Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação em defesa de Brasília e repúdio ao artigo do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, intitulado "Brasília, essa Desgraceira", publicado na revista Veja. (como Líder)

Autor
Adelmir Santana (DEM - Democratas/DF)
Nome completo: Adelmir Santana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. POLITICA URBANA. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • Manifestação em defesa de Brasília e repúdio ao artigo do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, intitulado "Brasília, essa Desgraceira", publicado na revista Veja. (como Líder)
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2008 - Página 4544
Assunto
Outros > IMPRENSA. POLITICA URBANA. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • REPUDIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AMPLIAÇÃO, CONCEITO, CORRUPÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CRITICA, PLANO URBANISTICO, CIDADE, REPETIÇÃO, POLEMICA, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL, ESCLARECIMENTOS, IMPORTANCIA, REGIÃO, FAVORECIMENTO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, INTEGRAÇÃO, PAIS, COMENTARIO, DIVERSIFICAÇÃO, CULTURA, POPULAÇÃO.
  • DETALHAMENTO, INICIATIVA, GOVERNADOR, PRESERVAÇÃO, SUPERIORIDADE, INDICE, QUALIDADE DE VIDA, AUMENTO, SISTEMA, SANEAMENTO BASICO, INVESTIMENTO, COMUNIDADE, POPULAÇÃO CARENTE, FINANCIAMENTO, MUNICIPIOS, ENTORNO, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF. Pela Liderança do DEM. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde segunda-feira, não param de chegar e-mails a minha caixa postal do Senado enviado por brasilienses indignados com artigo do brilhante articulista Roberto Pompeu de Toledo, publicado na Revista Veja desta semana.

O artigo intitulado “Brasília, essa Desgraceira” classifica a Capital do País como corrupta e corruptora; critica o plano urbanístico da cidade e diz que a cidade expulsou os pobres para o submundo das cidades-satélites e favelas.

Ora, Sr. Presidente, não é possível que quase 50 anos depois da inauguração de Brasília, a transferência da Capital Federal ainda seja objeto de falsas polêmicas.

O argumento é o mesmo usado quando Juscelino Kubistchek decidiu construir a cidade no meio do ermo. Como disse o poeta Vinícius de Moraes, Brasília está distante dos centros urbanos centenários localizados próximos à costa.

Esqueceram de dizer que o Brasil não era melhor quando vivia apenas à beira-mar. Ao contrário, na minha visão, era pior.

Não lembraram que Brasília foi construída não pelo capricho de ser a capital moderna, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, mas para ser um vetor de desenvolvimento nacional. E que esse objetivo foi alcançado não apenas abrindo a nova fronteira agrícola, representada pela Região Centro-Oeste, mas com a criação de novos pólos comerciais e industriais.

Ainda há quem diga que Brasília não tem gente. Não conhecem a nossa personalidade, formada e adquirida em menos de cinco décadas, a partir do caldo de cultura de brasileiros de todos os Estados que vieram para cá.

Brasília hoje é um retrato do Brasil. E não está restrita apenas à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes. Brasília não perde para nenhuma outra capital brasileira.

Ao contrário. Em muitos aspectos, está bem à frente de outras cidades. Se fosse tão ruim morar em Brasília, como afirmou o articulista Roberto Pompeu de Toledo, Brasília não teria a maior expectativa de vida do País, de acordo com o IBGE.

Infelizmente, a nossa Capital tem problemas como todas as grandes cidades brasileiras. Mas são problemas que ainda não estão sedimentados e podem ser combatidos, como está sendo feito pelo nosso Governador José Roberto Arruda, que não tem medo de assumir medidas impopulares, desde que sejam para o bem da sociedade como um todo e a garantia de uma sociedade mais organizada no futuro.

Em Brasília, as ilegalidades estão sendo combatidas. A cidade está sendo organizada, mesmo que a custa de muito desgaste político, pois derrubar construções irregulares, impedir o comércio ilegal e fiscalizar as leis urbanas não apenas são medidas duras como contrariam interesses imediatos, sem compromisso com o futuro da cidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouso dizer que Brasília tem dado diversos bons exemplos ao País.

Somente aqui, o motorista respeita a faixa de pedestre - e aqui quero dizer que a implantação desse projeto ocorreu na gestão do ilustre Senador que está aqui conosco, Senador Cristovam Buarque. Em Brasília, o pedestre tem prioridade. Fato que, inclusive, foi elogiado pelo Sr. Roberto Pompeu de Toledo, em artigo publicado em outubro de 2007. Educação no trânsito resulta em menos acidentes e menos atropelamentos.

É com orgulho também que anuncio que, em poucos meses, o Distrito Federal será a primeira Unidade da Federação a oferecer água e esgoto tratados em 100% das residências.

Brasília, como acontece em todo o Brasil, é dividida por um imenso fosso social. É uma cidade desigual, como o Brasil é um País desigual. Mas o governo local tem investido pesado nas áreas mais pobres.

As áreas degradadas, invasões que surgiram a partir da falta de fiscalização dos governos que passaram pela cidade, estão sendo transformadas em cidades. São localidades como Pôr do Sol, Sol Nascente, Arniqueiras, Vila São José, Porto Rico, Itapoá, todas com nomes que remetem ao paraíso, mas, na verdade, sem as menores condições de abrigar as milhares de famílias que se amontoam em barracos paupérrimos.

Os moradores vão ganhar água potável, esgoto, captação de água pluvial, asfalto, meios-fios e calçadas. Duzentos e oitenta e sete milhões de reais estão sendo investidos apenas nessas áreas degradadas.

Outro programa, igualmente em execução, aplica R$67 milhões na urbanização de outras duas localidades paupérrimas: Vila Estrutural e Varjão.

O compromisso do governo do Distrito Federal, Sr. Presidente, com o futuro vai além das fronteiras geográficas. Estão sendo investidos R$30 milhões em cidades goianas que formam o Entorno do Distrito Federal. E é bom lembrar que os moradores dessas cidades usam os serviços públicos do Distrito Federal, numa conta que alcança dezenas de milhões de reais.

Sr. Presidente, o Distrito Federal tem desigualdades, sim, desigualdades sociais imensas, como todos os Estados brasileiros, mas essas desigualdades estão sendo efetivamente combatidas pelo governo local.

Nos próximos meses, mais de 100 mil famílias serão assistidas pelo programa social do GDF que, ao contrário do que acontece comumente, oferece oportunidades para as pessoas mudarem de vida e não apenas de receber esmolas.

Também este ano Brasília inaugurou o programa de educação integral. Sr. Presidente, já estou concluindo. Já há escolas funcionando o dia todo, tirando as crianças das famílias mais carentes da rua. Mais uma vez, Brasília é exemplo para o País em questão de educação.

Entre as capitais brasileiras, Brasília apresenta a melhor média de freqüência escolar do País. Alem disso, em quatro anos, o programa de erradicação do analfabetismo vai zerar o analfabetismo no Distrito Federal.

Outro dado importante: só aqui, no Distrito Federal, as crianças entram na escola aos seis anos de idade. Nos demais Estados, elas começam a estudar a partir dos sete anos. E mais: 99% das crianças do Distrito Federal estão na escola.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não sei se V. Exª permite apartes. Se V. Exª me der um minutinho a mais...

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Pela ordem. É possível, Presidente? Para fazer um ligeiro comentário, porque meu assunto inclusive se refere...

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - V. Exª pode fazer o aparte.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Está bem. Eu lhe agradeço, porque eu não podia deixar passar em branco meus cumprimentos ao nosso grande Senador Adelmir Santana, que defende Brasília. Fico feliz ao ouvir seu discurso e quero dizer que eu gostaria de assiná-lo embaixo. V. Exª precisa distribuí-lo em todo o Distrito Federal e onde for possível no Brasil. O jornalista Pompeu de Toledo já fez muitos elogios a Brasília, como V. Exª mesmo falou. Na verdade, entendo que ele quis falar da Brasília da política, em que a maior parte dos habitantes vem de fora fazer política aqui. Essas pessoas são eleitas pelo resto do Brasil. Aqui, só há 11 parlamentares, e aí saiu a confusão com a outra Brasília, da qual V. Exª trata. Estou satisfeito e acho que nós, aqui, deveríamos, a cada dia, falar sobre essa outra Brasília, a Brasília de quem mora aqui, da metade que já nasceu aqui, que faz a vida aqui, e não a política aqui.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF) - Agradeço o aparte de V. Exª e quero dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que Brasília é motivo de muito orgulho para quem mora aqui.

Pessoas como o Rigoberto Alves Borges, morador de Taguatinga, foi um dos muitos brasilienses que ficaram indignados com o artigo publicado na revista Veja. Os detratores de Brasília gostam de dizer que a cidade representa uma utopia, mas é hora de dizer “chega” para a utopia. É hora da realidade, do trabalho sério para vencer as dificuldades.

Ao contrário do que disse o Sr. Roberto Pompeu de Toledo, Brasília tem uma história própria, uma história de heroísmo, audácia, determinação e um espírito do pioneirismo épico. Não só por sua grandiosidade arquitetônica, mas, principalmente, pelas pessoas dignas e trabalhadoras que vivem aqui, Brasília merece mais elogios do que críticas infundadas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2008 - Página 4544