Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise do comportamento de Hugo Chávez e suas ligações financeiras com os narcoguerrilheiros.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Análise do comportamento de Hugo Chávez e suas ligações financeiras com os narcoguerrilheiros.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2008 - Página 4982
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APOIO, PROPOSTA, BRASIL, GOVERNO ESTRANGEIRO, CHILE, ENCAMINHAMENTO, MISSÃO, ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA), FRONTEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, EQUADOR, COLOMBIA, OBSERVAÇÃO, CONFLITO, CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, DIPLOMACIA.
  • ANALISE, CRITICA, ATUAÇÃO, HUGO CHAVEZ, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, VENEZUELA, INCENTIVO, CONFLITO, INTERFERENCIA, INVASÃO, TERRITORIO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, EQUADOR, PERSEGUIÇÃO, GRUPO, GUERRILHA, REPUDIO, TENTATIVA, CHEFE DE ESTADO, DEFESA, TERRORISTA, MORTE, OPERAÇÃO.
  • COMENTARIO, PROVA, APOIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, VENEZUELA, EQUADOR, GRUPO, GUERRILHA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, PROMOÇÃO, DESEQUILIBRIO, AMERICA DO SUL, EXPECTATIVA, ORADOR, ISENÇÃO, ATUAÇÃO, BRASIL.

         O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, merece apoio a proposta anunciada nesta terça-feira, em conjunto, pelo Chile e Brasil, de enviar uma missão da OEA, a Organização dos Estados Americanos à fronteira entre o Equador e a Colômbia, para verificar o conflito entre os dois países. É bem vinda qualquer iniciativa que possa contribuir, pela via diplomática, para reduzir as tensões e eliminar a possibilidade de um conflito armado na região.

         Mas também merece nossa atenção e análise o comportamento dos personagens desse lamentável episódio, no qual acabou se envolvendo, como já era previsível, a Venezuela do coronel Hugo Chávez, hoje um digno portador do título de incendiário-mor da América Latina.

         É fora de dúvida que as forças de segurança colombianas violaram a integridade territorial do Equador, em sua perseguição aos terroristas das Farcs, as “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”. A incursão resultou na morte do segundo homem na hierarquia da organização atentou contra a soberania equatoriana.

         Mas está comprovado que, assim que soubesse das conseqüências da operação militar, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, telefonou para o seu colega equatoriano, Rafael Correa, para explicar o que acontecera e pedir desculpas. Jornais citam fontes do governo colombiano, segundo as quais a conversa foi “calma e franca”. Correa teria admitido que as Farcs estavam infiltradas em seu país. Em resumo, tudo parecia encaminhar-se para uma solução rápida e civilizada, sem retórica belicosa, ameaças mútuas e deslocamento de tropas.

         Mas eis que entrou em cena um terceiro presidente. O incidente não ocorreu nas fronteiras do seu país, ninguém pediu sua opinião ou interferência. Mas, fiel ao seu hábito de instigar conflitos, ou inventá-los quando inexistem, ele não perdeu tempo em meter seu nariz onde ninguém o tinha chamado.

         Trata-se, é claro, de Hugo Chávez. Sua primeira providência foi telefonar para Rafael Correa. Operou-se, depois dessa ligação, uma transformação notável no ânimo do presidente do Equador. Ele rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, despachou tropas para a fronteira e passou a chamar a incursão colombiana de “agressão inaceitável”.

         Como não poderia deixar de acontecer, o coronel Chávez contribuiu com generosas cotas adicionais de gasolina, lenha e todo o tipo de material combustível para aumentar as dimensões da fogueira. Deslocou 10 batalhões para a fronteira com a Colômbia, retirou o embaixador venezuelano naquele país, tirou do seu arsenal retórico as frases costumeiras, chamou, com elegância e diplomacia que lhe são peculiares, o presidente Uribe de “cachorro”...

         Mas o que nos deve deixar estarrecidos foi a iniciativa de pedir um minuto de silêncio em homenagem póstuma ao segundo homem das Farcs, Mamuel Reyes, que chamou de “um bom revolucionário, covardemente assassinado”.

         O “bom revolucionário” era vice-líder de um bando de terroristas e traficantes de drogas que lutam contra um governo democraticamente eleito, governo que pode orgulhar-se de contar com o apoio de praticamente todo o povo colombiano.

         O “bom revolucionário” cuja a morte o coronel Chávez lamentou tinha contra si - a informação é da Procuradoria Geral da Colômbia - mais de 100 processos por crimes como terrorismo, seqüestro e assassinatos. Já tinha sido emitidas contra ele cerca de 30 ordens de prisão.

         O “bom revolucionário” era acusado pelo Departamento de Estado americano de ser o principal responsável pela expansão do tráfico de cocaína para os Estados Unidos. Por sua captura uma recompensa de 5 milhões de dólares.

         A que ponto chegamos, quando um traficante de drogas, que arruína vidas, seqüestra, tortura e mata representantes do povo, camponeses, crianças - um homem se escrúpulos, um bandido comum, alguém que despreza a vida e a dignidade humanas - é promovido a “revolucionário”?

         Se esta crise, lamentáveis sob todos os aspectos, está servindo a algum propósito, é o de tornar ainda mais evidente algo que todos já sabíamos: o crescente comprometimento dos governos da Venezuela e do Equador com as Farcs. Acuadas pelo exército e pelas forças especiais colombianas, elas estão recuando rumo à fronteira com os dois países, e encontrado, além de abrigo, aparentemente também apoio financeiro e logístico.

         Denúncias gravíssimas foram feitas pelo chefe de polícia da Colômbia, com base em documentos e computadores encontrados em acampamentos de Raul Reyes. Segundo ele, a Venezuela, há pouco tempo, pagou 300 milhões de dólares às Farcs. O ministro equatoriano de Segurança, em reuniões com a cúpula da organização criminosa, e teria manifestado interesse em “oficializar relações” com a guerrilha. Cartas trocadas entre os bandidos indicaram o interesse em comprar 50 quilos de urânio - para fabricar uma bomba nuclear?

         Finalmente, outro arquivo de computador indica que as ligações financeiras de Hugo Chávez com o narcoguerrilheiros vêm de longe, de 1992, época em que ele estava preso por chefiar uma tentativa de golpe de estado. Reyes, numa mensagem, diz que Chávez ficou grato pelo US$150 mil que recebeu quando estava na prisão.

Este é o homem que se intitula portador da herança de Simon Bolívar, o libertador de vários territórios da América espanhola. Se há algum agente de instabilidade em território latino-americano, além da Farcs, é Hugo Chávez. Em nome da sensatez - e da paz no continente -, fariam bem os governantes que procurassem imitá-lo nem seguissem suas sugestões. Empenhado numa corrida armamentista, cercado de amigos de reputação duvidosa, ele não esconde sua ambição de torna-se líder continental. Se o Brasil souber exercer um papel de equilíbrio, agindo com decisão para mediar conflitos, poderá neutralizar com êxito a influência exercida por um governante tão nocivo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2008 - Página 4982