Discurso durante a 34ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o destino da província do Tibete, ocupada pela República Popular da China.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Preocupação com o destino da província do Tibete, ocupada pela República Popular da China.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2008 - Página 6681
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • CONCLAMAÇÃO, ENTENDIMENTO, POVO, LIDER, GOVERNO PROVISORIO, PROVINCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, SOLUÇÃO, SITUAÇÃO POLITICA, DEFESA, DIREITOS HUMANOS.
  • COMENTARIO, RETORNO, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, ATENDIMENTO, CONVITE, EMBAIXADOR, COMPROVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, MODERNIZAÇÃO, EXTENSÃO, VANTAGENS, REGIÃO, CONFLITO, DIVISÃO TERRITORIAL, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, ELOGIO, LIDER, GOVERNO PROVISORIO, CONCLAMAÇÃO, PACIFICAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, EXPECTATIVA, ENTENDIMENTO, AMBITO, AUTONOMIA, REGISTRO, PROXIMIDADE, OLIMPIADAS.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Caro Sr. Presidente Augusto Botelho, o Senador Mão Santa esteve presente hoje quando o Senador João Pedro trouxe aqui a preocupação com os destinos do Tibete, de seu povo, porque, desde o último dia 10 de março, começou a haver manifestações por parte tanto dos monges budistas quanto de inúmeras pessoas em meio à população, protestos com respeito à forma como o Governo da República Popular da China tem agido naquele país, sobretudo no Tibete.

            Ainda ontem, quando eu estava presente à Missa da Páscoa, o Padre Julio Lancelot fez um apelo no sentido de que nós, Senadores, pudéssemos conclamar para um bom entendimento entre o povo do Tibete, o líder religioso e também líder no que diz respeito às questões políticas e de defesa dos direitos humanos, Dalai Lama, e o Governo da República Popular da China.

            Prezado Senador Augusto Botelho, eu me sinto uma pessoa preocupada com a República Popular da China e seus destinos. Sobretudo levando em conta os mais de cinco mil anos de história da China, tenho procurado compreender também as razões que levaram o povo chinês a realizar a revolução que levou Mao Tsé-Tung à presidência da China a partir de 1949, eu que sempre sou um partidário dos métodos da não-violência, seja para as coisas que acontecem no Brasil, bem como em qualquer país do mundo. Recentemente, estive no Iraque, em janeiro último, exatamente para ali propor que se instituam meios que venham a significar a maior solidariedade entre o próprio povo iraquiano e que se institua lá uma renda básica de cidadania.

            Pois bem. Eu quero aqui conclamar o Governo da República Popular da China a chegar a um entendimento com o Líder Dalai Lama. Nós pudemos observar nos últimos dias que Dalai Lama se dispôs a visitar as autoridades chinesas, o próprio presidente da China, Hu Jintao, e o Primeiro-Ministro da China, para chegarem a um entendimento.

            Como eu iria falar deste assunto, considerei importante fazer uma visita hoje ao Embaixador Chen Duqing, que se tornou um amigo meu. Foi justamente o intérprete quando eu, Roberto Muylaert e Dirceu Brizola, com nossas esposas - Celina, Ana Maria e Marta -, estivemos por 20 dias, em 1976, visitando seis cidades chinesas. Todos nós escrevemos sobre aqueles momentos. Em janeiro último, em companhia da Srª Mônica Dallari, novamente visitei a China por dez dias: Pequim, Xangai, Xian. Dessa vez, foi até por insistência deste hoje Embaixador da China no Brasil, Chen Duqing, que avaliava como muito importante que eu conhecesse a China 30 anos depois.

            Fiquei muito impressionado com o esforço do povo chinês visando o progresso, a erradicação da pobreza, a sua modernização, e, obviamente, ficamos impressionados com o grande desenvolvimento da República Popular da China que, inclusive, no ano passado, mais uma vez, teve uma taxa de crescimento econômico superior a 11% ao ano.

            Inclusive, o Tibete vem sendo beneficiado por esse grande crescimento e dinamismo da economia chinesa. As autoridades chinesas têm procurado fazer com que o Tibete também participe desse progresso.

            Dentre outras iniciativas, por exemplo, o Governo da República Popular da China vem realizando a construção de uma linha ferroviária que liga o Tibete à China Central, e acredito que isso contribuirá para promover o desenvolvimento.

            Pois bem. Eu não conheço tão bem e em profundidade todos os aspectos que significam este movimento de protesto, mas avalio como importante que o próprio Dalai Lama tenha feito um apelo àqueles que estão realizando as diversas manifestações, para que elas se façam de maneira pacífica, pois ele até disse que estaria renunciando ao seu cargo de líder do governo provisório fora da China se as manifestações tivessem o caráter de violência.

            Pois bem. O governo chinês, por vezes, declarou que considerava que as manifestações de protesto seriam lideradas por Dalai Lama, mas, deve-se levar em conta essa palavra firme de Dalai Lama, que procura seguir as tradições e os ensinamentos de pessoas que, na História, se caracterizaram por liderar ações não violentas, tais como o próprio Mahatma Gandhi, que liderou o movimento pela independência da Índia; e Martin Luther King Jr., que, nos Estados Unidos, liderou o movimento pelo respeito aos direitos civis, sobretudo para que não houvesse discriminação de raça ou de qualquer natureza, e também liderou o movimento pelos direitos iguais de votação, sempre propugnando que seus correligionários procurassem confrontar a força física com a força da alma, jamais tomando do cálice do veneno, do ódio, da guerra, da vingança.

            Nessa mesma linha de raciocínio, quero aqui conclamar o governo da República Popular da China, que tem o maior interesse em que os Jogos Olímpicos deste ano, que serão realizados daqui a quatro meses em Pequim, possam ser um sucesso para toda a humanidade e que está preocupado com a possibilidade de esse movimento no Tibete prejudicar o bom andamento dos Jogos Olímpicos, a tomar a iniciativa de chamar o Dalai Lama para conversar.

            Revelou-me o Embaixador Chen Duqing que o irmão de Dalai Lama, em tempos recentes, vem conversando com as autoridades do governo chinês. Ora, isso pode ser um passo na direção de um entendimento.

            Levando em conta que o Padre Júlio Lancelotti conclamou-me a fazer um apelo no sentido de um entendimento pacífico entre os chineses e os tibetanos e levando em conta a postura de uma pessoa que hoje se constitui numa das maiores lideranças nos Estados Unidos da América, a Deputada Nancy Pelosi - como Presidente da Casa dos Representantes do Povo, ela visitou o Dalai Lama na Índia e conclamou também o entendimento -, deixo este apelo.

            Trata-se de uma questão internacional, e nós, Senadores brasileiros, estamos sempre atentos aos episódios que acontecem em nosso País e em todos os países do mundo. Portanto, quero aqui externar este apelo para que possam ser bem-sucedidos os Jogos Olímpicos de Pequim, mas que possa também ser resolvido, de maneira pacífica, esse anseio do povo do Tibete, que gostaria de chegar, pelas palavras de Dalai Lama, a um certo grau de autonomia, respeitando a sua relação com o governo da China.

            O governo chinês avalia que o Tibete é parte da China, já que, do século XIII até o início do século XX, quando houve a separação do Tibete de 1911 até 1949, o Tibete esteve sob seu domínio. Por isso essa polêmica, esse dilema.

            É muito importante que contribuamos, de todas as formas possíveis, para um entendimento. Daí este apelo para que a situação do povo do Tibete e da China possa ser resolvida de maneira pacífica.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2008 - Página 6681