Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, sobre os custos da invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários ao artigo do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, sobre os custos da invasão do Iraque pelos Estados Unidos.
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2008 - Página 6424
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ANIVERSARIO, INICIO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IRAQUE, QUESTIONAMENTO, MANUTENÇÃO, DEFESA, PACIFICAÇÃO.
  • LEITURA, TEXTO, AUTORIA, ECONOMISTA, RECEBIMENTO, PREMIO, ECONOMIA, AMBITO INTERNACIONAL, ANALISE, SUPERIORIDADE, ESTIMATIVA, CUSTO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IRAQUE, AUSENCIA, BENEFICIO, PAIS INDUSTRIALIZADO, AUMENTO, PREÇO, PETROLEO, MOTIVO, AGRAVAÇÃO, FALTA, SEGURANÇA, ORIENTE MEDIO, INVESTIMENTO, QUESTIONAMENTO, POSSIBILIDADE, ALTERAÇÃO, OBJETIVO, GASTOS PUBLICOS, CONFLITO, INVESTIMENTO PUBLICO, EDUCAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, SEGURANÇA NACIONAL, INFRAESTRUTURA.
  • LEITURA, TRECHO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, DESCRIÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESEMPREGO, GOVERNO ESTRANGEIRO, IRAQUE, POSTERIORIDADE, INICIO, GUERRA.
  • COMENTARIO, VIAGEM, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, DIALOGO, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, ANUNCIO, VISITA, BRASIL.
  • ANUNCIO, CONFERENCIA, REALIZAÇÃO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), CENTRO DE ESTUDO, CAMARA DE COMERCIO, PAISES ARABES, ASSOCIAÇÕES, ESTUDANTE, PROFESSOR, APRESENTAÇÃO, ORADOR, RELATORIO, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, SUGESTÃO, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, GARANTIA, RENDA MINIMA, CIDADÃO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma, prezados Srs. Senadores, exatamente há cinco anos, de 19 para 20 de março, iniciava-se a operação bélica pela qual as forças armadas dos Estados Unidos ocuparam o Iraque, para derrubar o Presidente Saddam Hussein, que, segundo todas as análises, estava sendo um ditador em seu país.

Sr. Presidente, será que essa guerra valeu? Será que não seria muito melhor ter agido como em setembro de 2002? Será que não teria sido melhor um caminho como o propugnado por Léon Tolstói, por Mahatma Gandhi, por Martin Luther King Jr., pelo Papa João Paulo II, por Platão e por todos que disseram frases tais como: “A guerra é sempre uma derrota da humanidade.” (Papa João Paulo II); “Só os mortos conhecem o fim da guerra.” (Platão); “Uma nação que gasta mais dinheiro em armamento militar do que em programas sociais se acerca à morte espiritual.” (Martin Luther King Jr.); “A guerra é uma invenção da mente humana, e a mente humana também pode inventar a paz.” (Winston Churchill).

Sr. Presidente, o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz escreveu, em 17 de janeiro, que a guerra dos Estados Unidos no Iraque tem sido muito mais custosa do que todas as estimativas até agora publicadas pelo governo norte-americano.

Disse Joseph Stiglitz a respeito desse assunto:

“A guerra do Iraque - e, em menor extensão, a guerra do Afeganistão - custou ao país um alto preço em sangue e riquezas. O valor das perdas em vidas nunca poderá ser contabilizado. Quanto às riquezas, vale a pena recordar que a administração, na sua arrancada para a guerra no Iraque, esteve relutante em fornecer uma estimativa do custo da invasão - e humilhou publicamente um conselheiro da Casa Branca, que sugeriu um valor total de 200 mil milhões de dólares. Ao ser pressionada para especificar um valor, a administração avançou 50 mil milhões de dólares - que corresponde ao o que actualmente se vem gastando em poucos meses. [Esse é um artigo de 15 de novembro de 2007.] Hoje, os números do governo reconhecem oficialmente que já se gastou no teatro acima de meio bilião de dólares. Mas, de facto, o custo global do conflito pode encontrar-se quatro vezes acima deste valor - como indica um estudo eu próprio [Joseph Stiglitz] fiz com Linda Bilmes da Universidade de Harvard - e até o Orçamento do Congresso admite que as despesas totais são provavelmente duas vezes superiores às despesas operacionais. Os números oficiais não incluem, por exemplo, outras despesas relevantes escondidas no orçamento militar, tais como os custos crescentes do recrutamento, com prémios individuais da reincorporação de 100 mil dólares; não incluem os benefícios por incapacidade ou cuidados médicos vitalícios que serão requeridos por dezenas de milhares de veteranos de guerra feridos, 20 por cento dos quais por lesões devastadoras no cérebro ou na coluna vertebral; surpreendentemente, não incluem os gastos de reposição do equipamento usado na guerra; se considerarmos também o impacto econômico da carestia do petróleo e os efeitos impulsivos da guerra - por exemplo, as retracções em cadeia dos investimentos por incertezas da guerra e as dificuldades de colocação dos produtos que as empresas americanas enfrentam no estrangeiro, porque os Estados Unidos são hoje vistos como o país mais odiado do mundo, então o custo total da guerra no Iraque ascenderá, mesmo numa estimativa conservadora, a 2 biliões de dólares pelo menos. Ao que deveremos acrescentar: até à data.

Surge como natural a pergunta, Que poderíamos comprar com este dinheiro se o dedicássemos a outra finalidade? A ajuda dos Estados Unidos para o conjunto dos países africanos tem rondado os 5 mil milhões por ano, o equivalente a menos de duas semanas de despesas directas na guerra do Iraque. O presidente fez uma grande encenação quanto às dificuldades financeiras da Segurança Social, mas todo o sistema poderia ser reparado durante um século com aquilo que vertemos nas areias do Iraque. Tivesse uma pequena fracção destes 2 biliões sido aplicada em investimentos para a educação e inovação tecnológica, ou na melhoria das infra-estruturas, e o país estaria colocado numa posição económica muito mais favorável para vencer os desafios num futuro próximo, incluindo as ameaças exteriores. Por uma lasca desses dois biliões conseguiríamos

garantir acesso à educação superior a todos os americanos habilitados.

A subida dos preços do petróleo está claramente relacionada com a guerra do Iraque. Nem se trata tanto de constatar se a guerra foi a culpada, antes de verificar em que medida o foi. Até parece incrível lembrarmo-nos hoje do que foi sugerido por funcionários da Casa Branca antes da invasão, de que as receitas do petróleo do Iraque pagariam completamente a guerra - Não fomos generosamente recompensados pela Guerra do Golfo de 1991? - e, pior ainda, de que a guerra constituiria o melhor meio de garantir os preços baixos do petróleo. Retrospectivamente, verificamos que os únicos grandes vencedores da guerra foram as empresas petrolíferas, as firmas fornecedoras da Defesa e a al Caeda. Antes da guerra, as estimativas dos analistas do mercado apontavam para uma estabilização dos preços a vigorar num período aproximado de três anos consecutivos na faixa dos 25 a 30 dólares por barril. Os accionistas já esperavam uma subida da procura por parte da China e da Índia, mas previam que esse aumento estava coberto pelo aumento da produção do Médio Oriente. A guerra estragou os cálculos, não tanto por ter esmagado a produção do Iraque - o que efetivamente fez -, mais porque agudizou o sentimento geral de insegurança na região, anulando investimentos futuros.

A obstinada fixação no petróleo, mau grado o preço, ilustra mais um legado desta administração: a sua incapacidade em diversificar as fontes energéticas do país. Deixemos de lado as razões ambientais que aconselham a abandonar os hidrocarbonetos - até porque o presidente nunca se mostrou convictamente adepto. Os argumentos de natureza económica ou de segurança nacional haveriam de ser bem ponderados para as opções tomadas. Ao invés, a administração prosseguiu a sua política de exaurir primeiro a América, ou seja, adquirir tanto petróleo ao estrangeiro quanto possível, tão depressa quanto possível, com tanto desprezo pelo ambiente quanto possível, deixando o país numa futura dependência do petróleo importado ainda maior e alimentando a ilusão de que a fusão nuclear ou outro milagre qualquer chegará um dia para nos socorrer. Tantas foram as prendas depositadas no sapatinho das empresas petrolíferas pelo Presidente, no seu programa energético de 2003, que John McCain se referiu a este como Nenhum lobista será esquecido.”

Sr. Presidente, ali, no Iraque, a situação, conforme eu próprio tive a oportunidade de verificar em 16 e 17 de janeiro último, quando lá estive, é extremamente difícil. Ainda que o Presidente Bush tenha declarado, ainda ontem, que a guerra teria valido a pena, esta não é certamente a opinião dos iraquianos.

Ángeles Espinosa, enviada especial a Bagdá de El País, diz, por exemplo, em seu artigo de hoje:

“A vida de Hazim al M. desmoronou com seu país. Esse iraquiano empreendedor, que há cinco anos via finalmente decolar seu pequeno comércio de sanitários, agora passa as manhãs sentado em um café de Hay al Darag, com o olhar perdido e o chá esfriando sobre a mesa. "Não vou ficar em casa como uma mulher", justifica. A impossibilidade de ganhar remuneração suficiente para manter sua esposa e seu filho é a última das humilhações em uma sociedade ainda profundamente patriarcal. Pelo menos 60% da população ativa se encontram desempregados. Mesmo com as recentes melhoras na segurança, a destruição do tecido social deixou os iraquianos desamparados. "Inclusive depois da invasão eu consegui alguns contratos para instalar banheiros em clínicas aqui em Bagdá e em Diyala, mas logo depois chegaram as coações", afirma com amargura. Mas foi o atentado contra a Mesquita de Samarra em 2006 que acabou de enterrar suas esperanças. "A vida parou", lembra.”

E assim por diante. Peço a transcrição completa desse artigo, que denota as dificuldades tão grandes que ali vivem os iraquianos. Na minha visita, onde, acompanhado do Embaixador Bernardo de Azevedo Brito, pude dialogar com cinco Ministros de Estado, mais de trinta Parlamentares, o Presidente da Alta Corte, sobretudo com ministros que, em decorrência até do bom diálogo havido, resolveram agora - os cinco Ministros de Estado - vir ao Brasil, conforme o Sr. Jalal Chaya, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque, me informou ainda hoje, informando ainda que o próprio 1º Ministro do Iraque, em decorrência desse bom relacionamento, também deverá vir proximamente ao Brasil.

Gostaria de informar, prezado Senador Romeu Tuma, que preside esta sessão, que no próximo dia 7 de abril, na Universidade de São Paulo, num dos principais auditórios ali, a convite do Centro de Estudos Árabes, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque e da própria associação de docentes e estudantes da Universidade de São Paulo, ali apresentarei o relatório pelo qual estive no Iraque, formulando a sugestão de que eles possam criar a instituição ou criar uma renda básica de cidadania, um fundo tal como existe no Alasca, para que todos os trinta milhões de iraquianos, com um maior sentido de solidariedade, de realização de justiça entre eles, possam viver em paz e de maneira muito diferente daquilo que continua a acontecer, com bombas sendo lançadas praticamente todas as semanas, matando pessoas.

Gostaria que pudéssemos sempre seguir o apelo de Madre Teresa de Calcutá: “Por favor, escolham o caminho da paz... Num curto período pode haver vencedores e perdedores nessa guerra que abominamos. Mas jamais poderá nem nunca será justificada a dor e perda de vidas que suas armas causarão.” Era o apelo que ela, desde 1991, fazia ao Presidente George Walker Bush e ao Presidente Saddam Hussein, prevenindo para o desastre que acabaria por acontecer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

*********************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno)

*********************************************************************************

Matéria referida:

“Invasão do Iraque. Angeles Espinosa do El País”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2008 - Página 6424