Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcurso do Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso do Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2008 - Página 6759
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, FACULDADE, MEDICINA, ESTADO DA BAHIA (BA), PIONEIRO, BRASIL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MEDICO, PERSONAGEM ILUSTRE, MELHORIA, SAUDE PUBLICA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), COLABORAÇÃO, POLITICA NACIONAL.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Antonio Carlos Magalhães, que preside esta solenidade dedicada ao transcurso do bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia, Sr. Diretor Professor Tavares Neto, permitam-me saudar - são muitas as autoridades, as lideranças, e eu poderia esquecer alguém - todos na pessoa do piauiense vice-Diretor dessa faculdade, Modesto Jacobino.

            Ô, Pedro Simon, meu nome é Francisco. Minha mãe, terceira franciscana, como V. Exª... Então, ela se pegou... Eu era menino e ouvi dizer, e ouvi nas rezas dela, no colo dela, que ela queria que eu fosse frade da barbicha, franciscano. Não sei se foi a Adalgisa que me tirou desse rumo, mas acabei não o sendo e sendo médico. Então, é muito sonho. Tenho 65 anos de idade. Não atendi à minha santa mãe, né? Mas fui ser médico desde aí, porque desejava, porque via as figuras médicas que moravam na nossa cidade.

            Um cirurgião, Dr. Cândido Almeida Athayde, um dos mais extraordinários homens que eu conheci na minha vida, fez o parto de João Paulo dos Reis Velloso e também o meu.

            Interessante esse negócio de Mão Santa. Eu não tenho nada de mão santa - mãos iguais às de todos os médicos-cirurgiões. Mas esse Cândido Almeida Athayde - aliás, o Sarney e essa Bancada do Maranhão devem homenageá-lo; para mim, é o maior maranhense que conheço - foi Diretor da Santa Casa de Parnaíba. Fez o meu parto. João Paulo Reis Velloso nasceu nas mãos dele.

            Aí, César Borges, eu, muito novo, cheguei e fui para lá porque queria mesmo.

            Eu não sei, ô Pedro Simon, esse negócio de desemprego. É porque entrei nesse negócio de política, porque, para mim, não. Deus foi muito bom para mim. Era um monte de emprego para eu escolher. Mas eu fui porque queria mesmo ir para a minha cidade e tomei conta de uma Santa Casa de Misericórdia, muito novo, igual a todas as Santas Casas. Quem é médico sabe como funciona. Salvador deve ter, não? Pois é.

            Esse Cândido Almeida Athayde, maranhense, ali, do lado de Tutóia, no Maranhão, eu, chegando novinho, ele fora convidado para ser patrono de um posto do Funrural, médico, idoso. Ele tinha feito o meu parto; e eu, novinho. Eu acho - ele era muito sabido... Havia aqueles teco-tecozinhos que caíam como o quê... Aí ele... Eu não tinha nada de negócio de apelido de Mão Santa. “Dr. Francisco, você não quer me representar na minha cidade, Tutóia, Barro Duro”? Eu era novinho, chegado do Rio, fui com um anestesista e com uma freira e... ...teco-teco.

            E lá, muito novo, aquelas farturas do interior do Maranhão, muito discurso. Vocês vêem os maranhenses como discursam, né? Mas eu estava mesmo a fim era de tomar uma cerveja, comer bem. Médico novo... Quatro horas da tarde, o dono da casa acabou a festa, e todo mundo para a inauguração. Eu estava representando o patrono, Doutor Cândido Almeida Athayde. Aí, lá pelas tantas, discursos, Prefeito, Vereador, Deputado do Maranhão, aquelas coisas a que nós estamos acostumados. Subiu um, olhou assim... Eu estava representando o homenageado, filho da terra, esse Doutor Cândido Almeida Athayde.

            Aí, o orador, Presidente do Sindicato, meu nome não sabia, disse: “Esse doutor que está aí, doutor das mãos santas, me operou e eu estou bonzinho”. Eu nem sabia que tinha operado ele, porque eles chegavam à Santa Casa nas redes. Sabem como é Santa Casa? Bota, opera etc. Aí, naquilo de brincadeira...

            Então, a história é a seguinte: esta homenagem. Primeiro, a importância. Getúlio Vargas... Ô, Pedro Simon, Getúlio, extraordinário homem. O Luiz Inácio devia conversar assim com uma pessoa para entender quem foi Getúlio. Este País teve grandes governantes.

            Pedro II - estudem Pedro II -, 49 anos, saiu pelas circunstâncias. Tinha que vir a democracia, “o Governo do povo, pelo povo, para o povo”. Há 100 anos já existia “liberdade, igualdade e fraternidade”. Caíram todos os reis. Levaram 100 anos. Então, tinha que vir. Mas Pedro II era tão bom, tão bom... Atentai bem. Ele foi para Paris, vida modesta, não roubou nada. Vida modesta lá. Pedro II, quando ele morreu, ficou lá... Notre Dame de Paris... Os líderes franceses disseram: se nós tivéssemos um rei como esse, nós nunca tínhamos feito essa república.

            Esse Getúlio Vargas, essa figura extraordinária...

            Então, entendam que o Piauí é muito avançado em Medicina, porque Getúlio Vargas... Ninguém escolhe a época de governar. Para entrar, ele teve que fazer uma guerra. No Rio Grande do Sul, as eleições eram fraudulentas, e ganhou mesmo. Os paulistas quiseram derrubá-lo - outra guerra. Aí, no fim, veio a guerra mundial. Então, ele enfrentou três grandes guerras. Mas, ô, homem para trabalhar.

            No começo, ele foi apoiado pelos tenentes. Ele saiu colocando tenente em quase todo o Brasil. Lá, na sua Bahia, foi Juracy Magalhães. ...tudo que era tenente... O Piauí deu sorte, botou um tenente, não deu certo, e ficou um médico: Leônidas Melo, pneumologista.

            A tuberculose, naquele tempo, se fazia pneumotórax para tratar... E ele havia se especializado nisso. Está voltando. Advirto. Eu adverti muito aqui: olha o mosquitinho. Olha o mosquitinho da dengue. É o mesmo mosquitinho. Governo que não ganha de um mosquitinho não vai ganhar de nada, está enganando o povo. Oswaldo Cruz ganhou do mosquitinho. A tuberculose... ...do PT aqui... está voltando aí... Pois esse Leônidas Melo era pneumologista. E ficou... Então, ele tinha a visão; implantou todo um hospital e colocou o nome Getúlio Vargas. Então, os outros Estados eram tenentes. Ele desenvolveu um padrão médico no Piauí.

            Mas tudo nasceu na Bahia. Tudo! Tudo! Tudo! Não tem negócio de ex-mãe. Eu nunca ouvi falar ex-mãe. Então, a Bahia é a mãe do Brasil. Essa é a verdade, em tudo. Não tem ex-mãe. Aí, todo mundo foi se formar lá, mas esse desenvolvimento do Nordeste todo foi lá.

            E aqueles que são “São Tomé”, a evolução é tão grande - cuidado aí - que o nosso piauiense é bom, o seu vice-reitor. Vamos pedir para colocar você para Ministro para dar o lugar para ele logo aí, Ministro da Educação. Então, é um piauiense da Faculdade de Medicina.

            Depois, eu governei o Estado; criei outra firma, o maior desenvolvimento universitário da história do Brasil, e hoje há quatro faculdades de Medicina em Teresina. Eu criei a segunda. Mas, por causa desse médico, que implantou o Hospital Getúlio Vargas, mas tudo nasceu da Bahia. E eu busquei aqui, para ver como as coisas estão melhorando.

            Este Senado, ô Jefferson Péres, quando começou, tinha dois médicos somente. No primeiro Senado, eram 42. Esse pessoal da Justiça é sabido; tinham mais de 20 - vinte e poucos -, magistrados, e, desde lá, vêm fazendo leis boas para eles. Dez militares, Duque de Caxias; sete religiosos, Padre Feijó; dois médicos, dois ligados ao campus.

            Hoje, somos seis médicos aqui. Então, há uma respeitabilidade do povo brasileiro, que nos manda. Um foi Antonio Carlos Magalhães, que nos deixou há pouco, mas, como árvore boa dá bons frutos, está aqui na Presidência um filho dele. Hoje tem os Senadores Tião Viana, Papaléo Paes, Rosalba Ciarlini, Mozarildo Cavalcanti, Augusto Botelho e eu aqui, que estou... Somos seis médicos no Senado.

            Essa universidade tem de ser comemorada e entendida. Esta é a razão, Pedro Simon, de entender as coisas. Brasil, educação, faz duzentos anos que começou. Salamanca, na Espanha, tem mais de duzentos anos; Heidelberg, na Alemanha, mais de mil anos; a Grécia, Hipócrates, que lá conviveu com Sócrates e Platão, fez a sua primeira Academus, Aristóteles.

            Nessa geração, teve o pai da medicina científica: Hipócrates. Por que estamos aqui a comemorar? Sou orgulhoso de ser médico. Entendo que a Medicina é a mais humana das ciências e o médico um grande benfeitor da humanidade.

            Por que isso tudo? Por que, ô Pedro Simon? Já o juramento de Hipócrates é um código de ética, de decência, de deontologia. Então, é uma formatura que tem ética. O Juramento de Hipócrates é um código de ética, e está faltando ética neste País, decência. É vergonha na cara. Eu falo é para o povo me entender. Ética é vergonha na cara.

            Já Hipócrates tinha o código dele. Obriga-se, hoje, todo formando a repetir, rezar as palavras de Hipócrates, e muita ciência. O que ele pesquisou, porque o homem é o homem, o homem é sábio, ainda é muito válido. Eu me lembro, Pedro Simon, eu, que sou cirurgião, que ele disse - foi ele: Nós fazemos! Não atualizou nada. Onde há o pus, dá a saída ao pus. É isso. O tetânico, passado dos cinco dias, estará salvo, pela resistência. Então, a Medicina é assim, nasce... Então, a Escola da Bahia é muito atual, porque deu seus filhos.

            Então, o Piauí, hoje agradeço em nome daqueles essa grandeza da Medicina que lá existe. Lá se faz transplante cardíaco com êxito. Só para dar o exemplo. Coloquei aquele Estado na era dos transplantes.

            Mas, filho ilustre, Isaías Coelho. Olha, esse Isaías Coelho, é nome hoje de cidade. Ele ficou em Simplício Mendes. Foi laureado, premiado no Brasil, para representar este País. A cidade dele vivia em função de romaria desse grande clínico piauiense. Ele recebeu do governo para representar este País na França. Ele é nome, hoje, de cidade.

            Antenor Neiva. Eu não o conheci, mas ele é renomado. Um filho dele, eu nomeei Diretor do Hospital de Picos. É o mesmo nome do pai.

            Mariano Lucas de Souza, CRM 08. Olha, eu não conheci pessoa mais humana do que esse homem. Se tiver santo, esse vai. Até o nome dele é Lucas, que é o Apóstolo. Olha, lepra hoje... Mas lepra era complicado - está até na Bíblia - viver na pele de um leproso. Na minha cidade, havia um leprosário, e esse homem... Eu morava do lado do Bispo. Governo é difícil, Luiz Inácio! Então, saíam todos aqueles hansenianos, famintos, porque o Governo não lhes dava nem alimento, e iam para a porta do Bispo, de quem eu era vizinho. Passavam três dias acampados, com aqueles discursos. E esse homem entrou e tomou conta de todos os leprosos do Piauí. Eu nunca mais presenciei outra manifestação dessa. Então, foi formado lá.

            Gerson Mourão Filho, obstetra, político ilustre de Pedro II.

            Ariosto Martins Filho, que já faleceu.

            Mirócles Veras, interventor da minha cidade no tempo de Getúlio.

            Lineu Araújo. Hoje, o maior ambulatório público do Piauí tem o seu nome.

            Deolindo Couto. Passou na Bahia. Piauiense. Um dos maiores nomes da Medicina deste País. Neurologista, na Praia de Botafogo tem a clínica neurológica. Da Academia. Fundou a Academia de Medicina e foi membro da Academia de Letras. Nascido em Oeiras, um dos maiores luminares piauienses, mas não se radicou lá.

            César Melo, ex-prefeito da cidade de Campo Maior, médico lá. Paulo Eudes, ex-prefeito da minha cidade, recentemente, homem honrado, como todos os que foram educados pela escola.

            E, por último, queria dizer um com quem convivi. Oscar Eulálio. Severo Eulálio foi daqueles autênticos. Era seu irmão. Foi Deputado Federal. Essa família é ilustre, tem um deputado, Kleber Eulálio. Aliás, o meu segundo suplente é Severo Eulálio, engenheiro. Mas eu não conheci homem mais capaz na Medicina, na cirurgia - eu que sou - e na política do que Oscar Eulálio. Ele enfrentou a ditadura militar. Deus me proporcionou o privilégio de ser deputado estadual com ele, na ditadura.

            E, se hoje eu tenho, vamos dizer, alguma coragem de defender a democracia, na Oposição, o exemplo foi deste bravo médico, de lá, formado lá, Oscar Eulálio. Ele foi Deputado Estadual brilhante, vibrante, e muito do que eu mantenho aqui aprendi com a coragem daquele homem. E mais, fundou um hospital na cidade de Picos, que é para nós como São Paulo, a cidade em que se trabalha mais no Piauí; cidade comercial, industrial.

            Esses são os muitos frutos... O Piauí se engrandeceu, se civilizou, ficou com vida própria na Medicina. E isso se deve a essa faculdade. Mas o Piauí devolveu isso agora. Ele é formado lá, o seu vice-diretor, está lá, convivendo.

            Nós viemos aqui fazer isso. Que tenhamos a compreensão de que a classe médica deste País é extraordinária e fabulosa. Nós temos duzentos anos. Bem aí, no Peru, que foi civilizado pelos espanhóis, eles têm uma faculdade que foi criada em 1540, a Universidade de São Marcos. A nossa foi em 1808, quando chegou Dom João VI.

            Nunca dantes se viu uma classe que avançasse com tanta dedicação e obstinação: nós, médicos, todos filhos da Universidade da Bahia. Então, à Universidade da Bahia essa gratidão de todos nós que fazemos a Medicina do Brasil, que avança.

            Acho que foi um grande dia. O nosso Senador Antonio Carlos Magalhães Júnior tornou esta Casa viver esses momentos para despertar o País - esse é o nosso sentido - das grandezas que temos que é a universidade. Isto é tão importante que fui prefeitinho da minha cidade e havia uma multinacional, Jefferson Péres, a Merck & Co, Inc., de Darmstadt, muito rica. Fui recepcionado por eles, que tinham uma fábrica que retirava jaborandi e fazia a pilocarpina, substância que dilata a pupila.

            Eu pegava... De vez em quando, eles diziam: “Professor Basedow!” , o trânsito abria; “Professor Basedow!”, dava a melhor mesa do restaurante; “Professor Basedow!”, a melhor cadeira do teatro. Olhei assim e disse: “Mas, você não é diretor químico da Merck, Darmstadt, dinheiro muito, poderosa Merck?” Ele disse: “É. Mas aqui, na Alemanha, o titulo mais honroso é o de Professor, e fui Professor de química da Heilderberg por dez anos”. Você quer ir lá conhecer? Eu tenho a obrigação, ao usar esse título, de dar uma aula por semana de graça”.

             Então, isso é a grandeza. Duas guerras... Eu vi Heidelberg... A Alemanha toda bombardeada e ressurgida, moderna. Lá, é antiga. Ninguém no mundo, duas guerras mundiais, teve coragem de ousar soltar uma bomba em Heidelberg, porque lá era o templo do saber, lá estudou Einstein.

            Então, essa é a grandeza. Está no livro de Deus que vale mais do que ouro e prata a sabedoria. E o nosso templo do conhecimento e do saber é a Universidade Federal da Bahia, que homenageamos hoje.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2008 - Página 6759