A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

Srªs e Srs. Senadores, venho hoje a esta tribuna tratar de um assunto que me deixou chocada e - por que não dizer? - triste. Apesar de tanta luta, de tanta batalha, ainda nos deparamos com situações como essas. Ontem, em seu pronunciamento, o Senador Mão Santa passou dos limites ao se referir à nossa querida Dilma de forma pejorativa e desrespeitosa. Digo que foi desrespeitosa a forma com se referiu à Ministra Dilma pela sua história. Jamais poderia nenhuma mulher deste País ser chamada de “galinha cacarejante”. Isso é inaceitável! O Senador Mão Santa, ao dirigir-se dessa forma à nossa Ministra Dilma, atingiu todas as mulheres deste País, insinuando que a Ministra Dilma, por ser mulher, não merece o respeito devido como pessoa humana.

Ora, Sr. Presidente, diminuir a condição de mulher da companheira Dilma é desmontar séculos e séculos de luta na nossa afirmação de que somos iguais aos companheiros homens, merecedoras, por isso mesmo, de tratamento respeitoso até mesmo nas críticas. Não queremos ser protegidas por nossos defeitos, mas não admitimos ser desrespeitadas por nossa condição de mulher.

O Senador tem todo o direito de discordar do trabalho da Ministra, de criticá-la no que concerne à sua gestão à frente da Casa Civil, mas seus comentários devem ser direcionados com respeito à Ministra Dilma, nunca de forma pejorativa à mulher Dilma Rousseff.

Ao utilizar aquele termo na tribuna do Senado, o Senador Mão Santa não só ofendeu nossa querida Ministra Dilma Rousseff, mas também todas nós, Senadoras, enfim, todas as mulheres do País.

Não é possível, Srªs e Srs. Senadores, continuarmos aceitando essas manifestações de pessoas machistas que não entendem que esse seu gesto pode desencadear atos e mais atos de violência de homens que pensam dessa maneira contra todas as mulheres deste País. Por isso, esta Casa deve repudiar esse gesto publicamente.

Solicito, Sr. Presidente, a retirada dos Anais do Senado Federal dos termos utilizados pelo Senador contra a Ministra Dilma. Não posso permitir, como mulher, avó, mãe e militante da causa feminina, que essa situação seja tratada como mais um dos gracejos de um Senador da República, que demonstra direcionar suas críticas para atingir a honra da Ministra, exatamente por se tratar de uma mulher, porque, se fosse um homem, não seria uma “galinha cacarejante”, com certeza.

Espero, Senador Mão Santa, até pelo trato que temos pessoalmente, que V. Exª tenha refletido sobre suas palavras e que reveja o que foi dito.

O Senado Federal sempre foi conhecido por ter uma composição madura e ponderada, sem espaços para esses absurdos. Faço um apelo ao bom senso do Senador para que se retrate sobre esse episódio.

Esta Casa não pode ter esta mácula, de uma mulher ter sua dignidade atingida publicamente por um Senador. Como coordenadora da bancada feminina do Senado, estou encaminhando uma nota de repúdio às palavras do Senador, como forma de garantir que atitudes como essas não mais ocorram.

Tomamos essa atitude para que sirva de símbolo e para que não seja simplesmente esquecido esse episódio, porque são esses pequenos deslizes no discurso, que para muitos não têm significado, que revelam a situação da mulher na sociedade.

Repito que tal discurso reduz a mulher, legitima a violência e a discriminação. Portanto, não pode ser tolerado.

Lerei o ofício que estou encaminhando ao Senador Mão Santa:

Senhor Senador,

A bancada feminina do Senado Federal vem repudiar vossas palavras proferidas durante a Sessão do Plenário no dia 02 de abril do corrente ano, onde foram utilizadas palavras extremamente pejorativas, preconceituosas e que somente vêm reforçar a discriminação contra a mulher.

Durante o debate nesta Casa, não podemos aceitar qualquer manifestação que possa rebaixar ou ridicularizar quem quer que seja, especialmente quando os termos utilizados não têm outra conotação senão a redução da condição feminina e um ataque direto à honra da Ministra Dilma Rousseff.

Não é preciso dizer que, em nosso país, o termo “galinha” nunca terá outra conotação que não pôr em dúvida a honra e a moral da mulher.

Não podemos aceitar [não vamos aceitar] que tal ataque fora proferido do Plenário do Senado e, principalmente, por um Senador da República, desta forma exigimos [a Bancada exige] que seja feita a devida retratação e um pedido formal de desculpas. Aceitamos a divergência e que o senhor não concorde com o trabalho da ministra e a critique do ponto de vista profissional, mas a utilização de termos que ataque a honra e a moral da mulher Dilma Rousseff ou de qualquer outra pessoa não [nunca] será tolerado nesta Casa.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Muito obrigada, Sr. Presidente.