Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o alastramento da epidemia da dengue no Rio de Janeiro.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Preocupação com o alastramento da epidemia da dengue no Rio de Janeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2008 - Página 7493
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EPIDEMIA, DOENÇA, ORIGEM, AEDES AEGYPTI, SUPERIORIDADE, MORTE, CRIANÇA.
  • CRITICA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PREFEITURA MUNICIPAL, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, CONVOCAÇÃO, MEDICO, BRASIL, AUMENTO, QUANTIDADE, HOSPITAL, EMERGENCIA, SALVAMENTO, POPULAÇÃO, REGIÃO.
  • SOLICITAÇÃO, COMISSÃO DE SAUDE, CONVOCAÇÃO, AUTORIDADE FEDERAL, AUTORIDADE ESTADUAL, AUTORIDADE MUNICIPAL, DEMONSTRAÇÃO, NECESSIDADE, URGENCIA, SOLUÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todo o Brasil, nós todos acompanhamos com muita preocupação, com muito pesar, às vezes com muita revolta, o que está acontecendo no Rio de Janeiro. A epidemia de dengue, que, talvez, possa ser não extinta, mas controlada, já está atingindo a casa dos setenta mortos só este ano. São setenta mortos, Sr. Presidente! A gente vê mães desesperadas, tentando arrombar postos de saúde, pais chorando e, principalmente, crianças morrendo, à míngua de assistência médica, na cidade mais bonita do Brasil, no portal turístico do Brasil, na ex-capital do Brasil, na capital onde, há 200 anos, desembarcou o Príncipe Regente, depois D. João VI, Rei do Brasil, Algarves e Portugal, quando, naquela época, nem dengue havia. Duzentos anos depois, no século XXI, estamos assistindo a essa tragédia.

            O que me apavora e me preocupa é a desídia, o desleixo, o pouco interesse das autoridades. Não estou dizendo do Prefeito, do Governador, do Ministério da Saúde ou do Presidente da República, mas de todas as autoridades.

            Dizem que foram montados dois hospitais de campanha do Exército e que atenderam 500 pessoas, mas, numa hora como essa, é preciso convocar médicos do Brasil todo, médicos do Espírito Santo, de São Paulo. É preciso chamar todos os médicos e enfermeiros aposentados do Rio de Janeiro e pagar-lhes um salário extra. É preciso ocupar igrejas, escolas, prédios desabitados, hotéis. Fecha-se o hotel e o transforma em hospital, salvando gente! Que parem as estradas e que todos os operários que estão nas estradas vão para a rua, para combater o mosquito da dengue! Que pare tudo quanto é ação, que se fechem as repartições públicas e se botem todos os funcionários públicos na rua, para combater o mosquito! Isso é o que tem de ser feito, e ninguém está fazendo nada. Montaram um hospitalzinho lá e tal, e foram atendidas 500 pessoas.

            Não há preocupação com vidas de crianças - são setenta, este ano, que estão se perdendo no Rio de Janeiro!

            Nós, aqui do Senado, devemos chamar o Prefeito do Rio, o Governador do Rio, o Ministro da Saúde e o Presidente da República e puxar a orelha dessa gente. Talvez, eles não assistam à televisão, não vão às ruas.

            Fui Governador, bem como V. Exª, Sr. Presidente, e me lembro de alguns episódios. Certa noite, eu me dirigi a um Município do Espírito Santo que havia sido vitimado por uma enchente. Dali a pouco, os bombeiros chegaram e disseram que não tinham botes infláveis suficientes para atender à população. Perguntei: “Onde há esses botes?”. Disseram: “Nas lojas!”. Eu disse: “Arrombem todas as lojas e tirem todos os botes, coloquem um policial, façam um balanço do que foi retirado, e, na segunda-feira, o Governo paga”. Era um sábado à noite. Íamos fazer o quê? Deixar as pessoas morrerem afogadas por que não havia botes?

            O Governo tem de agir de maneira impulsiva, se isso for necessário para salvar a população.

            Outra vez, em um Município em Minas, Aimorés, que faz divisa com o Espírito Santo, houve uma enchente do rio Doce. Não havia transporte, e a população estava à míngua. Eu estava passando com o Prefeito, que estava desesperado em razão dos saques que já começavam, e vi um grande armazém da Cobal. Eu disse: “Mas, Prefeito, está cheio de comida!”. Chamei a Polícia do Espírito Santo e mandei que arrombassem o armazém e distribuíssem a comida, que a entregassem ao Prefeito. Depois, um Ministro da Agricultura me telefonou irritado por que eu havia mandado arrombar o armazém. Disse-lhe: “Faça um levantamento do que foi tirado, que o Governo do Espírito Santo pagará”. Em momentos assim, precisamos socorrer a população.

            Não podemos ficar aqui tranqüilos, conversando, discutindo qualquer outro assunto enquanto não metermos na cabeça das autoridades do Rio que elas são responsáveis, em nível federal, estadual e municipal, por cada morte dessa e que devem invadir as igrejas, esvaziar hotéis, chamar médicos e enfermeiros aposentados e voluntários, fechar todas as repartições públicas, todas as obras rodoviárias, colocar todo mundo nas ruas, para combater o mosquito, para, enfim, mostrar ação em favor da população.

            Por isso, Sr. Presidente, é que eu queria pedir à Senadora Rosalba Ciarlini - infelizmente, S. Exª não pode me apartear agora, pois estou em uma comunicação inadiável - que, na Comissão de Saúde, em que S. Exª que tem sido líder, convocasse esse pessoal, puxasse a orelha dessa gente, fizesse essas autoridades verem que elas são responsáveis por cada morte, que vão pagar por isso e que os governos terão de indenizar as famílias pelos filhos que estão perdendo, pelos pais que estão morrendo, pela desídia, pelo desprezo, pelo descaso, pela omissão de Prefeito, de Governador, de Presidente da República, de Ministro da Saúde.

            Como diz aquele jornalista, isso é uma vergonha! Ou melhor, não é uma vergonha, não: é o supra-sumo da vergonha nacional o que está acontecendo na cidade mais bonita do Brasil, o portal do turismo no Brasil. Já podemos ver pelo mundo, a propósito, os governos pedindo a seus governados que não viajem para o Brasil. A epidemia se dá no Rio, mas eles pedem que evitem vir ao Brasil. Com isso, o turismo está caindo no Rio Grande do Norte, no Ceará, na Bahia, em todo o Nordeste, porque os europeus e os norte-americanos estão sendo aconselhados - e acho que com razão - a não irem ao Rio de Janeiro. Eles ainda confundem um pouco o Rio com o Brasil.

            Imaginem que, quando Dom João VI chegou aqui, há duzentos anos, não havia dengue! Agora, criamos a dengue e não tomamos providência alguma.

            Sr. Presidente, está na hora de parar até o Senado e de nós, Senadores, irmos para lá combater os mosquitos - os que forem médicos que atendam aos doentes! -, para que essa tragédia não se perpetue.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2008 - Página 7493