Discurso durante a 44ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Sugestão de criação do 'gabinete da crise' destinado a combater os graves problemas enfrentados pela população.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Sugestão de criação do 'gabinete da crise' destinado a combater os graves problemas enfrentados pela população.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2008 - Página 8069
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, CARTA ABERTA, ESTUDO, AUTORIA, ALBERTO SILVA, DEPUTADO FEDERAL, EX SENADOR, ENGENHEIRO, COMPROVAÇÃO, IMPORTANCIA, EXPERIENCIA, ESTADO DO PIAUI (PI), UTILIZAÇÃO, AERONAVE, PULVERIZAÇÃO, INSETICIDA, EFICACIA, MORTE, INSETO, AEDES AEGYPTI, CRITICA, PROIBIÇÃO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), ALEGAÇÕES, NATUREZA TECNICA, ANUNCIO, ORADOR, ENCAMINHAMENTO, DOCUMENTO, AUTORIDADE, INTERESSE, ASSUNTO.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, ADVERTENCIA, ORADOR, DOENÇA ENDEMICA, AEDES AEGYPTI, CRITICA, UTILIZAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, COMBATE, DOENÇA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), BUSCA, MEDICO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, INSUFICIENCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, CRIAÇÃO, GRUPO DE TRABALHO, SOLUÇÃO, CRISE, SIMILARIDADE, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sexta-feira, 4 de abril, 12 horas e 27 minutos, “um quadro vale por dez mil palavras”. Este é o Senado que trabalha.

Senador Mozarildo, que preside esta sessão, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui e que nos acompanham pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado - essa beleza de Televisão Senado, rádio AM, FM, Jornal do Senado, Agência Nacional do Senado, que leva ao povo brasileiro a verdade -, este Senado é tão importante que vou trazer um documento importante.

Aqui passou um Senador do meu Estado por duas legislaturas; foi Conselheiro da República; foi Prefeito da minha cidade, melhor que eu; foi Governador do Estado, melhor que eu; Senador da República, melhor que eu; e está na Câmara Federal. Ele é muito preocupado com os problemas do Brasil. E esse é o título que me dá grandeza, o qual represento. Então quando um homem da grandeza de Alberto Silva, na sua luta, abençoado - aqui nós temos o novo Senador que é um homem evangélico, Carvalho - diz que Deus abençoa aquele que dá longevidade e nela ainda exerce a sua profissão.

Alberto Silva foi sempre um engenheiro político. É uma figura ímpar. Quem tem bastante luz não precisa diminuir ou apagar as luzes dos outros para brilhar. Um filósofo disse isso. Então eu quero dizer que ele é um homem que está atento a isso, é sua vocação.

Ele me mandou uma carta e um estudo sobre a dengue no Brasil. E o estudo é baseado no saber, no conhecimento. Ele é aquele engenheiro formado em Itajubá. Ele foi premiado quando ainda era Senador. Itajubá é a melhor escola de engenharia deste País, ali em Minas. Aliás, o Governador Arruda formou-se lá. Ele era premiado, e só luminares do País tinham sido convidados. Eles têm uma frase do seu fundador que é uma coisa filosófica. Ele está atento a isso, e o Piauí teve uma crise de dengue, que, aliás, está no Brasil todo.

Nós já advertíamos sobre isso. Há cinco anos nós falávamos: “Essa saúde pública...” Nós denunciávamos, nós advertíamos sobre tudo isso. Quantos e quantos pronunciamentos eu fiz? Dizia que ia mal, que ia mal, que ia mal. Como Cristo dizia: “Em verdade, em verdade...”.

Não que eu desejasse isso, mas o estudo nos dá essa visão de futuro. Nós denunciamos, inclusive no Piauí. O Brasil foi tomado, e ele se preocupou. É um trabalho, Augusto Botelho, de pesquisa dele, um trabalho de consultas volumoso. Não terei tempo de lê-lo aqui, mas irei passá-lo às autoridades interessadas.

Primeiro, ele, com a sua inteligência, une... O maior ridículo que vi nessa política atabalhoada foi quando massacraram o prefeito. Juntaram o Poder Federal, o Poder Estadual e buscaram o prefeito como bode expiatório. Sabemos que a Medicina busca a etiologia, a causa. A causa é o agente etiológico, o transmissor. E aí as coisas pioraram, e nós vivemos um dos momentos mais vergonhosos da saúde pública.

Fala-se que representam mulheres. Eu quero representar a mãe que chora, a mãe que está desesperada perdendo seu filho para a dengue; a mãe, a avó, a mulher que está desesperada na fila de um hospital; a mulher, mãe, que não tem direito de levar seu filho para uma UTI.

Eu sei o que é isso, Senador Carvalho. Meu filho, empresário, teve a dengue hemorrágica. Deus foi bom: ele pôde, ele foi para uma UTI. Atentai bem, Cristovam. Deus, eu agradeço: ele pôde. Mas quantas mães... Vamos chorar agora por essas mães que estão naquelas filas desgraçadas se consultando.

O Governo colocou quatrocentos soldados. Que ridículo, hein Mozarildo! Soldados para combater... Nós, que gastamos o melhor de nossa juventude buscando ciência para a consciência e, com consciência, servir o povo do Brasil. O que está faltando é isto: é a seriedade da saúde pública.

Luiz Inácio, é dos aloprados que V. Exª deve ter ódio, não de mim, que só tenho lhe levado a verdade.

Este País já foi organizado. Mozarildo, Augusto Botelho, vocês se lembram do Sesp? Eram os soldados da saúde pública, eles eram exclusivos da saúde pública. Lembra, Cristovam? Eles ganhavam bem. Eram proibidos, eram impedidos de aceitarem outras propostas: consultórios particulares, outros empregos, outras clínicas. 

Os governantes passados, Luiz Inácio, davam salários a eles justos. Hoje não tem mais isso. Que vergonha! Que vergonha! Eu, que represento aqui Juscelino Kubitschek, que foi tirado desta sala.

Senador, vamos buscar em Cuba? Em Cuba? Onde está e Medicina da grandeza de Oswaldo Cruz, que matou o mosquitinho há cem anos; de Carlos Chagas; de Veronesi; de Samuel Pessoa; de Alencar, Aragão; dos cientistas nossos, Mozarildo? Os nossos... Vamos buscar em Cuba? E nós?

Como se conseguiu, em tão pouco tempo, destruir uma estrutura com tanto sacrifício, com tanta grandeza buscada por todos nós? Veja Cristovam: vamos mandar buscar em Cuba! Nós? Olhe o mapa do mundo, Luiz Inácio!

Christian Barnard. Eu o conheci, convivi com ele, que fez o primeiro transplante cardíaco. O segundo deste mundão foi Zerbini - cheguei a trabalhar com ele e Adib Jatene. Este País da ciência, este País em que esse Governador de São Paulo, que está aí, que também gastou seus anos buscando a competência... Não era médico, mas escreveu uma das páginas mais bonitas da saúde pública. A Aids, nós fomos capazes... E fomos ridicularizados! Que sejamos ridicularizados, mas nós não podemos deixar chorando as mães brasileiras, Cristovam.

Luiz Inácio, isso é uma calamidade pública! Luiz Inácio, acabe com essa campanha das galinhas cacarejadoras Brasil afora e vamos, todos juntos, não é cantar não, mas chorar, lutar para que nossas mães não sofram pela perda de suas crianças.

Tem doenças que a ciência já as venceu; que o Fidel, que sou contra, venceu; que o Chávez, que sou contra, venceu. E aqui só nesse cacarejamento... Não vai! Vamos fazer um mutirão, dar um tempo...

Essa é a minha formação de cirurgião. Por isso disse que quem entende de urgência sou eu mesmo. Sou médico-cirurgião, sei o que é uma urgência. Larga-se tudo, Cristovam: “Não, aquilo é eletivo. Fica para amanhã, para depois de amanhã. Dá alta. Pode voltar. Vamos operar apendicite aguda para não dar peritonite, a úlcera perfurada, a trombose, a facada, a barra”. Larga e se concentra naquilo que é urgência e emergência.

É isto. Ó Deus, ó Deus, me permita dizer como Castro Alves, em O Navio Negreiro, onde estás que não escutas? Ó Deus, ó Deus, faça este Luiz Inácio acabar com essa palhaçada de cacarejamento mundo afora. E vamos, não vou nem dizer chorar, nos debruçar, vamos nos unir, vamos fazer um mutirão dos médicos brasileiros, da ciência brasileira, para enfrentarmos esse mosquitinho.

Então, está aqui um trabalho de Alberto Silva, que tem conhecimento, atentai bem, que deve ser ouvido. Mas vou entregá-lo, na segunda-feira, aos Senadores aqui: àquele extraordinário Senador experiente da época de Vargas, Paulo Duque; ao Dornelles, essa figura sucessora de Tancredo Neves, e ao nosso Crivella, que é um homem evangélico.

Alberto Silva, vou passar seu documento. Mas ele manda uma carta pessoal para mim, Senador Mão Santa; ele que passou aqui, que foi Senador, a letra dele, está vendo, Mozarildo? E, agora, um resumo aqui. Isso aqui pode ser adotado, pode ser estudado, e vamos oferecer este documento, mas que fique a idéia aqui de acabarmos...

Estão aí os irmãos do Nordeste todos vítimas de enchentes, alagados na minha Teresina, na minha Parnaíba, nas cidades ribeirinhas. Vamos acabar com essas enchentes, vamos pedir um tempo...

Ô Luiz Inácio, quando o futebol de salão está errado, o técnico pede: “Tempo. Vamos parar aqui e pensar em mudar”. Nunca jogaste nada não, Luiz Inácio? Tempo; pára! Vamos ver aqui: coloca, muda aí a caminhada de cacarejamento por uma caminhada do mutirão para salvar os brasileiros e as brasileiras e a criancinha com dengue, de salvar os nordestinos, vítimas. E está aqui uma contribuição. Está é: vamos acabar esse teu projeto de cacarejamento, Luiz Inácio. No projeto da verdade, da realidade e da solidariedade, de enfrentar o problema, esse Fernando Henrique Cardoso é um estadista. A inveja mata, Luiz Inácio. Eu sei que teve um negócio de Apagão - eu era Governador. Ele criou, lá, um superministério - como era o nome, Senador Cristovam Buarque? Aquele do apagão. Sim, mas teve... Gabinete de crise, e entregou a Pedro Parente - um técnico. E vencemos o apagão. Vamos criar esse gabinete de crise para vencer a dengue, para ajudar os alagados e evitar, não é o cantar, mas o choro das mães brasileiras, que perdem os seus filhos com dengue.

            E Alberto Silva diz - olhe que isso sensibiliza o Alberto Silva -, que volta aos Senado por mim. Eu vou ler. Ele tem razão, isso tem de ser estudado.

Carta aberta aos ouvintes da TV Senado e particularmente ao amigo Sérgio Cabral, Governador do Rio de Janeiro, a César Maia, prefeito da cidade e ao Ministro da Saúde Temporão [os três são de lá].

Em primeiro lugar, quero prestar minha solidariedade às autoridades brasileiras que, em boa hora, estão colaborando de maneira eficaz, com o auxílio de nossas Forças Armadas, no atendimento médico, desde a hidratação até as doenças mais graves como a dengue hemorrágica.

Entretanto, lamento constatar que o mosquito Aedes Aegypti, que foi derrotado por Oswaldo Cruz há cem anos, está vencendo a guerra hoje não só no Rio de Janeiro, mas já se alastrando em todo o Brasil.

Quero em primeiro lugar agradecer a este meu companheiro de partido e combatente emérito de todos os males que afligem os brasileiros, o Senador Mão Santa, que está cedendo o seu espaço para que esta missiva chegue ao seu destino.

Obrigado, Senador Mão Santa.

Alberto Silva, um homem de experiência, foi Prefeito, Governador, Senador, conselheiro da Pátria.

Vamos aos fatos:

Há quatro anos, quando a dengue começou a chegar ao Piauí, constatei que o uso daqueles carrinhos chamados de fumacê não só eram inócuos como a quantidade deles na Secretaria do Piauí era irrisória.

Inócuos por quê? Exatamente pelo fato de que o carrinho atua nas ruas e o mosquito está nos quintais das casas, dentro das casa e nos terrenos baldios, lugares esses absolutamente inacessíveis a tal carrinho fumacê.

Procurei uma solução que pudesse ser considerada válida e eficaz no combate à doença.

No Piauí, no meu primeiro Governo, entre muitos hospitais que foram construídos, um foi feito exclusivamente como um hospital de isolamento para doenças como encefalite, meningite, hepatite, tétano, dengue etc.

Logo percebi que não adiantava só isolar e tratar o doente, e, sim, combater o mosquito. 

Procurei, então, o Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola e indaguei se não poderia usar o mesmo método de combate às pragas agrícolas e, no caso em questão, usar o avião para matar o mosquito. Eles me apresentaram um trabalho completo sobre o êxito obtido num caso específico dos municípios do litoral paulista, onde encontraram um mosquito diferente do Aedes Aegipty, mas que transmitia uma doença muito grave. Eles usaram o avião com o inseticida adequado e, em pouco tempo, acabaram com o mosquito e, por conseqüência, com a doença.

Solicitei que eles me apresentassem uma proposta para um projeto piloto demonstração nas cidades de Teresina e Parnaíba.

Recebi um documento com o respectivo orçamento, mas com uma observação: o Ministério da Saúde, através de uma nota técnica, proíbe o uso de aviões no combate ao mosquito.

Mandaram-me uma cópia dessa nota técnica do Ministério da Saúde e também outro documento elaborado pelo Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola, na qual eles rebatem e destroem item por item toda argumentação mencionada por essa nota técnica.

Vamos agora fazer uma análise sucinta do que está acontecendo no Brasil em relação à dengue.

No Rio de Janeiro, por exemplo, estão sendo usados todos os hospitais e a mais valiosa ajuda das Forças Armadas, com suas tendas, onde já começa a faltar médicos e, mesmo quem eles cheguem vindo de vários pontos do país para ajudar nos tratamentos dos doentes, é tudo insuficiente pelo alarmante fato de que cresce dia a dia o número de casos, ultrapassando em muito a capacidade médica de tratar.

Isso significa que o mosquito está ganhando a guerra.

Dissemos atrás que os mosquitos estão nos quintais das casas, dentro das casas e nos terrenos baldios existentes em todas as cidades.

A televisão pede a cada instante a colaboração da população na procura e destruição das larvas do mosquito, imaginem só uma cidade de mil casas onde trinta por cento dos moradores atenda ao apelo e destruam as larvas, sobram setenta mil casas e sei lá quanto terrenos baldios.

Quantas pessoas iriam necessitar para visitar, catar e destruir as larvas porventura ali existentes?

Sem comentários, é tarefa impossível. O mosquito ganha a guerra.

Por esta razão escrevo esse alerta, que está sendo lido pelo meu eminente companheiro, o Senador Mão Santa, cujo intuito é chamar a atenção do povo e das autoridades que num País como o nosso, que já é apontado como a oitava economia do mundo, esteja perdendo a guerra contra um mosquito que, tenho certeza, será destruído se usarmos o avião com seus equipamentos próprios e mais a colaboração imprescindível das Brigadas Terrestres.

Aproveito este momento para fazer um apelo ao Governador Sérgio Cabral, para que tome a iniciativa de solicitar ao Ministro da Saúde autorização para implantar em uma das cidades mais infestadas do Rio de Janeiro uma Experiência Piloto Demonstração, utilizando, através de contrato, os serviços do competente Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola do Brasil para o combate direto e amplo do mosquito da dengue.

Agradeço aos telespectadores da TV Senado a audiência deste programa, ao tempo em que faço um apelo para que todos se dirijam ao Governador do Rio de Janeiro para que assuma o comando e execute essa experiência.

Tenho certeza que o resultado será altamente compensador.

Deputado Alberto Silva.

Está aqui, grande e volumoso. Eu vou passar aos Senadores.

Ele é um pesquisador, um homem experiente, que tem a sua técnica de como se combatem males na agricultura.

Eu, que substituo Alberto Silva, digo: Luiz Inácio, olha - ele não jogou futebol de salão? Basquetebol não é ruim. Futebol de salão eu jogava, eu tinha um irmão que foi campeão universitário -, o técnico dizia: Pára. Vamos mudar a tática? Vamos mudar”. Ó, ó, um tempo aí para a turma do cacarejo. Acabem com esse negócio. Vamos enfrentar o mosquitinho, vamos ajudar os alagados, que estão sofrendo, não vamos deixar as mulheres, as mães, chorarem por causa da morte e de doenças. Aí, sim, poderemos cantar - e vamos cantar juntos, Luiz Inácio -...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ... o Hino do Brasil. E continuarei cantando:

Piauí, terra querida,

Filha do sol do equador,

Na luta, o teu filho é o primeiro que chega

Pertencem-te a nossa vida,

Nosso sonho, nosso amor!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2008 - Página 8069