Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as declarações do Presidente Lula. Considerações sobre o Proer. A escalada da desconstitucionalização da Bolívia.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários sobre as declarações do Presidente Lula. Considerações sobre o Proer. A escalada da desconstitucionalização da Bolívia.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2008 - Página 7213
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CRITICA, INCOERENCIA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ACUSADO, EXTORSÃO, DINHEIRO, PROPRIETARIO, RESTAURANTE, REMESSA, MENSAGEM (MSG), PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), NECESSIDADE, SOLUÇÃO, CRISE, MERCADO IMOBILIARIO, POSSIBILIDADE, BRASIL, TECNOLOGIA, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER).
  • ESCLARECIMENTOS, RESPONSABILIDADE, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), SALVAMENTO, REFORÇO, BANCOS, BRASIL.
  • REGISTRO, VISITA, GABINETE, ORADOR, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, CRISE, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, RESULTADO, INCOMPETENCIA, ABUSO DE PODER, GOVERNO ESTRANGEIRO, EMPENHO, OPOSIÇÃO, RESTABELECIMENTO, INSTITUCIONALIZAÇÃO, REFORÇO, DEMOCRACIA, AMERICA LATINA.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ANALISE, ROMPIMENTO, PROCESSO, DEMOCRACIA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA.
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA EXTERNA, GOVERNO BRASILEIRO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Tenho uma amizade muito forte pelo jornalista Hélio Fernandes, mas nem por isso ele deixa de me criticar quando eu mereço ou, no mínimo, quando ele julga que eu mereço. Só tenho respeito a dirigir a ele, porque o jornalista Hélio Fernandes é um dos poucos brasileiros que, além de cassado em seus direitos políticos - ia ser eleito consagradoramente como Deputado Federal ou Senador pelo então Estado da Guanabara à época - ainda foi confinado - como o governo uruguaio confinou Brizola em Atlântida, no Uruguai; confinado como Jânio Quadros foi confinado, em Mato Grosso, se não me engano - em São Paulo, se não estou errado

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Fernando de Noronha.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Enfim, mas de qualquer maneira foi considerado tão perigoso pelo regime autoritário que... Considero que fizeram uma homenagem, algo que tem que passar para os filhos e para os netos, que devem cultuar isso.

Tenho muito respeito pela pena corajosa.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Parece que ele foi o jornalista que mais vezes foi preso no Brasil na ditadura.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Isso é verdade. É indomável, alguém que foi, digamos assim, da escola política de Carlos Lacerda e, em algum momento, separou-se de Carlos Lacerda, criticando-o quando julgou que Carlos Lacerda merecia. Então é uma pessoa que, quando me critica, levo muito a sério; e quando me elogia, fico extremamente estimulado. Não envaidecido, porque nessa luta não dá para ficarmos envaidecidos, mas estimulados, sim.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - É talvez o homem de maior história política deste País. Quando homenageamos Luiz Viana Filho - falei pelo meu Partido, PMDB; V. Exª falou pelo seu PSDB -, recebi um telefonema dele depois tecendo comentários sobre a grandeza do Luiz Viana. Como V. Exª que tem o pai Arthur Virgílio e o filho, não é? E ele queria dizer da grandeza do Luiz Viana pai, que conviveu com Rui Barbosa. Os dois, Luiz Viana e Rui Barbosa, fizeram a transição do regime imperial para o regime democrático de uma maneira pacífica como a própria França não soube fazer. Lá rolaram as cabeças nas guilhotinas; aqui, a transição foi feita quase pacificamente graças a Luiz Viana e Rui Barbosa, que é o nosso patrono.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª tem toda a razão, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula é de fato uma pessoa surpreendente. O noticiário de ontem - e todo dia tem um comício dele - mostrou o Presidente Lula, em rede nacional, elogiando, redimindo e canonizando o ex-Presidente da Câmara, Deputado Severino Cavalcanti, que, segundo ele, teria sido eleito pela Oposição - como se a Oposição tivesse número para eleger alguém na Câmara - e, depois, derrubado também pela Oposição.

O Presidente Lula, que passou a vida inteira cultivando os princípios da ética na política, parece que se esqueceu que Severino Cavalcanti caiu do cargo para o qual foi legitimamente eleito pelas Srªs e pelos Srs. Deputados, porque foi flagrado extorquindo dinheiro - essa é a acusação que pesou sobre ele - de um proprietário de restaurante da Câmara dos Deputados, um concessionário de restaurante da Câmara dos Deputados. E mais, foi a luta fratricida dentro do PT, entre o Deputado Virgílio Guimarães e o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh - Virgílio Guimarães correndo por fora e Luiz Eduardo Greenhalgh correndo como candidato oficial - que possibilitou, primeiro, a ida de Severino ao segundo turno da eleição para Presidente da Casa e, segundo, os ressentimentos que possibilitaram a vitória dele no segundo turno.

Em outras palavras, Severino é obra do PT, é obra do governo Lula. E o Presidente Lula mais uma vez passou a mão na cabeça de quem se envolveu em delitos graves, passou a mão na cabeça dos mensaleiros processados por indicação do Procurador-Geral da República, passou a mão naqueles que falsificaram dossiês, os Hamilton não sei das quantas, os Lorenzettis não sei de quê, como aloprados, enfim. E agora estamos de novo às voltas com o vazamento de um dossiê com dados que o Governo diz que são sigilosos, mas, dados referentes aos gastos de cartões corporativos de contas tipo B, na gestão do Presidente Fernando Henrique e, ele Lula, que se nega a fornecer seus próprios dados.

Fui hoje ao Palácio - e fui muito bem recebido pelo Dr. Gilberto Carvalho - para pedir que abrissem as minhas contas como Ministro, fui com o ex-Ministro Raul Jungmann e levamos também o requerimento do ex-Ministro da Educação do Governo Fernando Henrique, Paulo Renato, e pedimos - o Deputado Raul Jungmann e eu - que o Presidente Lula, a partir de um requerimento nosso, abrisse suas contas, abrisse todas as contas do Presidente Fernando Henrique, que já mandou um documento dizendo que concorda e quer isso; Fernando Henrique e D. Ruth querem isso. Pedimos a D. Marisa.

Presidente Lula, isso não tem nada a ver com família, é dinheiro público e isso tudo tem que ser aclarado.

Mas, num dia ele elogia Severino Cavalcanti e não ficamos mais estarrecidos, não. A pesquisa hoje diz que ele está com 58% de aprovação. Talvez, se elogiar o Severino mais um pouco, ele passe para 98%. Não estou preocupado com isso. Estou preocupado em cumprir com meu dever. Fui eleito para um mandato de oito anos e vou cumprir com o meu mandato estritamente. Depois, vamos ver o que o povo pensa de mim, dele; e mais, depois vamos ver o que o povo pensa, na hora de se ter a história escrita, o que pensa do papel que desempenhei, o papel dele. Enfim, que cada um assuma sua responsabilidade. Estou aqui para assumir a minha.

Hoje, Sr. Presidente, ele volta à cena. E dessa vez diz que teria mandado um recado, diz Ângela Lacerda, de O Estado de S. Paulo, um recado bem humorado, diz ela, para o Presidente norte-americano George Bush. Ele, certa vez, já havia dito, Senador Heráclito Fortes, que um dia acordou invocado e telefonou para o Bush.

Mas muito bem, referindo-se à crise imobiliária nos Estados Unidos, olhem a frase, Senador Heráclito, Senador Flexa e Senador Wellington, que o Presidente Lula diz para o Presidente da economia mais desenvolvida do mundo - e poderia ser até para a menos desenvolvida. Vejam se esse é modo de tratar um chefe de Estado. E faço questão de colocar entre aspas para não pensarem que sou eu quem está dizendo isso: “Bush, meu filho, resolva a sua crise. Passamos 26 anos sem crescer e agora você quer, com a crise, nos atrapalhar!” Repito: “Bush, meu filho, resolva a sua crise. Passamos 26 anos sem crescer e agora você quer, com a crise, nos atrapalhar!”

E continua dizendo o Presidente - e isso chega a ser desonesto e vou mostrar o porquê. Novamente entre aspas: “O Brasil tem o know-how para salvar bancos. O Brasil tem o Proer. Se os eles, os americanos, precisarem, podemos mandar a tecnologia”.

O Proer, meu prezado Senador Luís Fernando Freire, que nos dá a honra de visitar o Senado no dia de hoje, mereceu um pedido de CPI pelo PT. CPI que foi concedida pela maioria governista de então. Eles diziam que era dinheiro para bancos, que era a associação do Governo Fernando Henrique com os bancos. Agora, ele elogia o Proer como se fosse algo dele.

Ele “petezou”. Se quisermos falar em PT, ele “petezou” o Proer.

Se quisermos falar em criancice, eu diria que ele petizou - de petiz - o Proer. Isso foi no Fórum Brasil-México, que se realiza no Recife, para empresários.

Se essas coisas tivessem sido ditas só para brasileiros, era, como se diz em italiano, meno male. Mas ainda tinha mexicano para ouvir isso. Era um negócio duro, tinha mexicano ouvindo isso.

O Brasil não pode ser um País de memória eternamente curta. O PT pediu e obteve uma CPI para investigar o Proer. O que é o Proer, para os mais jovens compreenderem e para os mais velhos se recordarem? É um programa de reestruturação bancária. O sistema financeiro de diversos países na América Latina estava correndo perigo, estava fragilizado. Então, o Brasil, investindo - não gastando, mas investindo - na prevenção mais ou menos 1,5% do seu PIB, organizou o sistema de tal maneira, que hoje temos o orgulho de dizer que o sistema bancário brasileiro é um dos mais fortes do mundo. Isso é obra do Governo passado contra o PT, contra o Presidente Lula, que dizia que o Governo Fernando Henrique Cardoso estava curvando a espinha dorsal para os banqueiros. Hoje, ele elogia o Proer e diz que quer mandá-lo para os Estados Unidos. E, mais ainda: naquele mesmo momento, a Argentina, porque não fez um Proer, perdeu mais ou menos 12% do seu Produto Interno Bruto, porque foi apanhada de surpresa, de calças curtas. A Venezuela perdeu algo como 14% ou 15%, e o México, algo acima disso. E o Brasil investiu 1,5%.

Ajuda a banqueiro? Coisa nenhuma, ao contrário. Os banqueiros atingidos ficaram impedidos de voltar a ser banqueiros, não podiam mais ser banqueiros. A preocupação era com os correntistas e com a confiança no sistema bancário.

O que está fazendo, na verdade, o banco central norte-americano, o Federal Reserve Bank, por meio do presidente Bernanke, um dos maiores estudiosos do mundo da grande Depressão de 29 - e é até curioso, irônico, que ele esteja às voltas com algo que não pode deixar que se repita, pois ele é um dos grandes teóricos sobre a grande depressão americana -, é, Presidente Lula, precisamente a importação da tecnologia do Proer. Eles estão socorrendo bancos para evitar um mal maior, na verdade, protegendo os correntistas, protegendo a saúde do sistema.

O Presidente Lula não precisa exportar coisa alguma, muito menos uma obra que não é dele, que ele combateu, porque um pouco de honestidade intelectual não faz mal a ninguém.

Fico muito triste. O que vai ser amanhã? O Presidente tinha de dar um dia de descanso, ficar em casa com a D. Marisa, com os meninos, cuidar do cachorrinho. Soube que a cadelinha faleceu, aquela que passeava de carro oficial. Enfim, dar um dia descanso. Todo dia essa conversa, todo dia ter de ouvir uma tolice nova, todo dia uma besteira nova cansa, vai fatigando. Parece um animador de auditório. A impressão que me dá é que não concorre com a gente, mas que quer tomar o lugar do Gugu Liberato.

Mas muito bem, Sr. Presidente, tenho outro assunto a tratar. A Bolívia, um dos nossos vizinhos mais afetivos, vive hoje sob o peso de uma escalada de desconstitucionalização, já de nosso mais amplo conhecimento, como de resto dela é sabedora a América Latina, como também disso conhece o mundo. Não obstante, a oposição local não perdeu as esperanças de lograr a redemocratização do país. Ainda bem que há esperanças, tal como ocorreu entre nós, ao longo do infeliz período do governo militar.

Essa, Srªs e Srs. Senadores, foi a impressão que me deixaram, na manhã do dia 25 último, dois ilustres visitantes,o Presidente do Senado Nacional da Bolívia, Óscar Ortiz Antelo, que esteve em meu Gabinete em companhia do Presidente da Comissão de Relações Exteriores daquela Casa Legislativa, o Senador Tito Hoz de Vila Quiroga. Deles ouvi relatos sinceros, diretos e objetivos sobre o panorama que tristemente infelicita a Bolívia e os bolivianos, desde o início do mandato do Presidente Evo Morales, em janeiro de 2006.

Morales deixou-se influenciar pelas idéias inconseqüentes e despropositadas do falso líder venezuelano Hugo Chávez, um incendiário que ameaça a estabilidade do sul do continente.

Pelo relato que ouvi dos dois parlamentares, todo o processo político boliviano sofre acelerada degradação como reflexo - disseram ter certeza - da permanente confrontação de idéias e de ações postas em prática pelo atual governo do país, valendo-se, como ainda acrescentaram os dois ilustres visitantes, de violência política exercida por grupos civis afins com as teses dos governantes.

A situação chega a ser insustentável, pelos riscos dela decorrentes, que já começam a produzir problemas sociais e econômicos, inclusive com a redução da produção local a níveis mínimos.

A explanação foi convincente, pelo que manifestei aos dois parlamentares minha solidariedade à luta que a oposição boliviana empreende. O que há ali é uma luta pacífica, movida pela força de idéias democráticas. O objetivo é restabelecer a plena normalidade institucional na Bolívia, meta por todos desejada e necessária ao fortalecimento da democracia na América Latina.

Disse aos dois políticos que nenhuma tirania é tão poderosa a ponto de resistir indefinidamente à força das vozes da lógica democrática. As vozes libertárias ecoam despidas do autoritarismo e tendem a triunfar. Sem armas, sem perseguições, sem quaisquer subterfúgios ou ciladas.

Relembrei, na oportunidade, que no Brasil foi assim e assim tem sido no mundo. A força da vontade democrática é superior, sempre superior. E esmorecer não figura no vocabulário da legalidade. Não figura! E assim, estou certo! Será na Bolívia ou em qualquer parte onde haja, mesmo em sonhos, o desejo de fazer prevalecer a democracia.

Por tudo isso, Sr. Presidente, estou anexando a este breve pronunciamento o documento intitulado La ruptura del proceso democrático en Bolivia. É bom que passe a constar nos Anais do Senado do Brasil um pouco do que é feito em favor das franquias democráticas no nosso continente, no caso a luta pelo retorno da democracia na Bolívia.

Acrescento, Sr. Presidente, ainda algumas coisas. Primeiro, que o Brasil tomou uma posição parcialmente correta, quando condenou a invasão do território equatoriano por Forças Armadas da Colômbia, perseguindo narcoguerrilheiros. Não são outra coisa, são narcoguerrilheiros, são bandidos, narcoguerrilheiros das Farc. Ditas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, na verdade, mais do que aliados conjunturais, são eles próprios narcoguerrilheiros, além de extorsionários, seqüestradores e assassinos frios, que estão matando todos os dias a Senadora Ingrid Bittencourt. Todos os dias. Ela sofre de hepatite B e, se não for cuidada a tempo, morrerá. Deixará seus dois filhos e morrerá, porque não há o menor resquício de sentimento humanitário por parte daquelas pessoas que, inclusive, abrigaram Fernandinho Beira-Mar, aquela ilustre figura da história criminal brasileira, dando-lhe proteção em território boliviano dominado pelas Farc.

Foi correto. A Colômbia não tinha o direito de ter feito aquilo. No entanto, o Governo brasileiro fez vistas grossas. E aí foi um pecado que mostrou a tibieza da nossa diplomacia.

Por outro lado, o Equador não poderia ter interferido nos negócios colombianos, abrigando e protegendo, no seu território, os narcoguerrilheiros das Farc; assim como a Venezuela não poderia interferir nos negócios internos da Colômbia, financiando a guerrilha narcotraficante; assim como o Brasil não deveria ficar alheio à denúncia feita pelo Presidente Alan García, do Peru, de que há um movimento subversivo no Peru financiado pelo Sr. Hugo Chávez, com o objetivo de desestabilizar o governo democraticamente eleito pelo povo peruano, que é o do Sr. Alan García.

O Brasil não pode entender que Direito Internacional pode ser aplicado pela metade ou por um quarto. E três quartos são de proteção a um caudilho que não chega a ser socialista, porque não passa de um militar golpista no estilo 1950, Cadillac rabo de peixe, da Venezuela, e a aventura tresloucada do Sr. Evo Morales, que não tem perigo de dar certo. Como não tem perigo de dar certo, para o povo equatoriano, infelizmente, a trajetória que vai sendo descrito pelo Sr. Rafael Correa, que assume o governo praticamente sem dívida externa no Equador e que, com um gesto de bravata estudantil mesmo - nem de política universitária, estudantil de política secundarista - decreta moratória, simplesmente queimando, junto aos meios financeiros internacionais, o nome do Equador. De graça, absolutamente de graça. Tinha muito pouco o que negociar ali. Isso tudo é muito obscuro. E quando chegar a hora de discutirmos aqui as razões pelas quais o PSDB se manifestará contra - e não só se manifestará contra, mas fará tudo o que estiver ao seu alcance para barrar a entrada da Venezuela no Mercosul -, levantaremos, sim, a cláusula democrática, o desrespeito que eles têm pela democracia. Temos razões econômicas muito nítidas. Vamos mostrar item por item os principais tópicos da agenda, que não estão sendo observados pelo governo do Sr. Chávez.

Na macroeconomia, por exemplo, enquanto o Brasil se esforça - e esse tem sido um mérito do Governo do Presidente Lula - para manter equilibrada e controlada a inflação, a inflação galopa na Venezuela a mais de 20% ao ano; e só não vai além disso porque o petróleo, sobrevalorizado como está, vai segurando todas as extravagâncias que aquela pessoa extravagante, que é o Coronel Chávez, pratica. Além do mais, poderíamos dizer que, quando temos um mundo que caminha na direção da interdependência, vemos que o Mercosul viraria, com a presença da Venezuela, um mero palanque antiamericano, uma outra estudantada dessa vez praticada pelo Coronel Chávez, que não é tão bebê assim, que não é tão criança assim, para dedicar-se a essas juvenilidades. Mas, viraria um palanque.

Em outras palavras, precisamos abrir mercados para o Brasil, unir o Mercosul, que está esfacelado. Uma das obras que as pesquisas não estão detectando é o esfacelamento do Mercosul. O Mercosul está longe de realizar seus ideais, de realizar seus intentos. É um fracasso do ponto de vista do que pode apresentar o Presidente Lula ao longo desses cinco anos e dois meses, ou três meses, ou quatro meses de governo.

Portanto, Sr. Presidente, peço a V. Exª que insira, nos Anais da Casa, este documento, firmado, nada mais, nada menos, pelo Presidente Óscar Ortiz Antelo, Presidente Honorable del Senado Nacional de Bolívia, intitulado La Ruptura del Proceso Democrático en Bolivia. Ele não é presidente do Congresso, é Presidente apenas do Senado, porque, na Bolívia, de acordo com a tradição brasileira anterior, quem preside o Congresso é o Vice-Presidente da República. João Goulart, Vice-Presidente da República, presidia o Congresso Nacional; e presidia o Senado Federal, se não me engano - estou recorrendo aqui ao Senador Luís Fernando Freire, filho do grande Senador Vitorino Freire - presidia o Congresso e o Senado. Na Bolívia é um pouco diferente: preside-se o Congresso, ou seja, a reunião bicameral, as duas Casas em conjunto, mas não o Senado.

Quem dirigia o Senado era o 1º Secretário da Casa, que, de resto, tem atribuições administrativas muito claras na nossa atualidade. Na época, era muito mais forte ainda a figura do 1º Secretário. Houve um amazonense muito ilustre, Senador Cunha Mello, que, durante muito tempo, foi 1º Secretário; era ele quem tomava conta da administração do Senado Federal. E quem presidia o corriqueiro das sessões do Senado, à época, era o 1º Vice-Presidente do Senado, porque o Presidente, que presidia mais especialmente em ocasiões não tão corriqueiras, era, nada mais, nada menos que o Vice-Presidente da República, o que me parecia uma fórmula muito sábia, porque, longe de representar uma interferência do Poder Executivo sobre o Legislativo, representava uma aproximação entre os dois Poderes. O Vice-Presidente, todas as vezes que subia à tribuna, ouvia de corpo presente o que o Parlamento pensava do Governo - no caso do Governo Juscelino Kubitschek, para dar um exemplo, o Governo do qual João Goulart era Vice-Presidente. Então, não tinha como dizer que não estava sabendo, que não estava ouvindo, que não estava acompanhando.

Sr. Presidente, lá, quem me visitou e que visitou tantos Parlamentares foi uma figura insigne da Bolívia, uma figura de responsabilidade, eleito Presidente do Senado Federal daquele país, Senador Óscar Ortiz Antelo.

Volto a dizer, Sr. Presidente, ao encerrar, que me sinto um pouco fatigado, sinceramente. Se eu fosse usar a linguagem dos meus filhos, eu diria: “Menos, Presidente, menos. Essa história de dizer agora que o senhor inventou o Proer... Menos, menos, menos.” Não dá para fazer um acordo? Dois comícios por semana. Pronto! Não o faça todo dia. Temos que ouvir isso todo dia? Todo dia uma coisa diferente? “Bush, meu filho, resolva sua crise. Passamos 26 anos sem crescer”, o que é uma inverdade. Se ele disser que se passou um bom tempo sem crescer muito e que não se está crescendo muito agora, aí seria uma verdade; mas, sem crescer, não é verdade! O Presidente tem de se dedicar um pouco mais ao Governo, a essa ação que não é pirotécnica, de estar o tempo inteiro no palanque - não é na tribuna.

Acho estranho porque, como Deputado, o Presidente Lula praticamente não usava o palanque da Casa. Não há registro de debate do Deputado Lula na Constituinte. É muito difícil. Pode-se mandar pesquisar nos Anais. Todos vão ver qual foi a participação do Presidente Lula como Deputado na Constituinte. No entanto, ele tem uma queda por palanque que é uma coisa impressionante! E, lá, não tem debate; ele fala sozinho. Prática de debate ele não tem quase que nenhuma. Há esses debates de eleição presidencial treinados, enfim, aquele em que se vai ali dentro do arriscado: “Item 3, Educação.” Então, se se perguntar isso, ele diz aquilo; se se perguntar aquilo, você diz aquilo outro; se se perguntar não sei que, você diz aquilo. Ele fica feito um robô e vai lá, enfim, desenvolvendo aquela figura de homem supostamente simples.

Olho para os ternos do Presidente Lula e fico morrendo de inveja, porque acho bonito me vestir bem. Fico morrendo de inveja. Cada gravata espetacular! Ou seja, eu daria hoje para ele nota 10 em elegância. São ternos muito bem cortados, muito bem esmerados. Não é qualquer alfaiate de esquina que está fazendo aquilo, não. Mas ele ainda passa aquela figura do homem simples, um de nós, enfim. Eu queria que essas pessoas todas que acham que ele é um de nós fossem procurar um terno parecido para ir ao casamento da filha, para ver quantos salários mínimos precisariam para comprar um terno daqueles!

Muito bem, de qualquer maneira, não quero ficar nos ternos do Presidente Lula, não. Quero dizer o seguinte: é muito duro. Absolveram o Severino Cavalcanti! O povo brasileiro não pode achar isso bonito. Absolveu-se Severino sempre empurrando a culpa nos outros: “Foi a Oposição que elegeu Severino”. Mas, ontem, não foi a Oposição que o elegeu, nem foi ela que elegeu; e, ontem, não foi a Oposição que endeusou Severino. Foi ele quem o endeusou. Os jornais televisivos noturnos todos mostraram; os jornais de hoje estão cheios dessa matéria. E ninguém fica indignado; todo mundo está achando normal, está achando tudo muito natural.

E o Proer? O Proer virou obra do PT agora! Outro dia, meu queridíssimo amigo Aloizio Mercadante fez um artigo - ele o fez no domingo e eu respondi no outro, na Folha de S.Paulo -, trazendo o mérito para ele: ou seja, “nós fizemos e acontecemos”. Puxa, quantas lutas sustentei aqui, contra ele inclusive, com respeito, com amizade, com fraternidade. Eu, defendendo a posição do Palocci, a posição do Meirelles; e ele, defendendo a baixa de juros na marra, de qualquer jeito. Enfim, sempre criticando e dizendo que o rumo estava errado. Parecia que eu era o conservador, apesar de líder de um Partido de Oposição; e ele, o progressista, aquele que queria tocar para frente, o desenvolvimentista - porque há pessoas que adoram escrever essas tolices de desenvolvimentista e monetarista. Então, eu, supostamente, seria o monetarista; e ele, o desenvolvimentista. É uma definição que me dá arrepios! Fico com os pêlos eriçados, quando a tolice é demasiada, enfim.

O que havia era sensatez! Era sensatez! Quer uma fórmula de não se aumentarem os juros, Presidente? Vamos ser francos: Meirelles não é culpado de coisa alguma. Tem sido um grande Presidente do Banco Central. Quer uma fórmula de não se aumentarem os juros para se conter a inflação? Há duas fórmulas: ou vai ter que aumentar juros, agora ou na outra reunião do Copom, ou então tem de ser pela via fiscal, pelo corte de despesa, pelo corte de gasto de um Governo que é viciado em gastar. Senão, vai ter de aumentar juros mesmo! Aí, vai vir o Senador Mercadante de novo dizer que dá para abaixar juros. E não dá. Mas vai ficar bem com a opinião pública, porque, quem é que quer pagar juros? Quem é que gosta? Há algum masoquista que gosta de juros mais altos? Não.

Dirigir Banco Central não é para ficar no voluntarismo, não. Meu querido Suplicy já queria, outro dia, televisionar a reunião do Copom. Aí, seria um negócio fora do comum, os especuladores iam soltar fogos, porque televisionar o Copom ia ser um negócio impressionante! Isso, sim; eu podia dizer que, nunca, antes, neste País, pensou-se em algo tão bizarro, tão estranho.

O fato é que, apesar da oposição dura que fizemos a atos de corrupção praticados neste Governo, seguramos nós, do PSDB, e muitos de V. Exªs do Democratas, Senador Heráclito Fortes - e digo até que, muitas vezes, eu próprio, discordando até de alguns companheiros meus do seu Partido, segurei aqui, firme -, essa coisa do apoio às linhas macroeconômicas desenhadas por Pedro Malan, seguidas por Palocci, e à gestão austera no Banco Central, responsável, do Presidente Henrique Meirelles o tempo inteiro. Era a posição mais popular? Não era.

Uma vez, cheguei a casa - estavam meu amigo Mercadante e o Ministro Mantega, que na época estava no BNDES, defendendo uma posição; e eu, outra -, e minha mulher falou: “Você enlouqueceu?”. Eu disse: “Não, não enlouqueci, não. Estou dizendo o que eu dizia antes. Eu dizia isso antes e estou dizendo a mesma coisa, ou seja, que tem de haver inflação baixa, que a preocupação é com meta de inflação.”. Há a bobagem de se dizer: “Ah, deve haver meta de inflação, mas também meta de crescimento.”. Isso é bobagem! É bobagem mesmo! O crescimento decorre da inflação controlada. Nenhum país no mundo pratica esta tolice: meta de inflação e meta de crescimento. Não existe isso. É como dizer: “Quero emagrecer, mas quero comer chocolate.”. Não dá! Ou come chocolate ou emagrece.

Mas cresce, sim, o País, tanto é que cresceu 5,4% no ano passado. Por quê? E aí há o mérito, novamente, do Presidente Lula, porque deu força a decisões independentes do Banco Central. Se tivesse seguido o que muitos de seus companheiros pregavam, teríamos visto em quanta tolice teria dado esse tal desenvolvimentismo, essa bobagem que me cheira muito a ranço dos anos 60, a doutrinas superadas.

Quero, sinceramente, dizer que não vejo arrogância no ex-Presidente do Banco Central, Gustavo Franco, quando ele diz que a política econômica que está aí, na parte monetária, na parte fiscal, poderia melhorar, cortando gastos. Não é a melhor alternativa, é a única. Fora disso, é perder o controle.

Nos anos 70, a economia americana chegou a 12% de inflação. Ainda há inocentes aqui - inúteis ou úteis, sei lá o quê - que dizem assim: “A inflação está controlada para sempre.“. Está controlada, mas para sempre é conversa. Para sempre é conversa. Para sempre, nem aqui, nem nos Estados Unidos, nem em lugar algum, estará controlada. Não está controlada para sempre em lugar nenhum. Tem de haver uma permanente vigilância sobre ela, e, se degringolar a inflação, sofre o mais pobre, sofre o trabalhador, sobre o beneficiário do Bolsa-Família. Os preços dos alimentos, aliás, já estão penalizando os beneficiários do Bolsa-Família, Senador Flexa Ribeiro, já estão prejudicando os beneficiários do Bolsa-Família. Os alimentos estão mais caros. Os alimentos estão mais caros. A inflação está sendo sentida, hoje, ainda, básica e principalmente, pelos pobres, não pelos mais ricos.

Então, nesse ponto, não estou aqui para criticar o Presidente Lula, porque, de fato, tem cumprido esse papel, em parte. Tem dado força ao Banco Central, mas não tem feito a outra parte, que é uma política fiscal zelosa, que impeça a necessidade de aumento de juros, porque capaz de cortar despesas e, por aí, de impedir que haja alta descontrolada dos preços.

São considerações que faço, Sr. Presidente, numa quinta-feira que, a meu ver, podia passar muito bem sem essa história do Lula.

Para encerrar, vou repetir, porque, sinceramente, tenho de encarar com bom humor, a frase do Presidente Lula, Senador Flexa Ribeiro: “Bush, meu filho, resolva sua crise. Passamos 26 anos sem crescer, e você agora quer, com a crise, nos atrapalhar?”. Estou com vontade de, depois, traduzir para o inglês. Depois do inglês, vou traduzir para o espanhol e vou pedir a alguém que traduza para o iídiche. Quem sabe alguém traduza para o russo! Essa é uma pérola da literatura econômica e da literatura diplomática universais. É uma pérola: ”Bush, meu filho, resolva a sua crise. Passamos 26 anos sem crescer, e, agora, você quer, com a crise, nos atrapalhar?”.

Muito bem. Não vou chamar ninguém de pai nem de filho, aqui. Meu pai já faleceu, meus filhos eu sei muito bem quais são. Não vou chamar mais ninguém de pai, não. Simplesmente encerro, Sr. Presidente, dizendo que estou preocupado com o quadro de atentado à democracia, às barbas do Brasil, que deveria assumir seu papel de líder, e de líder pelo lado democrático, na América do Sul. Às barbas do Brasil, os atentados se repetem, ameaçando a integridade do Congresso, que é o principal bastião da liberdade, na Bolívia.

Muito obrigado, Sr. Presidente. Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTO EM ESPANHOL A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO, AGUARDANDO TRADUÇÃO PARA POSTERIOR PUBLICAÇÃO NA ÍNTEGRA.

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Matéria referida:

“La ruptura del proceso democrático em Bolivia” (Oscar Ortiz Antelo).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2008 - Página 7213