Pronunciamento de Roseana Sarney em 03/04/2008
Discurso durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Apelo em favor da libertação de Ingrid Betancourt, seqüestrada pelas FARC. Apelo ao presidente Lula no sentido de socorrer com presteza as vítimas das enchentes no Maranhão. (como Líder)
- Autor
- Roseana Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
- Nome completo: Roseana Sarney Murad
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DIREITOS HUMANOS.
FEMINISMO.
CALAMIDADE PUBLICA.:
- Apelo em favor da libertação de Ingrid Betancourt, seqüestrada pelas FARC. Apelo ao presidente Lula no sentido de socorrer com presteza as vítimas das enchentes no Maranhão. (como Líder)
- Aparteantes
- José Nery.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/04/2008 - Página 7964
- Assunto
- Outros > DIREITOS HUMANOS. FEMINISMO. CALAMIDADE PUBLICA.
- Indexação
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- DETALHAMENTO, INDIGNIDADE, SITUAÇÃO, SEQUESTRO, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, CANDIDATO, PRESIDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, REFEM, LONGO PRAZO, GRUPO, GUERRILHA, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, LUTA, LIBERDADE, VITIMA, VIOLENCIA, AMERICA LATINA.
- ANALISE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, MULHER, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, AMBITO, ATIVIDADE POLITICA, TENTATIVA, DESVALORIZAÇÃO, CANDIDATURA, FEMINISMO, REGISTRO, OCORRENCIA, CAMPANHA, ORADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INJUSTIÇA, ATUALIDADE, TRATAMENTO, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
- SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO MARANHÃO (MA), EXCESSO, CHUVA, INUNDAÇÃO, NECESSIDADE, URGENCIA, AUXILIO, VITIMA, CALAMIDADE PUBLICA.
A SRª ROSEANA SARNEY (PMDB - MA. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje ocupo essa tribuna trazendo um nome, Ingrid Betancourt, a Senadora colombiana, militante do Partido Verde que, há seis anos, é refém da barbárie de mais uma das guerras fratricidas que ainda castigam o mundo.
Em 23 de fevereiro de 2002, Ingrid, então candidata a Presidente da Colômbia, foi seqüestrada pelas Farc, a guerrilha colombiana. Era Senadora. Antes, foi Deputada. Pautava seu trabalho pela luta contra a corrupção e os narcotraficantes. Propunha o “sim” à paz. Lutava contra indignidades na política e na vida. Por elas, foi confinada, reduzida a refém, preciosa mercadoria de troca, prisioneira da guerrilha impiedosa, sobrevivendo em condições subumanas na selva colombiana.
Seis anos se passaram como se, conformado, o mundo que trabalha para dizer “sim à paz” tivesse esquecido, olvidado, Ingrid Betancourt. Não pode ser assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Não podemos esquecer Ingrid e os outros três mil reféns da desumanidade da guerrilha colombiana. Eles são a marca mais evidente da barbárie na América Latina. O clamor por sua libertação deve vir de nós todos. Em nome da paz e da igualdade de direitos e oportunidades, cada um de nós Congressistas, mulheres e homens, precisa empunhar a bandeira pela libertação de Ingrid.
“Estou cansada de sofrer”, escreveu ela à mãe e aos filhos, em carta de outubro do ano passado. Esse texto veio de seu cativeiro, acompanhado com a foto de uma Ingrid esquálida, de cabeça e olhos baixos. Imagem da crueldade, humilhação e do abandono a que foi relegada. Nesta semana, noticia-se que seu estado de saúde é ainda mais precário. Não pode mais esperar. Sua vida está por um fio.
Precisamos juntar forças para salvá-la, porque Ingrid Betancourt, hoje, simboliza a luta contra a indignidade dos seqüestros, que é uma das facetas mais cruéis da violência humana. A violência, em todas as suas formas, rega e acentua as desigualdades, que temos de combater, sem tréguas, com palavras, sentimentos e ações.
Ingrid simboliza a violência levada ao extremo. Mas também no Brasil, a desigualdade, o preconceito e o desrespeito ainda alcançam e castigam mais as mulheres em todas as searas da vida, particularmente na política, onde invariavelmente somos alvo de incontáveis indignidades, como a desqualificação e o descrédito, que são as formas mais visíveis do preconceituoso desrespeito a que ainda nos submetem.
O que vive hoje a Ministra Dilma Rousseff e o que eu vivi quando pré-candidata a Presidente da República são exemplos da ferocidade nas críticas e nos julgamentos às mulheres. Se há suposição de que a Ministra venha a ser candidata a Presidente da República, joguem-se sobre ela luzes de suspeita e de farsa. Questione-se sua competência. Exponham-se supostas fragilidades e apontem-se incapacidades, ainda que injustas, ainda que inverídicas.
Cada uma de nós, mulheres - parlamentares ou não - , já viveu algo assim. Cada uma de nós assiste regularmente a outras serem submetidas ao mesmo tratamento. Isso é uma constatação, não uma queixa, porque há muito trocamos a queixa pela ação, pelo trabalho por igualdade de fato - em direitos, responsabilidades e competência, que é o que nos permite estar aqui e usar a nossa voz para falar por todas.
Não somos fracas. Não temos medo. E Ingrid é exemplo disso. Mas sentimos e quantificamos os muitos desrespeitos que nos atingem. E isso tem de acabar.
A trágica situação que vive a franco-colombiana Ingrid - colega política, colega Senadora, companheira da mesma luta que nos motiva, nós mulheres, mundo afora - nos deve servir também de reflexão: neste século...
O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senadora Roseana, a senhora me permite um aparte?
A SRª ROSEANA SARNEY (PMDB - MA) - Pois não, Senador José Nery.
O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Quero cumprimentar V. Exª pelo tema que aborda neste momento e dizer que nos somamos a todos os esforços que possam ser feitos no sentido de que tenhamos um acordo humanitário na Colômbia que contribua efetivamente para pôr fim a tantos anos de guerra, de confronto e de violência. O apelo que a senhora faz em favor da libertação da Senadora e candidata a Presidente Ingrid Betancourt, na verdade, é algo que vai-se tornando uma bandeira desfraldada e exigida em várias partes do mundo. Porém, tenho a compreensão de que é preciso tratar a questão colombiana tendo em vista os dois lados que se confrontam ao longo dessa guerra sem fim. Um acordo humanitário deve, de um lado, garantir a libertação dos reféns das Farc e, de outro, garantir a libertação dos presos políticos que estão nos cárceres colombianos. O esforço que podemos fazer como membros do Senado Federal é dizer que hoje a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional aprovou requerimento que convida a Comissão de Paz do Congresso colombiano a vir ao Brasil, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, expor os esforços pela busca desse apoio humanitário e discutir como o Senado Federal e o Congresso brasileiro podem se somar nesse esforço para que tenhamos a paz, o entendimento e a harmonia nesse país tão conflagrado. Na verdade, não podemos assistir inertes, sem, de alguma forma, contribuir para a paz, não só na Colômbia, mas no continente. Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento. Lamento ainda - só para complementar - os últimos fatos. No momento da negociação fundamental, inclusive porque envolvia o governo da França, de Ingrid Betancourt, houve aquele fato lamentável da invasão do espaço equatoriano que resultou na morte de um dos membros da direção das Farc. Isso também contribuiu para dificultar as negociações que esperamos que, de fato, progridam, para que Ingrid e os outros reféns sejam efetivamente libertados, além dos presos que se encontram sob custódia do governo colombiano. Muito obrigado a V. Exª.
A SRª ROSEANA SARNEY (PMDB - MA) - Eu gostaria de agradecer a V. Exª, Senador José Nery, e dizer que eu deixo aqui um voto de confiança e de felicitação à Comissão de Relações Exteriores por ter convocado a Comissão de Paz da Colômbia para discutirmos esse assunto no Congresso Nacional brasileiro.
Neste século do conhecimento, a desigualdade de tratamento e o desrespeito ainda ferem muito mais as mulheres. Repito: isso tem de acabar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.
Assim, hoje, em homenagem a todas e a todos que nos ajudaram a chegar até aqui, vamos pedir juntos, em nome do respeito humano, liberdade para Ingrid, neste 2008, que simboliza todas as vítimas das inaceitáveis desumanidades. Mulheres e homens devem ser iguais em direitos e oportunidades ou a democracia será uma farsa, ou a democracia será uma utopia, sonho que não se alcança nunca.
Portanto, chega de barbárie. Liberdade para Ingrid! Direito à vida para Ingrid, enquanto é tempo!
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui peço também licença para falar em nome do meu Estado. O Estado do Maranhão vive agora um momento difícil causado pelas chuvas, que têm deixado rastros de destruição e desabrigo para milhares de pessoas.
Peço particularmente ao Presidente Lula, cuja história e sensibilidade fazem com que seu Governo tenha olhos especiais para os necessitados, que socorra com presteza as vítimas das enchentes no Maranhão e em todo o Nordeste.
Neste momento, o Maranhão precisa, mais do que nunca, dessa pronta atenção especial - o Maranhão e o Nordeste, em particular.
Muito obrigada.