Discurso durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas aos excessos do Senador Mão Santa em seu pronunciamento na sessão de ontem, usando expressões insultuosas contra a Ministra Dilma Rousseff. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Críticas aos excessos do Senador Mão Santa em seu pronunciamento na sessão de ontem, usando expressões insultuosas contra a Ministra Dilma Rousseff. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2008 - Página 7922
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • REPUDIO, DISCURSO, MÃO SANTA, SENADOR, DESRESPEITO, MULHER, AUTORIDADE, PROTESTO, COMPARAÇÃO, NAZISMO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • PROTESTO, EXCESSO, DESRESPEITO, REGIMENTO INTERNO, AMBITO, REGULAMENTAÇÃO, USO DA PALAVRA, IMPUNIDADE, OFENSA, HONRA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, daqui a algumas semanas iremos comemorar o Dia das Mães. Aqui, neste Plenário, temos várias mães que exercem com dignidade mandatos parlamentares que os cidadãos de seus respectivos Estados lhes conferiram.

São mães que, a par do carinho e afeto que dedicam a seus filhos, lograram superar as barreiras e preconceitos que sempre condenaram as mulheres a um lugar menor em nossa sociedade. Infelizmente, até mesmo no âmbito da linguagem, as mulheres padecem. E não é no paraíso, Senadora Serys. Quando se emprega o conceito “homem público”, Senador Tião Viana, há exaltação; quando se fala “mulher pública”, Senadora Serys, há humilhação.

Como homenagem às mulheres, em especial às mães, o Senado da República deveria, parafraseando o grande poeta das Minas Gerais, “preparar uma canção amiga, em que todas as mães se reconheçam e que falem como dois olhos”.

Infelizmente, não foi ao que assistimos nas Sessões Plenárias de ontem e de anteontem. À guisa de exercer, legitimamente, o seu direito de crítica, S. Exª o Senador Mão Santa, excedeu-se. Faltou com a urbanidade que o Regimento Interno exige dos membros desta Casa e que não se espera de um agente público com a formação humanística do nobre representante do Estado do Piauí. 

Ao manifestar opinião contrária à Ministra Dilma Roussef, S. Exª usou expressões mais graves que descorteses: usou expressões insultuosas. E, para piorar, o Senador Mão Santa justificou-se valendo-se de remissão à doutrina nacional-socialista, com o fito de estabelecer uma ilação absurda entre a ditadura do Führer e o governo legítimo, democrático e constitucional do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Apenas para argumentar, vale citar a insinuação de simetria entre o partido do Presidente da República, o Partido dos Trabalhadores, e o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Alemanha, o partido nazista.

O PT e as mulheres que nele militam repudiam o nazismo, bem como toda e qualquer ideologia que defenda a discriminação de raça, gênero, origem, classe social ou orientação sexual. Em seu Manifesto de Fundação, em 1980, o PT já se colocava como força política antípoda a tudo que moveu o nazismo, ou estimula agrupamentos neo-nazistas. Lá está escrito que o PT “manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo”.

Sempre estivemos ao lado da militância internacionalista. Não serão, agora, afirmações destemperadas, sem qualquer fundamento, que afastarão o PT, em especial, as mulheres petistas, dessa vereda.

Esperamos, sinceramente, um gesto altivo da parte do Senador Mão Santa. Defenderemos, sempre, o sagrado direito do Senador Mão Santa de divergir do Governo e das pessoas que o integram. S. Exª abusou do direito de palavra e deveria retratar-se, sem que isso signifique abrir mão dos pontos de vista que advoga.

Diga-se, de passagem, que é preciso dar um basta às reiteradas violações do art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal, que nos impõe o uso de expressões condizentes com a nobreza do exercício do mandato parlamentar de Senador. Lamentavelmente, a ofensa a esse dispositivo tem sido recorrente, sem que quem esteja no exercício da Presidência de nossos trabalhos inste o orador a moderar o linguajar, advertindo-o acerca de sanções mais graves em face à desobediência do Regimento.

Numa República como a em que vivemos, é devida a submissão de todos ao pluralismo político. Mas isso não pode significar, da parte dos que juraram respeitar a Constituição, enxovalhar a honra das pessoas, sejam elas quem forem, sejam elas homens ou mulheres, concidadãos brasileiros ou estrangeiros, sem que restem impunes, sem responder pelas ofensas que praticaram.

Sr. Presidente, era isso que eu queria dirigir nesta tarde ao Plenário do Senado da República em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores e, de forma muito especial, em nome das mulheres petistas.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Não cabem apartes. Portanto, quem quiser usar da palavra que se utilize do Regimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2008 - Página 7922