Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao livro de autoria do mestre e crítico literário Frederick G. Williams, intitulado "Poetas do Brasil".

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Comentários ao livro de autoria do mestre e crítico literário Frederick G. Williams, intitulado "Poetas do Brasil".
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2008 - Página 6467
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ELOGIO, OBRAS, TRABALHO, ESCRITOR, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, TRADUÇÃO, OBRA LITERARIA, LITERATURA BRASILEIRA, INTEGRAÇÃO, COLEÇÃO, UNIVERSIDADE ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COLABORAÇÃO, EDITORA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA), ABRANGENCIA, HISTORIA, LITERATURA, BRASIL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, CULTURA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, LITERATURA, ELOGIO, LEITURA, TRECHO, OBRA LITERARIA, ESCRITOR.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, vivemos, como se sabe, tempos de grande aceleração histórica e, simultaneamente, momentos de grande interação entre os povos. A razão desses fenômenos se deve, em grande parte, como também é consabido, ao progresso da ciência e da tecnologia, especialmente das chamadas tecnologias digitais.

O nosso País não pode perder a oportunidade para, aproveitando essa circunstância histórica que vive o mundo, divulgar, cada vez mais, a nossa cultura, posto que ainda são relativamente reduzidas a tradução de autores brasileiros, em menor escala, ainda, as antologias.

Tomei conhecimento, por intermédio do professor Cláudio Lembo, ex-Governador de São Paulo, que acaba de visitar os Estados Unidos da América do Norte, do competente trabalho de autoria do mestre e crítico literário, Frederick G. Williams, que, em parte, supre essa demanda. Trata-se de antologia intitulada Poetas do Brasil - uma seleção bilíngüe, em inglês, integrante da coleção Luso-Brazilian Books, da Brigham Young University Studies, Utah, em colaboração com a Editora da Universidade Federal da Bahia, publicação feita no ano de 2004.

O reputado escritor e crítico literário, Harold Bloom, que recentemente publicou o notável livro a respeito do seja sabedoria, foi dos que melhor saudaram a obra de Williams.

A antologia a que passo me referir, agora, abrange o Período Colonial Brasileiro, o Império independente, a República e o Século XX. O autor demonstra ser “a primeira que apresenta uma visão panorâmica da criatividade e beleza poética brasileira”.

Elizabeth Bishop, Emanuel Brasil, Ricardo Corona e Charles Perrona, em suas anteriores antologias, concentraram-se no Século IX e XX; Frederick Williams passou a incluir desde as origens com Anchieta, no Século XVI inauguracional da colonização brasileira, a Gregório de Matos, no Século XVII e aos Árcades mineiros, alguns até inconfidentes, como Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antonio Gonzaga e Silva Alvarenga. O referido livro, que ora comento, entra no Século XI, com os românticos, concluindo pelo simbolismo e o cientificismo com Augusto dos Anjos.

No século XX, apresenta tanto os modernistas paulistas Mário e Osvald de Andrade quanto o mineiro Carlos Drummond de Andrade, a carioca Cecília Meireles e os nordestinos, que eu não poderia deixar de registrar, Manuel Bandeira e Jorge de Lima.

Frederick G. Williams vai até o pós-Modernismo, também tão diversificado em João Cabral de Melo Neto e outros, chegando aos autores contemporâneos.

Sr. Presidente, sabe-se que traduzir prosa ensaística ou de ficção é difícil. Ainda mais difícil, a tradução de poemas. As traduções do autor dessa antologia são exemplares. Mencione-se o célebre soneto elegíaco À Carolina, de Machado de Assis, composto em memória à sua mulher.

Como já disse, com é difícil verter textos, mormente no terreno da poesia. Daí a parêmia italiana traduttori tradittori, isto é, sem querer, o tradutor, muitas vezes, trai aquilo que pensa o autor. Fazer crítica literária não é menos fácil. A crítica, observou certa feita Machado de Assis, é análise; a crítica que não analisa é a mais cômoda mas não pretende ser a mais fecunda.

Sr. Presidente, com especial prazer os pernambucanos, entre os quais me incluo, podem ver agora também em inglês, “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira, entre outros poetas da minha Terra. Frederick Williams conseguiu seu objetivo nesta antologia em traduções tão representativas com imagens poderosas e palavras suaves demonstrando a intensidade do sentimento de nossa extensa autonomia literária no mundo em língua portuguesa Literatura como arquitetura, música, pintura, escultura numa grande variedade cada vez mais universal do projeto civilizacional que o Brasil está construindo.

Não desejo encerrar o meu breve pronunciamento, Sr. Presidente, sem deixar de referir-me, novamente, ao poeta pernambucano, Manoel Bandeira. Aliás Williams, em seu comentário, observa que ele “iniciou a sua carreira literária publicando versos fortemente influenciados pela escola simbolista, porém seus maiores trabalhos encontram-se adaptados aos moldes dos princípios defendidos pelos modernistas. Suas composições são caracterizadas pela utilização do verso livre, linguagem popular, temas cotidianos, lembranças da infância e persistente lirismo, com o qual ele celebra o amor, a vida e a morte”.

Não desejaria, por esse motivo, encerrar minhas palavras, sem ler uma das peças de Manuel Bandeira.

O Bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2008 - Página 6467