Discurso durante a 36ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do ex-Senador, ex-Presidente do Senado Federal e Patrono da Biblioteca do Senado Federal, Luiz Viana Filho.

Autor
Efraim Morais (DEM - Democratas/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do ex-Senador, ex-Presidente do Senado Federal e Patrono da Biblioteca do Senado Federal, Luiz Viana Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2008 - Página 6915
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, LUIZ VIANA FILHO, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX PRESIDENTE, SENADO, PATRONO, BIBLIOTECA, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), JURISTA, JORNALISTA, ESCRITOR, MEMBROS, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, HISTORIA, BRASIL.
  • REGISTRO, DOAÇÃO, BIBLIOTECA, SENADO, ACERVO, CARATER PESSOAL, LUIZ VIANA FILHO, EX SENADOR.

O SR. EFRAIM MORAIS (DEM - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Excelentíssimo Senhor Presidente, Senador César Borges, meu caro amigo Luiz Viana Neto, que me deixa muito alegre por revê-lo, Drª Simone Bastos Vieira, nossa Diretora da Biblioteca do Senado Federal, biblioteca que leva o nome do nosso homenageado, nosso patrono, Henrique Viana e Alberto Pinheiro Queiroz Filho, netos do nosso homenageado, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, o plenário desta Casa já vivenciou memoráveis acontecimentos, seja pelos embates políticos nele travados, seja pela presença maiúscula de expoentes de nossa nacionalidade. Um desses momentos maiores foi a passagem de Luiz Viana Filho como Senador da República pelo Estado da Bahia. Na verdade, esse grande baiano engrandeceu as duas Casas do Congresso Nacional, exercendo seis mandatos como Deputado Federal e dois como Senador.

Brasileiro de escol, baiano da mais alta estirpe, já nasceu com a política no sangue, filho que é do Conselheiro Luiz Vianna, Governador da Bahia ao findar-se o século XIX, homem público de vasta e prestigiosa carreira no Estado e que foi, antes do filho, Senador da República até 1920, ainda na República Velha. Jurista emérito, Luiz Vianna iria transmitir ao seu filho seu grande saber jurídico e o gosto pelas letras. A admiração do filho pelo pai se traduziria quando, ao ingressar na faculdade, o jovem Henrique Luiz Viana, em declaração pública, informa passar a assinar, a partir de 28 de março de 1925, Luiz Viana Filho.

O jovem Viana deixava a adolescência. Ao ingressar na faculdade de Direito, homenageava o pai ilustre, cujo nome só faria engrandecer ao longo de sua profícua carreira. Ao mesmo tempo, iniciava a caminhada que projetaria o seu próprio nome para o topo da história do Brasil no século XX, tornando-se referência para os seus contemporâneos. Dele, Austregésilo de Athayde afirmaria: “Luiz Viana Filho é, por si, um título de glória para o nosso País”.

A marcante presença de Luiz Viana Filho no cenário nacional se estende por amplos espaços do saber humano, em seu sentido mais nobre: homem de idéias, homem de palavras, homem de ação.

Seu destino brilhante já estava traçado desde o nascimento, ocorrido na Cidade-Luz, Paris, em 1908. Dois anos depois, viria aportar na Bahia, de onde se lançaria, anos mais tarde, em direção ao firmamento dos grandes nomes de nossa Pátria.

Iniciando seu labor, ainda muito jovem, aos dezesseis anos já trabalhava como jornalista, profissão que desenvolveria por muitos anos e à qual recorreria quando forçado pela Ditadura Vargas a largar seu mandato de Deputado Federal pela Bahia nos idos de 1934. Por longo tempo, antes e depois desse funesto episódio, Luiz Viana Filho teria seus textos brilhantes estampados nas páginas do jornal A Tarde, de Salvador, e reproduzidos pela mídia nacional.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, à afabilidade de pessoa Viana Filho juntava o vigor de suas convicções. Finda a era da ditadura do Estado Novo, Viana Filho retornou à política, elegendo-se Deputado Federal pela Bahia em mandatos que se sucederam entre 1945 e 1966. No regime militar, que apoiaria com convicção, foi convidado pelo Marechal Castelo Branco e aceitou ser Ministro Extraordinário para Assuntos do Gabinete Civil, de 1964 a 1967. Durante o ano de 1966, acumulou o cargo com o de Ministro da Justiça.

Em 1967, elegeu-se Governador da Bahia em eleição indireta pela Assembléia Legislativa do Estado. O fato de o Brasil estar sob um regime que se fechava aos processos democráticos não o fez se afastar das convicções que sempre o moveram.

Dedicou-se com ardor à tarefa de construir um futuro melhor para a Bahia e seu povo. Investiu na educação dos baianos, movido pela certeza de que só há futuro para as nações que educam sua gente. Investiu na implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari movido pela certeza de que a Bahia precisava de uma atividade catalisadora de riqueza que impulsionasse seu desenvolvimento econômico, único caminho possível para a prosperidade de seus conterrâneos.

Com o prestígio granjeado como Governador, foi eleito Senador da República. Em 1974, o Senado Federal acolhia um dos mais ilustres membros de sua longa história. Ainda investido do mandato de Senador, Luiz Viana Filho falecia, em 1990, aos 82 anos de idade. A implacável lei da natureza subtraía ao Brasil uma de suas mais brilhantes inteligências. Perda irreparável para seus contemporâneos, tornou-se um marco para a história política e intelectual desta Nação.

Quase como óbvia conseqüência da grandeza de sua presença nesta Casa, veio a presidir a Comissão de Relações Exteriores, lugar reservado às grandes figuras do Senado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, à Presidência do Senado Federal ascenderia no biênio 1979-1980, realçando-a em dignidade e prestígio. Coerente com seu amor pelas letras e pela cultura, o Presidente dá novo vigor e importância à Biblioteca do Senado, tornando-a referência nacional.

Nada mais justo, pois, que a Biblioteca passasse a se chamar Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, à qual viria se incorporar a biblioteca pessoal de nosso homenageado. A integração desse acervo ao do Senado foi uma das mais felizes decisões da Casa, por iniciativa do Senador Sarney, que o Senador Antonio Carlos Magalhães concretizou.

Em 1997, com magnífica exposição dos inúmeros exemplares raros da coleção, a Biblioteca do Senado apresentou sua aquisição. Até hoje, para nosso gáudio e de todos quantos amam a cultura, podemos consultar o excepcional conjunto de obras que Luiz Viana Filho acumulou em suas diligentes buscas em sebos e livrarias.

Sr. Presidente, o espírito de Luiz Viana Filho não poderia ficar preso às lides políticas apenas. Mesmo não sendo tarefa pequena, Viana Filho precisava ir além da política , do mesmo modo que o jornalismo não esgotava sua capacidade de se envolver com o Brasil e sua gente.

Formado em Direito em 1929, tornou-se, em 1933, professor contratado de Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da Bahia. Em 1940, por concurso, tornou-se professor catedrático de Direito Internacional Privado. Em 1943, fundada a Faculdade de Filosofia da Bahia, foi nomeado professor de História do Brasil, cargo em que se aposentou.

Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras, meus senhores, a experiência como jornalista e o saber jurídico iriam se aliar para fazer Luiz Viana Filho construir uma das mais sólidas e respeitadas reputações de biógrafo. De sua talentosa pena de escritor saíram biografias de importantes figuras da História brasileira.

Granjeou renome nacional com a publicação, em 1941, de A Vida de Rui Barbosa, biografia seguida pelas de Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco, Machado de Assis, José de Alencar e Eça de Queirós. Estava, então, assegurado seu lugar de destaque entre os cultores do gênero de tal modo que Alceu Amoroso Lima o chamaria de príncipe de nossos biógrafos.

Não foi, porém, como biógrafo que Luiz Viana Filho se iniciou no campo das letras. Foi também, desde a década de 1930, autor de trabalhos sobre História, entre os quais se destaca

O Negro na Bahia, publicado em 1946, que logo se tornou um clássico para os estudiosos dos problemas suscitados pela integração e pela aculturação do negro trazido para o Brasil pela escravidão. Sua abordagem sepultava a visão maniqueísta que atribuía ao negro africano um só perfil, negando-lhe a origem diversificada das tribos, culturas e tradições que se espalharam por toda a África negra. Pela primeira vez, os negros no Brasil, vistos a partir de seus grupos distintos, têm ressaltada a riqueza cultural que nos trouxeram.

Tal erudição acabou por conduzi-lo à Academia de Letras da Bahia e à Academia Brasileira de Letras, eleito em 1954 para a Cadeira 22, cujo patrono é José Bonifácio de Andrada e Silva, o Moço. Sua vastíssima cultura o levou a pertencer ao Instituto Histórico e Geográfico da Bahia; a tornar-se membro benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro correspondente da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa de História.

Srªs e Srs. Senadores, por qualquer aspecto que se aborde a vida e a obra de Luiz Viana Filho, não há como não ser tomado de admiração e respeito pelo homem íntegro, pelo político firme e decidido, pelo intelectual erudito e percuciente.

A unanimidade cristalizada em torno da importância de Luiz Viana Filho para a História brasileira do Século XX pode ser traduzida pelas palavras de Josué Montello, seu colega de Academia, quando a ele se refere como “o mais polido de seus contemporâneos, o mais civilizado dos brasileiros. Íntegro. Superior. Obra-prima do bom gosto de Deus”.

Guilherme Merquior, outro expoente de nossas letras, precocemente falecido, repercute as palavras de Montello, dizendo que “toda vez que o Brasil conjugar o estilo da lhaneza com o sentido da grandeza, o alto vulto de Luiz Viana Filho sorrirá para nós, lá do Senado das sombras”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras, meus senhores, poderia continuar a desfilar obras e ditos sobre Luiz Viana Filho. Prefiro, contudo, encerrar esta minha intervenção, afirmando que a grandeza de um homem não está no fato de que todos com ele concordem. Sua grandeza está no fato de que a todos inspira respeito, mesmo os que dele discordam. Essa é a verdadeira grandeza de Luiz Viana Filho, atemporal, permanente na memória de nossa Nação.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2008 - Página 6915