Discurso durante a 30ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à forma usada pelo governo para aprovar a criação da TV pública.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA ENERGETICA.:
  • Críticas à forma usada pelo governo para aprovar a criação da TV pública.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2008 - Página 5970
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANTECIPAÇÃO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, PAULO PAIM, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DEFESA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • HOMENAGEM, MÃE, MÃO SANTA, SENADOR, ELOGIO, ATUAÇÃO, RELIGIÃO, LEITURA, PRECE, AUTORIA, SANTO PADROEIRO, IMPORTANCIA, COMPROMISSO, NATUREZA.
  • DEFESA, ATENÇÃO, SOBERANIA NACIONAL, REGIÃO AMAZONICA, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, ELOGIO, GESTÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), REPUDIO, VETO PARCIAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, OBRIGATORIEDADE, SENADO, APROVAÇÃO, CONCESSÃO, AREA, FLORESTA, SETOR PUBLICO.
  • REPUDIO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, PROCESSO.
  • SAUDAÇÃO, DECISÃO, CASA CIVIL, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), EXPLORAÇÃO, CARVÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • QUESTIONAMENTO, AUTORITARISMO, UTILIZAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ESPECIFICAÇÃO, CRIAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, EXECUTIVO, AUSENCIA, CRITERIOS, URGENCIA, REPUDIO, DISPENSA, CONCURSO PUBLICO, NOMEAÇÃO, DIRETOR, JORNALISTA, DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ELEIÇÕES, PROTESTO, ATUAÇÃO, LIDER, GOVERNO, IRREGULARIDADE, VOTAÇÃO.
  • IMPORTANCIA, TELEVISÃO, SETOR PUBLICO, ATENDIMENTO, DIVERSIDADE, REGIÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, ASSISTENCIA, DESENVOLVIMENTO POLITICO, ALTERNATIVA, FALTA, ETICA, PROGRAMAÇÃO, TELEVISÃO ABERTA, SUGESTÃO, EMISSORA, SENADO, ELABORAÇÃO, FILME DOCUMENTARIO, BIOGRAFIA, PEDRO II (PI), VULTO HISTORICO.
  • DISCORDANCIA, ACORDO, LIDER, VOTAÇÃO, MATERIA, DESCONHECIMENTO, SENADOR, ESPECIFICAÇÃO, LIBERAÇÃO, RECURSOS, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), EXTINÇÃO, SANATORIO, DEFESA, ALTERAÇÃO, REGIMENTO INTERNO, ADAPTAÇÃO, PLURIPARTIDARISMO, MELHORIA, USO DA PALAVRA, APRESENTAÇÃO, SUGESTÃO.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONTRADIÇÃO, ALTERAÇÃO, POSIÇÃO, REFERENCIA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), COBRANÇA, ORADOR, PROVIDENCIA, CONGRESSO NACIONAL.
  • ANALISE, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, BRASIL, DIFERENÇA, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Em primeiro lugar, Presidente, minhas felicitações pelo aniversário de V. Exª, 58 anos. Ah, que saudades tenho dos meus 58 anos!

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Quero dizer que o meu primeiro voto foi para V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

A informação que eu tive é de que V. Exª nasceu exatamente no momento em que o Brasil furou o primeiro gol contra a Suécia.

V. Exª nasceu predestinado. Primeiro campeonato do mundo. V. Exª é um símbolo da dignidade, da seriedade, da honorabilidade. V. Exª é uma dessas pessoas que, temos a obrigação de reconhecer, vieram predestinadas. V. Exª, eu tenho dito, marcou; mudou os rumos desta Casa. Antes de V. Exª vir aqui, não se assistia a uma reunião como a de ontem. Reuniões em que se discutia o direito da luta contra o trabalho escravo; o direito da luta a favor dos aposentados; o direito da luta pela liberdade racial. V. Exª é um grande símbolo. Tenho muito orgulho de ser amigo de V. Exª. Tenho dito que, mais uma vez, coincidentemente, é um gaúcho da minha terra, Caxias. É um gaúcho que lidera esta grande caminhada pelos direitos, pela luta contra os problemas sociais; pela luta a favor da igualdade racial e pela grandeza de representar o que de mais belo e puro nós temos. Meus cumprimentos. O Brasil inteiro o felicita. Amanhã é para nós um grande dia. Gostaria de saber onde será a festa porque, se eu não o atrapalho, irei lhe dar um abraço pessoal que, de qualquer maneira, já estou dando pessoalmente neste momento.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Se me permite, Senador Simon, no dia 30, lá em Canoas, no galpão da Ulbra, que cedeu o espaço, vamos festejar meu aniversário, e quero aqui de público dizer que terei a maior honra se o senhor puder comparecer.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E quero dizer de público que estarei lá. O SR.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - O Senador Mão Santa também está convidado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E vou levar o Mão Santa, que está me devendo uma visita ao Rio Grande do Sul. Dia 30 estaremos lá, no aniversário do Paim.

Mão Santa, eu vou dizer aqui: eu tenho muito medo de dizer, fugir do estilo da tribuna parlamentar. Eu tenho muito receio, eu meço as minhas palavras. Mas V. Exª fala, fala, fala, e eu tenho obrigação de salientar um aspecto: eu recebi um livro escrito pela mãe de V. Exª, Ministra da Ordem Terceira de São Francisco, exatamente lá no Piauí. Os telespectadores, convém que compreendam: Francisco de Assis foi considerado o homem do segundo milênio. O mundo inteiro, várias congregações disseram que do ano mil até o ano dois mil a pessoa mais importante que nasceu foi São Francisco de Assis. Ele criou a Ordem dos Franciscanos, dos Capuchinhos, a Ordem das Clarissas junto com Santa Clara. Mas criou outra ordem. Era tão crescente o número de pessoas que queriam entrar para a Ordem de São Francisco que ele criou a chamada Ordem Terceira, hoje Ordem Secular. São pessoas casadas, advogados, engenheiros, operários, trabalhadores, médicos, que ficam na sua profissão, mas se reúnem em torno dos princípios da Ordem Terceira de São Francisco.

Essas ordens têm um chefe que elegem de dois em dois anos, e a essa pessoa nós damos o nome de Ministro da Ordem. Sua mãe foi essa pessoa. Foi uma pessoa extraordinária. Eu li e reli o livro dela. Fiz cópia e doei para o meu grupo. Na Igreja Santo Antônio, todos têm a cópia do livro da mãe de V. Exª, que é realmente uma pessoa admirável na sua pureza, na sua grandeza, na visão do próximo, na visão de como devemos ter a nossa passagem por essa vida, na importância à graduação das questões. O que é mais importante para a sua mãe? O importante era Deus, era o próximo, era poder ajudar, era poder colaborar, era poder sentir que aquilo que ela tinha, ela faria a favor do seu semelhante.

Veja: se todo mundo fosse um pouco semelhante à sua mãe, se cada um, dentro da sua capacidade, desse uma parte daquilo que ele é para o seu semelhante... Eu vou ler, em homenagem à sua mãe, que V. Exª cita tanto, uma das peças mais lindas da poesia de São Francisco de Assis, Cântico ao Irmão Sol, que V. Exª cita tanto. Vou citá-la na íntegra:

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,

Só a ti o louvor e a glória

E a honra de toda bênção.

Só a ti, Altíssimo Senhor, se devem;

E humano não há que seja digno

De mencionar teu nome.

Louvado sejas, meu Senhor,

No conjunto de tuas criaturas,

Com o senhor Irmão Sol principalmente

Que por ele nos vem o dia

E com sua luz nos alumia.

E tão belo que é,

Tão radioso e de tanto esplendor:

Que traz de ti, Altíssimo, um sinal.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela Irmã Lua e as Irmãs Estrelas,

Que no céu tu criastes

Resplendentes e valiosas e lindas.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo Irmão Vento,

O ar e a nuvem

E o tempo sereno, e todo o tempo,

Pelo que dás de alento às criaturas.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Água,

Que é tão útil e humilde,

E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Fogo,

Com o qual as noites alumias.

Como é belo, jucundo,

E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã nossa a Terra mãe,

Que nos sustenta e governa,

E gera tão diversos frutos,

E matizadas flores e verduras.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelos que por Teu amor perdoam,

E enfermidades e aflições suportam.

Bem-aventurados os que sofrem em paz,

Pois coroados por ti serão, Altíssimo.

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a Morte corporal,

Da qual humano algum pode fugir.

Ai daqueles que morrem em pecado mortal!

Felizes os que a morte encontra

Conformes à Tua altíssima vontade,

A esses não fará mal a segunda morte!

Louvai e bendizei ao meu Senhor,

E dai-lhe graças,

E servi a Ele com grande humildade.

Essa é uma das peças mais lindas que conheço. Ela mostra que, na verdade, somos rodeados por toda uma natureza e, com essa natureza que nos cerca, temos compromisso.

Vivemos, talvez, o ano mais importante dessa natureza. Mais importante no sentido de que a irmã água, tão casta e tão pura, está rareando. Se nós não dermos atenção e não dermos força à sua manutenção, sério será o futuro. O Brasil tem as maiores reservas de água doce do mundo. Isso faz deste País um país muito importante.

Sim, louvado sejas meu Senhor, pela irmã terra! O Brasil tem as maiores reservas de terras agricultáveis no mundo. O Brasil pode ser celeiro do mundo, pois tem uma reserva fantástica na Amazônia - à qual, infelizmente, nós brasileiros não temos dado importância.

Rechaçamos a presença de estrangeiros querendo nos orientar sobre a Amazônia, principalmente querendo cercar a Amazônia de bases para enfrentar amanhã, talvez, uma revolta de ianomâmis ou coisa parecida e criar uma nação-satélite americana independente. O americano é profissional nisso, como mostra o que fez na zona do Panamá e em várias regiões pelo mundo.

Temos a obrigação de olhar para a Amazônia. Temos a obrigação de reconhecer o trabalho magnífico da Ministra Marina. Desta tribuna, critiquei duramente o Governo e talvez não tenha sido feliz com a Ministra Marina, que é uma mulher fantástica.

O Lula fala pela imprensa que tem medo de demiti-la porque pode transformá-la em vítima e que espera que ela possa ser indicada para o Prêmio Nobel da Paz pela defesa que faz da natureza. Pode ser, e ela merece. Eu vi na imprensa o debate e a guerra que ela trava internamente no Governo. E eu fui para cima da Ministra, não entendendo que, às vezes, ela tem que capitular para não cair, para que tudo o que ela faz não desapareça.

Foi o que aconteceu lá na Floresta Amazônica, quando o Governo Lula permitiu leiloar a Floresta Amazônica, permitiu que empresas nacionais e depois multinacionais estrangeiras pudessem se adornar de não sei quantos milhões de hectares pelo prazo de trinta anos, renováveis por mais trinta anos, e podendo fazer acordo e convênio com outras empresas internacionais, podendo dar essa terra como garantia de empréstimo para fazer o não sei o quê.

Nós retiramos esse artigo. Determinamos que, para validar essas terras, eles tinham que vir ao Senado, passar pelo Senado, para sabermos quem são. Para renovar também teriam que passar pelo Senado para sabermos quem são. E o Presidente Lula vetou. Parece mentira! Quem julgaria que o Presidente Lula vetaria esse artigo?

Nosso querido Brasil... Eu estou preparando um pronunciamento. As maiores reservas minerais do mundo, Deus deu de graça ao Brasil. Estão aí. E o Brasil criou, em boa hora, a empresa Vale do Rio Doce, que era a empresa de coordenação de toda essa área.

Ela fez muita coisa, justiça seja feita. Ela descobriu muitas jazidas de minério. Naquela época, o Brasil não tinha dinheiro para explorá-las, não tinha transporte rodoviário nem ferroviário, nada. Descobriam, colocavam uma laje e, com isso, procuravam assegurar aquela jazida. Isso aconteceu dezenas, centenas de vezes pela Amazônia afora.

E o Senhor Fernando Henrique privatizou a Vale. Foi um dos escândalos mais dolorosos que testemunhamos. O Ministro Barros, aqui nesta tribuna, respondendo à convocação nossa, do Senado... Quando eu lhe disse, com muito respeito, que havíamos ficado sabendo que ele, Ministro, havia participado de discussão para decidir para quem o BNDES emprestaria o dinheiro, porque aquele a quem fosse feito o empréstimo ganharia a privatização... Foi quando saiu aquela célebre frase: “O Brasil está no limite da irresponsabilidade”. Eles telefonaram dessa reunião, onde estava o cidadão que comprou a Vale, para o BNDES e disseram que dessem o dinheiro a ele. E por R$3,5 bilhões, valor menor que o valor cobrado pelo Governador Antônio Britto para privatizar 50% da CEEE, a Vale foi privatizada.

Até hoje, essa é uma questão a ser discutida.

Agora, graças a Deus - justiça seja feita à Ministra Dilma e ao atual Ministro das Minas e Energia -, estão começando a aproveitar o carvão do Rio Grande do Sul. Carvão esse que - disse isso ao Ministro, Sr. Presidente -, se estivesse em São Paulo, há cem anos estaria sendo aproveitado, mas, como está lá no Rio Grande do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, só agora começará a ser aproveitado.

Privatizaram a Vale por US$3,5 bilhões, dinheiro todo dado para o Banco do Brasil, e hoje a Vale é uma empresa fantástica, está passando a Petrobras. No mundo inteiro, ela está revolucionando. Mas o Simon está pensando em privatizar? Não, estou pensando em analisar o que aconteceu na privatização. Nessas questões, Sr. Presidente, estamos caminhando.

O Brasil vive uma hora muito complicada. V. Exª disse que tive sorte de não estar aqui na reunião em que se votou a medida provisória que criou a Televisão Pública. Eu a assisti! Eu a estava assistindo, preparando-me para vir. Eu tinha um longo estudo que fizemos aqui quando eu fui Presidente de uma comissão muito importante, uma comissão que estudou o problema da televisão brasileira. Ouvimos artistas, intelectuais, homens de rádio, de televisão, de jornal, empresas particulares, empresas públicas, como a TVE, a TV Cultura de São Paulo e do Rio Grande do Sul, e debatemos essa questão da televisão brasileira sob a perspectiva de termos uma televisão estatal.

Nunca me passou pela cabeça que o Presidente da República criaria por medida provisória. Os amigos sabem, a medida provisória é um escândalo, é uma imoralidade, é uma indecência. Olha , o que o Lula e o PT bateram no Sarney, no Collor, no Itamar, no Fernando Henrique, por causa das medidas provisórias, meu Deus do céu! O que lutamos, juntos, para extinguir as medidas provisórias! Foram projetos e projetos. Entramos no Supremo Tribunal Federal com várias ações, pedindo a extinção da medida provisória. E a razão era muito singela.

O que é medida provisória? Medida provisória é uma perspectiva que o Presidente da República tem. Hoje, ele baixa uma medida provisória, como baixou: “está proibida a venda de bebidas alcoólicas nas estradas federais”. Está proibido, não pode mais. Publica no Diário Oficial amanhã e está em vigor, e aí manda para cá e temos quarenta e cinco dias para decidir “sim” ou “não”.

Há fatos, por exemplo, quando o Governo, escandalosamente, legisla por medida provisória gastos públicos. Vem aqui e autoriza por medida provisória: está autorizado a dar tantos milhões para o gasto tal. Ele começa a gastar no dia seguinte. Quando vamos votar a medida provisória, 45 dias depois, não há mais o que gastar, não tem mais como recuperar. Ela esgotou-se, não há mais nada a fazer.

Isso foi criado na Assembléia Nacional Constituinte, quando o Parlamento criou o parlamentarismo.

O Brasil seria uma república parlamentarista, e no parlamentarismo tem a medida provisória. Na Espanha tem, na Itália tem, na Alemanha tem, na Inglaterra tem. Mas como é usada lá? Uma vez por ano, de três em três anos, é apresentada uma medida provisória, quando a questão é realmente muito urgente, quando ela é fundamental, quando ela é necessária. O primeiro-ministro da Inglaterra, o primeiro-ministro da França, ou o da Itália, ou o da Alemanha entra com uma medida provisória, e ela é votada por unanimidade. Mas eles evitam entrar com uma medida provisória porque, se ela cair, cai o Ministério. Então, eles têm medo que a oposição - se o governo não está vivendo um bom momento - aproveite aquela medida provisória para debater. E não precisa nem voto de desconfiança: é rejeitar a medida provisória e cai o governo.

No Brasil, a comissão - que se diz de sistematização - que elaborou o projeto para a Constituição adotou o modelo parlamentarista e, surpreendentemente, quando ninguém esperava, no plenário, cai o parlamentarismo. Naquela briga de cinco ou seis anos para Presidente da República, até me manifestei. E muita gente: mas o Simon é a favor de seis anos. Eu disse: pode ser seis anos, não me interessa. Se tiver o parlamentarismo, a figura do presidente passa a ser secundária. Na França, eram oito anos para presidente da república, é parlamentarismo, não tem problema nenhum.

Ficaram os cinco anos, e derrubaram o parlamentarismo. Derrubando o parlamentarismo, deveria ter caído a medida provisória. A comissão de redação final deveria ter derrubado, mas não derrubou.

Mas, hoje, o Governo está legislando por medida provisória.

A Constituição diz que tem de ser urgentíssima a sua aplicação. Uma televisão pública, Sr. Presidente, que há trinta anos se discute, tão debatida, quando entrasse deveria entrar bem. Por medida provisória? Qual é a urgência? Claro que não é caso de medida provisória. Se este Parlamento tivesse um mínimo de personalidade, de competência e de autoridade, dizia não, devolvia, derrubava porque não é constitucional, foge ao texto. Se ela tem de ser urgente... mas da onde criar por medida provisória uma TV Pública? Mas da onde? Qual é a urgência? A urgência é que o Presidente quer ter a TV Pública amanhã. A urgência é que ele quer nomear. São milhares de cargos de jornalistas de televisão e de rádio que ele vai nomear, sem concurso, sem absolutamente nada. E ele precisa disso na montagem que ele está fazendo no esquema de véspera de eleição.

Olha, foi realmente triste aquela votação. Não sou tão fanatizado por esses acordos - fizemos acordo, não fizemos acordo, cumpre, não cumpre, os dois lados -, não é o meu setor. Mas havia uma determinação. Na noite de terça-feira, havia duas medidas provisórias que seriam votadas e, na quarta-feira, seria votada a medida provisória da televisão pública.

Eu me preparei para isso, vim aqui, participei, votei a primeira medida, vi entrar a longa discussão da segunda medida. Saí do plenário quando vi, sem mais nem menos, um artifício: o Líder do Governo entra com a medida para tirar a segunda medida, esvaziar, desaparecer, e entra com a medida provisória que estava prevista para o dia seguinte. Estratégia? Sim, mas muito feia, porque não era um projeto. Se fosse um projeto simples, alguma coisa que não tivesse problema, mas uma questão como a medida provisória? E votar uma medida provisória sem Oposição no plenário, impedir que Senadores como o Mão Santa pudessem falar pelo menos? Qual é o destino dessa TV Pública, criada com alguns Senadores em Plenário, sem voto nominal - quem estiver de acordo está? E eu, olhando pela televisão, vi um plenário absolutamente vazio. Aprovaram a TV do Lula, não a TV Brasil. O Lula ganhou uma televisão: TV Lula, mas a TV Brasil...

E olhem, meus amigos, como é importante a TV Brasil, o Brasil ter uma televisão nossa 24 horas por dia no ar, todo o Brasil assistindo - não é Net, não é nada, é assistência direta -, como formato fundamental da conscientização do nosso povo, na caminhada real para a politização, para o caráter, para a dignidade, para a seriedade da sociedade brasileira.

O orientador, o coordenador do povo brasileiro seria uma televisão onde os intelectuais, os professores, os teólogos, onde as gentes simples, onde as donas-de-casa, onde os trabalhadores, onde todo mundo se reuniria, debateria e mostraria para a sociedade qual é caminho que ela deveria seguir, em vez de seguir o rumo da novela das oito, que há quarenta anos o Brasil, a sociedade brasileira, a família brasileira, os jovens brasileiros, as mulheres e os homens brasileiros seguem. Novela essa que, cada vez, está sendo mais dolorosamente agressiva quanto à falta de ética, à falta de dignidade, à falta de compostura. Onde o casamento já era! Onde a dignidade da mulher já era! Como disse no jornal um dos líderes de novela, “a figura da mulher pura, a figura da heroína é uma figura muito chata, por isso ela não consegue ser ouvida. As pessoas que a assistem dão nota baixa para ela.” Porque a mulherzinha pura, séria, direitinha et cetera e tal é muito chata. O que vale é a mulher vampira, a mulher vamp, a mulher sensual, a mulher que quer roubar o marido da outra. Estão vendendo como regra. Como regra! Esse programa que está aí na Globo, meu Deus do Céu! O que eu tento lutar para que meus filhos não o assistam...

Uma televisão espetacular. Eu não digo a BBC - porque a cultura do povo inglês é infinitamente maior, eles estão em um estágio muito superior ao nosso -, mas uma BBC brasileira. A BBC se dá ao luxo de pagar a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e botar em um programa às quatro horas da tarde de uma terça-feira. E tinha público para assistir. Que beleza o programa do Senado, do nosso querido ex-Senador pelo Rio de Janeiro, Quem tem medo da música clássica? É impressionante como esse programa está sendo assistido. As pessoas vêm dizer que ficam impressionadas. Ele toca a música e vai falando e as pessoas comentam: “Eu nunca tinha notado!” “Eu não sabia o que era primeiro violino!” Ele está ensinando a beleza da música clássica e muitas pessoas estão compreendendo.

Não dão chance. É verdade que falar mal, bater, dizer desaforo, bater boca, isso parece que chama. Discutindo os problemas de trânsito, eu perguntava por que às vezes há engarrafamento sem uma causa aparente. E os técnicos diziam: quando há um acidente grave, pára tudo. E eu dizia: “Porque o acidente é muito grave e tem que tirar as pessoas?”

“Não, não, tirar, a gente tira, mas todo mundo pára para ver. Todos os carros diminuem a marcha, param, olham”.

Se é um acidente grave: “Bah, meu Deus, morreu”, não sei o quê...! Olham e, se não tem vítima: “Ah, não aconteceu nada?” Parece que ficaram com raiva porque não aconteceu nada.

Isso é uma coisa meio inata, está na essência da pessoa. Mas não podemos transformar isso numa orientação. Não podemos fazer disso a regra, onde o Jornal Nacional é um código penal: roubo, falcatrua, acidente.

Agora a imprensa está mostrando os recordes de São Paulo.

O recorde de anteontem foi: 160 quilômetros de fila de carros parados no trânsito.

E numa TV Pública?

Meus irmãos, o Senado deveria com urgência produzir uma minissérie de Dom Pedro II, a partir do livro que saiu publicado agora. Olha Mão Santa, sempre considerei Dom Pedro II e Getúlio Vargas as duas figuras mais extraordinárias da História do Brasil, mas, lendo o livro sobre Dom Pedro, lendo a história dele, lendo o que foi aquela pessoa, vou-lhe contar: é emocionante. Um homem que foi derrubado, ficou na França e rejeitou auxílio. O Governo republicano deu um golpe. A República foi um golpe de Estado em que Deodoro, que era um homem de confiança do Governador, bandeou-se para o outro lado e proclamou a República. Dom Pedro II teve que sair escondido para pegar o navio, porque, se saísse de público, e caminhasse e andasse nas ruas, o povo ficaria do lado dele e faria uma enorme manifestação. Dom Pedro II recusou a pensão. Não aceitou um centavo. Na França sofreu. Viveu com as migalhas que tinham sobrado, uma vida absolutamente humilde. Morreu tendo em baixo de sua cabeça um punhado de terras brasileiras, conforme pediu.

É uma figura fantástica. A história da vida dele é fantástica. Eu faria um desafio: que a Globo faça um concurso entre os estudantes secundários e os universitários para ver quem sabe os fatos da história e da biografia de Dom Pedro II. Não tem. A TV Senado até está fazendo isso, justiça seja feita. Fez com Teotônio, com Tancredo, com Ulysses, mostrando figuras importantes que devem ser analisadas. A TV Pública era para isso.

Vejo o seguinte: não há chance de tentar mudar o Brasil. Vamos moralizar, vamos educar, vamos dar cultura, dar educação e saúde. Vamos alfabetizar. Ter um programa nacional no Brasil não dá. E por quê? Pelo tamanho, pela extensão, pelos desníveis.

No interior de São Paulo, você anda naquelas auto-estradas como se estivesse andando pelas auto-estradas dos Estados Unidos. É um Estado fantástico. São Paulo não é Brasil, é um outro estágio. Mas também o Brasil gira em torno de São Paulo, desde o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o café e a indústria atual. São agora dezesseis anos de paulista. E antes foi Getúlio, o gaúcho, durante vinte anos, mas por vinte anos também um Ministro da Fazenda de São Paulo. Vinte anos e a economia na mão de São Paulo.

Como é que se vai levar educação, alfabetização, cultura, personalidades, amor, civismo para o pessoal do interior da Amazônia, que, quando tem que votar ou fazer compras, tem que pegar um barco e andar horas, às vezes o dia inteiro, para chegar a um primeiro lugarejo ali e ser atendido, assistir a uma missa ou ir a uma farmácia ou conhecer alguma coisa? Só a televisão. A televisão, sim. Assim como a Globo hoje está no Brasil inteiro, não em todo Brasil, porque há classes humildes que não têm TV, a TV Pública deve chegar ao Brasil inteiro.

Eu não estou preocupado. A Oposição, o PSDB falava: o Lula está preocupado em fazer propaganda ou em não fazer propaganda do Governo dele. Eu acho até que deve fazer, ele pode fazer, eu não tenho nada com isso. O problema são os passos: os programas que eles vão fazer. Entre um programa e outro: olha, o Lula é o tal; olha que maravilha; olha o problema da fome; olha as estradas, não sei... Eu não tenho nenhum problema nesse sentido, mas os programas da televisão...

Em primeiro lugar, o Lula fez algo que a ditadura não fez: criou por lei, por decreto-lei, por medida provisória, e nomeou todos os diretores, nomeou todos os conselheiros. Para nomear um dirigente das várias entidades, inclusive as agências nacionais, têm que passar pelo Senado.

O Senado vota. Lá, não. Lá, ele indica os diretores, ele indica os conselheiros, ele dá as normas, ele baixa determinações. Eu, se estivesse aqui, votaria a favor, com todas as ressalvas. O primeiro projeto que eu ia apresentar, que estava e que ia pôr em discussão, era para transformar a medida provisória num projeto de lei com a responsabilidade de o Senado, dentro de 40 dias, discutir e votar a matéria. Mas, se não fosse aprovado, eu votava. Eu não quero ser contra, dizer que eu fui o que não quis que se criasse a TV Brasil. Mas que foi um absurdo foi um absurdo.

O mais doloroso é ler no jornal que o Lula estava vibrando com o seu Líder: “É isso aí - ele achou um ato espetacular - “tem que fazer assim, tem que surpreender a Oposição”. O Lula achou que foi um ato bonito do Sr. Jucá. Diz a imprensa que o Sr. Jucá estava meio em perigo por causa de algumas decisões, alguns não aceitavam o fato de ele, com muita competência, liderar uma composição em torno da comissão de inquérito para que o presidente fosse da Oposição e o relator, do Governo; mas terça-feira ele se consagrou. E está na imprensa o Lula felicitando: “Tem que ser assim, na marra. Agora neste ano eleitoral temos que ir para cima”.

Não sei. Não sei. A TV Pública foi aprovada, mas como o Lula, daqui há cinco, dez, quinze, vinte anos, vai ser culpado! Por que ele fez assim? Deus vai nos ajudar e nós, ainda no futuro, haveremos de fazer as mudanças necessárias, aquelas que atendam ao seu dever.

Eu estou muito preocupado com o andamento dos trabalhos no Congresso e no Senado Federal. Em primeiro lugar, tenho muitas restrições quanto ao acordo de Líderes, porque eles variam muito, de acordo com o ânimo, com a intenção, com a vontade das pessoas.

Eu me lembro de um projeto absurdo que entrou na Casa no penúltimo dia. A Câmara votou em doze horas; o Senado votou em doze horas... Era uma fortuna enorme para a Embraer, que estava vivendo uma crise e necessitava desse aporte de dinheiro. Ninguém sabia o que estava votando. Não houve um discurso. Não houve uma palavra. Não houve nada. Todo mundo votou correndo. Acordo de Líderes.

Um problema profundo, que até hoje está sendo discutido, Dr. Mão Santa, diz respeito ao fim dos hospitais psiquiátricos. Esse negócio de os hospitais psiquiátricos serem asilo de louco, não.

Cada família que cuide do seu louco. Até hoje é um assunto complexo, delicado, difícil. Sabe como é que esse projeto foi votado na Câmara, Senador? No último dia. O Senador Paim estava lá. No último dia! Como ia encerrar, fizeram um acordo de Líderes: nós queremos isso, mais isso, mais isso. E o Deputado do PT, autor do projeto, disse: passa isso se o meu passar! Então, passou. Era um projeto que estava na gaveta, que nunca tinha sido discutido, ninguém tinha anistiado, nem na Comissão de Constituição e Justiça, porque era de uma complexidade... E passou assim. Eu não vejo isso com muita simpatia.

Aqui no Senado, o ambiente está ficando complicado. O atual Regimento foi feito quando tínhamos dois Partidos: Arena e MDB. Agora, só aqui no Senado há dez Partidos. A comunicação urgente de Líder é muito importante e muito necessária, mas, assim como está se extrapolando com medida provisória, está se extrapolando com comunicação de Líder: o cidadão vem, fala - não é cinco minutos, mas meia hora, uma hora -, daqui a pouco falam três, quatro, cinco Líderes, um atrás do outro... Houve um dia aqui que um Senador protestou, pois era o segundo inscrito e não havia falado até as oito horas da noite, por causa das Lideranças, das questões de ordem e de mais não sei o quê...

Então, eu, sinceramente, acho que deve ser analisado esse estilo de fazerem as coisas. Agradeço, do fundo do coração, à Secretaria-Geral da Mesa, porque recebo a Ordem do Dia como antigamente.

Eu estou ali, analiso com a minha assessoria e vejo projeto por projeto. Esse instrumento novo que está aí, que modernizou, sinceramente, foi o que aconteceu aqui. Nós votamos um projeto de lei da maior importância que determinou que, apresentada e aceita pela Mesa a denúncia contra um Senador membro da Mesa, Líder de Bancada ou Presidente de Comissão, ele é afastado. Isso nós votamos por unanimidade. Junto com isso, nós votamos o que ninguém sabia: havia um item que dizia que o Senador que assumisse não poderia ser analisado aqui pelo que fez antes de ser Senador, apenas pelo que fez após assumir o mandato.

Um cidadão, suplente - em uma eleição, ninguém olha quem é o suplente -, tem uma vida cheia de coisas, e, ao chegar aqui, nele não se pode tocar. Isso foi votado sem ninguém saber. Não se falou uma palavra, uma vírgula, uma linha, ninguém sabia. Eu acho que esses computadores, esse movimento é muito bacana, mas seria interessante que a gente tivesse, como antigamente, a pauta toda no papel, para que quem quisesse olhar olhasse.

Eu acho, Sr. Presidente, que devíamos ter um ordenamento na nossa vida parlamentar. Não adianta, a sessão de sexta-feira é isso que está aí, assim como a de segunda-feira.

Muitas vezes, até a de quinta-feira é assim.

Tenho um projeto de resolução, debatido longamente, para que a gente se reúna de segunda a sexta-feira, e até aos sábados e domingos. Na semana que vem, a gente se reúne, numa reunião plenária, a Mesa apresenta a pauta de tudo que vai ser votado no mês de abril e marca os dias. Já vê que o dia 21 de abril é feriado e tal, mas marca. Aí, vamos trabalhar e vamos votar. São tantos os projetos: “isso tem que ser votado”, “isso vai ser votado”. E nós ficamos aqui votando: segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. Mas sábado e domingo? É ridículo, ninguém trabalha. Pois é. Dizem que a gente não trabalha. No domingo, o cidadão vai estar vendo seu futebol, não sei o quê, mas, quando ligar a televisão, vai ver os Senadores trabalhando. Trabalha-se até esgotar a pauta. Se nós, em dez dias, votarmos tudo, nos outros vinte, querendo, cada um pode ir para o seu Estado. Se não votar, não se pode viajar. Isso daria continuidade. A coisa mais dolorosa é estarmos, numa quarta-feira, numa comissão, debatendo um assunto, que vai se aprofundando, tendo condições de avançar mais um pouco e resolver, e tudo ter que ficar para a outra quarta-feira. Morre o assunto. Na outra quarta-feira, começa tudo de novo.

A verdade é que eu fiz a bobagem de dizer que cada Senador, em vez de ganhar cinco passagens por mês, ganharia uma só. Aí muita gente falou que eu estava louco.

Mas acho que seria por aí, Sr. Presidente.

Deveríamos reunir o Congresso. O Lula está dizendo nos jornais que não admite uma vírgula de diminuição ao que ele tem direito na medida provisória. Não admite!

Ah, PT, PT! Como lutamos contra medida provisória, nos dois anos do Collor, nos dois anos do Itamar, nos dois anos do Sarney, quando ela foi criada, e nos oito anos de Fernando Henrique! Que belo Partido era o PT! Ingressamos com ações no Supremo, votamos várias e várias sugestões para derrubar, para atenuar as medidas provisórias... No entanto, hoje, o PT não admite mudar medida provisória.

Cá entre nós, no fundo, a Oposição, que não tem certeza se vai ganhar, na expectativa de que pode ganhar, também não quer mudar. Então, o Congresso não é Congresso, é um Congresso de mentirinha.

Vi, ontem, no jornal que o Bush vetou um projeto do Congresso americano determinando prazo para retirar as tropas americanas do Iraque. Noticiava-se que, em não sei quantos anos, era o sexto veto do Bush ao Congresso Nacional. Nesse período, já tivemos setecentos vetos, que estão parados, na gaveta.

Em primeiro lugar, o Governo, o que é importante, vota por medida provisória. Medida provisória! O que o Congresso vota aqui de importante, importante, eu não sei. É muito pouco. E do que vota, há o veto do Presidente. É impressionante o número de vetos do Presidente que estão na nossa gaveta. E o Lula diz que não vai deixar mexer na medida provisória. Eu quero ver. Há Senadores e Deputados que estão apavorados porque a medida provisória tranca a pauta.

Quando o Fogaça, que foi relator, reunindo todas as teses que discutiam a medida provisória, adotou esta tese de trancar a pauta, ele achava que, trancando a pauta, parando o Congresso, o Presidente ia parar de mandar tanta medida provisória. Não adiantou.

Ontem, quantas medidas provisórias que entraram V. Exª leu, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Meia dúzia. Já está no número 406.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É. Ontem, mal votamos a medida provisória da TV, mal votamos, e o Governo já mandou uma série. E a Oposição e o Governo, o Presidente do Senado, o Presidente da Câmara e os Líderes estão preocupados em fazer com que a medida provisória não tranque mais a pauta. Eu quero dizer que considero isto um escândalo: não trancar mais a pauta, e não tomarmos uma medida juntos. Não tranca a pauta. Tem que ser votada. Votada, rejeitada, não pode ser renovada. Não pode ser renovada. O que tinha acontecido era exatamente isso.

Se não me engano, no Governo Fernando Henrique, no seu primeiro ano de Governo, há uma medida provisória que já foi renovada pela 64ª vez. Ela vem sendo renovada, renovada, renovada, e não se vota.

Se não nos valorizarmos, como a sociedade vai nos valorizar?

O Presidente Lula está ficando muito autoritário. Ele está vivendo um momento de imensa popularidade. Os números do crescimento do Brasil, os números do aumento do salário mínimo, os números da pujança da economia, tudo isso faz com que ele venha falando e com muita firmeza.

Agora, na crise Colômbia-Equador-Venezuela, a chancelaria brasileira agiu com muita competência. Aquilo que o nosso Chanceler traçou, logo de saída, criticando Colômbia e Equador e esquecendo a Venezuela, toda a reunião panamericana e a reunião dos amigos do Grupo do Rio tomaram essa decisão e se saíram bem.

Então, o Lula está vivendo um grande momento, mas não precisava bater no Congresso, não precisava humilhar o Congresso. “Só eu trabalho. Ninguém quer mais trabalhar. O que é isso?” - é o que disse o Lula. “Este Congresso também tem de trabalhar”!

O maior inimigo de este Congresso trabalhar é o Presidente Lula, com suas medidas provisórias; o Presidente Lula e suas medidas provisórias!

Eu acredito que, hoje, nós não temos referências. O Congresso está vivendo uma hora... Há Líder, Líder do MDB, Líder do outro Partido, Presidente da Câmara, Presidente do Senado, mas aquelas figuras que, numa hora que nem essa, responderiam ao Lula, como Paulo Brossard, como Teotônio Vilela, como Montoro, como Covas, não temos. Este Congresso, com todo o carinho, gente muito importante, muito ilustre, muito capaz, muito séria, muito digna, não conseguiu ainda vencer a distância entre o que é e o que a opinião pública interpreta que ele seja.

Então, venho dizendo: o Brasil não tem referências, não tem referências! O que sai na imprensa é a manchete do Líder tal, do Líder tal, que não tem nenhuma repercussão, até porque não tem nenhuma conseqüência. “Vamos fazer oposição radical”, “não vamos mais votar”, “vamos votar” não têm conteúdo e não têm profundidade.

V. Exª queixa, Senador Mão Santa, e entendo com profunda razão. Impediram V. Exª de falar. Vamos ser claros: V. Exª fala todos os dias, é dos homens mais brilhantes e mais assistidos na televisão. Mas era o momento, o momento de se criar uma TV Pública, e a sociedade nem entende como, nesse momento, V. Exª não falou. V. Exª estava aqui.

Eu dei uma declaração à opinião pública: não vou, porque tenho vergonha de estar lá, porque sinto que, com meus 78 anos, tenho já o direito de não ir a certos lugares onde não posso ajudar. E não tenho que assistir a algo que angustia demais o meu coração. Assisti até o fim.

Mas senti que não tinha o que fazer, porque o rumo estava indefinido; e cada um não sabia o que fazer.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª também não teria direito à palavra, não. Só o Romero Jucá pôde falar, o Líder do nosso Partido.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª teve razão. V. Exª se magoou por não falar num momento como aquele. Não estava marcado na Ordem do Dia, a imprensa tinha deixado claro. Essas coisas da Oposição... A Oposição, porque a Ordem do Dia estava trancada por causa das medidas provisórias, a Oposição concordou em votar duas medidas provisórias: essa e essa.

Não estava nelas a TV. A TV ficaria para quarta-feira. No meio da discussão, o Líder do Governo, estrategicamente, encerra a discussão da segunda, ia-se encerrar a sessão, e põe em discussão a TV Pública, e ainda não lhe dão o direito de falar.

Eu acho que uma convivência... Quero dizer com toda sinceridade que vejo no Garibaldi... O pronunciamento que ele fez aqui e o pronunciamento que ele fez no Congresso Nacional, vejo que temos que analisá-los com profundidade. Acho que devíamos conversar com o Presidente Garibaldi, e ver a fórmula de tornar realidade aquilo que ele disse: que não aceita pressão do Poder Público, do Presidente da República e que não aceita pressões internas do Congresso.

Vamos responder. Vamos ver como o Presidente Garibaldi responde ao “não aceito pressão” na hora de votar as novas regras da medida provisória, pois, aliás, foi o que ele disse. Ele chamou a atenção para o fato de termos que nos reunir e para o que temos que fazer, não aceitando pressão. São as novas regras da medida provisória. Vamos ver se contamos com o Presidente Garibaldi. Ele tem razão. Acho que essa é a grande medida que temos que tomar. Ele está certo. Vamos tentar encontrar um entendimento que dê um véu, pequeno, mas que dê um véu de esperança ao Congresso para retomar sua dignidade.

Mas chamo atenção: farei o maior protesto da minha vida se esta Casa, o Senado, e a Câmara capitularem, e, de toda essa confusão, a única coisa que sair for aquilo que o Lula quer. Não se interrompe mais a pauta, não se tranca mais a pauta, e o resto fica como está.

Muito obrigado. Minha solidariedade a V. Exª pela mágoa por não permitirem sua palavra. E minhas felicitações ao jovem menino brilhante Senador da República.

Repare V. Exª que coisa interessante - que coisa interessante! No Brasil, a gente não sabe o que fazer, até que ponto o Congresso pode avançar, o que deve ser analisado e o que não deve se analisado.

Lá, nos Estados Unidos, o Governador do grande Estado de Nova Iorque, diante da publicação do relacionamento dele com algumas prostitutas de alto luxo, renunciou antes de o Partido Republicano pedir a criação da comissão do seu impeachment. Reparem! Ele foi à televisão junto com a esposa e pediu mil desculpas.

Quem era esse cidadão? Esse cidadão, que foi eleito Governador de Nova York, foi Procurador-Geral e, como tal, teve uma atitude espetacular, que o levou a ser eleito Governador de Nova Iorque. Uma atitude espetacular no combate à corrupção, no combate à prostituição, no combate à falta de escrúpulo, um padrão da seriedade, da dignidade, da honradez. E teve uma vitória espetacular. De repente, não mais que de repente, aparece o fato irrecusável de que ele tinha usado verbas determinadas com prostitutas.

Veio a denúncia, ele foi à televisão e se explicou, mas a explicação não foi convincente. O Partido Republicano comunicou que, na segunda-feira, entraria com o pedido de impeachment, e ele renunciou. Renunciou, pedindo desculpas a sua mulher, as suas filhas e ao povo de Nova Iorque.

Reparem as coisas que acontecem aqui no Brasil e ainda dizem que tocar na vida do Presidente, na vida do Governador é coisa pessoal, nós não temos nada a ver com isso, mesmo quando se analisa fato público, dinheiro público que está sendo utilizado.

Por isso, lá nos Estados Unidos, a democracia e a liberdade funcionam de modo diferente daqui. Reparem que não é porque lá não tem corrupção, lá não tem imoralidade, lá não tem escândalo. Tem sim! Mas lá se pune. Imaginem o que significa para o povo do Estado de Nova York ver o Governador renunciar, ir para casa por um fato dessa natureza. E quem assumiu é um vice-governador negro, um olho cego e o outro enxergando muito pouco. Ele, juridicamente, é tido como cego. Esse é o Vice-Governador que assumiu. O primeiro vice-governador negro a assumir o Governo em Nova York, o quarto na história dos Estados Unidos.

Isso é uma paulada. Lá em Nova Iorque, muita gente deve dizer: “É bom eu me cuidar.” Isso dá respeito à política, dá respeito à sociedade, porque estão vendo que as coisas acontecem. Como aconteceu algum tempo atrás no Japão: o primeiro-ministro acusado de escândalo e criaram a comissão. Ele nem renunciou; ele se suicidou. Ele se suicidou de vergonha dos fatos que estavam sendo apurados. Não é que no Japão não tenha corrupção; tem muita corrupção. Mas lá a sociedade age. E o que significa para o povo japonês ver o todo poderoso primeiro-ministro... Em 24 horas aparece o escândalo e, em 24 horas, ele se suicida.

A justiça existe. A justiça funciona. E se existe para o primeiro-ministro, se existe para o Governador de Nova York, se existe para o Presidente Nixon, que renunciou para não ser cassado... Quando se descobriu que as fitas gravadas pelo Governo Nixon em Watergate - o edifício onde estava a sede do Partido Democrata - quando apareceram as gravações, ele jurou que não tinha nada a ver com aquilo. Quando apareceu uma gravação que mostrava que ele sabia de tudo, o Governo democrata partiu para criar a comissão do impeachment. E ele renunciou. Ele não deixou criar. Antes de criar, ele renunciou.

O Presidente Kennedy foi assassinado; seu irmão Bob Kennedy, que dizem que era a grande figura da família, candidato à Presidência da República, foi assassinado. E o irmão mais moço, Edward Kennedy, era candidato à Presidência da República. Candidato invencível. Invencível! Teve um acidente de carro. Um acidente em que o carro foi parar dentro da lagoa, a companheira dele morreu. Ele, em vez de prestar socorro, teve de renunciar. Nunca mais se falou na candidatura dele para presidente. Esse é um país onde se respeitam as regras. Respeitam-se as regras!

Agora, no Brasil, meu Deus, ladrão de galinha vai para a cadeia e com quem é importante não acontece nada. Está todo mundo emocionado porque o Supremo Tribunal, é verdade, o Procurador fez a denúncia dos 40, o Supremo aceitou a denúncia, o relator aceitou e está ouvindo. Foi uma emoção no Brasil inteiro. Mal e mal não se esquece que ninguém foi condenado, ninguém! Não tem nada! Não sei quantos anos vão levar para esse processo ir adiante. Não sei se não vai terminar com a prescrição e não sei quantos serão condenados.

Esse é o mal deste Brasil, Sr. Presidente. E nós colaboramos, na medida em que deixamos as coisas acontecerem e não temos coragem de fazer nada. Alguma coisa deve ser feita. Eu não acredito que isso seja feito aqui, Sr. Presidente. Nós vivemos um momento dramático aqui. Nós vivemos aqui momento em que as instituições...O MDB, o Partido heróico da ditadura, da resistência, da democratização... todos os governadores, à exceção de Sergipe, nós elegemos, dois terços da Constituinte na Câmara, dois terços no Senado. Quando morreu Tancredo, parece que nós morremos junto. O MDB, que era a grande esperança na oposição, naquela luta fantástica, parecia um grupo de heróis, um grupo de cristãos logo no início, que se sacrificavam pela vida, pela democracia, pela justiça social, não deu em nada. Hoje o MDB é o Partido que balança.

É o Fernando Henrique o Presidente? É. Estamos com o Fernando Henrique, em troca de meia dúzia de Ministérios. É o Lula o Presidente? É. Estamos com o Lula, em troca de meia dúzia de Ministérios.

V. Exª não calcula - aliás, V. Exª e eu ficamos irritados - quando aparece na imprensa: a bancada do Senado exige Ministério. Tenham respeito! Digam pelo menos que é a maioria da bancada. Há pessoas como V. Exª, como Jarbas, como eu e outros que ficam revoltadas com essa decisão, que ficam revoltadas com isso.

Veio, então, o PSDB. Quem era o PSDB? Um Partido puro: Covas, Montoro, Richa, Fernando Henrique, Serra. Quando assumiram o Governo, aí sim, chegou o momento A social-democracia era a beleza no mundo inteiro. Era o Mitterrand na França; era o Primeiro-Ministro na Inglaterra; era o Felipe González na Espanha; era uma maravilha!

Cá entre nós, que governinho fez o Fernando Henrique! Só a privatização da Vale...Só a reeleição comprada a preço de ouro...Só o fato de ele ter arquivado a Comissão de Defesa da Dignidade, criada pelo Itamar e revogada por ele... Só o fato de não ter deixado criar a CPI para apuração dos escândalos que havia...

Aí veio o PT. Aí sim. Eu votei no Lula no primeiro mandato e vibrava: que homem fantástico! Chegou a nossa vez. Partido de luta, de garra, de dignidade, de seriedade. Pelo amor de Deus! O que é o PT hoje? A rigor, é pior do que o PSDB. Pois a gente esperava mil vezes mais do PT do que do PSDB. O PT tinha a experiência dos oito anos de erro do PSDB para não repetir.

É claro que tem coisas positivas. Eu gosto muito do Ministro da Fome e acho belo o seu programa. Eu acho que não adianta a gente criticar esse projeto que foi lançado no Rio de Janeiro. Tudo já existia, é verdade; não foi coisa nova. Ele reuniu vários programas em um só. Mas a verdade é que, se o Lula e o Governador do Rio de Janeiro fizerem, naquelas três favelas, o que está prometido - um teleférico, em vez daquela loucura de fazer subir horas e horas aquelas escadas, correndo o risco de morrer; 1.500 casas novas e 1.500 reformadas; um plano de saúde, um hospital e um pronto-socorro; e escola - se fizerem isso, será uma grande realidade, me perdoe a Oposição...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, um instante. Quero interrompê-lo porque gostaria de ter a honra de anunciar a presença dos alunos do colégio Vital Brasil de Samambaia. Meus jovens, mocidade estudiosa, ali está Rui Barbosa, símbolo maior da história do Senado. Mais em cima, Cristo. Entendam, São Francisco foi o homem que mais se aproximou de Cristo, e este é o homem que mais se aproximou de Rui Barbosa.

Esta sessão é não-deliberativa, não há votação. Há Senadores responsáveis como ele. Como a Itália vangloria-se de Cícero, nós nos vangloriamos de Pedro Simon. Ele faz um dos pronunciamentos mais úteis ao aprimoramento da democracia do nosso País.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu saúdo os jovens. O Mão Santa é uma figura extraordinária. Sabem por que o nome dele é Mão Santa? Porque ele foi um médico extraordinariamente humanitário, extraordinariamente competente.

Então, lá no Piauí, todos os pobres que não tinham solução, que estavam com problemas gravíssimos de saúde, era o Mão Santa que os operava. Operava, salvava a vida e não cobrava nada. Mas ele tem um defeito: é generoso demais. Vocês entendam.

Eu vejo essa mocidade aqui: uma grande mocidade. Eu também já fui jovem. No meu tempo, tudo o que eu conhecia - tenho 78 anos - era minha família: meu pai, minha mãe. Nós tomávamos café da manhã juntos, almoçávamos juntos e jantávamos juntos. Sentavam à mesa todos da família. Se alguém estava faltando, os outros não saíam. Quem dava orientação era o meu pai. Íamos para a escola onde recebíamos tudo o que havia de conhecimento. Não tínhamos televisão, e cada um tinha a sua Igreja, que nos dava uma orientação.

Então, aquilo nos plasmou. Eu, por exemplo, comecei no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Caxias, onde eu entrei com sete anos e me formei no que eu sou hoje.

Lembro-me do meu pai, que era um libanês, que falava revezado, nunca conseguiu falar direito o Português, mas tinha princípios, sentava. Uma vez, eu tinha um primo que veio de São Paulo... Vocês podem nem entender o que eu vou falar, mas na minha época de criança não tinha qualquer tipo de caneta que não fosse a caneta de pena; tinha o tinteiro, molhava a pena, escrevia e tinha o mata- borrão. De repente, um primo meu trouxe de São Paulo uma tipo BIC, um aparelho que tinha a carga e escrevia. Era um negócio popular. Mas no meu colégio eu fui a primeira pessoa a chegar com ele. Um colega meu, filho de pai rico, pediu essa minha caneta e me deu um aparelho que valia mil vezes mais. Ele quis trocar e eu troquei. Quando eu cheguei em casa, o meu pai me levou lá na casa do rapaz e fez eu entregar o aparelho de volta e pegar a caneta. Ele disse: “Meu filho, você roubou.” Eu disse: “Mas, pai, foi ele que quis.” Ele disse: “Foi ele que quis, mas não está certo. Você sabe que o que ele trocou contigo vale muito mais do que aquilo que você deu.” É uma lição que eu aprendi para o resto da vida. É uma lição que aprendi para o resto da vida!

Hoje, infelizmente, a família é um ponto de encontro. A mulher saiu de casa; tinha de sair de casa, era uma injustiça, um crime que a mulher não pudesse ser médica, não pudesse ser advogada, não pudesse ter a sua profissão, era só dona-de-casa dependendo do marido. Hoje ela saiu de casa, e é correto. Mas se esqueceram. Por exemplo, na Suécia, na Dinamarca, as escolas estão preparadas. A mulher pode sair de casa desde o terceiro mês, mas há a organização da escola que recebe a criança.

Perguntam aos pais: ”Você quer que ela vá dormir em casa? Você quer que ela vá no fim de semana? Você quer que ela vá no fim do mês, ou no fim do ano?” Há uma organização de preparação, de cultivo, para substituir isso.

E a novela? Quantos de vocês assistem à novela das oito? E quantos de vocês vibram quando assistem à novela das oito? E vocês não têm culpa. Ali está apresentando. Se está na novela das oito; se a televisão e o Governo permitem e chega à casa de vocês...E diz um autor de novela, meus queridos amigos, que do herói, da mulher “bacaninha”, a santinha, a certinha, que foi criada para ser a heroína, o povo não gosta. É muito chata. É muito certinha. Eles gostam daquela que é mais “vamp”, mais voluntariosa, que tira o marido da outra E não sei mais o quê.

Isso nós temos de mudar. Precisamos ter uma televisão que substitua aquilo que, infelizmente, não dá para ter mais hoje: a família. Como, em São Paulo, alguém que sai de manhã, leva duas horas para chegar ao colégio e volta para casa de noite pode ter isso? Mas precisa ter algo sucedâneo. A escola de um lado e a televisão do outro.

Eu felicito vocês. Que saibam que esta é uma Casa do povo. Aqui tem muitas coisas de errado que fazemos, mas tem gente muito boa. Ali está o Mão Santa, um grande cidadão. E ali está o Paim, um extraordinário companheiro de luta.

Aqui estão duas mulheres que representam a novidade. As mulheres já estão tomando conta de nós, aqui. Uma hoje é a número um no que tange a produtora rural. Morreu o marido e ela ficou no lugar dele. Hoje, é a produtora rural que comanda toda essa batalha. A outra é uma extraordinária companheira ali de Goiás, que também exerce um grande papel.

Infelizmente, nós não conseguimos o caminho para entrosarmo-nos no sentido do que devemos fazer, mas tenho certeza de que, quando chegar a hora de vocês tirarem o curso da sua faculdade, exercerem a sua missão, o Brasil será diferente. Será com mais paz, com mais amor e com mais liberdade. Muita alegria em tê-los aqui.

Agradeço, Sr. Presidente, a gentileza deste pronunciamento. Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2008 - Página 5970