras. Jonas mudou a imagem, Jonas trouxe a verdade. Esta é uma Casa que merece ser respeitada. Essa foi a missão de Jonas.

Eu vi o povo chorar, ô Maguito. Era muito choro. A gente ficava até constrangido... O momento, emoção, enterro... Até os céus do Mato Grosso choraram: chovia. A chuva era um choro. O povo na rua, na chuva.

Senador da República! Atentai bem, Brasil! Esse é o verdadeiro conceito. Essa é a pesquisa. Eu vi e chorei. O nosso Presidente - eu sou vizinho dele, o Garibaldi é um irmão meu, eu tenho até um livro dele, de oratória, que eu roubei da coisa... - olha, baixou o Espírito Santo, fez o discurso mais bonito da vida dele. Aquilo foi negócio do Espírito Santo. O Garibaldi é meu vizinho. Baixou... Ganhou de Marco Antonio se despedindo de Júlio César, descrito por Shakespeare. Lembro-me que aí ele comoveu a todos. E as batalhas que tinha? Ele conviveu, em outros mandatos de Senador, com ele. Dizia que trabalhaste muito, luxaste muito, não tiveste tempo de descansar. E Deus: parta! Deus está te chamando para descansar do trabalho que fizeste pelos pequenos. E sou testemunha. Fiz alguns discursos contra a perversidade dos bancos negociando com os pequenos agricultores. Ele era um Papa aqui, era ele que me instruía. Ele me dava os dados e eu vinha à tribuna, nessa negociação. Naquela perversidade dos banqueiros, tomando os carros de boi, os móveis, os bodes, os bezerros, era ele que nos comandava. Muitos dos discursos não fui eu que fiz. Ele dizia os dados, eu o lia, e ele: “Va’mbora!” E foi uma luta bonita. Então, é aquele quadro: o mato-grossense-do-sul, o Mato Grosso e o Brasil respeitam o Senador da República.

E essas pesquisas fajutas do Executivo tentando nos desmoralizar? Não! Está ali Jonas. Eu vi o povo chorar.

Permito-me terminar agora.

Um filósofo disse que, nesta vida, ô Flexa Ribeiro, o mais que a gente consegue, quando dela saímos - a gente vem ao mundo sorrindo, todos alegres à nossa espera, em torno de nós -, é que o riso e o encanto passam ao choro e às saudades. Isso ele conseguiu, isso eu vi muito. Eu fiz muito parto, fiz cesariana. É alegria da mãe e até do médico. E vi o Jonas conseguir isso.

Agora, este Senado da República é tão grandioso, ô Maguito, que não precisamos buscar exemplo em outras histórias e em outros senados. Está ali Rui Barbosa. Maguito, V. Exª representa aqui a grandeza, a luta política. Perder eleição, Rui Barbosa perdeu mais do que você - Maguito, não se apavore - e ele está aí em cima. Não se pode é perder a dignidade e a vergonha.

Nós temos de fazer uma homenagem, e não essas palavras. As palavras vão, e agora é que começou. Está aqui um livro que, ontem, a viúva de Ramez Tebet me mandou. Nós - não o Mato Grosso do Sul, não o outro Mato Grosso, mas o Brasil todo - temos de tornar uma homenagem eterna daquele exemplo de humildade que une os homens. Olhe, passou um Senador aqui, ô Maguito, O Dinarte Mariz - não sei se você o conheceu. Ele foi governador e se encantou com isso aqui. Disse que aqui é mesmo como o céu, é até melhor porque não se precisa morrer. Eu não tenho esse conceito, não. Mas de uma coisa tenho certeza e digo aqui- acredito no céu, nós somos cristãos: se Jonas não for para o céu, nenhum de nós vai. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/2008 - Página 3982