Discurso durante a 31ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de louvor ao jornalista Villas-Bôas Corrêa, e de pesar pelo falecimento de Chiara Lubich.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de louvor ao jornalista Villas-Bôas Corrêa, e de pesar pelo falecimento de Chiara Lubich.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2008 - Página 6053
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, EXERCICIO PROFISSIONAL, JORNALISTA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ETICA, COMPETENCIA, CONTRIBUIÇÃO, ANALISE, POLITICA NACIONAL, BUSCA, IMPARCIALIDADE.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, LIDER, MOVIMENTAÇÃO, IGREJA CATOLICA, BUSCA, UNIDADE, AMBITO, DIVERSIDADE, RELIGIÃO, REGISTRO, EXPERIENCIA, CONCILIAÇÃO, CAPITALISMO, SOCIALISMO, ECONOMIA, SOLIDARIEDADE, LIBERDADE, COMENTARIO, HISTORIA, COMUNIDADE, BRASIL, IDEOLOGIA, CRISTÃO.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Mão Santa, Senador Paulo Paim e Senador Papaléo Paes, que preside a presente sessão, desejo registrar hoje dois fatos que considero relevantes.

O primeiro, Srªs e Srs. Senadores, diz respeito à passagem dos 60 anos de colunismo do jornalista Vilas-Bôas Corrêa, um dos mais notáveis analistas políticos do jornalismo brasileiro.

Recém formado em Direito foi levado ao jornalismo por uma circunstância muito especial: pagar as dívidas de uma inesperada cesariana que trouxe à luz seu segundo filho.

O emprego no vespertino A Notícia, publicado no Rio de Janeiro, foi a sua grande escola; o trabalho, sob a regência de Silva Ramos, sua formação acadêmica; A Notícia e O Dia, jornais do mesmo grupo, foram de alguma forma sua própria casa.

A vocação para a política teve despertada na vida universitária e afirmada ao ser eleito para a presidência do CACO, Centro Universitário Cândido de Oliveira, isto é, o Diretório Acadêmico da então Faculdade Nacional de Direito, hoje Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A renúncia de Getúlio Vargas, em 1945, o encontrou na presidência da entidade. Veja que não encontrou bons tempos.

A escolha estava feita, daí o natural passo seguinte para o jornalismo político, seja no O Estado de São Paulo, onde chefiou a sucursal do Rio de Janeiro, no Jornal do Brasil, na Revista Isto É, na TV Manchete, na TV Bandeirantes, no extraordinário Jornal de Vanguarda, marco no telejornalismo brasileiro, Vilas-Bôas Corrêa é sinônimo de credibilidade caracterizada por uma linha de absoluta imparcialidade.

Entende que a análise política, para ter a necessária credibilidade, seriedade, tem que ser neutra. Afirma que nunca assinou manifesto, nunca declarou apoio a alguém, nunca declarou voto, nem em casa. A militância, diz ele, é pecado mortal do analista político. Engajamento e análise - completava - são incompatíveis.

Em depoimento concedido à Memória da Imprensa, carioca diz que “nos jornais, minha matéria ninguém tocava e até hoje ninguém tocou. Na TV, nunca li um texto no ar; sempre falei de improviso”. A coerência, a atitude firme e a seriedade permitiram que assim fosse.

Sr. Presidente, a cultura refinada de leitor voraz, desde jovem, permitiu a Vilas-Bôas Corrêa somar à sua aguçada sensibilidade a construção lógica que a análise política recomenda. A inspiração e o exemplo que declara ter encontrado em Carlos Castello Branco - e efetivamente Castelinho é modelo do moderno jornalismo brasileiro - só o engrandecem, e o extraordinário trabalho que realiza com ética e competência ao longo desses sessenta anos o faz credor da maior admiração e respeito de todos os brasileiros.

Homem de fortes valores de família, Vilas-Bôas Corrêa encontrou em D. Regina Maria uma companheira dedicada e exemplar. Seu filho, Marcos Sá Corrêa seguiu a rota paterna e se tornou um expressivo articulista na imprensa brasileira.

Pelas razões citadas, Sr. Presidente, requeiro, nos termos regimentais, seja aprovado um voto de louvor a Vilas-Bôas Corrêa pelas seis décadas de sua densa e proba vida no exercício do jornalismo.

Mas, Sr. Presidente, desejo também registrar um outro fato que reputo igualmente importante. Trata-se do falecimento de Chiara Lubich, ocorrido sexta-feira passada, aos 80 anos, em Rocca di Papa, na Itália, depois de longa enfermidade.

Ao encerrar sua vida terrena, não posso deixar de mencionar que Chiara Lubich foi fundadora e Presidente do Movimento dos Focolares, criado na década de 40 do século passado, ao término da II Grande Mundial. Nascido e logo aprovada pela Igreja Católica, a ação dos Focolares se estende, hoje, a 182 países, com mais de quatro milhões de aderentes e simpatizantes.

Aberto a todos, reúne, pelo seu ideal de unidade e fraternidade universal, além de católicos, cristãos de várias denominações e pessoas que não professam uma fé religiosa.

Nessa perspectiva, saliente-se Chiara afirmava a importância da unidade como "sinal dos tempos" entre pessoas, gerações e raças. A palavra unidade é, sabemos, a palavra-chave dos Focolares, cujo objetivo é contribuir para que a humanidade se torne uma grande família.

Prova, entre muitas que poderíamos mostrar da atuação dos Focolares, foi o fato de Chiara ter sido convidada a falar na Tailândia, no continente asiático, a monges, monjas e leigos budistas, iniciando um profundo diálogo entre o Cristianismo e o Budismo.

Chiara Lubich lançou também, tendo por base o que ela chamava de "cultura da partilha", um projeto conhecido como "economia de comunhão na liberdade", segundo objetivos que expôs no Brasil.

A adesão ao projeto obteve uma grande acolhida. Atualmente, 700 empresas praticam "economia de comunhão" em diferentes continentes do mundo. Em nosso País, muitas delas se constituíram, inclusive em São Paulo e no Nordeste, em especial em Pernambuco.

Ano passado, Sr. Presidente, participei da inauguração de nova unidade no Município de Igaraçu, cidade histórica situada no litoral norte do meu Estado. Convém destacar que a “economia de comunhão” consiste em notável esforço de gerar uma alternativa entre capitalismo de mercado e socialismo estatal. A experiência mostra que é possível uma terceira opção, ou seja, o espaço para que, dispensando o lucro, possa oferecer oportunidade de trabalho para muitas pessoas. Nesse projeto se articulam linhas sociais e econômicas que, por sua vez, enlaçam princípios nunca antes justapostos: economia, solidariedade e liberdade.

O modelo, frise-se, tornou-se objeto de várias teses em diferentes universidades do planeta, tais as características desse projeto, que vem alcançando enorme significação.

Sr. Presidente, o Movimento dos Focolares nasceu no Brasil em fins da década de 50, do século passado, no Recife, onde realizou suas primeiras atividades. Sob a liderança de Ginetta Caliari, foi construída uma mariápolis, que outra coisa não é senão uma pequena cidade cujos habitantes devem buscar viver conforme o ideal cristão. Atualmente existem mariápolis em Pernambuco, nos Estados de São Paulo, Pará, Rio Grande do Sul e Amazonas.

Sr. Presidente, a morte de Chiara Lubich, por todos os motivos, nos entristece. O Presidente da República da Itália, Giorgio Napoletano, considerou Chiara Lubich “uma das personalidades mais representativas do diálogo inter-religioso e intercultural, uma voz vigorosa e límpida no debate contemporâneo”, e continuou o Presidente da Itália “sobre fundar o movimento que é um dos mais difundidos do mundo, capaz de deparar-se com o espírito aberto, com o mundo leigo, tendo por base a supremacia dos ideais humanos da solidariedade, da Justiça e da paz entre povos e nações.”

A CNBB, por sua vez, expediu nota através do seu Secretário-Geral, Dom Dimas Lara Barbosa, que é Bispo auxiliar do Rio de Janeiro:

“A CNBB recebe com pesar a notícia da morte de Chiara Lubich, ocorrida na madrugada de hoje em Roma, solidarizando-se com todos os membros do Movimento dos Focolares, fundado por ela em 1943 e presente no Brasil desde 1958.

Chiara Lubich, ao longo de sua vida, deu um grande testemunho de fé e humanidade, num empenho constante pela comunhão na Igreja, pelo diálogo ecumênico e pela fraternidade entre todos dos povos.

Recordamos suas diversas visitas ao nosso País, particularmente em 1991 quando propôs a criação da Economia de Comunhão que, no âmbito do Movimento dos Focolares, buscou ser uma resposta aos grandes problemas sociais de nosso povo. Essa experiência logo se consolidou e se expandiu, sendo hoje um modelo de solidariedade e de serviço aos mais pobres em todo o Mundo.

A Deus fazemos chegar nossa prece a fim de que acolha Chiara Lubich entre os eleitos, dando-lhe do banquete preparado para os que, nesta vida, serviram Cristo nos mais pobres e sofredores. Conforte-nos a palavra da Sabedoria: “As almas dos justos estão na mão de Deus (...), eles estão na paz” (Sb, 3, 1.3c)”.

Creio, Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, que, em face do exposto, o Senado Federal aprove voto de pesar pelo falecimento de Chiara Lubich, numa demonstração de reconhecimento do povo brasileiro pelo muito que ela fez em favor da paz, da solidariedade e, sobretudo, em favor do diálogo ecumênico.

Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2008 - Página 6053